Repertório de Fernando Jorge Amaral
Eu não chorei ao nascer
Dei um grito, foi de espanto
Como estivesse a prever
Que me ia acontecer
Toda uma vida de pranto
Pranto,
por dentro, chorado
A alma queimada e o rosto
Culpa dum choro salgado
Por, na vida, ter andado
Culpa dum choro salgado
Por, na vida, ter andado
Só de desgosto em desgosto
Queria
acender alegrias
Subi-las ao universo
Mas as minhas poesias
Cantavam, só, elegias
Mas as minhas poesias
Cantavam, só, elegias
Choravam em cada verso
As
lágrimas desmaiavam
Nas rimas-ondas, sem cor
E os poemas se alagavam
Por verem que me cercavam
E os poemas se alagavam
Por verem que me cercavam
Analfabetos de amor
Eu
não chorei ao nascer
Dei um grito, foi de espanto
Eu estou vivo, podem crer
Mas já não choro-a-valer
Eu estou vivo, podem crer
Mas já não choro-a-valer
Porque sequei o meu pranto