Repertório de Carlos Zel
O fado p'ra ser castiço
Não é por isso antiquado
Deve até, ser p'ra frentex
Deve até, ser p'ra frentex
E assim é *ex* se trata hoje o fado
Graças ao computador
Graças ao computador
P'ra se compor com grande afã
Digita-se um teclado
Digita-se um teclado
E o resultado vê-se no “ecran”
Pode-se falar de tascas
Pode-se falar de tascas
Rameiras rascas, vida indecente
Mas não se vai à taberna
Mas não se vai à taberna
E quem alterna é a corrente
Pode um faia ser gingão
Pode um faia ser gingão
Falar calão, andar à crava
Pode a fadista usar xaile
Pode a fadista usar xaile
Mas é num "file" que isto se grava
Para que a gralha se evite
Para que a gralha se evite
Faz-se um "delete" e a seguir
Se a memória já não vive
Se a memória já não vive
Faz-se "retrieve" no mesmo "dir"
"Enter" que estás a agradar
"Enter" que estás a agradar
Convém salvar, se a coisa interessa
Mal a letra se define
Mal a letra se define
Com "print screen" sai logo impressa
Com o título ninguém teime
Com o título ninguém teime
Faz-se "rename", nem se discute
E se a CPU pendura
E se a CPU pendura
Tudo tem cura, basta um "reboot"
Guitarras virtualizadas
Guitarras virtualizadas
Vozes filtradas por fios eléctricos
O fado activa circuitos
O fado activa circuitos
E os seus intuitos são cibernéticos
Já não se escreve em toalha
Já não se escreve em toalha
A boa malha que vem à mente
Esse bom tempo findou-se
Esse bom tempo findou-se
Agora é "windows" o ambiente
O fado é feito com "bits"
O fado é feito com "bits"
Em "micro-chips", mora em "disquete"
Mas não deixa de ser fado
Mas não deixa de ser fado
Está paginado na "internet"