Letra
e música Daniel Gouveia
Repertório
e José da Câmara c/João Ferreira Rosa
O
fado chamou-me há pedaço
Puxou-me
p’lo braço e desabafou
Disse:
mas que treta é esta
Sou
bombo de festa, já fado não sou
Pasmei...
o fado chorava
Do
lenço puxava, um soluço saiu
Queixou-se
que o tratavam mal
Como
coisa banal, depois prosseguiu
Estou
farto de salas imensas
Com
luzes intensas, um som que ensurdece
Cegam-me
com projetores
Nos
espectadores já ninguém me conhece
Que
é feito dos velhos retiros
De
bairro, tão giros, com fado a rigor?
Levaram-me
para o coliseu
Um
dia, sei eu, talvez p’ro Jamor
Rodeiam-me
de microfones
Vendem-me
aos camones como souvenir
Misturam-se
com folclore
Harmónio,
tambor, p’ra me consumir
Por
mim, desde que nasci
Sempre
obedeci a uma tradição
Agora,
sinto-me esquecido
Roubado,
traído, vendido ao balcão
Eu
disse: oiça, Sr. Fado
Quem
está do seu lado sempre o adorou
Mas
diga a quem bem lhe quer
O
que se há-de fazer… e o fado cantou
Pede
a quem me anda cantando
Que
não esqueça como eu era
Que
me defenda estilando
Com
brio, com raça, gingando
Como
em tempos da Severa
Não
esqueçam a minha Hermínia
A
Berta e o Correeiro
Maria
Teresa, a Ercília
A
minha querida Lucília
E
o grande Marceneiro
Respondi
do mesmo tom
Juro-lhe
do coração
Que
apesar das coisas novas
Cantaremos
suas trovas
Respeitando
a tradição
Foi-se
embora mais feliz
Com
um sorriso aliviado
Virou-se
além a acenar-me
Foi
tão bom vir visitar-me
Até sempre, senhor fado