Repertório de Alfredo Marceneiro
É numa rua bizarra
A casa da Mariquinhas
Tem na sala uma guitarra
Janelas com tabuinhas
Vive com muitas amigas
Aquela de quem vos falo
E não há maior regalo
Que vida de raparigas;
É doida pelas cantigas
Como no campo a cigarra
Se canta o fado à guitarra
De comovida até chora
A casa alegre onde mora
É numa rua bizarra
Para se tornar notada
Usa coisas esquisitas
Muitas rendas, muitas fitas
Lenços de cor variada;
Pretendida, desejada
Altiva como as rainhas
Ri das muitas, coitadinhas
Que a censuram rudemente
Por verem cheia de gente
A casa da Mariquinhas
É de aparência singela
Mas muito mal mobilada
No fundo não vale nada
O tudo da casa dela;
No vão de cada janela
Sobre coluna, uma jarra
Colchas de chita com barra
Quadros de gosto magano
Em vez de ter um piano
Tem na sala uma guitarra
P'ra guardar o parco espólio
Um cofre forte comprou
E como o gaz acabou
Ilumina-se a petróleo;
Limpa as mobílias com óleo
De amêndoa doce, e mesquinhas
Passam defronte as vizinhas
P'ra ver o que lá se passa
Mas ela tem por pirraça
Janelas com tabuínhas
Informação retirada do Livro do poeta.
Edição Academia da Guitarra e do Fado
Embora a quadra de mote e as décimas tenham sido publicadas em livro em 1924 e em 1927, respectivamente, tudo indica que A Casa da Mariquinhas foi escrita por
Silva Tavares cerca de 1913, para o repertório de Alfredo Rodrigo Duarte, vulgarmente
conhecido, no meio do Fado, como Alfredo Marceneiro (25.02.1891 - 26.06.1982).
Isto porque, para a festa “A Madrugada do Fado”, de consagração e (suposta)
despedida de Alfredo Marceneiro, que teve lugar no Teatro São Luís, em Lisboa
no dia 25 de Maio de 1963, Silva Tavares escreveu uma efeméride
d’A Casa da Mariquinhas, intitulada