*variações sobre a letra*
Guilherme Pereira da Rosa / Daniel Gouveia
Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Daniel Gouveia
Fui de viela em viela
Numa delas dei com ela
E quedei-me enfeitiçado
Sob a luz de um candeeiro
Um candeeiro tristonho
Nas trevas, um sonho
De promessas vãs
Ao lado, a mulher da vida
Da morte vencida
Todas as manhãs
Sombra que assombra e magoa
Chaga de Lisboa
Estátua do pecado
Hirta, naquele luzeiro
Estava ali o fado inteiro
Pois toda ela era fado
Arvorei um ar gingão
Um certo ar fadistão
Que qualquer homem assume
Pois confesso que aguardei
Aguardei, sim, mas vendido
Já arrependido
De a ter encontrado
Pois senti a mágoa, o fel
Amargo e cruel
De um ser espezinhado
Olhei para aquele rosto
Pintado sem gosto
Máscara de azedume
E acabrunhado esperei
Quando por ela passei
O convite do costume
Em vez disso, no entanto
Em vez disso, no entanto
No seu rosto só vi pranto
Só vi desgosto e descrença
Fui-me embora amargurado
Amargurado não diz
A dor com que fiz
Meia volta e andei
Errando, p'la noite fora
Maldizendo a hora
Em que me cruzei
Co'a 'quela forma disforme
De um vazio enorme
Espectro de indiferença
Aquele vulto especado
Aquele vulto especado
Era fado, mas o fado
Não é sempre o que se pensa
Ainda recordo agora
Ainda recordo agora
A visão que, ao ir-me embora
Guardei da mulher perdida
A pena que me desgarra
Desgarra e rasga as entranhas
Ver cenas tamanhas
De infame crueldade
Drama no palco das ruas
Silenciosas, nuas
Da minha cidade
Cidade onde mora a dor
Do fado menor
Da gente caída
Essa dor que o peito amarra
Só me lembra uma guitarra
A chorar penas da vida