Quadras de Carlos Conde
Algumas destas quadras foram glosadas pelo poeta
Algumas destas quadras foram glosadas pelo poeta
Quem sofre de vida incerta
Passe à Ajuda, sem temor
Há sempre uma porta aberta
P'ra ajudar seja quem for
Alcântara, a jóia antiga
Baladeira de marés
É um resto de cantiga
No fumo das chaminés
Fui hoje ao Alto do Pina
Ver os pátios pobrezinhos
Mas perdi-me na rotina
Moderna, dos meus caminhos
Alvalade, flor abrindo
Ao sol, que tudo abençoa
Lembra uma noiva sorrindo
À varanda de Lisboa
Mais abaixo do Areeiro
Poetas e cantadores
Já recebiam dinheiro
De artistas e alquiladores
Arroios marca o seu posto
Sem prosápia nem vaidade
Sabe alindar-se com gosto
E trabalhar com vontade
No Bairro Alto do passado
Sepultou-se a tradição
A guitarra mais o fado
Foram no mesmo caixão
Sempre fiel ao seu meio
Vive o Bairro do Alvito
Podia ser grande e feio
Mas é pequeno e bonito
A Baixa nervosa e ardente
Cantiga que o povo entoa
É o bairro dessa gente
Que há nos bairros de Lisboa
Há duas portas de entrada
Neste bairro de Belém
A da história, a mais sagrada
E a do povo que ela tem
Benfica alegre e bizarra
Nas boémias do passado
Deixou de tocar guitarra
Beber e cantar o fado
A Bica define a vida
No subir ou no descer
Pode ser triste a descida
De quem a sobe a correr
Pronto, estamos no Castelo
Desta Lisboa garrida
Moldura em recorte belo
Duma aguarela com vida
Naquelas hortas antigas
De Campolide velhinho
Ainda há restos de cantigas
Do tempo do Patusquinho
A Estefânia causa agrado
A quem a paz estremece
Nesse bairro sossegado
Toda a gente se conhece
São ali da Ponte Santa
Os moços, as raparigas
E o povo alegre que canta
Mas não vive de cantigas
Na Graça, quando ela passa
Toda a gente lhe quer bem
Não há graça com mais graça
Do que a graça que ela tem
Tenha a bondade de entrar
O descanso faz-lhe bem
O bairro do Lumiar
Não fecha a porta a ninguém
Ninguém faça má ideia
Do povo da Madragoa
Ralha, insulta, regateia
Mas no fundo, é gente boa
Venham ver a Mouraria
Pelas frestas do passado
E a navalha do rufia
Que um dia marcou o fado
O bairro dos Olivais
Reparte por gente boa
Os braços fraternais
De outros bairros de Lisboa
O Palhavã do presente
Que do passado se esquece
Já não fala a toda a gente
E pouca gente o conhece
Pedrouços subiu de posto
E mostra de lés a lés
O sol a beijar-lhe o rosto
E o mar a beijar-lhe os pés
O bairro da Picheleira
Parece que tem feitiço
Mas vive á sua maneira
Ninguém tem nada com isso
O bairro a tudo resiste
P'ra manter as suas cores
De moderno pouco existe
Na velha Praça das Flores
Poço do Bispo, alegria
O bairro todo inteirinho
Festeja sempre este dia
No dia de São Martinho
O que nos diz a Pontinha
Dos tempos de antigamente
Fácilmente se adivinha
No labor da sua gente
Ali por Santa Isabel
Andam sombras do passado
Rondando um cunho fiel
Do bailarico e do fado
Mora ali p'ra Santa Marta
Certa gente envelhecida
Que nem em velha se farta
De ser nova toda a vida
Xabregas, velha menina
Tem no amor que em si flutua
Um namoro em cada esquina
Um motivo em cada rua