António Tavares Teles / Carlos Paião
Repertório de Rodrigo
Sou
alfacinha desde quando eu sei lá
Da
minha alcunha quem é que sabe a razão?
Da
verde alface que foi a minha madrinha
Guardo
a ternura da frescura que me dá
Naqueles
dias de verão com a cebola
Com o
tomate e o pimento a condizer
Uma
frescura que em tempos foi fartura
E
hoje é por vezes falta de comer
Alfacinha, alfacinha
Era eu sem saber porquê
Alfacinha, ai alfacinha
Quem te via e quem te vê
Alfacinha, alfacinha
Eu agora já sei porque é
Alfacinha por ter de comer
Alfaces, alfaces para sobreviver
Hoje
a salada já não é prato de verão
Hoje
a salada é o prato principal
Uma
salada com um pedaço de pão
É
como um bife ou como um frango à cafreal
Mas a
salada é já salada só de alface
Porque
a cebola, essa está cara e faz chorar
E os
tomates estão tão raros e tão caros
Como
os pimentos que apimentam o paladar
Depois
a alface é verde como a cor da esperança
De um
verde pálido, talvez, mas é assim
Como
a esperança que nós temos, quase branca
Quase
tão branca como a esperança que há em mim
De
hoje comer um bom franguinho à cafreal
Ou um
bom bife com uma boa saladinha
Com
os tomates, os pimentos e a cebola
E a alface, porque eu cá sou alfacinha