Manuela de
Freitas / José Mário Branco
Repertório
de Camané
Quem
te visse aprumadinha
Camisa, calça de ganga
Colarzinho de missanga
E quase sempre sozinha
Mas chegando a madrugada
Mas chegando a madrugada
Montavas a bicicleta
De t-shirt e calça preta
De t-shirt e calça preta
E grande capa doirada
Uma argola na orelha
Uma argola na orelha
E uma mochila vermelha
Quem
havia de dizer
O que andavas a fazer
Ai Miriam... quem te visse
A passear no Chiado
Ai Miriam... quem te visse
A passear no Chiado
Com o teu ar aprumado
De repente tão reguila
De repente tão reguila
E o que era mais estranho
È que essa tua mochila
È que essa tua mochila
Parecia sem tamanho
Lá
cabia o que tiravas
De toda a parte onde andavas
Sem
que ninguém te apanhasse
E sem que ninguém te visse
Qual Robin que se inspirasse
Nas aventuras de Alice
Quem
havia de dizer
O que tu ias trazer
Ai Miriam... quem te visse
De dia, uma boa menina
Ai Miriam... quem te visse
De dia, uma boa menina
E à noite, super heroína
Vejam
só as coisas que ela trazia:
Um grande queijo da serra
Um grande queijo da serra
Um dicionário, um colchão
Um bom pedaço de terra
Um bom pedaço de terra
Um combóio, um avião
Uma fábrica, um lagar
Uma viagem p'lo mar
A
pomada e a aspirina
A cirurgia, a consulta
Estacionamento sem multa
Estacionamento sem multa
Um posto de gasolina
Um
bilhete pró teatro
Umas férias em Berlim
Uma casa e um jardim
Uma casa e um jardim
Um alvará e um contrato
Um
bife, uma sopa quente
Uma visita a Foz Côa
Uns patins, uma meloa
Uns patins, uma meloa
Um expresso do Oriente
Uma
sara de trigo
Um livro de ilustrações
E um outro muito antigo
E um outro muito antigo
Um parque de diversões
Um presunto, uma braguesa
Uma praia tropical
Um carnaval em Veneza
Um carnaval em Veneza
Uma ceia de natal
Os
discos do violinista
Os DVDs da fadista
Um trabalho criativo
Um trabalho criativo
Um bom canal de TV
E os Stones ao vivo
E os Stones ao vivo
Ida e volta a São Tomé
Um
piano e um trator
Um pão, um computador
Uma pescada, um ballet
Uma pescada, um ballet
Uma sessão de cinema
Um
brinquedo e um poema
Uns ténis, uma aguarela
Uma
toalha de linho
Uma bola, uma traineira
Um
curso, um barco à vela
Um rebanho, uma lareira
Um
Porto, um verde fresquinho
E
muito mais, muito mais
As coisas essenciais
P’ra
se poder escolher
A vida que se quer ter
E
de toda a parte vinham
Os que nunca nada tinham
Fazer
um grande festim
Com tudo o que tu trazias
Como
se todos os dias
Tudo fosse sempre assim
Quem é que pode saber
O que vai acontecer
Ai
Miriam... quem te seguisse
Se muitos fossem capazes
Se muitos fossem capazes
De fazer o que tu fazes
Entretanto
nestas bandas
Já pergunta toda a malta
Ai
Miriam... onde é que andas
Tu não és a solução
Mas fazes cá muita falta