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Tenho vindo a publicar letras (de autores que já partiram) sem indicação de intérpretes ou compositores na esperança de obter informações detalhadas sobre os temas.
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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: por falta de informação nem sempre são mencionados os criadores dos temas aqui apresentados.
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O1/12/2025 <> 7.990 letras publicadas <> 4.544.000 VISITAS

... encontrará neste blogue alguns textos de canções intemporais ...

Meu país, fado maior

Paulo Bragança / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Paulo Bragança


Jaz no teu coração
Uma terra de lusa-história
O império desfeito em vão
Em nome de falsa glória
Jaz no teu coração

Meu pais fado maior
Neste menor que é o fado
Tua alma Deus Senhor
É uma rosa do condado
Meu pais fado maior

Partiram no teu sonho
Onde os monges são de cera
Pedaços de oiro, suponho
Que o passado conhecera
Partiram no teu sonho

Partiram as naus um dia
Tu’alma dormindo pensa
Dentro delas quem iria
Só vejo a tua presença
Partiram as naus um dia

Coimbra eu quis voltar

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Coimbra eu quis voltar
A ver-te porque a verdade
É que julgava matar
Quando te vi a saudade

Mas ao ver cheias as ruas
De vidas em Primavera
As saudades que eram tuas
São saudades do que eu era

Vinham ecos pelo chão
Do que foi a nossa voz
Cada pedra é uma ilusão
Que te deixou um de nós

Na mocidade dos nossos dias felizes
É que a saudade ganha a força das raízes
Porque a saudade é uma renda tecida
Com a idade e o fio da nossa vida.

Coimbra da mocidade
Ainda brincas co’a lua
Tecendo pela cidade
Fios de prata em cada rua

Ao Penedo da Saudade
Ouvi dizer uma vez
Eu sou pedra na verdade
A saudade são vocês

Hoje ao vê-lo novamente
Senti que o Penedo é feito
Destas saudades que a gente
Traz escondidas no peito

Quimera do meu fado

Carlos Coelho / Raul Pinto
Repertório de Carlos Coelho


Quando sinto esta tristeza
É que me invade a incerteza
Que me aperta o coração
Não sei se ainda te tenho
Só sei que vou e que venho
Envolvido em escuridão

Conheço bem tua luz
E tudo o que ela traduz
Na doçura do desejo
Este meu tempo tão frio
Está cada vez mais sombrio
Sem o clarão do teu beijo

Sem saber como ou porquê
No amor minh’alma crê
Por isso me dou inteiro
Não quero ser condenado
A viver este meu fado
Sem um amor verdadeiro

Eu queria ser primavera
Construir uma quimera
Para te fazer feliz
Ter o brilho dos teus olhos
Quiçá, teu amor aos molhos
É tudo o que sempre quis

Nem sempre

Letra de José Guimarães
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Nem sempre o que se canta é de alegria
Nem sempre a gente chora é de tristeza
Nem sempre nas palavras há poesia
Nem sempre o amanhã uma certeza

Nem sempre recordar é ter saudade
Saudade é o que de bom ficou em nós
Nem sempre a nossa voz fala verdade
Os olhos mentem menos do que a voz

Nem sempre o criminoso tem castigo
Nem sempre a humildade é singeleza
E nem sempre quem dá é nosso amigo
Nem sempre ser feliz é ter riqueza

Nem sempre primavera é renascer
Nem sempre ser um velho e ter idade
Nem sempre temos olhos para ver
Quem precisa de amor e caridade;
Nem sempre temes mãos para estender
A que nos pede um pouco de amizade

Adeus tristeza

Letra e música de Fernando Tordo
Repertório de Fernando Tordo

Na minha vida tive palmas e fracassos
Fui amargura feita notas e compassos
Aconteceu-me estar no palco atrás do pano
Tive a promessa de um contrato por um ano;
A entrevista que era boa não saiu
E o meu futuro foi aquilo que se viu

Na minha vida tive beijos e empurrões
Esqueci a fome num banquete de ilusões
Não entendi a maior parte dos amores
Só percebi que alguns deixaram muitas dores;
Fiz as cantigas que afinal ninguém ouviu
E o meu futuro foi aquilo que se viu

Adeus, tristeza, até depois
Chamo-te triste por sentir que entre os dois
Não há mais nada p'ra fazer ou conversar
Chegou a hora de acabar


Na minha vida fiz viagens de ida e volta
Cantei de tudo por ser um cantor à solta
Devagarinho num couplé p'ra começar
Com muita força no refrão que é popular;
Mas outra vez a triste sorte não sorriu
E o meu futuro foi aquilo que se viu

Na minha vida fui sempre um outro qualquer
Era tão fácil, bastava apenas escolher
Escolher-me a mim, pensei que isso era vaidade
Mas já passou, não sou melhor, mas sou verdade;
Não ando cá para sofrer, mas p’ra viver
E o meu futuro há-de ser o que eu quiser

Amor de toda a vida

José Fernandes Castro / Sérgio Dâmaso *fado sérgio*
Repertório de Gina Santos (ao vivo)


Amor de toda a vida e mais que seja
Que não me cansas nunca, nem te cansas
Tu és muito mais forte que a inveja
Que teima em algemar doces lembranças

Luar que sempre brilhas no meu fado
E raramente vais onde não vou
Contigo tens o dom imaculado
Da paixão que a verdade abençoou

Amor que sempre tens a rima certa
Amor que rimas tudo o que tem cor
Talvez seja por ti que sou poeta
Talvez seja por ti que canto o amor

Amor que me seduz e me sufoca
Amor que me condena a ser feliz
A doçura voraz da tua boca
Expressa o que minh'alma nunca diz

Meu amor não venhas tarde

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Emília Reis


Meu amor, estou em cuidado
Por favor não venhas tarde
Pelo que tenho rezado
Eu espero que Deus te guarde

No oratório pequenino
Já uma vela acendi
Meu amor, p’ra que o destino
Te guie os passos prá aqui

É a chorar e fazendo preces
Que eu estou esperando
A ver se apareces
E a Senhora da Boa Hora
Já prometeu que chegas agora


Eu não sei se é a saudade
De te ter ao pé de mim
Mas esta dor que m’invade
Quando tu chegas, tem fim

A vela que eu acendi
Consumiu-se e já não arde
E tanto que eu te pedi
Meu amor, não venhas tarde

Um livro chamado Inês

Letra e música de Paco Bandeira
Repertório do autor
Esta letra chegou a ser interpretada pelo saudoso José do Carmo 
na música do Fado Puxavante de Joaquim Campos (?) Júlio Proença

A mulher é como um livro
Antes de se folhear
Tem beleza, tem doçura
Que mistério tem no olhar

Mas depois do livro lido
O livro não presta mais
A não ser que haja um motivo
Que faça voltar a atrás

Eu tive um livro tão lindo
Livro que li tanta vez
Um livro que me roubaram
Um livro chamado Inês

As páginas desse livro
Já não voltarei a ler
Porque esse livro roubado
Tem por dono um outro ser

Li tantos livros na vida
Cada livro é uma lição
São livros que não me interessam
Livros em segunda mão

Mas esse livro que eu amo
E a outro ser, faz feliz
Que não se esqueça jamais
Que foi o primeiro que eu li

De todos e de ninguém

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Não quero ser tua
Não sou de quem deseja
Sou livre como na rua
É o vento que me beija;
Passa a guia duma asa
Que no ar alto se isola
O teu amor, uma casa
Não passa duma gaiola;
Por isso não quero ser tua
E é a lua d’alguém?
Pois eu serei como a lua
De todos e de ninguém

Os meus sentidos
Na torrente dos desejos
Andam já entorpecidos
Como o calor dos teus beijos;
Podem estar lassos, dispersos
Que ainda me sabem dar
A noção do que há nos versos
Dum rouxinol a cantar;
E sentindo que palpita
Tanta beleza em redor
Não fecho o mundo, acredita
Só dentro do nosso amor

Sei que me queres
P’ra que viva unicamente
Surda p’ró que não disseres
E cega p’ra toda a gente;
Tu nem queres qu’eu veja as cores
De tudo o que me sorri
Nem a beleza das flores
Se estiver junto de ti;
Mas quando o Sol te ilumina
E te vejo e vejo aquele
A coisa mais pequenina
És tu amor, não é ele

Menina de olhos cansados

António Vilar da Costa / Nóbrega e Sousa
Repertório de Tony de Matos


Menina de olhos cansados
Dois lindos fados num fado
Triste, ao vê-la, parece
Que até se esquece que o mundo existe

Não sonhe lá nas alturas
Que faz tonturas sonhar assim
Se até o sol beija a lua
Que ideia a sua fugir de mim

Amor, amor não se procura
Quando promete chega na altura
Amor, amor ‘stá na hora
Eu e tu, tu e eu
Ai o mundo é nosso agora


Faz pena vê-la sózinha
Qual andorinha sem primavera
E tantos dias risonhos
Mundos de sonhos à nossa espera

Menina de olhos cansados
Deixe os cuidados para nós dois
Num beijo dê-me um sorriso
Que o paraíso virá depois

A canção do artista

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Fazer versos, é ter queda
P’ra cantar os universos
Onde se cunha a moeda
Do sentir posto nos versos

Se o artista em toda a parte
Fosse rico, com certeza
As maravilhas da arte
Seriam uma pobreza

O artista é desprendido
De riqueza e troféus
Talvez por ter já nascido
Enriquecido por Deus

No amargo sofrimento
Duma dor que nos domina
É que a chama do talento
Deixa de ser pequenina

E se é grande, é o motivo
De haver brasas na ideia
Brasas dum rubro mais vivo
Que a chama que as incendeia

Hino à Murtosa

Letra de Carlos Conde / Música de Túlio Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Murtosa das bateiras sobre a ria
Dos barcos mercantis, dos moliceiros
És toda luz e cor na sinfonia
Dos campos, dos jardins e dos canteiros

Murtosa do São Paio da Torreira
Que gostou de te ver rir e bailar
Tu bailas, cantas, ris a noite inteira
À roda de uma quadra popular

A ria debrua com franjas de lua
O véu de noivado
E o sol, um tesoiro, borda a seda e oiro
Teu fino toucado
As ondas de espuma tecem uma a uma
As rendas do altar
Murtosa, princesa
És a mais portuguesa das noivas do mar


Murtosa dos caminhos verdejantes
E das eiras em largas desfolhadas
Os teus campos de espigas ondulantes
São traços de aguarelas delicadas

Murtosa toda amor, encanto e luz
És tão grande na fé que Deus te deu
Que lembras um presépio onde reluz
A estrela mais bonita que há no céu

Assim

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Assim sem o azul 
Um grande mar, que seria
Também sem temporais 
O que era a bonança
Sem dor e sofrer
Nem sequer se sabia
O que pode a nossa fantasia
Fazer p’ra nos dar uma esperança

Assim como não pode haver 
O vermelho sem cor
Também sem a flor n
ão há o perfume
Sem carne não pode doer uma dor
Sem alma não há o amor
Sem amor não tem vida, o ciúme

Assim como seriam 
As estrelas sem luz
Assim o luar que era
Sem haver a água
Também não há sofrimento sem cruz
E que era uma cruz sem Jesus
Mais que pedaços de tábua

Assim sem o sol 
Jamais se fará madrugada
Também sem a dor 
Nunca há poesia
Sem ti, minha vida seria um nada
Seria um nada 
Ou nem mesmo seria esse nada
Pois sem ti nem sequer existia

Eu sou do Porto velhinho

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Eu sou do Porto velhinho
Cantinho de tradições
Que vive todo inteirinho
Nas minhas pobres canções

Tudo ali é puro e belo
E em cada pedra do chão
Há um coração singelo
Murmurando uma oração

Meu Porto, linda cidade
Velhinha e bem portuguesa
És o berço da saudade
Do trabalho e da nobreza;
Longe de ti, acredita
Que toda a gente, me diz
Que tu és a mais bonita
Das terras do meu país
Oh! minha terra bendita


O Douro passa a cantar
E arranja sempre maneira
De enquanto passa, beijar
Os pés da velha Ribeira

E quando a cidade dorme
Vista de longe ao luar
Parece um altar enorme
Onde a Lua vai rezar

Conto de aldeia

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Era uma vez uma aldeia
Ele e ela e depois
A Primavera e as flores
Foram tecendo uma teia
Que foi apertando os dois;
Na teia dos seus amores

Uma rosa do caminho
Que levava a casa dela
Andava toda invejosa
Porque não tinha o carinho
Que a outra tinha e porque ela;
Também se chamava Rosa

Pela rua do seu lar
Passou o tempo fugindo
Alegre feliz contente
O tempo custa a passar
Com tristeza porque rindo;
Passa ele de repente

Outra Primavera ensina
A roseira a dar as flores
Mais bonitas desta vez
E na casa pequenina
Naquela teia de amores;
Eram dois ficaram três

Tu que não crias em Deus

Letra e música de Guy de Valle Flor
Repertório de Beatriz da Conceição


Tu que sem alma viveste
Espalhando pecado e dor
Bem depressa envelheceste
Sem conheceres o amor

Hoje disseste-me adeus
Eu nem te reconheci
Tu que não crias em Deus
Tu que não crias em Deus
Num Deus que queria a ti


Antigamente passavas
E olhavas-me com desdém
Nesse tempo tu reinavas
Pensando que eras alguém

Pobre rainha sem trono
Hoje no fim da descida
Votada (?) ao abandono
Esquecida da própria vida

Canção do passado

Letra de Carlos Conde
Excerto retirado da peça "O crime daquela noite"


Sou duma terra
Que fica longe daqui
Por entre olaias cresci
E sem pai me fiz homem
Sou duma terra
Que estremeço, há muitos anos
Onde as tribos de ciganos
Em negócios se consomem

Sou duma terra
Onde em tempo que lá vai
Fiquei sem amor de pai
Era eu pobre e pequenino
Sou duma terra
Entre olivedos perdida
Que ditou a minha vida
E traçou o meu destino

Sou duma terra
De onde fugiu minha mãe
E em que um pobre que Deus tem
Me afagou nos braços seus
Sou duma terra
Que nos mostra, pelo visto
Que os pobrezinhos de Cristo
Também são filhos de Deus

Sou duma terra
Duma terra abençoada
Onde eu não tenho mais nada
Que uma crença estremecida
Sou duma terra
Onde existe amor profundo
Que me faz correr o mundo
E me ensina ao que é a vida

Guitarra sussurrante

Carlos Coelho / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Carlos Coelho

Minha guitarra tão querida
Quando a afago com carinho
Acalmo minha alma ferida
Por ter cravado, um espinho

De madeira luzidia
Parece o sol a brilhar
Numa praia fugidia
Com o sussurro do mar

Quando toco nela, sinto
Todo o bem que ela me dá
Entrando em seu labirinto
Sem querer mais sair de lá

Neste fado do meu fado
Onde a dor é penetrante
Quero viver abraçado
À guitarra sussurrante;
Guitarra do meu agrado
Companheira, amiga, amante

Beijos de sol

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


Há numa flor
Quando o sol se levanta
Muito mais cor
E toda ela canta
Ternura calma
Que a luz do sol encerra
Toca na alma
Porque é luz do céu
Que ilumina a terra

Há num botão
Da rosa que vai abrir
A ilusão da Primavera a rir
E o perfume
Que no ar flutua
E sobe nos céus
É feito com lume
Do sol e da lua
E o sopro de Deus

Cidade nova

José Fernandes Castro / Popular *Corrido do Manuel de Almeida*
Repertório de Ricardo Monteiro


O chão da minha cidade
Tem asfalto do futuro
E o povo sente vaidade
Em ter um solo mais puro

O céu da minha cidade
Tem espaços sonhadores
Porque na voz da saudade
Há sonhos muito maiores

O mar da minha cidade
Tem ondas de confiança
Na maré que nos invade
Temos o sal da esperança

Na minha cidade nova
Há sonhos do meu agrado
Nos versos de qualquer trova
Tudo tem sabor a fado

Aquele livro fechado

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

A mão do destino traça
Linhas que a sina disser
E por tudo que se faça
A vida é desgraça
Quando a sina o quer

Bem como a pedra caída
No liso espelho da água
Uma esperança destruída
Às ondas dá vida
No lago da mágoa

O fado é trova sentida
Pedaços da vida
Que vibram na voz
Tem na melodia e nos versos
Queixumes dispersos
Que vivem em nós

Naquele livro fechado
Que o futuro nos vai abrindo
Cada folha é um bocado
De vida, passado
A chorar ou rindo

Às penas que vão nascer
Num futuro ignorado
Nada se pode fazer
Mais do que sofrer
Cada um seu fado

Ele é a renda tecida
Com o fio da vida
Romance cantado
É muitas vezes sofrimento
Porque o sentimento
É que fez o fado

Rosa vaidosa

António José / Ferrer Trindade
Repertório de Tony de Matos


Mora num andar em frente ao meu
Vive só, assim como eu, também
Só sei que se chama Rosa
É uma Rosa vaidosa
Que se julga mais do que ninguém

E na rua, a quem lhe quer falar
Se responde, é só com altivez
Põe toda a gente distante
Lá vai seguindo elegante
Nem sorri p’ra mim uma só vez

Mesmo a Rosa de qualquer jardim
Nunca viram uma Rosa assim
Estou na esquina à sua espera
E até cheira a primavera
Quando ela passa por mim

Há quem diga com verdade
Que pena ser tão vaidosa
Ai se ela quisesse um dia
Na minha vida sombria
Faz tanta falta uma Rosa

Tempo perdido

Luís de Campos / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Lídia Ribeiro


Tinha o destino marcado
O nosso amor fracassado
Como a minha, nem eu sei
História da minha vida
Uma história adormecida
Que ao recordá-la, chorei

Sepultado em peito meu
O meu amor e o teu
Eu queria ressuscitar
Mesmo que fosse um só dia
Eu nem sei o que faria
Para o tempo não passar

Se ainda te vir sorrir
E dentro de ti existir
Um resto do que sofremos
Abraça-me, beija-me tanto
Quero matar nosso pranto
E o tempo que nós perdemos

Toiro de Vila Franca

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Hermínia Silva


Numa corrida de touros
O cavaleiro na praça
É um herói, tem que ser valente
E é evidente que é de cá da raça;
A fitar de frente a frente
Vibra todo o redondel
O cavalo o touro teme
E tudo ali treme, menos ele

Eh toiro de Vila Franca
Eh touro bonito, arranca
Que tens aqui quem te faça frente
Corre p’ró meu cavalo
Que eu contra ti abalo
A emoção vibra em toda a gente


O cavaleiro na arena
Domina cavalo e touro;
Firme na sela, faz que pareça
Uma só peça fundida em oiro;
Como todo o que é valente
Aguenta o perigo na calma
E põe sempre em cada sorte
Que é vida ou morte, toda a alma

Se o Marquês de Marialva
Que foi mestre em toda a parte
Agora visse o mestre João
Dar uma lição lá da sua arte;
Visse meter um cavalo
De frente ao piton contrário
Pensava, é minha gente
Gente valente, é extraordinário

Nas cordas d’uma guitarra

Carlos Coelho / José António Sabrosa
Repertório de Carlos Coelho


Nas cordas d’uma guitarra
Vou cantando a soluçar
A vida às vezes bizarra
Faz-me viver p’ra te amar

As lágrimas deste meu pranto
São gotas vindas dos céus
Amor é divino manto
Que me foi dado por Deus

O amor é luz amiga
Nas horas boas e más
É a força que me obriga
A nunca voltar atrás

Para trás não voltarei
Estou no caminho que quis
Se o meu coração te dei
Quero fazer-te feliz

Em busca do paraíso
Percorro as pedras da vida
Nos lábios tenho o sorriso
Da pessoa mais querida

A minha casa

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


A minha casa é aquela que se vê
De todas a mais branquinha
Pode não ser a mais bela, acho que é
Se calhar por ser a minha

As janelas enfeitadas de rosinhas
Um quintalinho, uma horta
Duas parreiras armadas
E cachos d’uvas douradas
São o telhado da porta

Toda a gente logo pára, quando passa
Por qualquer coisa que sente
Como uma espécie de graça que esvoaça
Em redor do ambiente

Dá pinceladas de brasa
O Sol, a tudo o que avista
Mas ali na minha casa
Mas ali na minha casa
É que o Sol é mais artista


Da minha casa p’ra lá, é o final
Porque ali o mar começa
E perguntam-nos o que há em Portugal
Que o Sol perde a cabeça

É porque ele ao caminhar, quando nos deixa
É sempre com o desgosto
Do rapaz que vai p’ró mar
Pode um dia não voltar
Lá das águas do Sol posto

Então vai-nos entregando em suas teias
Por não querer levar p’ró mar
Rubis de luz nas aldeias às mãos cheias
Com que a gente anda a brincar

Sinto piedade

Letra e música de Guy de Valle Flor
Repertório de Beatriz da Conceição


Sinto piedade
Quando te vejo passar
Com tristeza no olhar
E certo ar comprometido
Sinto piedade
Dessa que vai a teu lado
Julgando-te apaixonado
Pensando teres-me esquecido

Passas altivo
Com outra de braço dado
Queres sentir-te acompanhado
Dispensando estar contente
Mas eu te digo
Pobre de ti, metes dó
Como podes ‘star tão só
No meio de tanta gente

Sinto saudade
De te ver sorrir, sincero
Sem pores esse desespero
Em que hoje tens vivido
Que infelicidade
Deve ser fingir assim
Quando olhas para mim
Com ar de desconhecido

Há já quem diga
Que afirmas que te esqueceste
Desse tempo que viveste
Dum amor que já morreu
Mas Deus castiga
E é por isso que hoje em dia
Fingindo teres alegrai
És mais infeliz do que eu

Povo sagrado

José Vasconcelos e Sá / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de António Pinto Basto


Alentejo, amargura
Cuja memória perdura
Tua agonia é pujança
Tu podes não ter mais nada
Mas tua alma é sagrada
Porque nela vive a esperança

Oiço o gemer da charrua
A rascar a terra crua
Numa constante labuta
Os torrões de cada herdade
Rezam preces de humildade
E a terra nem sempre escuta

Alentejo sedutor
Não percas o teu labor
Vence a terra fresca e nua
Teu povo não desanima
De todos merece a estima
Não desistas, continua

Carta do Chico

Letra de Alberto Janes
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.


À saída de um petisco, no outro dia
De um franganito tratado, em fricassé
Eu ouvi cantar num disco
Uma cantiga que fala
No Chico do Cachené

Ouvi com mais atenção e vi então
Que era somente de mim que se falava
E dizia uma pequena, que era uma pena
Eu estar no estado em que estava
Por ser verdade o que ouvi, tanto senti
O que me dizia o disco
Que uma saudade maior
Deu-me volta ao interior
E escangalhou-me o petisco

Empurrou-me esta saudade para trás
E ouvi-me a mandar vir mais um jarrinho
Pois deixem falar quem fala
Se a saudade nos abala
A água não é caminho

Resolvi depois escrever, está bem de ver
A quem me canta no disco, agradecendo
Uma azeitona de sobra, mãos à obra
A escrever ia comendo

Fado do nosso amor

Carlos Coelho / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Carlos Coelho


Foi naquele fim de tarde
Que o amor aconteceu
Não sei bem se veio tarde
Só sei que meu peito arde
No fogo que ele acendeu

Ao sentir esse teu beijo
Os meus olhos te disseram
Neste amor com tal desejo
Dorido, quando não vejo
O que os teus lábios me deram

P’la força que tu me dás
Que acalenta este meu ser
Não quero voltar atrás
Contigo encontrei a paz
Tu és todo o meu viver

Agora que estás em mim
Neste amor sem condição
Vou contigo até ao fim
Pois meu amar é assim
Assim é meu coração 

Anda o fado a brincar comigo

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Hermínia Silva


Anda o fado a brincar comigo
O castiço, o verdadeiro
Porque há fados, meu amigo
Que de fado, nem o cheiro;
São melopeias sentidas
Que cantam umas pessoas
Que à força de boas vidas
Já não têm vidas boas

Ó fado, se queres ser bom
Dá-me saúde e alegria
E dinheirinho que chegue
P’ra isto do dia-a-dia;
Vai à desgraça, previne-a
Se a pouca sorte me viu
E diz-lhe: – Só à Hermínia
Você não faz mal, ouviu?


Anda o fado a brincar comigo
Sempre que canto de novo
O que eu canto e o que eu digo
Fica na boca do povo;
Encanta-me a melodia
Dos fados, os mais diversos
E só canto a alegria
Que caiba em quatro versos

Comigo o fado brincou
Desde muito pequenina
Eu cantei, ele gostou
E tornou-se a minha sina;
Há coisas que o fado tem
Que não sabe muita gente
E até só as sabe bem
Quem canta só o que sente

Tanto me faz

Marta Rosa / José Carlos Gomes *fado magala*
Repertório de Tânia Oleiro


Posso perdoar, talvez
Esquecer não sou capaz
Quem mal tanto me fez
Agora tanto me faz


Passa por mim outra vez
Já não leva o meu sossego
Hoje só por desapego
Posso perdoar, talvez

Mesmo a quem não satisfaz
A verdade não se nega
Posso até fingir-me cega
Esquecer, não sou capaz

Vejo ali com que altivez
Passa agora e me sorri
Passe bem longe daqui
Quem por mal tanto me fez

Conquistei a minha paz
Sou feliz e na verdade
Já não guardo nem saudade
Agora tanto me faz

Resta-me o fado

José Fernandes Castro / Armandinho *Fado Mayer*
Repertório de Paula Canossa (ao vivo)


Eu já sabia
Que o nosso dia faria história
Por ser imenso
Por ser intenso (e) cheio de glória
Só não pensei
Que o amor sem lei e sem pecado
Chegasse ao fim
E sendo assim resta-me o fado

Resta-me o fado que hoje sou
E que me transformou
Naquilo que ficou
Agora que partiste
Resta-me o fado
Que sinto, mas não se vê
E tenho à minha mercê
Um sonho que não desiste


Mantenho vivo
Aquele desejo que não me vence
Doce motivo
Para que um beijo me recompense
De fado em fado
De verso em verso, mas sem amarras
Sou o trinado
Quente e disperso que há nas guitarras

Fado das lágrimas

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Fernanda Peres


Gota d’água que ao brilhar
Consegues atenuar
O desgosto que se acalma;
Tu és a alma a sangrar
O pranto é sangue da alma

Os teus segredos são tais
Que não apareces mais
Quando a vida é doce e calma;
Só corres nos temporais
Do mar que temos na alma

Se o pranto no meu olhar
Não mora constantemente;
É que vive no cantar
Pois aprendi a chorar
Duma maneira diferente;

Uma coisa me domina
A cantar dentro de mim;
É a voz da minha sina
Porque é ela quem me ensina
A chorar cantando assim

Estas duas estrofes não foram gravadas
Em cada lágrima vai 
Um bocadinho dum ai
Nascido do sentimento
Em cada uma lá sai 
Um pouco de sofrimento

Cada lágrima caída 
No adeus da despedida
Dos meus olhos infelizes
É um pedaço de vida 
A que faltaram raízes

Era o amor

Fernando Campos Castro / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Carlos Coelho


Não sei que nome teria
Nem sequer onde morava
Só sei que a noite morria
E senti nascer o dia
Na boca que me beijava

Talvez fosse brisa pura
Soprando do infinito
Como um sopro de ternura
Em tempestade e loucura
Sobre o meu corpo aflito

Podia ter sido o mar
Em busca dum novo leito
Só sei que ao vê-lo chegar
Eu me senti naufragar
Sobre a praia do seu peito

Não importa quem ele era
Mar revolto ou campo em flor
Presença viva ou quimera
Foi um corpo à minha espera
E seu nome era o amor

Não volta mais

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Lídia Ribeiro

Tempo que passas… teu passar lesto
Traz-nos desgraças e leva o resto
Se a vida é boa vais apressado
Quando magoa tu ficas parado

Vive o sorriso um breve instante
O tempo olha e vai p’ra diante
Mas se é o pranto que a dor nos faz
O tempo pára e volta p’ra traz


Não, não volta mais a Primavera
Tudo o que a esperança contém e era
Ou quase tudo que já fui
Passa todo o encanto na vida
Vai morrendo na medida
Em que a esperança diminui

A quimera é doce, mas a mágoa
É amarga como a água
Do chorar duma criança
Têm sal as lágrimas do pranto
É amargo o desencanto
Do encanto duma esperança

Procurando o seu fado

José Lázaro Gravide / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Marina Mota


Uma alma triste e sombria
Perguntou à Mouraria
P´lo Fado que lá deixara
A Mouraria coitada
Respondendo-lhe envergonhada
Ninguém sabe onde ela pára

Esta alma entristecida
Foi a Alfama convencida
Que esta a pudesse informar
Alfama diz muito alto
Vai até o Bairro Alto
Lá o deves encontrar

Para lá se dirigiu
E o moderno Fado ouviu
Com desagrado, bem sei
Como pode estar diferente
Do Fado de antigamente
Daquele que eu cá deixei

Afinal sabem quem era
Era a Alma da Severa
Procurando o Fado seu
Tão diferente o Fado ouviu
Que teve medo e fugiu
De novo direito ao céu

Favas contadas

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Hermínia Silva


Chico Marujo jurara
Que se ela o deixasse atar a amarra
Uma vez que ele atracasse
Pegaria na guitarra;
E com a banza afinada
Em tons magoados de corda gemida
Andariam embarcados
Nos fados por toda a vida

Promessas destas naquela boca
Faziam-lhe festas e punham-na louca
Favas contadas, o mundo girou
E semanas passadas o Chico atracou


Quem nasceu já marinheiro
Faz parte da espuma das ondas do mar
Que vão a terra uma a uma
P’ra mais depressa voltar;
Prender um marujo à terra
Dizer-lhe que fique e que do mar saia
É pedir a uma onda
Fica aí quieta na praia

E o rapaz até a beijar
Não era capaz d’esquecer o mar
Vê-se que aflito anda o seu olhar
Como um passarito sem poder voar


O Chico jurou, cumpriu
E trocou o mar pelos beijos dela
Mas passa o dia a espreitar
Barcos, da sua janela;
À noite não vê a lua
Nem ouve o suspiro do morrer do dia
Acompanha-a num retiro
De fados, à Mouraria

Até que um dia foge vai-se embora
Deixa a Mouraria e sai barra fora
Vai a cantar, meu amor, se fujo
É porque sem mar ninguém é marujo

De sonho em sonho

Carlos Coelho / Armando Machado *fado maria rita*
Repertório de Carlos Coelho


Nesta dor, nesta amargura
Porque será que a alegria
Teima sempre em não ficar
Deixando entrar a loucura
Que torna a vida vazia
Por não te poder amar

De sonho em sonho, sonhando
E o meu coração contido
Nesta força de viver
Vai dia a dia lembrando
Tudo o que já foi perdido
Pela ânsia de te querer

Minha vida errada e triste
Afundada em solidão
E a minha esperança já gasta
Se o amor ainda existe
Mas magoa o coração
Num orgulho que o afasta

Agora que já é tarde
Tudo e nada consegui
Já pouco importa a verdade
Apenas meu peito arde
Por tudo o quanto perdi
Na fogueira da saudade

Quadras soltas

Alberto Janes / Jaime Santos *fado alfacinha*
Repertório de Peu Madureira


A saudade é que me diz
Que o meu caminho é errado
E que o caminho feliz
É o que leva o passado

Ditosas são ilusões
As horas do dia d’hoje
Porque são recordações
Do passado que nos foge

E quanto mais procuramos
Reviver o tempo, aquele
Quanto mais nele pensamos
Mais vamos fugindo dele

Nos caminhos desta vida
Eu também tenho o meu fado
Procuro a estrada perdida
Que me condena ao passado

Guitarra chora que eu canto

Mantas Massano / Joaquim Campos *fado vitória
Repertório de Frei Hermano da Câmara


Guitarra chora que eu canto
Para poder espalhar
As mágoas da minha vida
bem sabes que sofro tanto
E passo a vida a cantar
Por minh’alma andar perdida

Nem a frescura da aurora
Do sol das tardes d’agosto
Os rouxinóis a trinar
Até o que o coração chora
Vivo com tanto desgosto
E passo a vida a cantar

Ó guitarra. as tuas cordas
Fazem vibrar a minh’alma
Que sinto desiludida
Deste letargo me acordas
Dando-me alívio e mais calma
Por minh’alma andar perdida

Tanto pranto

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Emília Reis

Tanto, pranto tanto, que por ti chorei
Tanta lágrima dos meus olhos, caída
E tu sem me veres, eu assim não sei
Se me vale a pena eu estar vivendo a vida

Sei que me não queres
Não posso esquecer-te
Desde aquele dia triste
Em que te vi
Sei que tu te ris
Mas quero dizer-te
Que não é um crime o gostar de ti

Bem sei que tu mentes
Sei que tu m’iludes
E sabendo tudo
Gosto mais ainda
Que culpa tenho eu
Que nas atitudes
Que tomas sorrindo
O faças mentindo


As promessas lindas que tu me fizeste
Juramentos falsos com que m’iludiste
Roubaram à vida o que prometeste
E sem isso a vida é esta coisa triste

Chorando

Autor desconhecido / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Celeste Rodrigues
Desconhece-se o autor destes versos e agradece-se a
quem tiver informação credível.

Chorando a minha desdita
Com amargura infinita
Mutilado o coração
Co’a mais sentida verdade
Venho a cantar a saudade
Que me mata de paixão

Abriste de par em par
Como à noite abre o luar
As portas do novo mundo
Onde só vi a brilhar
De amor terno cintilar
Teu olhar meigo e profundo

Embalada na harmonia
Das palavras que te ouvia
Subi às estrelas, aos céus
Vivi um sonho dourado
Doce, meigo, apaixonado
Com teus lábios junto aos meus

A tua ausência

Carlos Coelho / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Carlos Coelho


Teus olhos já não procuram
O brilho que deram aos meus
Teus lábios emudeceram
E os meus que se enregelaram
Sem esse calor dos teus

Neste silêncio profundo
Que me tolda o entendimento
Eu sinto que a tua ausência
Afoga a minha existência
Neste mar de sofrimento

Se eu partir de repente
Será que deixo saudade
A quem esteve presente
Agora de mim tão ausente
Amor vivido verdade

Este amor a que me dei
Ficará prá eternidade
Desta vida levarei
Todo o pranto que chorei
E tão pouca felicidade

Rouxinol

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Amália


Assim como nasce o Sol
E a noite corre outros universos
Assim como o rouxinol
Mesmo até que morre está fazendo versos
Assim como a rosa nasce
Já com o perfume que terá um dia
Assim, minha dor desfaz-se
Ao calor do lume desta melodia

Assim como o azul do mar
É cópia fiel do que vai no céu
Assim como sem luar
A noite é painel pintado de breu
Assim, uma noite calma
Com estrelas brilhando e muito luar
Consegue trazer à minh’alma
A noção de quando começo a sonhar

Assim como tapa o ar
O cheiro da florinha no mato crescida
Assim como há no olhar
Aquela luzinha que é a nossa vida
Assim como a luz é luz
Porque o negro existe p’ra lhe dar mais cor
Também temos uma cruz
Como o negro é triste, como a luz amor

Assim como há a dor
E há a maldade num só coração
Também tem vida o amor
Existe a saudade e há o perdão
Assim como nasce o Sol
E a noite corre outros universos
Assim como o rouxinol
Mesmo até que morre está fazendo versos

Saudosa Maria

José Fernandes Castro / Alves Coelho *fado maria vitória*
Repertório de Alberto Veloso (ao vivo)


Já quase não há Marias
E os Manéis já são escassos:
E já poucos são os dias
Em que de casa fugias
Para cair nos meus braços

Vinhas sempre sorridente
Com beijos de timidez
E muito naturalmente
Eras a parte envolvente
Dum amor que a vida fez

Foste a Maria formosa
Por quem suspirei bastante
Mas em hora desditosa
Uma paixão caprichosa
Levou-te para distante

Assim fiquei prisioneiro
Duma saudade bravia
Vivendo no cativeiro
Desse meu amor primeiro
Minha saudosa Maria

Duas luzes

João da Mata / José Marques do Amaral
Repertório de Amália

Há duas luzes na vida
Que são todo o meu anelo
Uma és tu, mãezinha querida
E a outra não te revelo

São dois sóis, duas estrelas
Dentro de mim a brilhar
As maravilhas mais belas
Que Deus me podia dar

Com que alegria e prazer
As guardo no coração
A primeira, por dever
E a outra, por devoção

Eu gostaria, mãezinha
De cantar p'ra ti, somente
Mas tu és tão pobrezinha
Que canto p'ra toda a gente

Não há homem que não chore

Mário Rainho / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Natalino de Jesus


Dizem que um homem não chora
Tudo depende da hora
Que marca na nossa vida
Se a hora for de chorar
Não adianta guardar
Uma lágrima escondida

Se o relógio coração
Bate com mais emoção
Pelo amor que viu partir
Mesmo que um homem não queira
Nessa hora derradeira
Chorar, não pode sorrir

Quando é maior a saudade
Que visita a nossa idade
Para não nos deixar sós
Mesmo, por doce lembrança
Uma lágrima criança
Chora por dentro de nós

Todos choram ao nascer
Sem choro não há viver
Por muito que a gente implore
Mas se a morte leva alguém
Que nos amou, nos fez bem
Não há homem que não chore

Sem ti perdi a ilusão

Torre da Guia / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de José Fernandes Castro (ao vivo)


Dos meus tempos de criança
Guardo ainda, com saudade
O bocadinho de esperança
Que tinha naquela idade

Depois surgiu a verdade
Com o fogo da paixão
Que nasce da mocidade
Bem dentro do coração

Amei, e sem querer pensar
Lá fui de amor em amor
Até por fim, me encontrar
Eu e tu, defronte à dôr

Entre ciúmes medonhos
A pouco e pouco a paixão
Roubou-me o maior dos sonhos
Sem ti, perdi a ilusão

Alma triste

Alberto Barbosa e José Galhardo (?) / Frederico Valério *ai mouraria*
Repertório de Amália
Do filme Capas Negras 

Ai minha alma
Tu que levavas outrora
No riso à palma 
Sempre às mais, nem ris agora
Choras baixinho
Tal sofrimento com voz magoada
Pelo caminho do esquecimento 
Que leva ao nada

Alma que morres 
Sem compaixão nem consolo
P’ra que ‘inda corres
Pára e dorme no meu colo
Trava os teus passos
Teu desatino desventurado
Esquece em meus braços
Tão mau destino, tão negro fado

Volta alma triste
Que eu não sou mais hoje à espera
Que uma sombra que ainda existe
Desse alguém feliz que eu era
Volta alma querida
Que eu descuidada perdi
Vem correndo enquanto há vida
Que é p’ra não morrer sem ti


Minha alma triste
Diz-me onde vais tresloucada
Que me fugiste 
Hoje, ao ver-te abandonada
E andas perdida
Flor da amargura, tonta e à sorte
P’lo mar da vida
Na selva escura do amor sem norte

Vem cá minh’alma
Volta ao meu peito e descansa
Por Deus acalma
Faz por ver a luz da esperança
Dessa luz vaga 
Nem tens notícia, mas hás-de vê-la
Que a mão que afaga 
Com uma carícia pode acendê-la

Navegante

Paulo César Pinheiro / Guinga
Repertório de António Palma


Navegador
Navegador sem paz, meu coração
Que deixa o cais e vai sem direção
Em busca de emoção a navegar por navegar
Solto na imensidão do mar

Terra distante, meu peito amante
É um navegante que vai

Canoa… a paixão é uma canoa
Com meu coração na proa
A serviço da coroa
De minha alma que é Lisboa, ai

Navegador
Navegador que vais no mar em vão
Deixando atrás o cais da solidão
Atrás de uma ilusão a navegar por navegar
Dentro da escuridão do mar

Amor ardente que leva a gente
Ao continente que atrai

Canoa… vai no mar da via à toa
Contra o tempo que se escoa
Quer pousar em terra boa
Como um pássaro que voa, ai

Conquistador
Navegador sem paz meu coração
Navegador, conquistador
Navegador, navegador

Voltar ao passado

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Maria Valejo


Queria voltar ao passado
Ver o Ferro d’Engomar
E junto do Armandinho
A Ercília ouvir cantar

Ir depois até às Hortas
Em patuscadas de cruz
Ir de charrete, ao domingo
Até à Feira da Luz

Ver uma espera de toiros
Com moscas e pó no ar
E acabar no Quebra-Bilhas
Com guitarras a tocar
Ouvir uma desgarrada
Depois dum fado gingão
E ao olhar p’ra um fadista
Entregar-lhe o coração


Queria voltar ao passado
P’ra depois vivê-lo bem
Mas o passado passou
E eu vou passando também

Queria voltar ao passado
E vivê-lo outra vez
Mas o passado não volta
E só se vive uma vez

O lápis da ternura

José Fernandes Castro / Jaime Santos *fado sevilha*
Repertório de José Carlos (ao vivo)


Com o lápis do prazer
E a tinta do desejo
Pintei, p’ra te oferecer
Um luar a renascer
No entardecer dum beijo

Depois, pintei uma estrela
Brilhando lá no espaço
Tinha marca de donzela
E só consegui prendê-la
Na força do teu abraço

Levei a estrela no peito
E guardei-a na memória
Agora só me deleito
Porque sinto que é perfeito
O amor da nossa história

Quero voltar a pintar
Outro quadro d’esperança
E quero simbolizar
O fogo do teu olhar
No olhar duma criança

Nada por esmola

Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa
Repertório de Carlos Barra


Não me dês nada
É melhor, já não me iludo
Não me dês nada
Se não me podes dar tudo

Não me dês nada
Não quero esmolas
Não quero amor por medida
Quero ser teu toda a vida

Se tu não queres
Eu por mim nada te imponho
Há mais mulheres
Para eu vestir mau sonho
Segue o caminho
Que o nosso destino talha
Não sou beiral do meu ninho
Eu sou beiral de quem calha

A minha cruz

Clemente Pereira / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Maria Valejo


Há muito que esta incerteza
No meu peito tem lugar
À minha mágoa ando presa
Chega-me sempre a tristeza
Se não te vejo chegar

Por ter de ti um carinho
Julguei o mundo ser meu
Mas hoje triste, adivinho
Que as pedras do teu caminho
São mais felizes do que eu

Mas se a cruz fôr os teus braços
Anseio que me seduz
Jamais sentirei cansaços
E terminarei meus passos
Abraçada a essa cruz

Ana Maria

Linhares Barbosa / Alberto Ribeiro
Repertório de Max


Ana Maria entristecia de hora p'ra hora
Qual açucena de cor morena que o sol descora
Viu embarcar a linda moça, o seu amado
Que feito expedicionário
Partiu, levando-a no olhar;
Vestidinho de soldado
Para além do mar

Um fardamento todo cinzento e uma espingarda
Ia bonito o soldadito, naquela farda
Ana Maria, ao vê-lo pôs-se a chorar
Fica sabendo pequena que o teu noivo é militar
E se morrer pela pátria é p'ra te salvar


Ana Maria quem tal diria, parece agora
Outra moçoila, já é papoila que o sol namora
E tem razão
Pois quem defende Portugal
Vestidinho de soldado
Com uma espingarda na mão;
Defende o torrão natal
De qualquer traição

Trovador e marinheiro

José Fernandes Castro / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Alberto Veloso (ao vivo)


Não sendo já grito mudo
O fado é além de tudo
Um grito de voz presente
Com amarras no passado
Fado de hoje, é outro fado
Pulsando dentro da gente

Cresceu aos olhos do mundo
Bailando ao som tão profundo
Das guitarras do seu tempo
Soltou-se por toda a parte
E pelos braços da arte
Transformou-se em monumento

Não sendo já, voz calada
Despontou nova alvorada
Nos silêncios da revolta
Qual trovador marinheiro
Viaja p’lo mundo inteiro
Sem algemas, sem escolta

Quando quer falar ao povo
Faz-se velho, sempre novo
Faz-se novo com idade
A seu lado, a poesia
Mantém a mesma magia
Das rimas sem liberdade

Os meus passos e os teus

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Maria Valejo


Os meus passos e os teus
Não andam mais lado a lado
Meteste por um atalho
E eu fiquei no teu passado

O teu atalho não sabe
É um caminho fugaz
E mais dia menos dia
Tu tens de voltar p’ra trás

Os meus passos e os teus passos
Andam longe, longe assim
Tu escolheste outro caminho
Mas hás-de vir dar a mim;
Os teus passos e os meus passos
Agora vivem
(?) separados
Mas vão acabar bem juntos
Nos caminhos começados


Os meus passos e os teus
Parecem a noite e o dia
Os teus, por caminho triste
Os meus, esp’rando alegria

Não penses que eles te levam
Prá felicidade sem fim
Os teus passos, já ‘stá escrito
Vêm todos dar a mim

Saudade de Amália

António Reisinho / Ricardo Manuel Costa
(autorias sujeitas a confirmação)
Repertório António Severino
Este tema foi cantado por Pedro Ferreira 
no fado Pedro Rodrigues

Se uma guitarra saudosa
No mais baixinho trinado
À noite te acompanhasse
A tua voz maviosa
Enchia os bairros de fado
Quando Lisboa acordasse

Cantavas *Ai Mouraria*
Barco Negro e Foi Deus
Lágrima, Fado Malhoa
Era a voz que mais se ouvia
E todos os fados teus
Se cantavam por Lisboa

Gaivota voando ao frio
Abandono que foi dor
Nessa prisão de loucura
Povo que lavas no rio
Sabe-se lá meu amor
Meu limão, minha amargura

Se essa voz que o fado entoa
Cristalina, maviosa
A cantar ‘inda voltasse
Que feliz era Lisboa
Se uma guitarra saudosa
À noite te acompanhasse

Clarim

Frederico de Brito / José Pereira
Repertório de Max


Numa velha província d'além-mar

Ainda Portugal não estava em guerra
Haviam já tentado atravessar
As enormes fronteiras dessa terra

Porém o heroísmo dum valente
Dispondo dum punhado de soldados
Ao ver o invasor à sua frente
Bradou para seus homens denodados

Clarim… 
Aqui ninguém foge ao perigo
Vou mostrar ao inimigo
Que este solo é português
Clarim… 
Eis-me aqui à tua ilharga
Depressa, vamos à carga
Que só se morre uma vez


E então aqueles bravos, desta sorte
Impávidos, serenos, d’alma erguida
Lançaram-se à aventura contra a morte
Sem já quererem saber da própria vida

Correr. lutar, vencer, foi um instante
E quando essa batalha chega ao fim
Ouvia-se um soldado agonizante
Dizer: quase ao ouvido do clarim

Clarim… 
Nós não tugimos ao perigo
Mostramos ao inimigo
Que este solo é português
Clarim… 
Sinto a morte à minha ilharga
Depressa, vamos à carga
Que só se morre uma vez

Minha aldeia à beira rio

Armando Costa / Pedro Rodrigues
Repertório de Gil Costa (filho do autor) ao vivo


Fui ontem à minha aldeia
Que se esconde entre paisagens
Ao sabor do seu destino
À noite à luz da candeia
Ouvi contar mil passagens
Dos meus tempos de menino

Percorri a velha herdade
Bebi na fonte velhinha
Passei junto à capela
P´ra mara uma saudade
Fui beijar a capelinha
Onde namorei com ela

Molhei os pés no ribeiro
Que passa alegre e contente
Afagando os roseirais
E descansei no outeiro
A recordar tristemente
Tempos que não voltam mais

Voltei à vela cidade
Onde a vida se atropela
Num caudal que nos enleia
E concordei na verdade
Que não há vida mais bela
Que a vida da nossa aldeia

A saudade foi à praça

Popular
Repertório de Luz Sá da Bandeira


A saudade foi à praça
Foi à praça vender flores
Vender flores é maldade
É maldade, sim senhor

É maldade, sim senhor
Vender um amor-perfeito
Eu já vi vender amor
Quem não traz amor ao peito

Olhai, ai olhai
Olhai meus senhores
Minha terra é linda
Mais linda é ainda
Por não vender flores;
Não vendem lá rosas
Cravos também não
E os lírios são lírios
São tristes martírios
Que as saudades dão


A saudade foi ao campo
P’ra ver a fruta no tempo
Viu sair os passarinhos
Arrastados pelo vento

Arrastados pelo vento
A fugir do vendaval
A saudade foi-se embora
Dos campos de Portugal

Mensagem do mar

Leonel Neves / Durval Moleirinhas
Repertório de Luiz Goes


Anda o mar dizendo
Que a terra é única e pura
Como a vão trazendo
todos os rios que mistura...
Voz que os poetas entendem
Beijo que as praias não prendem
Minha alegria futura

Anda o mar contando
Que não há terras estranhas
Chuvas vão-lhe dando
Vales, planícies, montanhas...
Voz que os poetas entendem
Beijo que as praias não prendem
Ó mais amada das senhas

Anda o mar unindo
Homens com tudo e sem nada
mortos vêm vindo
Cinza no vento arrastada...
Voz que os poetas entendem
Beijo que as praias não predem
Minha certeza adiada

Fonte das Sete Bicas

Letra e música de Artur Ribeiro
Repertório do autor


Vamos os dois campos fora
Para a Senhora da Hora
Onde sem bailar não ficas
E assim que a Lua desponte
Vamos beber água à fonte
À fonte das Sete Bicas;
P'las Sete Bicas da fonte

Se queres casar
Anda meu amor à fonte comigo
Eu peço ao Senhor p'ra casar contigo
E verás se é ou não como eu digo


Casaremos na igreja
P'ra que o povo tenha inveja
Da minha linda mulher
E logo depois de casados
Como somos educados
Iremos agradecer;
À fonte dos namorados

Havemos de ter pequenos
Cheios de vida a e morenos
Como o Sol no horizonte
Lindos como tu, Anicas
Tão linda como tu ficas
Quando vais comigo à fonte;
À fonte das Sete Bicas

Mulher de corpo inteiro

Amélia Vieira / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Conceição Ribeiro

Nasci para lutar e vou vencer
Sem tréguas, sem lamentos, nem descanso
Sou livre e como tal, quero viver
Co’a força deste fado que canto

Que soprem sempre os ventos da mudança
Que caia em mim a cuva que me abraça
Depois da tempestade, vem a bonança
Que dá ainda dá força à minha raça

Errei, ai quantas vezes eu errei
Igual ao que acontece a toda a gente
Foram lágrimas de sal que eu chorei
Mas continuo de pé e vou em frente

Se falam mal de mim, não desespero
Tenho um ideal bem verdadeiro
Eu luto para alcançar tudo o que euro
Sou mulher, mas mulher de corpo inteiro

Cinco vidas

Tiago Oliveira / Eugénia Ávila Ramos
Repertório de Tatiana do Carmo *Grupo Rua da Lua*

De um trapo velho
Fiz cinco saias que querem rodar
Num pano branco
Cosi cinco bolsos para te levar
De saco às costas parti
Sem saber se ia voltar
Cabeça erguida
E olhos de quem quer olhar

Pus-te na minha mão
Cinco dedos para me escapar
O mundo deu-me então
Cinco vidas para me curar
E lá do bolso de trás
Perguntaste se ainda podias falar
Cabeça erguida respondi
Tanto me faz

Pela estrada andei
Quantas voltas eu dei
Sem encontrar o motivo para voltar


De um trapo velho
Fiz cinco saias que querem rodar
Num pano branco
Cosi cinco bolsos para te levar

E lá do bolso de trás
Perguntaste quando ia parar
Cabeça erguida respondi: até ter paz

Como não acreditas

Aos quatro ventos
Artur Ribeiro/ Cavalheiro Jnr. *menor do porto*
Repertório de Lenita Gentil
As duas últimas estrofes não foram gravadas

Não acreditas, pois não
Então tomo a liberdade
De dizer toda a verdade
Que me vai no coração

Posso falar da tortura
Que a tua ausência me traz
Pois sei de fonte segura
Que nunca acreditarás

Sendo assim sempre me atrevo
A confessar o que sinto
Pois sei que pensas que minto
E é falso tudo o que escrevo

Se eu cantar aos quatro ventos
Minha canção de saudade
Tu dirás que ouviste centos
De canções com mais verdade

Se eu chorar pedindo a Deus
Que termine este abandono
Vais achar que os olhos meus
Andam vermelhos de sono

Mas se a minha voz amua
E afirma chegar o fim
Gritarás de rua em rua
Mentira gosta de mim

Calçada esquecida

Sebastião Antunes / Carlos Lopes *fado bisnaga*
Repertório de Tatiana do Carmo *Grupo Rua da Lua*

Sentir a dolência das águas
Saber o caminho da foz
E o sol que se deita nas mágoas
De um cais que se lembra de nós

Subir a calçada esquecida
Guardar um olhar indiferente
Ouvir a conversa da vida
Falar desta vida da gente

Sorrir
Pois sabe sempre bem lembrar
Não vale a pena esquecer
Mesmo que doa recordar
São lembranças
Que aconchegam as ternuras
Ternuras da calçada esquecida
Que dão um sorriso ao passar;
Mas sorrir
Pois sabe sempre bem lembrar
E eu que nem vou tentar esquecer
Mesmo que doa recordar
São lembranças
Que aconchegam as ternuras
Ternuras que a calçada esquecida 
Me ajuda a lembrar

Loiras tranças

Letra e música de Artur Ribeiro
Repertório do autor

Não cortes as loiras tranças
Menina de olhos gaiatos
Brinca só com as crianças
Não faças mais desacatos

Se crescer é tua sina
Menina porque te cansas?
Deixa-te ser pequenina
Não cortes as loiras tranças

Loiras tranças
Idade das ilusões
Em que os nossos corações
São corações de verdade
Loiras tranças
Nessa tua cabecita
São a coisa mais bonita
Que trazes na mocidade


Não tomes ares de princesa
Quando vais para a escola
Porque as contas com certeza
Vão por fazer na sacola

Não uses saia comprida
Nem alteies os sapatos
Tens tempo de ser crescida
Menina de olhos gaiatos

Sangue novo

Letra e música de Luiz Goes
Repertório do autor


Ao ouvir a voz do povo
É que se aprende a verdade
Quem ama nasce de novo
E vive sem ter idade

Levar a vida a lembrar
Um triste passado morto
É como qu'rer navegar
Num mar sem água nem porto

Ao ouvir a voz do povo
É que a verdade aparece
Amor novo é sangue novo
Até na velhice aquece

Levar a vida a lembrar
Um triste e morto passado
É como qu'rer habitar
Um lar sem chão nem telhado

Lisboa mulher

Júlio Isidro / João Henrique
Repertório de Deolinda Rodrigues


Há lá coisa mais bonita
Que Lisboa num desejo
É alguém que eu sinto minha
É alguém que eu sinto minha
P’ra depois cobrir num beijo

Eu quero cobrir num beijo
E apertar num só abraço
Possuir no meu olhar
Possuir no meu olhar
O teu corpo, passo a passo

Lisboa não se deita a qualquer hora
Lisboa só se deita com quem quer
Lisboa sabe bem com quem namora
Lisboa é o bem do malmequer;
Lisboa faz amor só por amor
Lisboa tem desejos de mulher
Lisboa tens o cheiro, tens a cor
Lisboa tens tudo que eu quero ter


Há lá coisa mais bonita
Que ver Lisboa a sorrir
Tua boca é um apelo
Tua boca é um apelo
Que não me deixa fugir

Há lá coisa mais bonita
Do que ver Lisboa nua
A dançar à minha frente
A dançar à minha frente
Vestida com luz da lua

Formosa Inês

Rosa Lobato Faria / Mário Pacheco
Repertório de Paulo Bragança

Antiga como a sina dos amantes
A audácia de morder o infinito
Acesa pelas noites delirantes
Paixão que se fez lenda e se fez mito

Depois foram razões que o reino tece
Foi o dia mais triste, o mais maldito
A espada ao alto erguida e foi a prece
Amor desfeito em sangue e foi o grito

D. Pedro, desvairado brada e clama
Leva de terra em terra a sua amada
Não tem morada certa, pois quem ama
Saudade tem por única morada

Da morta fez rainha, porque é louco
Porque é amante e rei e português
E eu que te cantei e sou tão pouco
Também te beijo a mão formosa Inês

Brasões de Portugal

Frei Hermano da Câmara / Valentim P. Moya
Repertório de José Gonçalez


Há um cantinho escondido
Que Deus pôs ao pé do mar
Jardim garrido e florido
De roseirais laranjais, e trigais
De Amendoeiras sem par

Terra de Santa Maia
Onde brilha o sol doirado
Onde o amor é poesia
E a saudade é a verdade
Que há no fado

Poetas e pintores, camões Malhoa
Coimbra dos doutores, fadistas de Lisboa
Heróis dos sete mares, Gama e Cabral
Santinhos, santinhos populares
São Brasões de Portugal


Lisboa teu pai não quer
Que tu vás ao bailarico
Mas dê lá por onde der
Não vou deixar de bailar e cantar
Hoje em casa não fico

Em casa não fico eu
Que amanhã por brincadeira
Sou capaz de ir a Viseu
Comprar vacas e cavacas lá na feira

Vindimas desfolhadas e arraias
Castiças fadistadas, pregões tradicionais
Magustos e toiradas e procissões
Marchinhas, marchinhas animadas
São as nossas tradições


Fui hoje à Cova da Iria
P'ra rezar p’lo mundo inteiro
E fui também noutro dia
Sob ela implorar e cantar
À Virgem de Sameiro

Hei-de ir a Vila-Viçosa
Pois não há duas sem três
P'ra ver a Virgem piedosa
Que é a Rosa mais formosa
Que Deus fez

Senhora do Rosário, tu és madrinha
De um povo missionário, de Portugal rainha
Ó Virgem gloriosa, tu és p'ra mim a rosa
A rosa mais viçosa
Que Deus pôs neste jardim

Canção para quem vier

Luiz Goes / António Toscano
Repertório de Luiz Goes


Quem vier
Que traga uma palavra amiga
Semente de esperança
Na seara da vida

Quem vier
Que traga uma canção de amor
Tão pura e sentida
Que a cantem de cor

Quem vier
Quer creia neste mundo ou não
Aqui sonhe o mundo
Que os filhos terão

Veste ganga o cantador

Mote de Alice Ogando / Letra de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Veste ganga o cantador
Veste chita a cantadeira
Há muita quadra de amor
Vestida desta maneira


Velha banza de cravelhas
Gemia um fado indistinto
Nas mãos rugosas e velhas
Dum pobre velho faminto;
De boné “à Serpa Pinto”
E de macilenta cor
Cantava, com certo ardor
Um fadista ainda novo;
E, como o fado é do povo
Veste ganga o cantador

Esta cena se passava
Numa tasca de má morte
Onde o fadista entoava
Lamentos da sua sorte;
Uma mulher de bom porte
De profissão cigarreira
Pegou na banza e, ligeira
Cantou versos de encantar;
E, p’ra a profissão honrar
Veste chita a cantadeira

Num divã de estrelas d’oiro
Já a lua adormecia
Mas do fado, imorredoiro
Não findava a melodia;
Nem uma mosca se ouvia
E a cantadeira, a rigor
Cantou com alma e frescor
Dizendo no fim da trova;
No peito da gente nova
Há muita quadra de amor

Findou o fado… E depois
Postados sobre o balcão
Copos de três e de dois
Giravam de mão em mão;
Mergulhado em comoção
Entre aquela gente ordeira
Pensei, pela vez primeira
Que esta canção que perdura;
Tem mais encanto e ternura
Vestida desta maneira

Cantar é celebrar a poesia

Letra e música de José Gonçalez
Repertório do autor com FF


A minha voz
E a minha voz
A nossa voz é união
Não vamos sós
Não estamos sós
Juntem-se a nós para o refrão

Cantar é pôr na voz o que se sente
Cantar é fazer uso da palavra
Cantar é ser arado, é ser semente
Cantar é ser o chão onde se lavra
Cantar é ser um rio de fantasia
Cantar é arriscar, é ser profeta
Cantar, cantar
Cantar é celebrar a poesia
Que corre nas veias do poeta


A minha mão
E a minha mão
As nossas mãos unificadas
Juntas irão
Juntas terão
Força de irmãos pelas estradas

O meu olhar
O meu olhar
O nosso olhar vivo e profundo
Pode brilhar
Há-de brilhar
Tem que brilhar por todo mundo

Canção quasi de embalar

Luiz Goes / António Andias e Durval Moleirinhas
Repertório de Luiz Goes

Pobre menina parada na rua deserta
Quem te comprou?
Quem te vendeu?
Quem te quis assim desperta
Do sonho que em ti morou?

Pobre menina acordada
Deste tudo e não tens nada
Quem te esqueceu?

Pobre menina esquecida, mas sempre menina
Quem não chegou?
Quem não partiu?
Quem teve à mão uma sina
E nem sequer a tentou?

Pobre menina à espera
Pão de fome mais sincera
Quem não te viu?

Fado fadinho

David Gonçalves / Joaquim Pimentel *júlia florista*
Repertório de David Gonçalves

O fado fadinho já está velhinho
Diz a tradição
Que nasceu um dia na Mouraria
Esta canção

Foi um casamento
Que a todo o momento ia acontecer
Cantado baixinho
O fado fadinho acabou de nascer

Ó fado fadinho
Que andas de boca em boca
E cantas baixinho
Com tua voz rouca
Ó fado fadinho
Como tu sem igual
Meu velho castiço
Tu és o hino de Portugal


O fado fadinho sentou-se com o vinho
P'ra mesa a almoçar
Pediu bacalhau, depois carapau
Na brasa a assar

Correu por Alfama, depois à Moirama
E então à Madragoa
O fado fadinho já sabe o caminho
De toda a Lisboa

Certo dia

António Chainho / Ana Bacalhau
Repertório de Ana Bacalhau


Certo dia, caminhando
Ouvi, espantada, um barulho
Delicado, foi-se instalando
Era triste, mas não soturno

Quem me estaria a seguir
Cantando aquelas melodias?
Deixei-me quieta a ouvir
As suas rimas perdidas

Tanto queria descobrir
Que para todo o lado olhava
Até que, afinando a vista
Pude ver quem me cantava

Era o vento que assobiava
Ao levantar-me o vestido
Era a água do riacho
Que corria sem sentido

E as cigarras que ao sol
A preguiça expiavam
Era a cotovia
Que ao cantar, chorava

Fiquei feliz por saber
Que não estava sozinha
Mais triste o que estar só
É cantar sem companhia

Chamo-te Niña

Leonel Neves / Luiz Goes
Repertório de Luiz Goes


Porque é cigana esta alegria
Porque sou jovem quando és minha
E há mais pureza nesse dia
Te chamo Niña
Chamo-te Niña

Porque em ti meu corpo arde
Menos a morte se avizinha
E és mais menina nessa tarde
Te chamo Niña
Chamo-te Niña

Porque esta ausência é um açoite
Para a mocita mal sózinha
Que era a mulher da minha noite
Te chamo Niña
Chamo-te Niña

Fui ver

José Gonçalez / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de José Gonçalez


Fui ver aos olhos teus se ainda lá estava
Aquele amor que me roubaste um dia
Fui ver se em teu olhar ainda brilhava
A luz de uma eterna fantasia

Fui ver se o teu cabelo ainda ondulava
Como o trigo num bailar apaixonado
Fui ver se a tua pele ainda tisnava
Ao sol de um Agosto alucinado

Fui ver se a tua mão ainda tinha
O calor que nos vem do coração
Fui ver se enleada pela minha
Ainda transpirava de paixão

Fui ver se a tua voz ainda diria
Palavras, ai palavras encantadas
Fui ver se a tua boca ainda queria
A minha, p'ra rasgar as madrugadas

Canção pagã

Leonel Neves / Luiz Goes
Repertório de Luiz Goes


Lá longe
Onde o Sol aquece e chama
Sem distinguir os homens dos meninos
Lá longe
Onde não há nenhuma cama
Que saiba que há amantes clandestinos

Lá longe
Onde a vida não arrasas
Ó maldição dos deuses pequeninos
Lá longe
Talvez o amor encontre casas
Lá longe
Lá longe

Lá Ionge
Onde a terra ainda deixe
Bichos e homens livres pelas matas
Lá longe
Onde as gaivotas comem peixe
Mas não na esteira turva das fragatas


Lá longe
Onde não tereis futuro
Ó vendilhões da água das cascatas
Lá longe
Talvez o amor possa ser puro
Lá longe
Lá longe

Origens

Francisco Nicholson/ Thilo Krasmann
Repertório de João Braga


Por mais longe que cheguemos
Viemos de qualquer lado
Que é a origem do fado
Do fado que somos nós;
De qualquer lado viemos
Partindo e chegando a um cais
Mas somos filhos dos pais
Filhos dos nossos avós

Somos a origem de tudo
Que nos vai acontecer
De nada serve ir p’ra longe
Quem longe não pode ver;
Há sempre um longe mais longe
Onde nos sentimos nós
Pois sendo a origem de tudo
0 mais longe somos nós


Ouve o poeta, ele canta
E é verdade que vale a pena
Se a alma não é pequena
Tudo o for ir além;
Só fugir não adianta
Querendo fugir de nós
Quando julgamos estar sós
Estamos connosco também

Vou daqui

António Chainho / Ciro Bertini
Ana Vieira e Filipa Pais e Ana Vieira


Vou daqui
Vou sem pensar
Sem ti p'ra qualquer lugar
Leva-me contigo
Não sei onde vais
Vou daqui
Mas ao largar
Levo a luz do teu olhar


Já te disse um dia, um dia não te vás
As cordas soltas só nos falam de ilusão
Assim é a vida, ás vezes perdida
E eu no meio sem querer

Longe vai o tempo, fica a dor
E eu esquecida nesta solidão
Assim é a vida, às vezes perdida
E eu no meio sem querer

Ainda agora penso que te vi
Neste caminho ninguém sabe ao que vai
A rua é parecida, assim é a vida
A saudade aperta no olhar

Terra estranha esta onde estou
Uma viagem que se deu sem avisar
A rua é parecida, assim é a vida
A saudade aperta no olhar

Verdes anos

Manuel Alegre / Carlos Paredes
Repertório de João Braga


Verdes os anos
Verdes breves enganos
Tempo que vais
Ninguém me diz qual o país
Nunca mais, nunca mais

Quatro estações
Verdes breves canções
Quem dá sinal da nova era
Talvez Natal
Primavera, Primavera

Já uma estrela nos diz
Que outro tempo há-de ser
Dentro de nós um país
Todo o tempo é nascer

Tempo composto 
De mudança e mudança
Já foi agosto e cá por dentro
Só a lembrança
Em dezembro, dezembro

Tempo que vais 
Sem me dar um sinal
Não mais, não mais
Já chega alguém
Talvez Natal
Atrás de um tempo outro vem

Fado áureo

António Chainho / Paulo de Carvalho
Repertório de Paulo de Carvalho


Olhei p’ra lá do sol
E vi a luz da minha infância
Vi outra terra que era nova e bela
Depois cresci, parti
Com os sonhos na algibeira
Fui pela minha estrada a viver

Dei passos de gigante
Abri portas de mil casas
Sofri noites, vivi dias de alegria
Depois saí de mim
Toquei cordas douradas
Guitarras ao desafio

O fado
Quando é de um homem
Será cantado com toda a alma
O fado
Quando é da vida
Já está fadado desde a partida


Destinos tive muitos
E de saudades sofri
Não desisti, e dei a mão à vida
Dei voltas ao meu mundo
Andei de lado em lado
E vi para além do fado

Vem

Kátia Guerreiro / José M. Branco e Pedro de Castro
Repertório de Kátia Guerreiro

Vem, estou com os meus braços abertos
E os meus sentidos despertos
Para te acolher no regaço
E juro que estarei sempre a teu lado
A cantar este teu fado
Para embalar o nosso abraço

É aqui, nos segredos do teu rosto
No anseio da chegada
No momento de te ver
Que eu acredito nas histórias
E viajo nas memórias
Sem ter medo de viver

Serás nesta vida o que quiseres
Mas tudo o que tu escolheres
Fá-lo sempre com amor
Verás, não há nada neste mundo
Nada que dure um segundo
Sem verdade e sem calor

Já fui tempestade sem bonança
Hoje cresce-me a esperança
Sonho contigo entretanto
Vais chegar, quero-te aqui, meu querido
Para dares novo sentido
A tudo o que eu hoje canto

Obrigada, meu querido
Tu dás um novo sentido
A tudo o que eu hoje canto

O Cartola

António Chainho / Paulo Abreu da Silva
Repertório de Rui Veloso


Cravo na lapela
Anéis de cachucho
Botins com fivela e de luxo
Exibe um brasão
Na sua lambreta
O Cartola, o barão da treta

Tanta pintarola
Por mais diz que diz
Deixem o Cartola ser feliz
Todo perfumado
Do gel ao verniz
Num fato engomado e de Paris


Lá ai o Cartola
Fadista de gema
Na crista da onda d'um poema
Que tipo piroso
Sem prosa nem garra
Diz o invejoso da guitarra

Porque

 *os outros se calam, mas tu não*
Sophia de Mello Breyner / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de João Braga

Porque os outros se mascaram, mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo, mas tu não
Porque os outros se mascaram, mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam, mas tu não
Porque os outros têm medo, mas tu não

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis, mas tu não
Porque os outros se calam, mas tu não

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam, mas tu não
Porque os outros são hábeis, mas tu não
Porque os outros se mascaram, mas tu não

Português d'hoje

Afonso Lopes Vieira / João Braga
Repertório de João Braga


Fui dado à luz em terra portuguesa
Sou d'um povo do mar que canta o fado
E daí vem meu mal, minha tristeza
Vinte anos velhos, todo o meu cuidado

Sou d'um povo que sonha, canta e reza
Aquele a que deitaram mau olhado
Sou o que morre, o último, o do fim
Sou o português d'hoje, agora vim

Fui dado à luz em terra de desgraça
Ó portugueses neste mundo, sós
Evocai, gente d'hoje, certa raça
D'aonde descendemos todos nós

Connosco as dores jamais fizeram pazes
Somos navegadores e cavaleiros
Sem mar, sem fé, sem braços p'ra uma espada
Somos os d'hoje, os últimos, os nada

Outros o mar já todo navegaram
Outros souberam já ganhar o céu
As nossas almas todas naufragaram
Nossa India de sonhos se perdeu

E depois d'isto tudo, ter de abrir
Os olhos, e morrer. Cantemos ante
A morte, e seja a morte a nossa glória
E as ondas guardarão nossa memória

Porque choras coração?

David Gonçalves /Alfredo Duarte *Marceneiro*
Repertório de David Gonçalves


Porque choras coração?
Porque bates tristemente?
Sem razão sem ter motivo?
Naufragaste na ilusão
Desse amor louco e fremente
Do qual ficaste cativo

Porque morres de desejo?
Ansiando por carinho
Que te ajude a esquecer
Vives sedento do beijo
Sem encontrares o caminho
Para deixares de sofrer

Porque teimas em fingir?
Se apenas há desgraça
E constante sofrimento
Procura então, destruir
A dor que te amordaça
Esse louco sentimento

Porque é triste a despedida
Neste viver todo feito
D'Angustia e solidão
Não queiras voltar à vida
Parte de vez do meu peito
P'ra não chorares coração

Uma guitarra junto ao peito

António Chainho / Hélder Moutinho
Repertório de Hélder Moutinho


Eu tenho uma guitarra junto ao peito
E guardo nela a minha condição
Como se fosse o sonho mais perfeito
Guardá-la por defeito no coração
Eu tenho uma guitarra junto ao peito

Nasci à beira rio perto do mar
Fui asa de gaivota em movimento
Cresci, sonhei, sofri, pus-me a cantar
Nas ondas de saudade do teu vento
Eu tenho uma guitarra junto ao peito

Guitarra que te deitas a meu lado
No mar onde navego em solidão
Dá rumo à minha vida neste fado
Que canto em tom magoado
Com a voz no coração
Eu tenho uma guitarra junto ao peito

Fado Pintéus

João Ferreira Rosa / Maria Teresa de Noronha
Repertório de João Braga


A água da minha fonte
Tem sempre um novo cantar
Tal qual a cor que há no monte
E anda sempre a mudar

Conforme as estrelas do céu
Se à noite há ou não luar
Conforme te oiço eu
Quando te oiço chegar

A água da minha fonte
Tem mil jeitos de cantar
Acompanha a cor do monte
Acompanha o meu pensar

Acompanha o dia a dia
Noites e noites sem par
A minha água da fonte
Alegria de te amar

Vale Escuro, meu amor

David Gonçalves / Raúl Pereira *fado zé grande*
Repertório de David Gonçalves


Lisboa tem um bairro que adoro
Bairro sem tradição, mas que é tao puro
E ao cantar seu fado então eu choro
Só por tanto amar o Vale Escuro

Esse lindo bairro onde nasci
Onde fui criança ao desatino
E com outra idade aprendi
A fazer do fado o meu destino

Bairro tão igual aos da cidade
Mas com outro encanto e nostalgia
As ruas são dois versos de saudade
Inspiração maior da poesia

Meu bairro que por mim és tão amado
Jamais te esquecerei eu asseguro
Um dia vou morrer cantando o Fado
Meu bairro, meu amor, meu Vale Escuro

Breve e belo é o cisne

Antonino Chainho / Pedro Abrunhosa
Repertório de Pedro Abrunhosa


Cedo se foi já o teu sol
Ainda a palavra me ardia
Cresce agora a sombra no lençol
Onde o beijo teu do meu se erguia

Não reza o futuro a história fraca, vencida
E só no recomeço se funde espada com ferida
Também o cisne é breve e belo
Na morte como na vida


Já da luz de mim andas a monte
E na praia a saia roda no vazio
Na areia ainda as velas são horizonte
Das noites em que eras barco e eu abrigo