Iluminar não podia
Deste-me o teu corpo-chama
No frio da minha cama
E da noite fiz-me dia
Fui um navio sem mar
Tolhido, de navegar / Nas marés altas da vida
Deste-me o teu corpo-água
Que me afundou toda a mágoa / E foi meu cais de partida
Já fui árvore sem chão
Fincada na solidão / Das florestas que desfiz
Deste-me o teu corpo-terra
A força em que se descerra / A minha nova raiz
Fui uma alma vazia
Um peito que se escondia / Num canto calado e escuro
Deste-me o teu corpo-fado
Para cantar o passado / Mas com a voz no futuro