Vou fazer-te uma cantiga / Da melhor que sei e faço
De Montegordo vieram / Alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta / Outro foi de marcha à ré
Quando os teus olhos tropeçam / No voo de uma gaivota
Em vez de peixe vê peças / De oiro caindo na lota
Quem aqui vier morar / Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra / Se constrói uma cabana
Tu trabalhas todo o ano / Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano / Levam-te o couro cabeludo
Quem dera que a gente tenha / De Agostinho a valentia
Para alimentar a sanha/ De esganar a burguesia
Adeus disse a Montegordo / Nada o prende ao mal passado
Mas nada o prende ao presente / Se só ele é o enganado
Até que veio o primeiro / Documento autenticado
Eram mulheres e crianças / Cada um com o seu tijolo
Isto aqui era uma orquestra / Quem diz o contrário é tolo
E se a má língua não cessa / Eu daqui vivo não saia
Pois nada apaga a nobreza / Dos índios da Meia Praia
Mas não por vontade própria / Porque a luta continua
Isto aqui era uma orquestra / Quem diz o contrário é tolo
E toca de papelada / No vaivém dos ministérios
Mas hão-de fugir aos berros / Inda a banda vai na estrada