Repertório de Maria João Quadros
É no silêncio da noite
Quando o murmúrio do mar
Se transforma num açoite
Se transforma num açoite
Que todos querem escutar
Que a mulher convoca o vento
Que a mulher convoca o vento
E semeia a tempestade
Ensinando o seu lamento
Ensinando o seu lamento
A transformar-se em saudade
Talvez se escutem poemas
No negror do tombadilho;
As mulheres são mães supremas
Num braço, trazem algemas
No outro, levam um filho
Por cada onda há um homem
Talvez se escutem poemas
No negror do tombadilho;
As mulheres são mães supremas
Num braço, trazem algemas
No outro, levam um filho
Por cada onda há um homem
Num remar de tanta idade
Não são as dores que o consomem
Não são as dores que o consomem
Só o consome a saudade
Há um chicote a estalar
Há um chicote a estalar
E há um navio que avança
Ninguém se atreve a chorar
Ninguém se atreve a chorar
Ninguém se atreve a ter esperança
Talvez se escutem canções
Na negrura do convés
Os homens calam paixões
Esconderam os corações
Por sob a planta dos pés
Quem são estes desgraçados
Talvez se escutem canções
Na negrura do convés
Os homens calam paixões
Esconderam os corações
Por sob a planta dos pés
Quem são estes desgraçados
Que invocam os mares do sul
E acabam naufragados
E acabam naufragados
Na sombra do céu azul?
Que mar este que se acalma
Que mar este que se acalma
Em corpos que o sol queimou
Indo a estibordo da alma
Indo a estibordo da alma
Que nenhum Deus lhe doou
Talvez se escute uma prece
E se ergam olhos aos céus
Em cada corpo se esquece
Um Deus que não o conhece
Um Deus que não quer ser Deus
Talvez se escute uma prece
E se ergam olhos aos céus
Em cada corpo se esquece
Um Deus que não o conhece
Um Deus que não quer ser Deus