Daniel Gouveia / Popular *fado corrido*
Repertório de Daniel Gouveia
Já noite alta, na Ribeira
Adormecida ao luar
Uma guitarra fagueira
Sozinha, pôs-se a trinar
Deram
quatro badaladas / Ninguém se via no cais
Um
gato, como os demais / Em cautelosas passadas
Entre
as canastras tombadas / Furtivamente se esgueira
Em
remadas de canseira / Uma canoa varou
Nela
o pescador ficou
Já noite alta, na Ribeira
Pouco
a pouco, um borborinho / Uma algazarra crescente
Fez
crer que havia mais gente / Àquela hora a caminho
Era
um grupo comezinho / De gente moça a folgar
Com
guitarras a tocar / Que à canoa se encostou
Nem
no velho reparou
Adormecido ao luar
Levantou-se
o pescador / E disse: deixem-se estar
Só
é pena eu não tocar / Como toquei, a rigor
Mas
deixem ver, por favor / Se esta mão, já mal certeira
Por
pescar a vida inteira / Ainda assim me consente
Dedilhar,
saudosamente
Uma guitarra fagueira
Nada
se ouviu, não mexeram / Aqueles dedos curtidos
Dos
olhos, humedecidos / P'lo que as saudades trouxeram
Duas
lágrimas correram / P’ra na guitarra tombar
E,
qual história de encantar / Ante a turba embevecida
A
guitarra, de sentida
Sozinha, pôs-se a trinar