Extraídas do livro *Vida e Obra do Poeta Carlos Conde*
Não rias, que esse teu riso
Tem outro alcance, outro fim
Às vezes, quando é preciso
Também sei chorar assim
Esta vida á mar de enganos / P'ra quem despreza as marés
Há gente a durar cem anos / Que não chega a viver dez
O ser pobre não assusta / O que assusta é não ter pão
E ver tanto luxo à custa / Da esmola que os pobres dão
Diz quem tem honra, coitado / E até já não causa espanto
Que um homem p'ra ser honrado / Passe a vida a roubar tanto
De uma alegria perdida / É que a saudade começa
Começa a dar-nos mais vida / E a matar-nos mais depressa
Morte é lei, não é desgraça / Para gente pobre ou rica
A vida é sonho que passa / O mundo ilusão que fica
Fala em honra o mundo inteiro / E afinal, p'ra ser honrado
Basta apenas ter dinheiro / Mesmo que seja roubado
Nunca o mal é mais profundo / Nem a dor é mais atroz
Há sempre alguém neste mundo / Que sofre mais do que nós
Filhos que esbanjam demais / Podem cair em maus trilhos
As riquezas de alguns pais / São a desgraça dos filhos
Basta de preces, não rezes / Erguendo os olhos aos céus
Deus me perdoe, mas ás vezes / Tenho ciúmes de Deus
Meia luz, sombras bizarras / Um tom plangente, magoado
Atenção!... gemem guitarras / Silêncio!... canta-se o fado
Trabalho é letra vencida / Que o suor já pagou bem
Quem trabalha toda a vida / Não deve nada a ninguém
P'ra se pôr fim aos engodos / Das falsas sabedorias
Bastava que os ricos todos / Fossem pobres oito dias
Saudade, astro encantador / Que nos eleva e seduz
Sonho doirado de amor / Sonho de amor e de luz
Saudade!... não tem revezes / Este nome tão fagueiro
E a saudade, muitas vezes / É maior que o mundo inteiro
Meus olhos que por alguém / Verteram prantos sem fim
Não choram por mais ninguém / Basta que chorem por mim
A morte é sempre odiada / Não por ser negra, voraz
Mas por andar enganada / Na triste escolha que faz
Na vida é tudo aparente / Na morte tudo acabou
Quem parte nem sequer sente / As saudades que deixou