Repertório de Tristão da Silva
Cem anos que eu viva, não posso esquecer-me
Daquele navio que eu vi naufragar
Na boca da barra, tentando perder-me
E aquela janela virada pró mar
Sei lá quantas vezes desci esse Tejo
Sei lá quantas vezes desci esse Tejo
E fui p'lo mar fora co'a alma a sangrar
Levando na ideia uns lábios que invejo
E aquela janela virada pró mar
Marinheiro do mar alto
Olha as ondas as uma a uma
Preparando-te o assalto
P'ra fazer teu barco em espuma
Levando na ideia uns lábios que invejo
E aquela janela virada pró mar
Marinheiro do mar alto
Olha as ondas as uma a uma
Preparando-te o assalto
P'ra fazer teu barco em espuma
Repara na quilha bailando na crista
Das vagas gigantes que o querem tragar
Se não tens cautela não pões mais a vista
Naquela janela virada pró mar
Se mais 'inda houvesse, mais portos correra
Lembrando-me em noites de meigo luar
Duns olhos gaiatos que estavam á espera
Naquela janela virada pró mar
Mas quis o destino que o meu Mastodonte
Mas quis o destino que o meu Mastodonte
Já velho e cansado viesse encalhar
Na boca da barra e mesmo defronte
Daquela janela virada pró mar
Marinheiro do mar alto
Olha as ondas uma a uma
Preparando-te o assalto
Entre montes d'alva espuma
Marinheiro do mar alto
Olha as ondas uma a uma
Preparando-te o assalto
Entre montes d'alva espuma
Por mais que elas bailem numa louca orgia
Não trazem desejos de me torturar
Como aquela doida que eu deixei um dia
Naquela janela virada pró mar