Silva Tavares /
Filipe Duarte
Versão do repertório
de Tony de Matos
Criação de Adelina Fernandes na opereta “Mouraria”
Teatro Apolo em 1926.
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
Tanto a desgraça me alcança
Que já me sinto cansado
Da vida que não se cansa
De me fazer desgraçado
E como o fado alivia
E como o fado alivia
As mágoas que a gente sente
Eu brindo à minha agonia noite e dia
Cantando constantemente
Foi um beijo venenoso
Cantando constantemente
Foi um beijo venenoso
Demorado, langoroso
Que perverso me tornou;
Eu faço o que me fizeram
Que perverso me tornou;
Eu faço o que me fizeram
Pois ninguém foge ao seu fado;
Foi a mentir que mo deram
É a mentir que eu vos dou
Aquela a quem dei a vida
Foi a mentir que mo deram
É a mentir que eu vos dou
Aquela a quem dei a vida
E o que eu tinha de mais meu
Não passa duma perdida
Não passa duma perdida
Sem saber quem a perdeu
É por isso que p'lo fado
É por isso que p'lo fado
A minh'alma se desgarra
Pois esquece o meu passado torturado
Quando chora uma guitarra
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Versão Original
Tanto a desgraça me alcança
Que já me sinto cansada
Da vida que não se cansa
Da vida que não se cansa
De me tornar desgraçada
E como o Fado alivia
E como o Fado alivia
As mágoas que a gente sente
Eu minto à minha agonia, noite e dia
Cantando constantemente
Foi um beijo venenoso
Eu minto à minha agonia, noite e dia
Cantando constantemente
Foi um beijo venenoso
Demorado, langoroso
Que perversa me tornou
E eu faço o que me fizeram
Que perversa me tornou
E eu faço o que me fizeram
Pois ninguém foge ao seu fado
Foi a mentir que mo deram
É a mentir que eu os dou
Aquele a quem dei a vida
Foi a mentir que mo deram
É a mentir que eu os dou
Aquele a quem dei a vida
E o que tinha de mais meu
Hoje chama-me perdida
Hoje chama-me perdida
Mas não diz quem me perdeu
É por isso que no Fado
É por isso que no Fado
A minh’alma se desgarra
Pois esqueço o meu passado torturado
Quando chora uma guitarra
É curioso como o poder e a popularidade de certas letras tornaram irresistíveis
Pois esqueço o meu passado torturado
Quando chora uma guitarra
É curioso como o poder e a popularidade de certas letras tornaram irresistíveis
determinados fados fazendo-os ser trauteados por muito boa gente fora do meio fadista.
Na verdade, muitas senhoras bem casadas e de conduta irrepreensível
trauteavam o fado Perseguição
(«Lá porque és rico e elegante / Queres que eu seja tua amante…»)
bem como este Fado da Cesária, confessando-se «desgraçadas», «perdidas»
porque alguém as perdeu e, sobretudo, admitindo que «Foi um beijo venenoso
demorado, langoroso / Que perversa me tornou (…)
Foi a mentir que mo deram / É a mentir que eu os dou», em clara alusão à vida
pecaminosa de qualquer mulher mundana.
Fica por saber se os maridos se importavam mas, aparentemente, não.