César de Oliveira / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório
de António Mourão
Nos pés um sapato já muito calçado
No corpo a camisa que um outro sujou
Fumando um cigarro já muito fumado
Conversa dum sonho que nunca sonhou
Co’a fúria da esperança, o mundo conquista
O rio, a montanha, que vence num salto
E fala em silêncio, pra não dar nas vistas
Dos outros que passam e que falam d’alto
Zé ninguém
Desperta Zé ninguém
Encara o mal e o bem à gargalhada
Zé ninguém
Desperta Zé ninguém
P’ra um homem ser alguém não custa nada
Não fica com honra nem nome, na história
Nem nome de rua terá, que se veja
Será indiferente, vazio de memória
Um homem sem Deus, benza-o Deus, salvo seja
Ele é um profeta de pouca importância
Inventa mulheres numa cama impossível
Brinquedo dos outros, um drama à distância
É carne, é osso, e é quase invisível