Repertório de Deolinda Maria
A minha rua de casinhas mal caiadas
Não tem mais que três braçadas
Que dão bem pra eu passar
A minha rua vê-se bem a cada passo
Que se envolve num só braço
No abraço do luar
Na minha rua eu conheço uma andorinha
Por sinal, minha vizinha
E que mora um beiral
Pois tem por baixo cravos rubros nas janelas
Que parecem sentinelas
Num palácio oriental
Não há rua tão gaiteira… nem tão boa
É a mais zaragateira… de Lisboa
Eu não sei que rua é esta
Tem festa todo o dia
Mas se há música na festa
Tem que haver pancadaria
A minha rua tem seu quê de presumida
É vistosa e é garrida
É boémia e anda ao léu
Uma elegante que há ali pró Bairro Alto
Com sapatos de basalto
E estrelinhas no chapéu
A minha rua, que eu pisei ainda criança
Foi a luz da minha esperança
A razão da minha fé
A minha rua será feia, muito embora
Mas apenas quem lá mora
É que sabe o que ela é