Repertório de Raúl Pereira
Enquanto o moço campino
Cercava toiro por toiro
Sem a força de aguilhões
O sol escorria a pino
A sua poalha de oiro
Nas lezírias de Pegões
Á tarde, já quando o gado / De pinta, raça e nobreza
Ruminava lentamente
O curro estava marcado / P’ra toirada a portuguesa
Na Praça de Benavente
Domingo, após a corrida / Exaltaram-lhe o valor
No oiro de uma medalha
E foi, durante uma vida / O mais fiel seguidor
Do Van-Zeller e do Palha
Hoje, apesar de velhinho / Ainda teima em ser escravo
Da saudade em que delira
Encontrei-o á bocadinho / Á porta do *Gado Bravo*
Em Vila Franca de Xira
Ainda comentando a letra acima transcrita, há nela uma daquelas intenções que
consoante a subtileza do cantador, podia ludibriar o censor de serviço e, ainda hoje,
levar o leitor/ouvinte a considerar este fado, paradoxalmente, «de esquerda» ou «de direita».
Repare-se nos versos
«Hoje, apesar de velhinho
Inda teima em ser escravo
Da saudade em que delira
Da saudade em que delira
Informação trancrita do livro*Poetas da Fado-Tradicional* de
Daniel Gouveia e Francisco Mendes