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Tenho vindo a publicar letras (de autores que já partiram) sem indicação de intérpretes ou compositores na esperança de obter informações detalhadas sobre os temas.
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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: por falta de informação nem sempre são mencionados os criadores dos temas aqui apresentados.
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7.840 letras publicadas // 4.157.500 VISITAS // 31.08.2025

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Insatisfeito (coração)

Letra e música de João Nobre
Repertório de Tony de Matos


Coração insatisfeito
P’ra te agradar tudo fiz
E tudo o que tenho feito
Só te tornou infeliz

Andas sempre assim tão triste
E o culpado não sou eu
Se à vida tanto pediste
E ela tão pouco te deu

Mil caprichos, fantasias
Sonhos sem fim, ambição
Que mundo em que tu vivias
Ó meu louco coração

Ai quanta ilusão perdida
Meu eterno insatisfeito
Quis dar-te estrelas na vida
E tens o chão por teu leito

O Fado, a guitarra e eu

Domingos Gonçalves Costa / Adelino Santos
Repertório de Natércia da Conceição


Convidei o fado antigo
E uma velhinha guitarra
A irem passar comigo
Uma noite em plena farra

Calcei as minhas chinelas
Em alegre companhia
Fomos os três prás vielas
D’Alfama e da Mouraria

O Fado Antigo ensinou-me
A ter garra, a ser bairrista
A guitarra acompanhou-me
Assim tornei-me fadista
Desde então, desde essa hora
Um forte amor nos prendeu
E andamos p’la vida fora
O Fado, a guitarra e eu


Quando a minh'alma padece
E de saudade anda louca
Um fado logo aparece
A bailar na minha boca

Se sofro do mesmo jeito
Mágoas que a boca não diz
Encosto a guitarra ao peito
Canto o fado e sou feliz

Maria Valejo

Tributo de José Fernandes Castro
Esta enorme senhora deveria
chamar-se MAGIA VALEJO

Esta MARIA que tem
Lugar na doce memória
Dum país de sangue novo
Merece, mais que ninguém
Lugar cativo na história
Do fado, canção do povo

Maria que sempre deu
Tudo o que tinha p'ra dar
Com talento que criou
Abriu as portas do céu
A quem soube decifrar
Os sucessos que cantou

Maria que perfumou
A alma de todos nós
Com perfumes de Alentejo
Foi magia que embalou
O fado, com doce voz
Grande MARIA VALEJO

Poema do cansaço

Letra e música de Mário Rainho
Repertório de José Geadas

Deixámos os abraços p'ra depois
E a ternura, suspensa, aprisionada
Até houve silêncio entre nós dois
E a saudade ficou envergonhada

Os beijos que a distância fez secar
A voz que se calou, enfraquecida
A vida não podia adivinhar
Que em nós, ia ficando menos vida

Esteve o poema por cantar
Ali à mão de semear
No chão lavrado de raízes ressequidas
Mas as teimosas ervas bravas
Rasgam o campo das palavras
Com este fado p'ra lembrar milhares de vidas


Ao céu emudecido, se rezou
Sabendo que esta é uma passagem
P'rá outra margem, onde quem passou
Nem um adeus levou p'rá viagem

Que fiquem estes tempos sem glória
Num canto dum poema revoltado
E que nunca se apaguem da memória
Que um dia o amor, do amor foi separado

Esconderijo

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Manuel Delindro (ao vivo)

Escondi-me da vida p'ra que o tempo
Passasse devagar, mas mesmo assim
A vida descobriu-me em sentimento
E manteve o amor perto de mim

Escondi-me do sonho mais perfeito
P'ra não sentir o medo nem a dor
O sonho acomodou-se no meu peito
E dele fez o leito do amor

Escondi-me também do teu sorriso
P'ra não mais sucumbir ao teu encanto
Mais tarde descobri o paraíso
No sorriso que tens e que amo tanto

Agora nada escondo, tudo dou
Dou alma em cada verso musicado
Agora, meu amor, sei o que sou
Agora, meu amor, sou o teu fado

Lágrima no mar

Francisco Guimarães / Rui Poço
Repertório de Sara Paixão


Reparei naquela flor
Pequenina e indiferente
Não crescia, tinha dor
De ser como toda a gente

Tinha rosas nas bochechas
Quando a vi, envergonhada
Perguntei: "porque te fechas
Querida Rosa, embraçada"?

Cada flor em céu aberto
Cada qual tem seu lugar
Como a areia no deserto
Como a lágrima no mar


Respondeu-me dando a mão
Com um espinho em cada dedo
Não falou, ficou no chão
Enraizada pelo medo

Peguei nela com cuidado
Porque o medo é de cristal
Num lugar abandonado
Não havia roseiral

Olho a vida da janela
Tantas flores há por nascer
Guardo um vaso junto dela
Se uma rosa se perder

Basta um sorriso rasgado

José Fernandes Castro / Alfredo Duarte *mocita dos caracóis*
Repertório de Silva Machado (ao vivo)

Basta um sorriso rasgado
No rosto de quem nos fala
Para decifrar um fado
Bem escrito e bem cantado
Que por amor, nos embala

Basta um aperto de mão
Dado no momento certo
P’ra sentir a emoção
Bem dentro do coração
E ter o amor mais perto

Basta uma frase vulgar
Dita com voz de verdade
P’ra poder valorizar
Cuidar e perpetuar
Uma perfeita amizade

Basta um sorriso profundo
Com brilhos de luz florida
P’ra que apenas num segundo
Todas as flores do mundo
Ponham aromas na vida

A ilusão da lua

Francisco Guimarães / Casimiro Ramos *fado 3 bairros*
Repertório de Sofia Ramos

Há na noite uma certeza
Toda feita de beleza
Que é ter luz vinda da lua
E uma luz tão reluzente
Que não sendo independente
Nunca deixa de ser sua

E se o sol ao acordar
Sem o poder evitar
Ofuscar o seu destino
Tem a lua livre fado
Vai brilhar p'ra outro lado
Com seu brilho feminino

Ter amor é assumir
Que não dá p'ra existir
Quando alguém nos quer escapar
É viver na ilusão
De pensar que um coração
Tem alguém p'ra comandar

Só que a lua com seu brilho
Segue em frente noutro trilho
E no escuro nos conduz
Ela é o capitão
Ao guiar na escuridão
Um navio cheio de luz

Talvez um dia

António Rocha / Armandinho *fado ciganita*
Repertório de José Geadas


Partiste sem dizer nada
Naquela manhã sombria
E deixaste abandonada
Minha alma triste e vazia

Fez-se noite de repente
Ao encarar a verdade
E encontrei-me tristemente
Embalando uma saudade

Fez-se a minha companhia
Das horas de solidão
E conforta dia a dia
O meu pobre coração

Às vezes chama o teu nome
Aumentando a minha dor
E a mágoa que me consome
Por te perder meu amor

Talvez um dia
A saudade te procure
O remorso te censure
E queiras voltar ao ninho
Mas nesse dia
Esta saudade de agora
Talvez já tenha ido embora
E eu queira ficar sozinho

O que não somos

Carlos Leitão / José Marques *fado rigoroso*
Repertório de Sara Paixão


És preso por ter cão e por não ter
Se dizes muita coisa, ou se te calas
Muito mais do que ser, tens de aparecer
Nas fotos onde és tudo o que não falas

P'ra ser original há que chocar
Ter uma causa, ser uma tendência
E se nada mais falta p’ra mostrar
Qualquer vazio é sempre influência

E nesta imbecil contradição
De um mundo desigual e inquieto
Os jeitos de viver em turbilhão
São pedradas de cor no que é correto

Marquemos nova data para nós
Ainda temos tempo p'ra viver
E assim posso cantar a uma voz
Um povo inteiro a ser o que quiser

Canto a Portugal

Letra e música de Joel Guilherme
Gravado por Gilda Valença
Letra extraída do livro *O fado que cantei e outras canções* 
de Thais Matazzaro (escritora brasileira)

Portugal que eu não esqueço
Eu te ofereço esta canção
Homenagem que eu te faço
Com um pedaço do coração

No Brasil todos te amam
Todos proclamam com altivez
Que esta terra em tudo encerra
Também um povo, o português

Deixe que cante a tua história
Ricas páginas de glória
Que o brasileiro bem diz
Pois para o mundo descobriste
O que mais de belo existe
A grandeza deste pais

E se a voz deste meu peito
Houver mais algum direito
Que este cantor confere
Deixa que eu erga a minha taça
Ao vigor da rua raça
E ao Brasil que tanto quero

Mar de saudade

Letra e música de Carlos Soares da Silva
Repertório de Eduardo Falcão


Tão triste é a certeza
De remar contra a maré
Tão longe vem o tempo
Em que as águas eram mansas
Tão breve é a coragem
São tão velhas as lembranças
De amores imaginados
Em poucas horas de fé

Dos mares que naveguei
Me ficou o gosto a sal
Da terra fresca lavrada
Herdei sementes de dor
Do sol quente dos sonhos
Apenas o travo igual
Às margens de um ria parado
Em horas de pouco amor

Saudades de partidas
De abaladas, de mudar
São esperanças sempre novas
Primaveras a florir
Pássaros que voltam
De novo àquele lugar
De amores imaginados
De crianças a sorrir

Verdade do fado

António Rocha / Raúl Ferrão *maldito fado*
Repertório de José Geadas


O fado não precisa encenações
Basta existir verdade em quem o canta
Esta nobre canção, entre as canções
Canta-se com a alma na garganta

Nem gestos, nem trejeitos teatrais
Acrescentam ao fado mais valia
É com atitudes naturais
Que acontecem momentos de magia

Fado quer dizer destino
E eu sigo desde menino
O meu destino marcado
Das cordas duma guitarra
Construí a forte amarra
Com que me prendi ao fado

Quando canto uma tristeza
É tal qual como uma reza
Dum coração magoado
E se canto uma alegria
Vibro a sentir a magia
Que há na verdade do fado


Ao usar-se a palavra com preceito
Dizer o português bem silabado
E com a emoção dentro do peito
O fadista não canta, diz o fado

A guitarra improvisa e desafia
A voz do cantador a responder

O meu lugar

Carlos Leitão / Acácio Gomes *fado bizarro*
Repertório de Sara Paixão


Corri toda a cidade p’ra fugir
De ti, do que juraste sem pudor
Se dizes que não ficas, quero ir
Espalhar todas as cinzas deste amor

Eu sei que tu me segues prometendo
Amares mais do que nunca e do que eu
Mas corro mais depressa do que o vento
E tudo o que tu és já não é meu

Daqui, de onde não partes nem regressas
Lugar onde a saudade já morreu
Amar é mais bonito se as promessas
Ficarem mais sozinhas do que eu

Meu Alentejo tão querido

Estrela Meirinha / Manuel Maria Rodrigues
Repertório de José Geadas


Meu Alentejo, tão querido
Eu aqui tenho crescido
Não sabes como te amo
Levo-te p'ra todo o lado
Gosto de cantar o Fado
Com sotaque Alentejano

Adoro poder brincar
De correr e de saltar
Sempre, sempre em campo aberto
Em perfeita harmonia
A viver esta alegria
Tenho o meu irmão por perto

Aqui o sol é meu lume
As flores têm mais perfume
As estrelas mais brilhantes
Passarinhos a cantar
Um regato a murmurar
Os campos mais verdejantes

Eu adoro a natureza
Com toda esta beleza
De ficar inebriado
É tudo isto que eu amo
Com sotaque Alentejano
Gosto de cantar Fado

Um dia em Portugal

Evaldo Gouveia / Jair Amorim
Repertório de Francisco Egydio
Letra extraída do livro *O fado que cantei e outras canções* 
de Thais Matazzaro (escritora brasileira)

Um dia em Portugal
Num eco lá da Alfama
Alguém por mim me chama
Fazendo-me um sinal

Fitava-me a sorrir
Chamou-me brasileiro
Num tom assim brejeiro
Um samba quis ouvir

Pedi-lhe um violão
Cuíca e tamborim
Morena e um barracão
Uma saudade enfim

Para cantar o fado
Uma guitarra e vinho
Para cantar meu samba
Um pandeiro e um cavaquinho

O mapa está errado

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Alberto Ribeiro


O mapa está errado
Isto assim não está certo
Brasil e Portugal
Não estão longe, estão perto

Aqui há mar a mais
O mapa está errado
Brasil e Portugal
Devem estar lado a lado

Tirai o oceano
Acabe a confusão
Brasil e Portugal
São dois num coração;
Brasil e Portugal
Vivem do mesmo anseio
O mapa está errado
Tirem o mar do meio

São duas pátrias numa
Bem grande e bem unida
Brasil e Portugal
Duas numa só vida

É presente sem par
Este que Deus nos fez
Aqui, sou brasileiro
Por lá, és português

Não se diz ao triste que se alegre

Francisco Guimarães / Jaime Santos *fado da bica*
Repertório de Sara Paixão


Dizem que a minha tristeza
É p'ra deixar ir embora
Mas eu cá tenho a certeza
Que quem não chora piora

Em cada hora do dia
Trago este triste sentido
E no meu peito perdido
Pedem que eu traga alegria

Coração que é descontente
Cujo bater nunca pára
Mas dizem que a ferida sara
Se eu estiver sempre contente

Só que eu não quero sarar
Foi assim que Deus me quis
Posso parar de chorar
Mas a chorar sou feliz

Saudade, esperança

Francisco Alves / Luiz Iglésias
Repertório de Francisco Alves
Letra extraída do livro *O fado que cantei e outras canções* 
de Thais Matazzaro (escritora brasileira)

Dizem todos que a saudade
Nasceu lá em Portugal
Eis por que tal gente há-de
Sofrer sempre desse mal;
Mas eu creio com firmeza
Nesta expressão verdadeira
Se a saudade é portuguesa
A esperança é brasileira

Deus quando fez a saudade
Suave e doce sofrer
Ao dar-lhe paternidade
Foi Portugal escolher;
Talvez por ver que essa gente
As mágoas, tão bem expande
E traz alma, inconsciente
Um coração muito grande

Mas depois de tal invento
Estremeceu de pavor
A saudade é sofrimento
Que a v vida murcha qual flor;
E cheio de piedade
Por uma dor tão criança
Suavizou a saudade
Criando o bem da esperança

Benditos os loucos

António Rocha / Raúl Ferrão *fado alcântara*
Repertório de José Geadas


Chamam-me louco
Porque te amo loucamente
Que importa, não faz sentido
O que se diz
São só palavras
Na boca de certa gente
Que não ama e certamente
Não é feliz

Doce loucura
Deixem-me ser como sou
Sou feliz sempre que dou
Amor a alguém
Pobres, aqueles
Que não sabem que o amor
É a ventura maior
Que a vida tem

Se é loucura 
Este amor sem medida
Esta eterna paixão
Que existe dentro em mim
Sem amor a vida não é vida
Não passa de ilusão
É dor que não tem fim
Só amando 
Se encontra harmonia
Se faz dia a dia
Um mundo melhor
Neste canto vos digo
Benditos que sejam benditos
Os loucos de amor


Quem não tiver
Um pouco desta loucura
Não sente dentro do peito
Um coração
Nem a magia
Dos momentos de ternura
Se nos queimamos no fogo
Duma paixão

O amor é luz
Que ilumina o meu caminho
É sol que me aquece a alma
É tudo, enfim
Chamam-me louco
Que me importa se é verdade
Sou louco de felicidade
Eu sou assim

Barco vazio

Rodrigo Costa Félix / Carlos Simões Neves *f. tamanquinhas*
Repertório de Sofia Ramos


Parada à beira rio
Esperei teu barco chegar
Das águas calmas de um rio
Chegou-me um barco vazio
Vindo do fundo do mar

Meus sonhos vinham com ele
Vazios de tanto esperar
O sol queimava-me a pele
E o barquinho de papel
Ardeu antes de ancorar

Agora não espero nada
Não quero barcos no mar
Quero dormir descansada
Sonhar com águas paradas
Até por fim naufragar;
Agora não espero nada
Quero dormir descansada
Até por fim naufragar

Um pôr do sol

Rui Manuel / Arménio de Melo
Repertório de Casimiro Silva


Suave a maneira lenta e não cansada
Como o sol coloca um xaile vermelho
Nos ombros do céu
Asas de andorinha vão tapando a linha
Que é do horizonte
O dia morreu

Pôr do sol
Ou papoila que engravida
Do luto que a noite traz
Se houver lua é rapariga
Se não houver é rapaz
Pôr do sol
Que se espreguiça no olhar
Diário, cais de partida
Cais de embarque onde a fadiga
Vem também desembarcar


Quando uma criança legenda este quadro
Diz com um sorriso
É uma laranja com gosto a romã
Acendem-se velas nas mãos das estrelas
Despede-se o astro
Que diz: até amanhã

Gesto ancorado

Rui Manuel / Arménio de Melo
Repertório de Dionísio de Sousa


Gesto ancorado na palma da mão
Palavra muda que espreita entre os dedos
Reta final do insulto, agressão
Ou da carícia que despe um segredo

És uma nuvem à espera de o ser
Planta que dorme por trás da semente
Água que um copo não pode conter
Rio onde a foz denuncia a nascente

Gestos sem conta de dedos a meio
Num prematuro tributo ao receio
Gotas de chuva que a terra bebeu
Gritos perdidos em quem os perdeu;
Escada que falta, degrau derradeiro
Corpo sem forma, sem rosto nem cheiro
Na frustração de já ser acabado
Quase que antes de ter começado


Gesto ensaiado mil vezes ao espelho
Cópia barata que falta improviso
Tempo d’espera que morre de velho
Pranto embrulhado em papel de sorriso

És o recado que boca não dá
Folha que o vento levanta do chão
Voz que o silêncio não sabe onde está
Gesto ancorado na palma da mão

O fado

Marta Rosa / Armandinho *fado estoril*
Repertório de Sara Paixão


Não sei falar do fado garrido, inebriante
Errante como a gente, o fado é inconstante
Não é coisa que digo, o fado é o que dou
Caminho aonde sigo, no fado é que eu sou

O fado incessante, não é velho nem novo
Renasce a cada instante nas veias do seu povo
Renasce na beleza, na força da verdade
No riso ou na tristeza e na cumplicidade

Se o fado nos invade, quão fácil é senti-lo
Difícil na verdade, é saber defini-lo
Talvez forma de vida, ou estranho pensamento
Da alma dolorida em busca de alimento

Será a fantasia, a dura realidade?
Canção, melancolia, silêncio ou saudade
Vive na alma da gente, o fado não se diz
Tristeza também sente quem teima ser feliz

Nova vida

António Rocha / Armandinho *fado maria alice*
Repertório de José Geadas


Nem saudade, nem desejos
Deixaste na realidade
Do veneno dos teus beijos
Nem ciúme, nem rancor
Nem uma réstia do lume
Do fogo dum falso amor

Restos dum sonho
Que não passou de ilusão
As margens duma paixão
Sem ter princípio nem fim
Luta constante
Lembrança que me tortura
Sombra da tua figura
Que quero afastar de mim


Mar de mágoas onde estou
Mar imenso em cujas águas
Minha paixão se afundou
Fim da estrada percorrida
Fim da história inacabada
Principio de nova vida

Contas impossíveis

Linhares Barbosa / José António Sabrosa
Repertório de José Geadas
Este tema foi gravado por Manuel de Almeida com o título *Perguntas*
na música do Fado Louco de Alfredo Duarte


Tu fazes perguntas tais
Quantos beijos te dei eu
Eu não sei, mas foram mais
Do que estrelas tem o céu

Diz-me, cabecinha tonta
Se alguém poderá contar
Aquela conta sem conta
Das ondas que andam no mar

Diz-me se alguém adivinha
A água que cai no rio
Quando a chuva miúdinha
Dura três horas a fio

No mundo dos impossíveis
Ninguém pode, ‘inda que queira
Contar os grãos invisíveis
Duma nuvem de poeira

Mas tudo isto ainda os sábios
Num cálculo podem juntar
Mas os beijos dos meus lábios
Ninguém pode calcular

A padroeira

Carlos Soares da Silva /Popular *fado moleirinha*
Repertório de Eduardo Falcão


De tantas histórias que ouvi contar à lareira
Recordo aquela que ainda hoje me é tão cara
Em que Isabel, rainha, santa e padroeira
Fez de oiro, rosas, numa tarde em Santa Clara

Em seu sorriso havia bondade
Fé, caridade, realeza sem igual
Em seu regaço nasceram rosas
Brancas formosas, dos jardins de Portugal


Dizem que um dia, levada pela caridade
Moedas de oiro em seu regaço escondendo
Sai para a rua e vai levar felicidade
À gente humilde que trabalha no convento

Mas eis que surge D. Diniz, o seu esposo
A quem a Santa diz levar apenas rosas
Em seu regaço, que desdobra milagroso
Mostrando ao rei as flores tão brancas e viçosas

Não me esperes

Letra e música de João Espadinha
Repertório de Sofia Ramos


Não me esperes
Não sei dizer quando chego
Será mais tarde que cedo
Já sabes que pode atrasar
Não me esperes
Bem sei que a noite vai longa
Mas não me peças que te responda
Não sei quanto mais vai durar

Eu sei que anseios são os teus
Sei que hoje pedes a Deus
Que abandone a paixão de cantar
Mas sei que este é um sonho só meu
Que sem o fado não sou eu
E isso não quero mudar

Não me chames
Não posso falar agora
Tudo o que ouvires a esta hora
Só vou dizê-lo a cantar
Não me chames
Não finjas que me conheces
Se cada dia o que me pedes
Envolve a minha alma calar

Mantém-se esta chama que resiste
Sob a capa que hoje visto
E só retiro a cantar
E é bem claro
Se a mim pedes que decida
E eu escolher mudar de vida
O fado é o que não vou deixar

Vivo cantando na sombra
E conto que o escuro me esconda
De um mundo que não quero olhar
P’ra lá do Tejo
É outra a Lisboa que vejo
Outra a vontade e desejo
Outra a expressão do olhar

Receio não poder manter-me nisto
Esta capa que hoje visto
E só retiro a cantar
E sei que este é um sonho só meu
Que sem o fado não sou eu
E o fado é o que não vou deixar

Vou dar o passo hoje

Jorge Fernando / Fernando Freitas *fado noquinhas*
Repertório de José Geadas


Há sempre algum silêncio, um mudo olhar discreto
Um traço que se estende, que é cúmplice entre nós
A mão dá-se ao aceno que é como um leve afeto
E estamos adiados por faltar-nos a voz

Há sempre uma inquietude a trair o sorriso
Um muro que se eleva por estranha cobardia
A boca que teimosa, não diz o que é preciso
E a palavra se esconde por trás deste vazio

Há sempre um entretanto, um espaço fugidio
Refúgio, onde intensa, a alma inflama e arde
Vou dar o passo hoje, que o tempo é arredio
E o amanhã, quem sabe, nos possa já ser tarde

Canção do amor demais

Vinícius de Moraes / Tom Jobim
Repertório de Sara Paixão


Quero chorar porque te amei demais
Quero morrer porque me deste a vida
Oh meu amor, será que nunca hei-de ter paz
Será que tudo que há em mim
Só quer sentir saudade

E já nem sei o que vai ser de mim
Tudo me diz que amar será p meu fim
Que desespero traz o amor
Eu nem sabia o que era o amor
Agora sei porque não sou feliz

Serra d’Ossa

Estrela Meirinha / Tradicional
Repertório de José Geadas


Rio de Moinhos, tu és
Uma terra pequena e bela
Se eu te pudesse pintar
Pintava-te em aguarela

E como pano de fundo
Eu pintava a Serra D'Ossa
Em nenhum lugar do mundo
Há Serra igual à nossa

Freguesia tão pequena
E tanta beleza tem
É terra da minha mãe
E minha terra também

Eu vou à Feira de Borba
Como muita gente vai
Dou a volta pela Nora
Que é a terra do meu pai

A realidade

Teresinha Landeiro / Bernardo Couto
Repertório de Sofia Ramos


Pedi tréguas ao mundo p'ra sonhar
Pedi porque não sonho há tantos dias
Acordo sem ter fé neste lugar
E as noites sem ter esperança são mais frias

Sem espaço p'ra sonhar outro começo
Não escrevo nem reescrevo a minha história
Mais duro que voltar ao que conheço
É ver como esta luta é tão inglória

Num mundo onde dói mais o que é verdade
Magoa muito mais a lucidez
Em frente de tão dura realidade
Só peço p’ra sonhar mais uma vez

A luz do teu sorriso

Letra e música de José Gonçalez
Repertório de José Gonçalez com José Cid


Quando eu voltar p'ra trás, quero sentir
Que sempre fui capaz de permitir
Que aqueles que de mim quiseram bem
Tiveram o melhor que pude dar;
Sabendo eu que recebi também
O melhor que tinham p'ra me dar


Os anos passam sem pedir nada a ninguém
E quando passam, nem perguntam se estás bem
E quando tentas perceber o que passou
É quando inventas a saudade que chegou

E depois lembras aqueles que chegaram
E também lembras aqueles que partiram
E se uma lágrima salgar esse teu riso
É essa lágrima a luz do teu sorriso

Se o teu cabelo te mostrar que já não és
Esse garoto que já teve o mundo aos pés
Solta o novelo, deixa o fio desenrolar
Um pano roto mostra que se soube usar

Lembra a criança dos teus dias felizes
Tens a herança nas tuas cicatrizes
Não te demores nas lembranças de algum mal
Guarda as melhores para o teu encore final

Fado alegre do Alentejo

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Um olhar breve sobre os campos
Que terra é esta que se avizinha?
Promessa-flor à beira-estrada
Caricia suave de ligeira brisa

0 escuro fresco dos sobreiros
Tanto doirado a pintar o chão
Castelo e vila, castro e aldeia
No horizonte cabe todo o céu

E andar pelas searas
Sob a luz do pôr-do-sol
Risos brancos como as casas
Risos que sabem a sal;
Azul-céu, azul na onda
Azul-noite como breu
Um sentir calmo e profundo
Alentejo que é tão meu


Um beijo doce à tardinha
Tão bom o encontro
Depois dum adeus
Amar de novo amor antigo
Sentir ainda tudo, tudo, tudo, por fazer

Vem vida nova aos meus olhos
Se toco a terra co’a minha mão
Ó meu amor, meu Alentejo
Lava a tristeza do meu coração

Por muito que me revolte

Mário Rainho / José Joaquim Cavalheiro Jnr *fado menor do porto
Repertório de Soraia Cardoso
*P'ra onde quer que me volte*
Título deste tema na gravação de António Zambujo 
na música do Fado Vianinha

Por muito que me revolte
Seres somente uma miragem
P'ra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

Imagem que me enlouquece
Como um louco no deserto
Que do nada me aparece
E tão distante é tão perto

Vejo-te envolto em poeira
Ou transparente cristal
E a loucura é mais inteira
0 sonho quase real

Por muito que me revolte
Seres somente uma miragem
P'ra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

Quase fado

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Um dia quis cantar o fado
Que ao peito apetecia
Mas logo o senhor do lado
Me disse que eu não podia

Olhando-o bem de frente
Perguntei admirada
Terei garganta diferente
Doutra garganta afinada?

Disse ele então que o fado é destino
É dor com hora marcada
Disse ele que o fado é destino
É dor com hora marcada;
E disse ainda que só é fadista
Quem traz a dor escriturada

Fiquei triste nesse dia
Fui p’ra casa meditar
Tinha na alma a tristeza
Daquela que faz chorar

Enquanto nisto penava
Quase sem eu reparar
Abro a boca solto a voz
Lá vem o fado a saltar

Alentejo, um ar de festa

Letra e música de José Gonçalez
Repertório do autor com Vitorino


Trago aqui
Amarrada na garganta
A saudade que desponta
Dessa lonjura de ti
Este meu canto
Que me deixa a alma nua
Tem a dor que se insinua
Por viver longe de ti

Meu Alentejo
Quanta mágoa é desejo
P'ra deixar em cada beijo
Quando a voz se faz cantiga
E a primavera
Vai deixando sempre à espera
A papoila da quimera
Na planície mais antiga

Sobre o teu campo
Andam centos de pardais
A naufragar nos trigais
A roubar os grãos de trigo
E em cada sombra
Mora sempre um ar de festa
Que me envolve em cada sesta
E me faz sonhar contigo

Meu Alentejo
Morro sempre no teu beijo
Quando este se faz desejo
Na saudade que me invade
E o horizonte
Que se esconde atrás do monte
Adormece em cada fonte
Ao cair de cada tarde

Talvez nem saibas
A tristeza que adivinhas
Sempre que as andorinhas
Se despedem do teu sol
E p’lo montado
Ficam marcas do seu pranto
Que se vestem como canto
No trinar dum rouxinol

Meu Alentejo
Vou deixar este meu beijo
Como marca de desejo
Dos meus olhos feitos d’água
Talvez um dia
Possa ainda a alegria
Ser maior que a nostalgia
P’ra afogar a minha mágoa

Cavalo Morzelo

Vasco Telles da Gama / Jorge Ganhão
Repertório de Eduardo Falcão


Eu tenho um lindo Morzelo
De negra cor é seu pelo
E é bonito a galopar
Garboso como um sultão
Tão veloz como um trovão
Parece saber dançar

Fui com ele certo dia
À famosa romaria
Da Senhora de Alcamé
E ali junto à ermida
Numa festa bem garrida
Fez a profissão de fé

Após ser abençoado
Galopou atrás do gado
Pela lezíria do Tejo
E durante aquele dia
Descobriu com alegria
Como é lindo O Ribatejo

Hoje se não corre lebres
Não toureia ou galga sebes
Até parece que chora
E é sempre com altivez
Que mostra ser português
Meu cavalo cor de amora

Ser tudo para ti

Letra e música de Tozé Brito
Repertório de Sara Paixão


Nunca pensei chegar
Tão tarde à tua vida
Sempre te procurei
Sempre andei perdida

Mas tinha por destino
0 meu lugar aqui
Ser tudo para ti
Ser tudo para ti

Agora que cheguei
Só quero estar contigo
Na festa de um abraço
Ser o teu abrigo

Esquecer malas, viagens
Pertencer aqui
Ser tudo para ti
Ser tudo para ti

Ser amor enquanto o amor durar
E mais que ser amor… saber amar
Ser sombra do teu corpo até ao fim
És tudo para mim

E agora que cheguei
Perder-me aqui
Ser tudo para ti
Ser tudo para ti

Prece poética

José Fernandes Castro / José António Sabrosa
Repertório de Luís Pinto


Cada vez faz mais sentido
Todo este tempo vivido
Dentro da alma do fado
Horas de amor intensivo
Mantendo vivo, bem vivo
Este sonho abençoado

Sonho que ao vir até mim
Me fez viver num jardim
De palavras com memória
Cada rima era uma flor
Cada poema, um amor
Cada fado, uma vitória

Com o passar da idade
Foi aumentando a saudade
Como a todos acontece
Com o tempo decorrido
Cada vez faz mais sentido
Cantar em forma de prece

Fado do calha bem

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Calha bem
Vim aqui p’ra te dizer
Que eu sem ti não sei viver
Neste caminho apertado
Calha bem
Que o costume, afinal
É amar ao maquinal
Amar assim é pecado

Calha bem
Pensavas tu que sem mim
Viverias bem assim
Cada qual para seu lado
Calha bem
Entendeste a coisa e tal
Não vias bem afinal
Estavas algo perturbado

E agora sei
Que não vives tu sem mim
E se vives tu assim
Vivo eu mais descansada
Calha bem
Que o sentido desta vida
Tão incerta e indefinida
Acharemos lado a lado

Condenação

Maria do Rosário Pedreira / Franklin Godinho
Repertório de Soraia Cardoso


Tenho na vida um dilema
Um velho amor que é algema
Corda, corrente e prisão
E não querendo retomá-lo
Não sou capaz de calá-lo
Dentro do meu coração

Presa desse amor antigo
Eu tento, mas não consigo
Entregar-me a mais ninguém
Como se as minhas memórias
Matassem todas as histórias
Do futuro que aí vem

Sei que esse amor está esgotado
Que é tudo menos sensato
Ficar à sua mercê
Mas mesmo quando o desejo
Entristeço no seu beijo
E não entendo porquê

Quem me dera um grande amor
Que enfim, levasse a melhor
Sobre esta velha prisão
Ah, como é triste esta sina
Duma paixão que termina
Mas impede outra paixão

Fadinho do trânsito

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Hermínia


Comprei um carro fiquei tramada
Pois passo a vida a ser multada
Pró arrumar, ando e desando
Só há lugar, ai de contrabando

Temos buracos nas avenidas
Mas as paragens estão proibidas
Amigos meus isto está mau
Só temos multas a dar com pau

Só há apitos a cada momento
E não há parques de estacionamento
Há grandes bichas e o sinaleiro
Apita, apita, o dia inteiro
Todos se esforçam por ir na frente
E às vezes chamam nomes à gente
Mas se ao meu lado eles se demoram
Eu cá respondo, eles até coram


TEXTO FALADO
Já pensaram que o dinheiro que a gente gasta em gasolina 
à procura de lugar pró carro dava para construir os parques
de estacionamento subterrâneos e ainda sobrava alguma 
prá inauguração com umas pinguinhas?

Não há cá túneis como na estranja
Andamos todos nervos em franja
Ninguém mais pára nesta cidade
Do tempo antigo temos saudade

Mas hoje temos tanta demora
Que era melhor o carro do Chora
Ai como eu sofro co’a baralhada
Comprei um carro e estou tramada

TEXTO FALADO
Por este andar, daqui a dois anos, se a gente quiser ir jantar 
ao Quebra-Bilhas temos de largar da Mouraria antes do almoço 
para chegarmos ao Campo Grande à hora do jantar

Requiem pelo rei

Vasco Telles da Gama / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de Eduardo Falcão


O rei morreu, viva o rei
Noutro tempo se diria
Eu hoje nada direi
Porque é noite neste dia

O rei que hoje morreu
Na terra nunca reinou
Reinará, talvez, no céu
Aonde Deus o chamou

Junto a Cristal, por sinal
Será feliz certamente
Enquanto o seu Portugal
Agoniza lentamente

Mas embora agonizando
Quando o príncipe expirou
Ouviu a pátria chorando
Pelo rei que não reinou

Não sinto hoje alegria
Nem jamais perdoarei
Não se dizer neste dia
Que o rei morreu, viva o rei

Destino meu

José Fernandes Castro / Júlio Proença *fado laiva*
Repertório de Rogério Lourenço


Tantos caminhos
Tanta estrada percorrida
Tantos espinhos
Que dão vida à própria vida
Tanta loucura
Em nome do mesmo amor
Jura por jura
Sonho por sonho maior

Destino meu
Guiado por mão perfeita
Com a saudade à espreita
Nessa esquina que dobrei
Destino meu
Que mesmo de rumo incerto
Faz o longe ser mais perto
Faz o amor ser mais lei


Pé ante pé
Passo de passo marcado
Meu fado é
Retrato do meu passado
Assim lá vou
Cumprindo na perfeição
Esta paixão
Que a vida me destinou

Ventania

Francisco Guimarães / José Fontes Rocha
Repertório de Soraia Cardoso

0 vento tem duas penas
Com elas voo sem lei
E vão voando, serenas
Onde me levam não sei

E voa a todo o momento
0 vento, se o não parar
Mas fui de pedra e o vento
0 vento não quis voar

Tornei-me folha ao relento
Que cai mais leve no chão
Vou na cadeira do vento
E agora sou de algodão

E se eu voar, mas perdida
Perdida de quem eu sou
Abro os meus braços, rendida
0 vento sopra e eu vou

Bom dia

João Fezas Vital / Jorge Ganhão
Repertório de Eduardo Falcão


Olá minha mãe, bom dia
Olá Senhora Maria


Olá minha mãe, bom dia
Até parece alegria
A alegria de te ver;
E é mesmo verdade
É orgulho e é vaidade
De saber que és mulher

Olá minha mãe, bom dia
inventa esta noite o dia
Na alegria de viver;
E se puderes, minha mãe
Inventa por mim também
A vontade de nascer

Oh Pai Nosso, Nosso Pai
Seu e meu, de tanta gente
De quem ama não faz mal
Diga-lhe mãe, por favor;
Que a gente ainda é gente
E vive a fazer amor
Por amor a Portugal

Rua da canção

Francisco Guimarães / Angelo Freire
Repertório de Sara Paixão

0 relógio marcava meia-noite
Os olhos estavam fundos de cansaço
Os passos já sem força como o vento
E o tempo a contar o seu compasso

Is correios sem cartas para dar
Parados na paragem recolhida
A vida da cidade não cantava
Mas um som ressoava na avenida

E assim descubro agora que o que muda
Não são modas, as roupas, ou estações
As coisas que atravessam o meu peito
São coisas disfarçadas de canções


De repente a paisagem que era muda
Mudou como mudava o céu estrelado
Pessoas entoavam certas modas
Não sei bem se eram samba, se eram fado

Quando a rua me deu uma canção
O meu corpo acordou subitamente
A alegria invadiu o coração
Se oiço um fado, ou um samba, é indiferente

No espelho

Telmo Pires Francisco Viana *fado Vianinha*
Repertório de Telmo Pires


Vejo o homem no espelho
Acabei de reparar
Tem brancas e rugas na cara
O tempo vê o tempo passar

Passeia p'la sua cidade
Nos caminhos que inventou
Guarda os seus amores
Nos versos que cantou

Fala do seu desencanto
E canta p’ra não mais falar
Às vezes pensa que a alma
Merece melhor sitio p’ra morar

Se pudesse fugia
Corria p'ra qualquer lado
Mas prefere estar convosco
Juntar presente e passado

A minha alma está doente

Pedro Homem de Melo / Renato Varela *fado meia noite
Repertório de Teresa Tarouca
Poema ligeiramente adaptado

A minha alma está doente
Quiseram em vão curá-la
E quantos ingenuamente
Tentaram amortalhá-la

Fizeram cerco e no meio
De toda aquela muralha
Eu que sofria, cantava
Não me servira a mortalha

E à medida que o segredo
Vinha em meus lábios poisar-se
Embriagado, eu cantava
Não me servira o disfarce

Mas, por fim, vendo, talvez
Que nenhum remédio havia
Deram à minha surdez
O nome de poesia

Casa velhinha

Reinaldo Moreira da Costa / João David *fado rosa*
Repertório de Valdemar Vigário


Aquela casa velhinha
Onde meu avô nasceu
Foi do meu pai, hoje é minha
E depois dum filho meu


Foi meu berço de embalar
Apesar de pequenina
Hoje é o meu doce lar
Aquela casa velhinha

Tanta alegria e tristeza
Esse lar me concedeu
Pois foi com rara nobreza
Onde o meu avô nasceu

O tempo vai decorrendo
Nessa casa pobrezinha
As vidas vão-se perdendo
Foi do meu pai, hoje é minha

Mas nela sinto alegria
De todo o encanto seu
Será minha até um dia
E depois dum filho meu

Fado preto

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Preto, preto, preto, preto como a noite
Como o fim do mundo, preto sem igual
Preto sem tristeza, preto sem distância
Preto na certeza da preta esperança

Negro é fácil
É palavra de poeta
Negro é xaile da fadista
Quando canta

Mas preto, preto, preto é de verdade
Preto de criança, preto de saudade
Preto é que é da terra, preto é quem sabe
Preto, preto, preto de voz e vontade

Terra longe, mar salgado
Vida dura, condição
Busca a sorte na desgraça
Busca amor na solidão

Foi por ti que eu voltei

João Fezas Vital / Franklim Godinho
Repertório de Sara Paixão


Foi por ti que atravessei
Vinda de longe, de longe
Terras de sol e de vento
Foi por ti, mas já não sei
Se tu és ontem se és hoje
Ou apenas sofrimento

Fui ao mar, morri no mar
Levada pelo desejo
De te saber marinheiro
E viver no teu olhar
Fechado num longo beijo
0 que fosse derradeiro

Voltei louca de aventura
Na minha boca fechada
Os teus dedos foram frio
Foi por ti que eu voltei
Vinda de longe, do nada
P'ra sentir este vazio

Bate coração

Letra e música de José Gonçalez
Repertório do autor


Meu Deus, ao teu altar venho pedir
Um mundo mais feliz com mais amor
Meu Deus, quero motivos p’ra sorrir
Quero pintar a vida com mais cor

Meu Deus, quero sentir a tua luz
No sol que lá do alto nos aquece
Que seja a tua mão que me conduz
No meu caminho, na minha prece

Ai bate, bate coração
Bate a compasso
Que estou contente
Ai bate, bate coração
Marca o teu passo
Vamos em frente;
Ai ouve amigo o coração
Que o coração é quem nos diz
Que a vida pode ser uma canção
Uma canção e ser feliz


As rosas que encontrarmos no caminho
Não tenham mais os espinhos da tristeza
Meus Deus, que o teu amor de pão e vinho
Nos alimente a alma de beleza

Meu Deus, que saiba ter o meu irmão
Um grito de esperança e de bondade
Que possa cada um de mão na mão
Espalhar amor pela cidade

Estrelas sem fulgor

João Fezas Vital / José Lopes *fado Lopes*
Repertório de Sara Paixão


Foste à mesa onde eu estava
Com tanta, tanta gente
Pedir-me se eu te cantava
Os fados de antigamente

Levantei-me e fui cantar
Recordando o nosso amor
Falei de campos e de mar
E de estrelas sem fulgor

Recordei aquele dia
Que p’ra nos foi tão dif’rente
Perto do céu não havia
Nem resto de sol poente

Quando acabei de cantar
E cerraste os olhos teus
Também eu, por te olhar
A chorar fechei os meus

Fadinho simples

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Do pôr-do-sol nasce a lua
Da lua a madrugada
Do coração nasce a vida
Decidida e descuidada

Infatigável soldado
Sempre em busca da batalha
Bem te quero e mal me fazes
Não há súplica que me valha

Anda cá, onde vais
Tu vais ver ai, que cais
Coração, deixa ver
Quanto dar, que fazer
Anda cá, vem mostrar
Como é, como sabe bem amar


Basta de seguir teus ais
Cego músculo insensato
Não te quero ouvir mais
Com solidão te maltrato

Se ele se cala e eu morro
Perdida a meio da estrada
Sem um calorzinho ou consolo
Sem um coração somos nada

Caminho

Letra e música de José Gonçalez
Repertório de José Gonçalez com Gonçalo Salgueiro


Não chores se te entregam numa cruz
E cravam negras lanças no teu peito
Às vezes sobre as trevas faz-se luz
E surge outro caminho mais perfeito

Não digas a ninguém, que andas triste
Nem deixes que te vejam transparente
Há sempre urna andorinha que resiste
E nenhuma tempestade é permanente

Não deixes cair esses teus braços
No vertical alinhamento do desgosto
Põe outra vontade nos teus passos
E carrega de sorrisos o teu rosto

Não julgues ser maior que a tua fé
A tenebrosa visão da alegria
Se tiveres que morrer, morre de pé
Resistindo ais temporais de cada dia

Sem querer fugir de mim

Pedro Fernandes Martins / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Soraia Cardoso


Sou raiz que abraça a terra
Do chão que descalça, piso
Sou a paz dentro da guerra
Que me arranca um sorriso

Chama ardente que crepita
Na noite dos meus anseios
Estrada errante, infinita
Que percorro sem receios

Sou o rio que naufraga
No mar imenso da vida
E a vontade que se apaga
Por não ser compreendida

Vento em fúria que procura
Um lugar p’ra não soprar
Sou o corpo em que a ternura
Espera sempre repousar

Se temo ser como sou
Mas não sei, não ser assim
Sou o que o fado traçou
Sem querer fugir de mim

Fado tão bom

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Vou estar contigo amanhã
Não sei ainda o que fazer
Quando chegares ao pé de mim
Não vou saber o que dizer

Se chegas perto desfaleço
Se vais p’ra longe desespero
Meu Deus, eu não me reconheço
Nem acredito que mereço
Tudo aquilo que mais quero

Um passo atrás e dois à frente
Tão bom
Quase verão e está mais quente
Ah tão bom
E o que eu quero é estar contigo
Um passo atrás e dois à frente
Está quase e não digo


Vou ver-te outra vez amanhã
E eu nem consigo acreditar
Tu mesmo aqui ao pé de mim
E eu tentando disfarçar

Chegaste perto e eu derreti
Foste p’ra longe e eu não consigo
Meu Deus, eu sei que prometi
Mas estar todo um dia sem ti
É tortura e mau castigo 

Sem medo

Maria do Rosário Pedreira / Carlos da Maia*fado perseguição*
Repertório de Soraia Cardoso


Se numa hora qualquer
Achares que não sou mulher
Para viver ao teu lado
Mais vale que o digas logo
Antes que eu acenda o fogo
Que tu queres ver apagado

Nenhum amor é eterno
E nem eu própria, governo
0 que por ti sinto agora
Só não quero que alimentes
Um amor que já não sentes
E depois te vás embora

Se numa hora como esta
Achares que se acaba a festa
Que eu faço da nossa vida
Não guardes disso segredo
Vais ver que não tenho medo
De enfrentar a despedida

Sobretudo não me mintas
Que eu detesto meias-tintas
Prefiro o luto à ilusão
Castigo é ter só metade
De quem não fala verdade
Nem sabe dizer que não

Praia da solidão

António Vasco Moraes / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de António Vasco Moraes

À deriva abandonada
Como gaivota perdida
É assim a minha amada
Tão longe da minha vida

Nem sequer sabe a razão
Porque voa rumo ao Sul
Deixou o meu coração
Buscando um céu mais azul

Longe foi, já se perdeu
Espera agora a sua sorte
Já não é azul o céu
Já não sabe onde é o Norte

Na praia d'onde partiu
Levantou-se um vendaval
Fica a sombra de um navio
Atracado ao areal

Nessa praia abandonada
Enterro o meu coração
Sou uma canoa quebrada
P'las ondas da solidão

Conversa de poetas

Francisco Guimarães / Filipe Pinto *fado vadio*
Repertório de José Geadas

Há poemas hoje em dia
Que não querem dizer nada
Não encaixam na harmonia
Fica a rima mal cantada

0 poeta do passado
Quer rimar com coração
Viva a forma aprisionado
Num só fado e à tradição

Mas há espaço p'ra tudo
Cada verso, é uma porta
Sem poetas era mudo
A palavra é o que importa

Q Ary cantando abril
A Sophia, a liberdade
Leio Adília em versos mil
Vejo em todos a verdade

E eu digo de memória
Sem julgar e admirado
Cada um na sua história
Deu a história ao nosso fado

Fado das cores

António Tinoco / José Campos e Sousa
Repertório de José Campos e Sousa


Naquelas ruas por onde
A cidade mais se esconde
Como que envolve os encantos
Dos dias de romaria
Das Senhoras da Agonia
Que secam os nossos prantos

E nas flores d'uma sacada
Na roupa branca lavada
É que a alma se nos prende
E num simples candeeiro
É a luz do mundo inteiro
Que em nossa alma se acende


Uma cidade sem tempo
Pintada como um lamento
Sobre o mar de uma janela
Desabrochou em amores
Ficou guardada nas cores
A cantar numa aguarela

Quadras soltas

Amália / Ricardo Borges Sousa *fado da Idanha*
Repertório de Soraia Cardoso


Joguei às cinco pedrinhas
Perdi todas as jogadas
Quando vi que tu não vinhas
Pedrinhas eram pedradas

Tenho um lindo namorado
Que me ama perdidamente
Tem um defeito, coitado
Ama assim a toda a gente

Quem o seu amor perdeu
E não queria ter perdido
Anda a chorar como eu
Que trago o meu no sentido

Papoila grito de cor
Tanto trigo te quer bem
Mais quero eu ao meu amor
Amor que amor não me tem

Saudades de Lisboa

António Vasco Moraes / Jaime Santos *fado salvaterra*
Repertório de António Vasco Moraes


Passa por mim a saudade
Mas não lhe dou confiança
Quero voltar à cidade
Que não me sai da lembrança

Cheira a castanhas e a mar
Cidade que ontem não vi
Já nem consigo lembrar
O lugar onde nasci

Tenho pressa de chegar
E poder ver teus encantos
Quero no Tejo afogar
As amarguras e os prantos

Lisboa, sete colinas
Mil cheiros, tantas idades
Já vejo tuas varinas
E continuo com saudades

Fado Chopin

Rodrigo Emílio / José Campos Sousa
Repertório de José Campos Sousa


Por não ter onde me acoite
Nem ninguém que olhe por mim
Vou andar de noite em noite
Até ao fim do meu fim

Toca baixinho, um noturno
Meu amor, um de Chopin
Enquanto durmo e não durmo
E a manhã não é de manhã


Quis a noite aliciar-me
Com dedos de sombra e luz
Tomei por sinal de alarme
O próprio sinal da cruz

Sempre que à noite te cruzes
Comigo, no patamar
Apaga todas as luzes
Expecto as do teu olhar

Não pode ser senão teu
O perfil mais que perfeito
Que esta noite se acendeu
No peitoril do meu peito

Dona de mim

Tiago Torres da Silva / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Soraia Cardoso


Tenho um olhar indeciso
Vivo sempre entre um sorriso
E uma lágrima triste
Mesmo quando estou feliz
Sinto que está por um triz
A dor mais forte que existe

Sinto ser dona do mundo
Mas depois passa um segundo
E já nem de mim sou dona
Uma folha pelo ar
Que só anseia voar
Quando o vento a abandona

Rio por tudo e por nada
Mas tenho uma gargalhada
De quem chora quando ri
E nestas contradições
Vou tomando as decisões
De que já me arrependi

Berta Cardoso


Soneto de Armando Neves
Tributo

Há por acaso alguém que ainda não teve
O prazer de a ouvir, na lusa terra
Dolorosa cantar a "Cruz de Guerra"
Ou amorável, a Canção da Neve?

A sua linda voz não se descreve
Sua garganta é escrínio que a descerra
Sentimental aroma a que se aferra
Carinhosa expressão, dúlcida e leve

Por que não canta ainda a nossa Berta
Porque fugiu do êxito alcançado?
Volte ao seu posto a "sentinela alerta"

Torne a brilhar a estrela do passado;
Que a Berta seja, nesta hora incerta
A porta aberta para o céu do "Fado"

Rosa peixeira

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha


Lá vai a Rosa peixeira, p’rá Ribeira
De canastrinha à cabeça
Manhãzinha, e o bater da chinelinha
Diz que a Rosa vai com pressa

Leva a canastra vazia
Mas o peito a transbordar
De alegrias e desejos
Do seu amor encontrar
Que vem da faina do mar
Encher-lhe a cara de beijos

Rosinha, sempre airosa, sempre fresca
Sonhaste na tua lua de mel
Não viste que o amor é como a pesca
E foste nas redes do teu Manel


Já se vê o Atalaia, e junto à praia
A Rosinha entre os demais
Dá um grito p’ró Manel, que do barquito
Sorri por vê-la no cais

A Rosa sorri contente
E o Atalaia atracou
Carregado de sardinha
E o Manel sorri também
Porque a melhor que lá vem
Está guardada p’rá Rosinha

Abrir mão

José Fernandes Castro / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Henrique Ramos (ao vivo)

Abro mão de quase tudo
Que por amor construí
Mas não abro mão de ti
Meu sonho secreto e mudo

Abro mão da luz da lua
Que tanto luar me deu
Fazendo com que o teu céu
Fosse o céu da minha rua

Abro mão da melodia
Com que vesti o meu canto
Abro mão até, do espanto
Com que leio poesia

A vida que não escolhi
Nada deu de mão beijada
E não abro mão de ti
Porque sem ti não sou nada

Mané Chiné

Popular / Arranjos de Jorge Costa Pinto
Repertório de Amália


Se os meus tristes ais voassem
Ó Mané Chiné
Daria mil por cada hora
Vá di banda, di banda, é que é
Vá di banda, ó Mané Chiné

Iriam bater no peito
Ó Mané Chiné
De quem me lembrou agora
Vá di banda, di banda, é que é
Vá di banda, ó Mané Chiné


Anda cá, meu preto, preto
Ó Mané Chiné
Meu queimadinho do sol
Vá di banda, di banda, é que é
Vá di banda, ó Mané Chiné

Quanto mais preto, mais firme
Ó Mané Chiné
Quanto mais firme, melhor
Vá di banda, di banda, é que é
Vá di banda, ó Mané Chiné

Cidade jovem

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Alfredo Almeida (ao vivo)


Enquanto eu envelheço na cidade
Onde nasci, cresci e me fiz homem
A cidade mantém a mesma idade
Parece até que as dores não a consomem

Cada vez mais esbelta, mais airosa
Mais senhora de si, mais companheira
Esta cidade-mulher, poema-prosa
Mantém a sua alma de tripeira

Enquanto eu envelheço lentamente
A cidade que eu amo é sempre nova
Cidade que será eternamente
O mote mais sublime duma trova

Trova que cantarei enquanto possa
Trova que quero ver engrandecida
Esta cidade é tão minha, quanto vossa
Esta cidade é sol dentro da vida

Malmequer desfolhado

António de Bragança / Francisco Viana
Repertório de Teresa Tarouca

Um malmequer desfolhei
Nunca tal tivesse feito
Não sabia o que já sei
Tinha-te ainda no peito


P’ra saber s’inda era meu
O homem que eu tanto amei
Com os olhas fitos no céu
Um malmequer desfolhei

E da flor fui arrancando
Esperanças que fora deito
E agora eu estou chorando
Nunca tal tivesse feito

Julgando ter-te na vida
E seres p’ra mim minha lei
Passava o tempo iludida
Não sabia o que já sei

Sonhava meu coração
E agora sonho desfeito
Vivendo da ilusão
Tinha-te ainda no peito

Espero a vida a cantar

*Espero a morte a cantar*
Francisco Pessoa / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Teresa Tarouca


Nesse teu olhar magoado
Vejo a cor dos olhos meus
Tem a dor um tom pisado
Que é o tom dos olhos teus

Sofro a dor por te querer
Esquecendo que te perdi
Mas um dia quis te ver
E louca d’amor fugi

Nos meus olhos vive ainda
Saudades do olhar teu
No meu peito vive infinda
Essa dor que em ti viveu

Hoje canto de amargura
Já cansada de te amar
E vencida p’la tortura
Eu espero a morte a cantar

Pergunta

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se não fazes fé em mim
Se te atormentam descrenças
Faz perguntas porque assim
Pode ser que te convenças

Pergunta ao meu pensamento
Se alguma vez te esqueci
Dirá que nem um momento
Deixei de pensar em ti

Pergunta aos meus olhos s’eles
Olharam p’ra mais alguém
Eu sei que a resposta deles
É com certeza: ninguém

Pergunta ao meu coração
Se pulsou com liberdade
Há-de responder que não
Pois só bateu de saudade

Só à minha voz não vale
Fazer perguntas, que eu sei
Que dirá sempre que fale
Gostei, gosto e gostarei

Tarde p’ra voltar

Ricardo Maria Louro / José António Sabrosa
Repertório de Mónica Jesus


Era tarde, eu não sabia
Se tornarias a chegar
Pois há muito que não via
O teu corpo a passar

Era tarde, eu já sentia
Que tudo iria terminar
De nós dois tudo perdia
Era tarde p’ra voltar

Era tarde p’ra falar
Minha voz, silêncio é pranto
Doravante p’ra te amar
Só nos versos que não canto

Só ficou a ilusão
Que foste um dia ao chegar
Deixa em paz meu coração
Porque é tarde p’ra voltar

E em cada madrugada
Já não dói o teu desdém
Se eu p'ra ti não fui nada
Tu p’ra mim não és ninguém

Lisboa e o fado

Mário Rainho / Fontes Rocha
Repertório de Tânia Oleiro


Dizem que Lisboa agora
Vive em estado de pecado
Pois a cidade namora
Com um velho chamado fado

Dou a quem fala um conselho
Deixem-na andar à toa
Com aquele a quem chamam velho
E é mais novo que Lisboa

Namorou sem leis
Esta Lisboa velhinha
Com Duques, Condes e Reis
Na muralha Fernandina;
Mas p’ró que lhe deu
Cair d'amores e agrado
Na cantiga dum plebeu
Um tipo chamado Fado


Idades, o amor não escolhe
É assim que diz o povo
Lisboa, os ombros, encolhe
Por ter um homem mais novo

E desde que o conheceu
Vai com ele p’ra todo lado
Foi amor que aconteceu
Entre Lisboa e o Fado

Canto p’ra não sofrer

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor tu não me digas
Que consegues decifrar
O reverso das cantigas
Que eu canto p’ra não chorar

Cada rima é um anseio
Cada verso uma agonia
Ó meu amor eu não creio
Que entendas tal poesia

Fecho os meus olhos e faço
Por ver um pouco de mim
Canto os meus fados e passo
A sofrer menos assim

Porta fechada

Letra e música de Amadeu Diniz da Fonseca
Repertório de Maria João Quadros


Quando uma porta se fecha
E deixa, sozinho
Um grande amor já vivido
Perdido, pelo caminho
Tudo ao redor desmorona
Tudo parece ruir
Quanta lágrima sentida
Acaba por cair

Ó meu amor
Nunca te esqueças de mim
O meu coração esmorece
Padece, longe de ti


Quando uma porta se fecha
E deixa um lamento
É tão grande o sofrimento
Que não cala a amargura
Mas se o tempo retoma
De novo, a hora perdida
Parece então que floresce
Amanhece de novo a vida

Noite sem fim

Jorge Rosa / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de António Mourão

Eras minha e por seres minha
Quanto feliz era eu
Queria tudo e tudo tinha
O mundo inteiro era meu

Mas no dia em que mudaste
A minha vida mudou
O bem em mal transformaste
Agora já nada sou

Sou menos que grão de areia
Perdido num areal
Folha que o vento volteia
Em dia de vendaval

Eu sou a noite sem fim
Que não espera a madrugada
O que fizeste de mim
Que era tudo e não sou nada

Sou feliz

José Neto / Frederico de Brito *fado britinho*
Repertório de Maria Teresa de Noronha


Meu amor, olha pró mar
Para veres a cor dos olhos
Que ao nasceres, Deus te deu
Olha bem longe e verás
Como ao longe se confundem
As cores do mar e do céu

Ó meu pobre coração
Onde tudo é escuridão
Só tem brilho um olhar teu
Gostava de ser ceguinha
Guiada na vida minha
P’los olhos que Deus te deu

Fui numa prece ao Senhor
A minha vida depor
Aos pés da sagrada cruz
Dava a minha vida a Deus
Se me desses os olhos teus
Que à minha vida dão luz

Deus ouviu minha oração
Tão feita de devoção
Tão magoada e sentida
Deu-me a luz dos olhos teus
Sou feliz graças e Deus
Tenho luz na minha vida

Espero

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Espero horas, podes crer
Só para te ver passar
Só para poder cruzar
O meu olhar com o teu
A ventura de te ver
É já ventura bastante
Quer seja perto ou distante
Se te vejo, vejo o céu

Parece, quando tu passas
Que nasce o sol só p’ra mim
E à minha volta há um jardim
Em florida Primavera
E louvo a Deus e dou graças
P’lo momento de te ver
Que pronto me faz esquecer
As longas horas de espera

Não calculas o tormento
Com que a minha alma está
Naquele virá?, não virá?
Que antecede a tua vinda
Tenho a impressão que um momento
É quase uma eternidade
Que uma hora de ansiedade
É tormento que não finda

Armazéns do matrimónio

Linhares Barbosa / Fernando Freitas
Repertório de Quinita Gomes


Pedem-se amostras p’ra ver
Quando se compra um vestido
O mesmo devia ser
P’ra se arranjar um marido

Calculem que pesadelo
Entrarmos no armazém
Escolhermos o modelo
Do homem que nos convém

A empregada exibia
As últimas novidades
Depois a gente escolhia
Conforme as necessidades

Eram altos e pequenos
Gordos e magros aos molhos
Uns loiros outros morenos
Olhando e piscando os olhos

Nas grandes liquidações
Na abundância de sortido
Por dez ou quinze tostões
Tirava-se um bom marido

Comprar homens a retalho
Era um negócio dos raros
Mas eles dão tal trabalho
Que até de graça são caros

Dona do fado

Frederico de Brito / Ferrer Trindade
Repertório de Artur Garcia


Sempre que canto este fado sinto alegria
De recordar o passado da Mouraria
Lembrar aquelas velhinhas vielas
De tanta saudade
Que deviam ser, portanto
A graça, o encanto de toda a cidade

Velha Lisboa, dona do fado
Sabe cantigas daquelas antigas
Que fazem chorar
Duma canoa que o Tejo irado
Doido a levasse e p'ra sempre ficasse
Perdida no mar


Esta Lisboa garrida é mais Lisboa
Numa janela florida da Madragoa
No Bairro Alto do negro basalto
Mas cheio de fama
Ou naquele aspeto belo Que tem o Castelo
Vizinho de Alfama

Rapsódia

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Sem amor não passo bem
Sem fado passo pior
Procuro o que me convém
Troco por fado o amor

Anda o ciúme metido
Entre o fado e a paixão
E quando canto é sabido
Tenho zanga, há discussão

Mas não merece censura
Peito que o ciúme aquece
Quando o amor é de loucura
É que o ciúme acontece

Zanguei-me, pronto, acabou-se
Andei triste, é de supor
Mas fosse lá p’lo que fosse
À noite cantei melhor

Mas sabe bem, apetece
A razão desse azedume
Só quando o amor acontece
Acontece haver ciúme

E se termino zangado
Às vezes com o meu amor
Ponho-me a cantar o fado
Zangado, canto melhor

Zeca

Letra e música de Janita Salomé
Repertório de Filipa Pais


Quero falar-te, e o coração de comovido
Perde as palavras que juntara para ti
Cantar-te sei e apenas isso faz sentido
Menino de oiro, vem sentar-te aqui

Por todo o ano é tempo de cantar janeiras
Mulher da erva, ainda agora a vi passar
Por mar profundo, terra e todas as fronteiras
Venham mais cinco mil para te saudar

Pode o sol morrer de velho
Pode o gelo arder também
Mas a voz que de ti nasce
Já não morre com ninguém


No céu cinzento, o astro mudo ainda revela
Um bater de asas, o disfarce do seu pé
Bebem do sangue, comem tudo, olhai, cautela
O que faz falta, já se sabe o que é

Junta-te a nós, ó bairro negro, vem, falua
P'la noite fora até que se erga o sol do Verão
Solta as amarras, sopra, ó vento, continua
Que este homem não se foi embora, não

Fado vida

Letra e música de Cláudia Leal
Repertório da autora

Acalmo o coração ao fim do dia
Quando o sol se põe e a noite cai
Oiço o meu silêncio 
A gritar dentro de mim
Se o não fizeres
Ninguém vai fazer por ti

Tenho um esquecimento p’ra lembrar
Tenho uma lembrança p’ra esquecer
Sair desta tristeza 
É ter que deixá-lo ir
Ninguém prende um amor 
Que teima em partir

Percorro este caminho só e distante
Pisando as amarguras que o amor me fez
Peço ao vento norte
Pois eu não sei rezar
Talvez o vento peça a Deus 
P’ra me ajudar

Se teimas num caminho que não é o teu
A vida passa veloz, vai num instante
Agarra a tua vida 
E transforma a tua dor
Faz renascer dentro em ti 
O teu próprio amor

Lisboa é assim

José Fialho Gouveia / Luiz Caracol
Repertório de Rodrigo Costa Félix


Lisboa chora o fado e dança o samba
Sotaque e bossa nova nas vielas
De Angola vem o cheiro da Muamba
Amores que se vivem nas novelas

Cachupa e com ela um travo a morna
Mestiça, vai Lisboa na avenida
Mulata que ao dançar até transtorna
O Tejo quando a vê meio despida

Mestiça com encantos mais de mil
Jindungo e açafrão para o caril
Canções e mais sabores além do fado
Lisboa tem o mundo inteiro nela
Tem mar quando se olha da janela
No Tejo podes estar em qualquer lado;
Paris que fica ao lado de Berlim
A Graça é que Lisboa é assim


Nas ancas traz o beat do momento
Mas traz também o fado nas goelas
Às vezes há rodízio suculento
Mas há, p'ra quem quiser, iscas com elas

Da mesquita às igrejas tantas fés
Há sempre outro lugar para mais alguém
Há mais uma cadeira nos cafés
Lisboa é de quem vier por bem

Meu amor, diz-me em que esquina

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor, diz-me em que praça
Foi à praça o nosso amor
Confesso, não acho graça
Leiloar seja o que for

Meu amor, diz-me em que rua
E em que porta te escondeste
Não desisto de ser tua
Apesar do que fizeste

Meu amor, é uma calçada
A vida entre ti e mim
Ando a subi-la cansada
Mas irei até ao fim

Meu amor, diz-me em que esquina
Hei-de virar nossas vidas
Quero mudar-lhes a sina
De becos em avenidas

Fado sonhado

Carlos Bessa / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de Luísa Nascimento


Minha mãe, graças a Deus
O meu sonho de menina
Está agora consumado
Sou feliz junto dos meus
Talvez sorte, talvez sina
Entreguei-me toda ao fado

Vejo em cada madrugada
Lágrimas de uma saudade
Quem em silêncio me escuta
Esta voz vinda do nada
Onde o fado é mais verdade
Conquistando cada luta

Que pena, minha mãe que pena
Quero-te aqui ao meu lado
P'ra poder cantar p'ra ti
Nesta paz calma e serena
Minha mãe, está consumado
Foi p’ró fado que eu nasci

Depois de ti

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Depois de ti não sei quantas
Cruzaram o meu caminho
Foram tantas, tantas, tantas
Que nem a soma adivinho

Hoje que todas passaram
Vejo que tu continuas
Pois juntas, não me deixaram
Saudades iguais às tuas

Agora sim dou valor
Ao ditado verdadeiro
Que diz que não há amor
Que se compare ao primeiro

Depois de ti, não sei quantos
Quantos amores conheci
Foram tantos, tantos, tantos
Que a conta já lhes perdi

O passeio dos tristes

Carlos Leitão / Paulo Paz
Repertório de Carlos Leitão


Batemos no peito, cantamos o hino
Ouvimos conversas à hora da bica
Juramos ‘star juntos, haja o que houver
Vendemos os sonhos a um euro destino
Que arregaça as mangas p’ra nos dar a pica
E dar cabo dos vivos, venha quem vier

À hora d'almoço, o noticiário
Diz o seu contrário num copo de vinho
Brindamos à urgência que agora fechou
E o Ronaldo, sózinho, foi quem nos salvou


Palestras d’amor e de auto-ajuda
Fiéis seguidores do mais perentório
Que posta e reposta por mais inclusão
Se é dia de greve, não há quem acuda
E a palavra d'honra é o contraditório
Dos tais veraneantes da abstenção

O jantar está na mesa, rezamos a Deus
Comemos os preços mais gordos do IVA
Amargos de boca são p’ra mastigar
É a experiência merecida por cá andar


E há uns paladinos que dizem saber
Dos novos caminhos que ‘stão por fazer
Dormimos com eles à espera que o dia
Dê graças à luz e à democracia;
E se a liberdade for condicional
Seguimos p'ra Bingo
Viva Portugal

O Júlio pescador

Carlos Bessa / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de José Barbosa


Fez-se ao mar pela noitinha
Foi à pesca da sardinha
No barco Maria Estela
Nome de sua mulher
Que na vida tanto quer
E não deseja perdê-la

Já bem longe d’Afurada
No pulsar da madrugada
O Júlio põe-se a pensar;
Foi tudo, p’ra ser alguém
Seus pais que Deus lá tem
Disso podem se orgulhar

Assobia um lindo fado
Por Manuel Dias cantado
"Amor de pai" que é tão lindo
E enquanto ele vai pescando
As gaivotas vão cantando
E as estrelas reluzindo

Cansado, de manhãzinha
Na lota vende a sardinha
Co’a mulher no seu pregão
Grita alto o velho Roque
Filha do Quim do reboque
Mantém viva a tradição

Chega enfim, sábado à noite
O Júlio procura acoite
Numa tasca pequenina
Nessa noite ali há fado
Com a mulher a seu lado
Faz do fado a sua sina

Espera de toiros

Mote: Carlos Conde / Glosa: Henrique Rego / Popular fado corrido
Repertório de Manuel de Almeida
Esta letra, com o título original *Tarde de toiros* sofreu algumas 
alterações na gravação e para além disso a 2a estrofe não foi gravada

Nesse domingo de agosto
Foi linda a espera de gado
Desde manhã ao sol posto
Houve alma, Toiros e Fado

Manhã cedo ainda se ouviam 
Os roucos cantos dos galos
Já dos fogosos cavalos 
As guizeiras retiniam;
Os retiros já se viam 
Engalanados com gosto
E o Sol, no seu régio posto
Brilhante como um tesoiro;
Abria o seu leque d’oiro
Nesse domingo de agosto

Campinos de matacões 
Gente nobre, gente fixe
P’la Calçada de Carriche
Eram alvo de ovações;
Sob os fortes aguilhões 
O curro vinha domado
E o povo, entusiasmado
Dizia, de orgulho cheio;
Para os anais do toureio
Foi linda a espera de gado


Já tudo sabia ao certo
Que nessa tarde, Fuentes
Lidava toiros valentes
Das lezírias de Roberto;
O Sol era um lírio aberto
No manto do céu exposto
E o povoléu, bem-disposto
Vira passar, em tipóias;
Mulheres lindas como jóias
Desde manhã ao sol posto

Campanudo e Patusquinho
No retiro do Vilar
Encontravam-se a cantar 
Desde manhã, bem cedinho;
Dos tonéis corria o vinho 
Espumante, avermelhado
Tudo estava inebriado 
Tudo vivia num sonho
Pois nesse dia risonho
Houve alma, Toiros e Fado

Silêncio

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Silêncio, cala-te vento
Não chores mais p’lo caminho
Consente que este lamento
Feito do meu sofrimento
Chore no mundo sozinho

Silêncio, cala-te mar
P’ra quê bater nesse jeito
Se não chegas p’ra abafar
As penas do meu penar
No marasmo do meu peito

Silêncio, chuva que é tanto
O pranto dos olhos meus
Que até mesmo quando canto
É maior todo o meu pranto
Que todo o pranto dos céus

Silêncio, que a tempestade
Que em meu peito se agitou
Tem mais força, mais vontade
Porque é feita da saudade
Que um grande amor me deixou

Fado Toninho

Letra e música de Pedro da Silva Martins
Repertório do grupo *Deolinda


Dizem que é mau, que faz e acontece
Arma confusão e o diabo a sete
Agarrem-me que eu vou-me a ele
Nem sei o que lhe faço
Desgrenho os cabelos
Esborrato os lábios

Se não me seguram, dou-lhe forte e feio
Beijinhos na boca, arrepios no peito
E pagas as favas, eu digo "enfim”
Ó meu rapazinho és fraco p’ra mim


De peito feito ele ginga o passo
Arregaça as mangas e escarra pró lado
Anda lá, ó meu cobardolas
Vem cá mano a mano
Eu faço e aconteço
Eu posso, eu mando

Se não me seguram, dou-lhe forte e feio
Beijinhos na boca, arrepios no peito
E pagas as favas, eu digo "enfim”
Ó meu rapazinho sou tão má p'ra ti


Ó meu rapazinho eu digo assim
Se não me seguram dou cabo de ti

Feitiços do fado

Carlos Baleia / Arménio de Melo
Repertório de Adriano Pina


Rua que é de não sei quem
Onde existe um pelourinho
E os passos que dou, se calam
Espaço meu e de ninguém
Esta rua onde caminho
Com silêncios que me falam

A luz baça dos recantos
Sabe histórias sem ter fim
Da rua misteriosa
E há suspeitas que num canto
Onde há bancos de jardim
A rua é mais carinhosa

Tudo pode acontecer
Nesta rua que os meus passos
Não se cansam de pisar
Pode-se amar e nascer
Num viver de estranhos laços
E fatalmente, cantar

Rua louca, doida rua
Vinda do tempo passado
Em transportes de ilusão
Em ti passo à luz da lua
Quando os feitiços do fado
Me falam ao coração