Versão do repertório de Gustavo Leal
Criação de Estevão Amarante na revista *Torre de Babel* em 1917
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
Eu
sou polícia, por desgraça
Faço
frente à populaça
Que me odeia porque a livro dos
ladrões
E
se dou caça aos malandrões
Sou
apupado, sou corrido, apedrejado
Vou
corrido aos encontrões;
E
se faço um gesto vago
P'ra bater nos refilões
Eu
sou corrido e mal pago
Hei-de multar,
fazer prisões
Hei-de apitar
contra os ladrões
E tudo por
seis tostões
Quando
a república se fez
Comi tanto dessa vez
Fiquei
logo com a cabeça partida
Ai veio o 14 de Maio
Ai,
pai da vida e ferram-me um outro ensaio
Que
a coisa esteve gaudida
E
tanto tenho levado que já estou acostumado
Que não quero outra comida
São traulitadas, cachações
São ??? de pinhões
E tudo por seis tostões
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Versão Original
Criação de Estevão Amarante na revista *Torre de Babel* em 1917
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia no livro
Poetas Populares do Fado-Canção
Faço frente à populaça
Que me odeia porque a livro dos ladrões
E se dou caça aos malandrões
Que me odeia porque a livro dos ladrões
E se dou caça aos malandrões
Sou apupado, sou corrido, apedrejado
Vou corrido aos encontrões
E se faço um gesto vago
E se faço um gesto vago
P’ra bater nos refilões
Eu sou corrido e mal pago.
Hei-de apitar contra os ladrões
Hei-de prender os malandrões
E tudo por seis tostões
Quando a República se fez
Eu sou corrido e mal pago.
Hei-de apitar contra os ladrões
Hei-de prender os malandrões
E tudo por seis tostões
Quando a República se fez
E eu comi tanto, dessa vez
Fiquei logo com a cabeça partida.
Mas veio o 14 de Maio, ai Pai da Vida
Ferraram-me um outro ensaio
Fiquei logo com a cabeça partida.
Mas veio o 14 de Maio, ai Pai da Vida
Ferraram-me um outro ensaio
Que a coisa esteve gualdida
E tanto tenho levado
E tanto tenho levado
Que já estou habituado
E não quero outra comida
Hei-de apitar contra os ladrões
Hei-de prender os malandrões
E tudo por seis tostões
Eu uma vez caí na asneira
Hei-de apitar contra os ladrões
Hei-de prender os malandrões
E tudo por seis tostões
Eu uma vez caí na asneira
De atirar-me a uma sopeira
Que me dava boas pernas de galinha
E vai daí, de manhãzinha
Que me dava boas pernas de galinha
E vai daí, de manhãzinha
Ardendo em brasa, subo a escada
Entro em casa, vou direito à cozinha
Apalpei uma pessoa
Entro em casa, vou direito à cozinha
Apalpei uma pessoa
Vai-se a ver, era a patroa
Que me fechou logo na cozinha
Veio o marido aos encontrões
Lá fui corrido aos cachações
E tudo por seis tostões
Que me fechou logo na cozinha
Veio o marido aos encontrões
Lá fui corrido aos cachações
E tudo por seis tostões
Passamos para o âmbito mais doméstico do Ministério do Interior, neste fado
que descreve as atribulações de um «cívico», isto é, um polícia de giro.
Incompreendido (vá-se lá saber porquê), a população não lhe fica reconhecida por
livrá-la dos ladrões, malandrões e refilões, com explícitas queixas pelo baixo salário:
seis tostões.
Mais uma vez a política, com referência à «traulitada» por ocasião da implantação da
república e da posterior revolta de 14 de Maio de 1915, que derrubou o governo de
Pimenta de Castro (mais uma das que ocorreram entre 7 parlamentos, 8 presidentes
da república e 39 governos de 1910 a 1926, ano em que foram repostos a estabilidade
e o equilíbrio das finanças públicas, até 1974).
Em 1970, Vicente da Câmara, que em criança ouvia este fado numa grafonola de
manivela, cantado pelo próprio Estêvão Amarante, aproveitou a música para uma
letra de Francisco Branco Rodrigues, gravando assim o seu êxito
*O Fado Antigo é Meu Amigo* reeditado em 2004 num CD biográfico
deste grande fadista.