Vasco Graça Moura / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto
Em Lisboa eu prefiro o casario
Que se narcisa visto da outra banda
No espelho às vezes turvo deste rio
Na limpidez do rio às vezes branda
É entre o mar da palha e o bugio
Que o renque das fachadas se desmanda
Em tons de porcelana ao desafio
Em cada patamar, cada varanda
E a luz de água e azul a derramar-se
Vem envolver-lhe o vulto refletido
Dar-lhe o contraste de uns ciprestes, dar-se
Como um banho lustral e desmedido
É véu de gaze leve o seu disfarce
Mas é tão ténue e frágil o tecido
Que pode acontecer que ainda o esgarce
Um voo de gaivotas esquecido
Então seu corpo sob o véu rasgado
Terá uma outra luz densa e leitosa
Translúcida nudez do compassado
No espelho às vezes turvo deste rio
Na limpidez do rio às vezes branda
É entre o mar da palha e o bugio
Que o renque das fachadas se desmanda
Em tons de porcelana ao desafio
Em cada patamar, cada varanda
E a luz de água e azul a derramar-se
Vem envolver-lhe o vulto refletido
Dar-lhe o contraste de uns ciprestes, dar-se
Como um banho lustral e desmedido
É véu de gaze leve o seu disfarce
Mas é tão ténue e frágil o tecido
Que pode acontecer que ainda o esgarce
Um voo de gaivotas esquecido
Então seu corpo sob o véu rasgado
Terá uma outra luz densa e leitosa
Translúcida nudez do compassado
Coração da cidade branca e rosa