Não é precisa p’ra nada
Há muita mulher perdida
Que toda a vida é honrada
À mulher que se perdeu / O mundo não dá desculpa
Nem que ela tivesse a culpa / Da sina que Deus lhe deu
Porque amou, sentiu, sofreu / Numa paixão desabrida
Foi por amor seduzida / Não se perdeu por amor
Nem para mim tem valor
A virgindade na vida
Por amor ninguém pecou / De resto, o que o mundo diz
São preconceitos pueris / Tretas que o mundo inventou
A virgem também gerou / E nunca foi acusada
De ter sido maculada / Guardam-lhe até castidade
Neste mundo, a virgindade
Não é precisa p’ra nada
Se o prazer a honra agrava / Mais vale a honra agravar
Ser escrava por amar / Do que amar e ser escrava
Que a honra jamais se lava / Diz a turba embrutecida
Mas quanta honrada fingida / Das outras segue as pisadas
Porque entre as mais honradas
Há muita mulher perdida
Há mulheres que luxam bem / E outras que sofrem, serenas
Estas são filhas, apenas / Das penas que o mundo tem
Mas perdidas não, ninguém / Por prazer vai afoitada
Para a vida desregrada / Beijos e corpo vender
E ali há muita mulher
Que toda a vida é honrada