Maria Manuela Mota / Paulo de Carvalho
Repertório de Carlos do Carmo
Sem amigos e sem pão
La morreu a Mariquinhas
Dizem que foi no caixão
Feito só com tabuinhas
Num quarto escuro, fechado
Sem cortinas nas janelas
Em noite negra sem estrelas
Em noite negra sem estrelas
Sem guitarras e sem fado;
Num silêncio bem magoado
Num silêncio bem magoado
Há choros no Capelão
E um ou outro coração
E um ou outro coração
Já recorda cheio de dor
A que morreu sem amor
A que morreu sem amor
Sem amigos e sem pão
De todo o lado veio gente
De todo o lado veio gente
Que se aperta e se atropela
Pois toda a gente quer vê-la
Pois toda a gente quer vê-la
De rosto frio e ausente;
Mas com ela, isso é diferente
Mas com ela, isso é diferente
Não se riam as vizinhas
Altiva como as rainhas
Altiva como as rainhas
Lenços e fitas agarra
E abraçada a uma guitarra
E abraçada a uma guitarra
Lá morreu a Mariquinhas
Deixou escrito em testamento
Deixou escrito em testamento
Lido de alto p'las vizinhas
Que à guitarra e às tabuínhas
Que à guitarra e às tabuínhas
Seu espólio de momento;
Queria este seguimento
Queria este seguimento
A guitarra ali à mão
E as tábuas no coração
Coisa um bocado bizarra
Mas o certo é que a guitarra
Dizem que foi no caixão
E chegou a madrugada
E chegou a madrugada
Com toda a gente na rua
Havia uns restos de lua
Havia uns restos de lua
E de noite mal passada;
Mas foi data assinalada
Mas foi data assinalada
Pois qual bando de andorinhas
As colegas e as vizinhas
As colegas e as vizinhas
Com o luto no coração
Transportavam o caixão
Transportavam o caixão
Feito só com tabuinhas