José
de Oliveira Cosme / Jaime Mendes
Versão do repertório
de José Freire
Criação do actor Álvaro Pereira na revista
Criação do actor Álvaro Pereira na revista
Coração Português no Teatro Variedades, 1928
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
No tempo das patuscadas
Das guitarras e touradas
Das hortas, do carrascão
Eram
as iscas o prato
De mais consumo e barato
De mais consumo e barato
Na vida dum cidadão
E ninguém se envergonhava
Toda a gente que passava
Entrava nessas vielas
A gente sentia-se bem
Sendo simples era um vintém
A gente sentia-se bem
Sendo simples era um vintém
Trinta réis se eram com elas
Se ao longe vinha um parceiro
E o cheirinho lhes sentia
Até mesmo apetecia
Comê-las só p'lo cheiro
E a sua fama foi tal;
O povo então era vê-lo:
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal
Hoje tudo isso mudou
Se ao longe vinha um parceiro
E o cheirinho lhes sentia
Até mesmo apetecia
Comê-las só p'lo cheiro
E a sua fama foi tal;
O povo então era vê-lo:
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal
Hoje tudo isso mudou
A
taberninha acabou
Desapareceram os becos
Os cocheiros são chauffeures
Vigaristas, soutneres
Os cocheiros são chauffeures
Vigaristas, soutneres
E os casqueiros, papo-secos
Se
os meninos odaliscas
Comessem um prato d'iscas
Comessem um prato d'iscas
Daquelas bem temperadas
Morriam de indigestão
Morriam de indigestão
Não bebendo um garrafão
D'água das Pedras Salgadas
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Versão Original
Das guitarras e toiradas
Das hortas e carrascão
Eram as iscas o prato
Das hortas e carrascão
Eram as iscas o prato
De mais consumo e barato
Na vida dum cidadão.
E ninguém se envergonhava
Toda a gente que passava
Na vida dum cidadão.
E ninguém se envergonhava
Toda a gente que passava
Entrava nessas vielas
Sentia-se a gente bem
Sendo simples, um vintém
Sentia-se a gente bem
Sendo simples, um vintém
Trinta réis se eram com elas!
Se ao longe vinha um parceiro
E o cheirinho lhes sentia
Até mesmo apetecia
Comê-las só pelo cheiro
A sua fama foi tal
Que o povo, então, era vê-lo
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal
Hoje tudo isso passou
A taberninha acabou
Se ao longe vinha um parceiro
E o cheirinho lhes sentia
Até mesmo apetecia
Comê-las só pelo cheiro
A sua fama foi tal
Que o povo, então, era vê-lo
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal
Hoje tudo isso passou
A taberninha acabou
Desapareceram os becos,
Os cocheiros são “chauffeurs”
Vigaristas, “souteneurs”
Os cocheiros são “chauffeurs”
Vigaristas, “souteneurs”
E os “casqueiros”, “papo-secos”
Se os “meninos-odaliscas”
Comessem um prato de iscas
Se os “meninos-odaliscas”
Comessem um prato de iscas
Daquelas bem temperadas
Morriam de indigestão
De novo o fado jocoso a animar os palcos da nossa revista, desta vez celebrando
Morriam de indigestão
Não bebendo um garrafão
De água das “Pedras Salgadas”
Com a marcha do progresso
Com a marcha do progresso
Chego a ter medo, confesso
Do que me reserva a sorte
Almoça-se no Japão
Almoça-se no Japão
Vai-se jantar a Milão
E cear ao Pólo Norte
Eu estou a ver os vizinhos
Eu estou a ver os vizinhos
Do “Manel dos Passarinhos”
Aparvalhados, imóveis
Ao ver os mortos, coitados
Ao passarem despachados
Aparvalhados, imóveis
Ao ver os mortos, coitados
Ao passarem despachados
Em “carretas-automóveis”
o petisco que noutra letra de Lourenço Rodrigues (Ver pág. ????), no mesmo
espírito divertido e com o mesmo título, foi gravada por Hermínia Silva em 1957
Há ainda um Fadinho das Iscas, de Ary dos Santos e Martinho d’Assunção
gravado por Simone de Oliveira no seu único disco dedicado a fados.
A letra aqui apresentada foi gravada pelo seu criador, Álvaro Pereira e também
por José Freire.
Em ambos os casos, foi omissa a última estrofe, por motivos desconhecidos
Em ambos os casos, foi omissa a última estrofe, por motivos desconhecidos
mas que devem prender-se com a extensão da peça
ou o gosto dos intérpretes.
Para as gerações mais novas, haverá a explicar que «com elas» significava com
batatas a acompanhar; que souteneur é o termo francês para proxeneta; que
«casqueiro» era o termo de calão para o pão de um quilo; e «papo-seco» era
o pão mais pequeno, também chamado carcaça.
De tudo isto, apenas se
mantêm o «com elas», não mais em relação às iscas, mas como opção
à ginjinha. E, ainda em pleno vigor, mantém-se a «água das Pedras» Salgadas.