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Canal de JOSÉ FERNANDES CASTRO em parceria com RÁDIO MIRA

RÁDIO apadrinhada pelo mestre *RODRIGO*

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AS LETRAS PUBLICADAS REFEREM A FONTE DE EXTRAÇÃO, OU SEJA: NEM SEMPRE SÃO MENCIONADOS OS LEGÍTIMOS CRIADORES
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ATINGIDO ESTE VALOR // QUE ME FAZ SENTIR HONRADO // CONTINUO, COM AMOR // A SER SERVIDOR DO FADO
POIS MESMO DESAGRADANDO // A TROIANOS MALDIZENTES // OS GREGOS VÃO APOIANDO // E VÃO FICANDO CONTENTES
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Alcântara

João de Freitas / Raúl Portela
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal em Junho de 1939


Ó meu bairro sonhador
Onde nasci e passei minha mocidade
Tens alegria e frescor
E eu nunca esquecerei tua suavidade

Bairro de casas velhinhas
E de ardentes namorados
Onde até as andorinhas
Fazem ninhos p’los telhados

Alcântara tem a faina das oficinas
E até faz bem ver-se os gangas p’las esquinas
Bairro de operários com seus amores e quezílias
Que vivem dos seus salários
Dando a vida p’las famílias


Bairro nobre, mas modesto
De raparigas singelas e de tradições
Onde o viver é honesto
E há almas leais e belas sem ruins paixões

Bairro que é todo um poema
De acolhimento cortês
E que tem por seu dilema
O trabalho, a honradez

A companhia do fado

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Comecei a cantar fado de menino
Com o fado passei a mocidade
Com o fado vivi o meu destino
Tenho o fado comigo na saudade


Costumavam pedir-me p’ra cantar
Quando eu era ainda pequenino
Às vezes com vontade de brincar
Comecei a cantar fado de menino

Cantei fado na minha juventude
Cantei-o com mentira e com verdade
Cantei-o ao pecado e à virtude
Com o fado passei a mocidade

Quando o fardo da vida me pesava
Não perdia a coragem nem o tino
Tinha o apoio do fado que cantava
Com o fado vivi o meu destino

Mas peço que de mim não tenham dó
Por ser um homem já de muita idade
Eu tenho companhia, não ’stou só
Tenho o fado comigo na saudade

Despedida

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Ó gente, que és tão benquista
De sentimento sagrado
Recebam desta fadista
Os cumprimentos do fado

Com pena vos vou deixar
Com pena me vou embora
Pois gostava de cantar
P’ra vocês a toda a hora

Vou sentir muitas saudades
Por isso, neste meu fado
Desejo-lhes felicidades
E a todos, muito obrigado

Almas unidas

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor, as nossas vidas
Não se devem afastar
Pois duas almas unidas
Ocupam menos lugar

Ao mundo pouco lhe rala / O que há p’ra aí de pecado
Mas toda a gente me fala / Na vida que tens levado

Portanto, tu, faz de conta / Que entre nós não há intrigas
Tristezas de pouca monta / Passam com duas cantigas

Andei no mundo esquecida / Cantei uma vida inteira
Cada qual, cá nesta vida / Chora da sua maneira

A fabricanta de meias

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


És mulher mas não me enleias
Com a tua perna nua
És fabricanta de meias
E andas sem meias na rua


Passas por mim a sorrir / E eu, ao ver-te passar
Medito, fico a pensar / Sem saber o que sentir
Tens graça no teu vestir / Os homens tu não receias
Com um sorriso os rodeias / E a tua graça singela
Porém, a mim, minha bela
És mulher mas não me enleias

Dotado de encantos mil / O teu corpo escultural
faz lembrar um roseiral / Em manhã primaveril
E o teu rosto juvenil / Dá mais graça à graça tua
Tu és mais linda que a lua / Manda a verdade dizer
Mas muito mais, podes crer
Com a tua perna nua

Os teus ares provocadores / Fazem-te ser mais notada
E por isso és adulada / P’los teus admiradores
Com teus modos sedutores / Muitas paixões tu ateias
E os corações incendeias / A quem de ti pensa mal
Julgam-te rica... afinal
És fabricanta de meias

Não compreendo a razão / Que, sendo tu fabricanta
Vistas por forma que encanta / Com tal luxo e presunção
Se lutas pelo teu pão / Se o teu rosto também sua
A verdade é muito crua / Mas tenho que te dizer
Fazes meias p’ra viver
E andas sem meias na rua

Cheguei tarde, mas cheguei

José Fernandes Castro / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Júlia Cancela

Cheguei tarde, mas a tempo
De mostrar meu sentimento
Ao som dum verso maior
No meu peito aberto ao fado
Bailam sonhos dum passado
Lembrando o primeiro amor

Cheguei tarde, infelizmente
Mas trago um fado diferente/ Com rimas de felicidade
Trago também um desejo
Quente como um longo beijo / E triste como a saudade

Agora sou como o vento
Que sopra a qualquer momento / Impondo-se como lei
Sou porta voz do amor
Cantando seja onde for / Cheguei tarde... mas cheguei

Rústico

Letra de João de Freitas
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal em Junho de 1939


Vou-lhes pintar o cenário
Duma terra portuguesa
Um jardim, um campanário
E mais distante, a devesa

Uma dúzia de casinhas / Todas de branco caiadas
Em redor, as andorinhas / Alegres, enamoradas

Ao cimo, uma velha ermida / Dominando esse lugar
E que serve de guarida / A todos que vão rezar

Em baixo, a pequena fonte / De água pura, cristalina
Que nasce perto do monte / E tem a graça divina

É a gente que lá mora / Um pouco rude, mas sã
Que se vê p’los campos fora / Assim que rompe a manhã

É como um sonho fagueiro / Mas enorme na beleza
Este quadro verdadeiro / Duma aldeia portuguesa

A parelha da saudade

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vivendo um sonho acordada
Fugindo às desilusões
À triste realidade
Parto, levando atrelada
Ao trem das recordações
A parelha da saudade

Num trote cadenciado / Mal pousam as ferraduras
Nessa estrada florida
A estrada do meu passado / Que desgraças e loucuras
Tiraram da minha vida

Ouço guizeiras tocar / Suaves como quem beija
Seus guizos feitos de esperança
Julgo ouvir o repicar / Dos sinos da velha igreja
Nos meus tempos de criança

E nesta doce miragem / Sem ódios e sem paixões
Eu encontro felicidade
Deixem-me seguir viagem / Nas minhas recordações
Levada pela saudade

O fasificador

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ao tribunal, um dia, foi chamado
Um falsificador, p’ra responder
Mas, certo que seria condenado
Pensou maneira de não comparecer

Procurou um Doutor muito interesseiro
E um atestado médico requer
Dizendo: se a questão for o dinheiro
Posso pagar aquilo que quiser

O Doutor, seduzido p’la ambição
O atestado médico passou
Após o receber, de o ter na mão
O outro em notas falsas lhe pagou

O Doutor, pelas notas logo viu
Que estas eram falsas e protesta
Deveras zangado, ele exigiu
Outro dinheiro dizendo: este não presta

O falsificador, sem vacilar
Sorrindo p’ró Doutor replicou
As minhas notas falsas vão pagar
O atestado falso que passou

Meu amor vamos ao fado

José Fernandes Castro / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Julia Cancela


Meu amor vamos ao fado
Cantar, ouvir e sonhar
Levo a nostalgia ao lado
P’ra quando o choro chegar

Levo poemas d’amor / E o teu sangue nas veias
Levo o perfume da flor / E o soluçar das sereias

Levo o mar que é meu amigo / Levo o sol e levo a lua
Levo a saudade comigo / Na minh’alma semi-nua

Levo estrelas p’ra te dar / Levo um cravo perfumado
Não me faças esperar / Meu amor, vamos ao fado

Cerejas

Mote de Augusto Gil / Glosa de Henrique Rego
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal, em Junho de 1938


Cerejas frescas, vermelhas
Pendentes pelos caminhos
São brincos para as orelhas
Das filhas dos pobrezinhos


São lindos os cerejais / Nas madrugadas frescosas
Quando Maio, o mês das rosas / Desabrocha nos rosais
Pelos campos os zagais / Desenvoltos, qual abelhas
Deixam as mansas ovelhas / Bebendo pelos ribeiros
Enquanto colhem, ligeiros
Cerejas frescas, vermelhas

Frutos de polpa macia / Que me entontecem de amor
Por serem da rubra cor / Desses teus lábios, Maria
Por isso, ao romper do dia / Mal se oiça cantar os ninhos
Vamos como dois pombinhos / Colhê-los, com devoção
Dos débeis ramos que estão
Pendentes pelos caminhos

Hás-de vibrar de ventura / Quando tua boca ardente
Mordiscar suavemente / Esses rubis de doçura
Depois, farás com ternura / Já que aos anjos te assemelhas
Desses frutos às parelhas / Pingentes inimitáveis
Que as cerejas adoráveis
São brincos para as orelhas

Brincos próprios da inocência / Simples jóias de crianças
Maravilhosas heranças / Deixadas p’la indigência
Sem mostrardes a fulgência / Dos vis minérios daninhos
Vão p’ra vós os meus carinhos / Cerejas dos meus anelos
Por serdes brincos singelos
Das filhas dos pobrezinhos

Granito sem idade

José Fernandes Castro / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Júlia Cancela

Cinzenta como o granito
Azul como o infinito
E branca como a pureza
Assim vejo esta cidade
Que apesar de longa idade
Cada vez tem mais beleza

Airosa formosa e bela
Brilhante como a estrela / Que baila no universo
Esta cidade cinzenta
É a rima que sustenta / Este poema disperso

Meu Porto, meu pioneiro
Meu herói, meu companheiro / Rima que ao amor imponho
É por ti que sou poesia
E foi por ti que a magia / Me trouxe ao mundo do sonho

Se o amor fosse pintor
Pintaria com primor / Este meu Porto adorado
Berço da minha ternura
Tens contigo a tal doçura / Que põe aromas no fado

Falso amor

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O nome, a honra e os bens
Tudo te dei, tudo é teu
O próprio amor que me tens
É o que sobra do meu


Na carta que recebi / Sou tratado com desdéns
Pois, mulher, por ti perdi / O nome, a honra e os bens

Teu falso amor, depravada / Não me admira, morreu
Pois, se hoje não tenho nada / Tudo te dei, tudo é teu

Sei que não é verdadeiro / O que há tempo a jurar vens
Pois eu comprei por dinheiro / O próprio amor que me tens

‘Inda te hás-de arrepender / Não seres franca como eu
E o amor que dizes ter / É o que sobra do meu

Palavras

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de Júlia Cancela


Palavras valem só pelo que são
Não podem ser motivo de censura
P’la boca, sai a voz do coração
P’la alma, sai o sumo da ternura

Palavras são o sopro da vontade
E dão real valor ao que é perfeito
Quando trazem maior sinceridade
Merecem ser ouvidas com respeito

Palavras simbolizam pensamentos
E geram melodias sonhadoras
Simbolizam também, os tais momentos
Que não se dá, pelo passar das horas

Palavras são o fruto do desejo
Quando o desejo é fruto da vontade
Mais valor que as palavras, só um beijo
Que sirva p’ra medir a felicidade

Meu sentido

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Pressinto-me no caminho
Feito amor na voz do povo
Pois descobri-me sozinho
E meu chão é campo novo

Meu pensamento no mar / Meu corpo rio à nascente
Aventura por acabar / Meus olhos de tanta gente

O vento não vem mentir / Aos meus amores escondidos
Nem o medo há-de vir / Derrubar os meus sentidos

Povo de sangue mais puro / Meu caminho de alegria
Raio de sol sobre o muro / Levantado ao fim do dia;
Na cidade em que perduro
Coração que em ti havia

A marcha real da vida

José Fernandes Castro / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Julio Cancela

Na marcha real da vida
Não há certezas futuras
Na hora da despedida
A coragem da partida
Tem o sal das desventuras

Na marcha real do tempo / Não há destinos iguais
A dor que gera tormento
Põe no nosso pensamento / A força dos vendavais

Na marcha do amor perfeito / O tempo não tem idade
Na solidez do meu peito
Há sopros que não rejeito / Porque me dão felicidade

Na marcha do amor veloz / São enormes os desejos
Amando, tal como nós
Os sonhos não estarão sós / Nesta solidão de beijos

Com três pregos e uma cruz

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Com três pregos e uma cruz
E um pouco de coração
Fez Jesus Cristo no mundo
A maior revolução


A morte, em vida tornou / E das trevas fez a luz
Que obra sublime criou / Com três pregos e uma cruz

Trouxe a nós a felicidade / Da suprema redenção
Em troca de fé, verdade / E um pouco de coração

Que milagre pode haver / Que milagre mais profundo
Do que aquele que ao morrer / Fez Jesus Cristo no mundo?

Num mundo, cruel cenário / De guerra e destruição
Ele fez do seu calvário / A maior revolução

É aqui na Mouraria

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Do arquivo de Francisco Mendes


Olha lá: p’ra que te escondes?
Tu não ouves? não respondes?
Porque vais tão embuçado?
É aqui a Mouraria
Onde o Conde de Anadia
Muita vez cantou o fado

Tu vieste de samarra?
Tu trouxeste uma guitarra? / Se é assim, pelo que esperas?
Tipóias, aqui, não há 
Também não encontras cá  / Nem fadistas, nem severas

Vês a Moirama? coitada
Foi aberta e devassada / No mais sombrio recanto
Já ninguém a toma a sério
Perdeu o ar de mistério / Que era todo o seu encanto

O Fado, um velho pimpão
Pai duma linda canção / Não sei porquê, foi-se embora
Eu não sei se foi por teima
Por capricho ou por toleima / Sei é que já cá não mora

Se o vires p’raí galante
Feito senhor arrogante / A falar em fidalguia
Diz-lhe que tenha cuidado
Porque há-de ser sempre fado / E filho da Mouraria

Corre a tinta

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Corre a tinta atrás da pena
Dum poeta sonhador
Ao desenrolar a cena
Duma tragédia de amor


Tudo corre, nesta vida / Sem um momento parar
Os rios correm para o mar / P’ra lá morrer de seguida
E nessa veloz corrida / Quanta ilusão nos acena
Não a ganhar, faz-nos pena / Perdê-la, ninguém o quer
Corre o homem p’rá mulher
Corre a tinta atrás da pena

A quem corre por prazer / Correr por gosto não cansa
Corre-se atrás duma esperança / Ou duma coisa qualquer
E depois, quando Deus quer / Nos dá força e dá vigor
Corre-se atrás de um amor / Ou de uma desilusão
Tal como a inspiração
Dum poeta sonhador

Só é feliz quem atina / Nessa corrida veloz
Pobre de qualquer de nós / Se o seu passo desafina
Quando a corrida termina / Não há ninguém que nos tema
E a pessoa mais serena / Sabe que vai sucumbir
Mas já não pode fugir
Ao desenrolar da cena

Há contrastes sem razões / Na corrida, quem diria
P’ra uns, é tudo alegria / P’ra outros, desilusões
E pobres dos corações / Que vão perdendo o calor
E já não têm vigor / P’ra uma corrida normal
Lembram o ato final
Duma tragédia de amor

Fiz dum jornal uma bola

Letra de Linhares Barbosa
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Fiz dum jornal uma bola
E atirei-a a um 4º andar
Duma bela que se chama
Conceição e que é de Ovar

Diz-me ela, vindo à janela
Entrançando as tranças suas
Não me atires co’o Notícias
Mas sim com notícias tuas

Fiquem sabendo senhores
Que os rapazes dos jornais
Também possuem amores
São rapazes como os mais

Letra publicada no jornal “Guitarra de Portugal” em Junho de 1927, com indicação de que
as quadras a seguir transcritas foram cantadas por Joaquim Campos e Júlio Proença, 
num espectáculo levado a efeito no Coliseu dos Recreios, promovido pelo 
“Diário de Notícias”, em benefício da Caixa de Previdência dos Vendedores de Jornais.

Mulher

Poema de José Carlos Ary dos Santos
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


A mulher não é só casa
Mulher-loiça, mulher-cama
Ela é também mulher-asa
Mulher-força, mulher-chama

E é preciso dizer; / Dessa antiga condição
A mulher soube trazer / A cabeça e o coração

Trouxe a fábrica ao seu lar / E ordenado à cozinha
E impôs a trabalhar / A razão que sempre tinha

Trabalho não só de parto / Mas também de construção
Para um filho crescer farto / Para um filho crescer são

A posse vai-se acabar / No tempo da liberdade
O que importa é saber estar / Juntos em pé de igualdade

Desde que as coisas se tornem / Naquilo que a gente quer
É igual dizer meu homem / Ou dizer minha mulher

Penas

Letra de Linhares Barbosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Há nomes que são apenas
Termos errados, mesquinhos
Não se deve chamar penas
Às penas dos passarinhos

Penas são as penas minhas / Essas com que me condenas
Às penas das andorinhas / Não devemos chamar penas

Como fiozinhos de seda / As penas das aves são
As minhas são labaredas / E queimam meu coração

As delas são para voar / Em liberdade viver
As minhas são de matar / As minhas são de morrer

Teu corpo em mim perdido

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Teu corpo em mim perdido
Em jeito de confissão
Teu corpo por mim despido
Por mim beijado e sofrido
Foi meu sol e meu perdão

Os lobos uivaram cedo / Na orla do pinheiral
Teu corpo gelado e quedo / Foi a raiva do segredo
Dos amores em Portugal

No frio do fim do dia / A morte soube-me a vinho
E a virgindade que havia / No teu corpo de alegria
Foi meu sol e meu caminho

Minha guitarra

Letra de João de Freitas
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Outubro de 1940

Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


As cantadeiras de outrora
Deixaram-me, por legado
Uma guitarra que chora
Comigo, se eu canto o fado

Seus acordes doloridos / Entram na alma da gente
E até parecem gemidos / Dum peito que sofre e sente

Acompanhou a Severa / Júlia Mendes e Vitória
Cantadeiras doutra era / Que deram ao fado a glória

Ela possui o condão / Trinando com sentimento
De falar-me ao coração / Em doce acompanhamento

Por isso eu lhe quero tanto / Por ser velhinha e tão bela
E se chora quando canta / Eu também choro com ela

O Chico do Cais Sodré

Letra de Artur Soares Pereira
Criação de Rogério Fernandes
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

O Chico do Cais Sodré
Era um rufia afamado
Foi nadar fora de pé
Estava a puxar a maré
Ia morrendo afogado

Teve sorte porque a Micas / Quando o viu a esbracejar
Correu a chamar o Licas
Um tipo que era maricas / E o conseguiu salvar

Salvo dessa aflição / O Chico disse p’rá Micas
Mas que triste situação
Eu que sou um valentão / Fui salvo por um maricas

E voltou-se a lamentar / À Micas, mais uma vez
Eu tenho estado a pensar
Como é que lhe vou pagar / O favor que ele me fez?

Logo a Micas, sem se opor / Ao Chico responde assim
O Licas fez-te um favor
Podes pagar, meu amor / Como me pagas a mim

Sonho de amor

Linhares Barbosa / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Fernando Farinha
Este tema (com ligeiras alteraçôes na letra) também foi gravado por Manuel de Almeida
na música do Fado Pedro Rodrigues com o título *Omnipotência* .

Fosse a lua toda minha
Só minha propriedade
Buscá-la iria às alturas
Para ta dar inteirinha
Embora que a humanidade
Ficasse toda às escuras

Se num rápido segundo
O sol fosse apenas meu / Eu dava-te o sol também
Arrefeceria o mundo
Mas o sol seria teu / Só teu e de mais ninguém

As estrelas, todas elas
Aquelas que vês brilhar / Se fosse Deus, quero e posso
Iria arrancar estrelas
Delas fazia um colar / Para te pôr ao pescoço

Se após isto, francamente
Depois de tanta grandeza / Me não quisesses por fim
Transformava-te em serpente
Porque assim tinha a certeza / Que te enleavas em mim

Nostalgia

Letra de João de Freitas
Repertório de Alberto Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Letra publicada no jornal Canção do Sul em Dezembro de 1938 com dedicatória 
ao grande amigo e distinto poeta Norberto Ferreira.

Partira para bem longe um infeliz
Em busca da fortuna tentadora
Julgando ir encontrar noutro país
Alívio para a vida enganadora

Depois lá nessa terra de ilusão
Trabalhou noite e dia com vontade
Porém com a nostalgia, esta canção
Entoava num sonho de saudade

Ó minha Pátria saudosa / Cheia de sol, tão formosa
Ai quem me dera voltar
Para acabar meu sofrer / E não me cansar de ver
Tuas noites de luar
Tens um céu que nos encanta / Que possui magia tanta
De radiante beleza
Meu torrão abençoado / De saudade e meigo fado
Linda terra portuguesa


O tempo foi passando e o emigrante
Já velho e alquebrado sente a dor
E a Pátria não esqueceu um só instante
Falando sempre dela com amor

E quando algum paquete vê partir
Acompanhando-o sempre com o olhar
Não esconde a sua mágoa, o seu carpir
Murmurando, baixinho a soluçar

Acordar para a vida

Letra de Isidoro de Oliveira
Para o repertório de Helena Favila
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Vivia dias risonhos
E à noite nos meus sonhos
Via promessas e esperanças
E vivia descuidada
Rindo de tudo e de nada
Até que cortei as tranças

Comecei nos bailaricos
Nos alegres namoricos / Que se têm nessa idade
Era um segredo’ncantado
Que tinha cheiro a pecado / Mas ainda sem maldade

Sem maldade e divertida
Seguia à toa na vida / Até que te conheci
Não sei o qu’aconteceu
Tudo passou e esqueceu / Eu pensava só em ti

Dizendo sempre que não
Resistia à tentação / Que vinha do teu calor
Mas acabei por ceder
E passei a ser mulher / Por força do teu amor

Todo o meu sonho acabou
E a vida despertou / Sem disfarce nem abrigo
A vida é p’ra ser vivida
Eu quero viver a vida / E quero vivê-la contigo

Amor com amor se paga

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credÍvel.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Disseram-me hoje por graça
Que não passavas aqui
Ao ouvir essa ameaça
Nem calculas como eu ri;
Aqui toda a gente passa
E até eu passo sem ti

Já me rogaste uma praga / Faz lá o que te aprouver
Vieste abrir uma chaga / E não quiseste saber;
Amor com amor se paga
E eu nunca fico a dever

No mundo não há desejo / Que mais fale ao coração
Que ser roubado num beijo / E ter fama de ladrão;
Se o beijo não for sobejo
D’outros beijos que lhe dão

Fiz-te ciúmes, não nego / P’ra me rir do teu desdém
Já nem à mágoa me entrego / Pois acho que faço bem;
É porque o ciúme é cego
E não respeita ninguém

Não sei que dizem teus olhos

João Ferreira Rosa / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Luísa Mira (ao vivo)


Não sei que dizem teus olhos
Quando olham para os meus
Não sei se dizem que chegam
Não sei se dizem adeus

Eu nunca sei o que dizes / Pois nunca me queres dizer
Que as horas só são felizes / Quando nos estamos a ver

E se um dia tu partires / Não quero ver mais ninguém
E se ao longe tu me vires / Eu hei-de ver-te também

Nunca me deixes de olhar / Meu amor, faz por me ver
És a luz deste cantar / Que dá força ao meu viver

Caminho sombrio

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O meu caminho sombrio
É o rasto negro e frio
De saudade e ilusão
Tecido em magras pegadas
Ondulantes, compassadas
Pelo bater do coração

A poeira levantada
Baixa triste e desolada / Traçada em faixas de luz
Como cinzas que arrefecem
Aruras que juntas tecem / A sina que me conduz

Seguirei a passo e passo
Este caminho que traço / Esta romagem perdida
Até me deixar perder
Cair e apodrecer / Na vala comum da vida

Fragata do Tejo

Isidro de Oliveira / Alves Coelho *fado maria vitória*
Repertório de Ana Marina
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credivel
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De velas feitas ao vento
Ainda parece que a vejo
Guardo no meu pensamento
Essa fragata do Tejo
Que caiu no esquecimento

Altiva como o navio / Ligeira como a falua
Do Mar da Palha ao Bugio
A barra era toda sua / Era a senhora do rio

A fragata navegava / Quando Lisboa dormia
Quando Lisboa acordava
Tinha o pão de cada dia / Que a fragata lhe levava

A lei da vida é ingrata / O tempo nunca perdoa
O progresso tudo mata
E hoje, junto a Lisboa / Não se vê uma fragata

A guitarra

Letra de Linhares Barbosa
Dedicada ao Júlio Proença
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


A guitarra não é oca
Tem lá dentro um coração
E nem anda como louca
A chorar de mão em mão


Dentro duma lira, mora / O gemer da nossa boca
Justamente porque chora / A guitarra não é oca

Se quando cantamos, canta / Está definida a razão
É porque também tem garganta / Tem lá dentro um coração

Tem alegrias na voz / Quando a mágoa se lhe apouca
Não é tonta como nós / E nem anda como louca

Mais do que ela, ninguém manda / Na pátria do FADO, não
Por ter alma é que ela anda / A chorar de mão em mão

Não escrevas mais cartas

João de Freitas / Francisco Carvalhinho
Repertório de Isaura Gonçalves


Quiseste partir, deixar-me
Por tua leviandade
De que servia queixar-me
Fizeste a tua vontade

Foste atrás duma aventura
Que tu julgavas sincera
Hoje vês que foi loucura
E não passou de quimera

Não escrevas mais cartas que eu não te as aceito
Sabes bem que eu tenho uma outra afeição
Dentro do meu peito
Mas temo em pensar, vendo o que perdi
Que possas voltar
E que me falte a coragem p’ra fugir de ti


Estás farto de me dizer
Que choras penas sem fim
Que assim não podes viver
E tens saudades de mim

Não te posso dar valor
Já vieste muito tarde
Eu hoje tenho outro amor
Embora o teu ainda guarde

Eu quis ver a Mouraria

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credÍvel

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Do arquivo Francisco Mendes


Eu quis ver a Mouraria
Naquela noite de farra
Levei o fado por guia
Por companheira a guitarra

Corri o Bairro inteirinho / Que tem do amor o ferrete
Do Largo do Terreirinho / Ao Arco do Alegrete

Numa janela floridam / Colhi um amor-perfeito
Mais aberto que uma ferida / Que eu tinha dentro do peito

Nas vielas empedradas / O luar estendia o manto
Por sobre as pedras lavadas / Por muitas bagas de pranto

Naquela noite de farra / Não cantei; porque sabia
Que a minha velha guitarra / Perdeu-se na Mouraria

Auto-retrato

João Ferreira Rosa / Alfredo Duarte *fado senhora do monte*
Repertório de Aldina Duarte

Trago dentro do meu fado
Uma figura de proa
E uma velha caravela
Que naufragou em Lisboa

Tenho também uma vela / Com a cruz das descobertas
E a luz duma outra vela / E a luz duma outra vela
Nas minhas noites desertas

Deixo cair dos meus dedos 
O bater do coração
Que desvenda os meus segredos
Da minha enorme paixão

Nunca me esqueço de nada / Que me faz cantar assim
Nem sequer da madrugada / Nem sequer da madrugada
Que existe dentro de mim

Mendigas

Glosa de Linhares Barbosa / Mote de autor desconhecido
Letra publicada no jornal “Guitarra de Portugal” em Maio de 1939
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


As meninas dos meus olhos
Parecem duas mendigas
Sempre a pedirem esmola
Aos olhos das raparigas


Esta noite vi balhando / E cirandando a Joaquina
Que é filha de gente fina / Que tem dom e que tem mando
Se a vissem, linda, rodando / Com o seu avental de folhos
Cabelos loiros, aos molhos / Bota branca de bezerro
É nessa moça que eu erro
As meninas dos meus olhos

Mas, ai de mim! Que o demónio / Não é de mim que ela gosta
Porque vejo que se encosta / Ao filho do tio António
Ele sim, que toca harmónio / E já dizem as amigas
Que são p’ra ele as cantigas / Que ela canta nos desfolhos
Suas meninas dos olhos
Parecem duas mendigas

Porque é que os olhos da gente / Quando vão às romarias
Vêm certas alegrias / Que os transformam de repente?!
Ele há coisas!... francamente / Que até parecem graçola
Os meus olhos de sacola / E de esp’rança quase morta
Só andam de porta em porta
Sempre a pedirem esmola

Meus olhos são pobrezinhos / Andam descalços e rotos
Porque há olhos marotos / Que só lhe negam carinhos
Cruzam todos os caminhos / Transpõem terras antigas
Só pisam cardos e espigas / Charnecas, desolação
E por isso pedem pão
Aos olhos das raparigas

Caminho vão

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado.


Gostas de mim creio em ti
Gosto de ti podes crer
Em tudo quanto perdi
Só nós dois não vi morrer

Por ti por nós tive medo / Pois tudo em mim se perdia
Só tu e eu em segredo / E mais nada existia

Descobri no teu olhar / Os teus olhos sem razão
Nos teus olhos a chorar / Vi o meu caminho vão

Podia ter sido eu / Podia ter sido adeus
Foi uma sombra do céu / Nos teus olhos e nos meus

Quatro estações

Letra de João de Freitas
Repertório de Manuel Pereira
Publicada no jornal Canção do Sul, em Dezembro de 1938 
com dedicatória ao poeta Gabriel d’Oliveira

Num ano todos sabem que as estações
São quatro, e todas elas diferentes
Que passam a correr p’los corações
Deixando nuns a dor e outros contentes

Na bela primavera as andorinhas
Nos beirais dos telhados fazem ninhos
Nos campos e jardins, lindas florinhas
Convidam a fazer belos raminhos

No Verão há aquele viver fictício
Que nos queima num sol abrasador
Das praias e casinos o bulício
Nas férias dum repouso enganador

Das árvores caem folhas ressequidas
É o Outono terrível para os sem sorte
Doenças incuráveis ceifam vidas
E em muito infeliz lar campeia a morte

E o Inverno que tem tanta beleza
Quando algum furacão a terra cobre
Transforma sempre a linda natureza
E faz mais desgraçado quem é pobre

Por culpa minha

Letra de Isidoro de Oliveira
Repertório de Ana Marina
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ao perder o bem que temos
É que sabemos o seu valor
Agora que te perdi
Só penso em ti, no teu amor

Do teu amor desdenhava
Até gostava de te ver triste
Dizias que ias partir
Não quis ouvir e tu partiste

Levado pelo desejo
Pediste um beijo de despedida
Nesse beijo que te dei
Presa deixei a minha vida

Quis-te pedir p’ra ficar
Quis-te abraçar, mas fui cobarde
Perdi todo o bem que tinha
Por culpa minha, agora é tarde

Felicidade

Letra de João de Freitas
Repertório de Alberto Ribeiro
Publicada no jornal Canção do Sul em Dezembro de 1938 com dedicatória 
ao distinto poeta Henrique Rego.
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


És tão linda e sedutora
Passas por grande senhora
E sabes quanto te quero
E sabendo que me adoras
Pergunto: porque demoras
Esse sim que há tanto espero?

Receias que eu vá contar 
O que entre nós se passar? / Se é isso, não tenhas medo
Nem vivas em tal engano
Que apesar de leviano / Eu sei guardar um segredo

Não julgues que é altaneiro
O teres jóias e dinheiro / E esconderes a tua dor
És culpada, podes crer
Tens vergonha de o dizer / Mas falta-te o meu amor

Faz-me pena a tua sorte 
Pois julgas-te mulher forte/ Impondo a tua vontade
Mas, olha! o maior tesoiro 
Que se não compra com oiro / Chama-se: felicidade

Partir

João de Freitas / Ercília Costa
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Dezembro de 1938 e no mesmo jornal 
em 1943 com o títuo *Partida* e dedicada ao conceituado jornalista Alberto de Freitas

É tão custoso partir
Desta terra tão Formosa de rara beleza
Que a gente finge sorrir
E uma lágrima teimosa desvenda a tristeza

O barco parte, desliza / Há corações a sangrar
Seu apitar simboliza / Um adeus até voltar

Parte um vapor
Para terras bem distantes
E há sempre dor
Nos rostos dos viajantes
Uns sem ventura
E muitos contra vontade
Vão conhecer a amargura
Dessa palavra saudade


Vê-se lenços acenando
Nas horas da despedida ao longo do cais
E o vapor leva, marchando
Muita lágrima sentida dos que sentem mais

Partir é sempre tristonho / P’ra quem tiver sentimento
E aniquila tanto sonho / Que morre nesse momento

Não hei-de dizer adeus

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De luto ficou a cor
Dos abraços que eu daria
Gesto de espanto e de dor
Mais nada que quase amor
Muito menos que alegria

Há um mar à minha espera / A banhar o meu país
E um horizonte que era
Para o sol da primavera / E que a tristeza desdiz

E do barco que me leve / Não hei-de dizer adeus
Minhas mãos são de quem teve
O suor dum tempo breve / Em companhia de Deus

Linda Lisboa

Letra de João de Freitas / Raúl Ferrão *fado do campino*
Repertório de Maria Guerreiro

Nesta Lisboa de pregões tão populares
Sempre nos soa aos ouvidos, seus cantares
Sobre as neblinas, mal o sol vem despontando
Há gargantas cristalinas, p’las ruas apregoando

Lisboa linda
Com teus bairros sonhadores
A tua graça é infinda
E só merece louvores
Como eu invejo
Tua doçura e bem estar
E a melodia do Tejo
Nessas noites de luar


O teu bulício, próprio das grandes cidades
É um indício das tuas prosperidades
Tua grandeza enfeitiça quem te adora
E por teres tanta beleza, todo o mundo te namora

Publicada no jornal Guitarra de Portugal em Maio de 1939

Isso é comigo e com ela

Alvaro Morgado / Popular *fado mouraria*
Repertório de César Morgado


Não é p´lo seu lindo rosto
A causa de gostar dela
Gosto dela, é porque é gosto
Isso é comigo e com ela

Aos que dizem ser de tômo / Eu p’ra ser franco e sincero
Digo a todos que só como / Daquilo que gosto e quero

Tanto murmúrio p´ra quê / Tanta ansiedade em vão
Quem mais olha menos vê / A causa desta afeição

Não me estou p'ra desgastar / Com frases que tenho dito
Pois ver, ouvir e calar / É sensato e é bonito

Há p´raí quem diga mal / De eu ser dela tão amigo
Se gosto dela, afinal / Isso é com ela e comigo

O meu castigo

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Saiu zangado comigo
E já nem parecia aquele
Gaiato, d’olhar profundo
Mas deixem que eu por castigo
Hei-de ir à procura dele
Nem que eu dê a volta ao mundo

Já lhe escrevi uma carta
Que eu lembro linha por linha / E até começava assim
Meu malvado: eu já estou farta
Farta de viver sozinha / Sem te ver ao pé de mim

Não choro por se ir embora
Mas por ter feito em pedaços / Todo o amor duma mulher
Também se o encontro agora
Hei-de apertá-lo nos braços / Com quanta força tiver

Nem sabe o mal que tem feito
Aquela “beleza rara” / Que me saiu uma prenda
Mas, ai… se o apanho a jeito
Leva-me um beijo na cara / Que lhe há-de ficar de emenda

Prenda de Natal

João de Freitas / Alberto Ribeiro
Repertório de Alberto Ribeiro


Indo pôr um sapatinho / Em cima da chaminé
Ao filho de Nazaré / Fala assim um rapazinho

Menino que és tão bondoso / Minha mãezinha morreu
E dizem que foi p’ró céu / E eu vivo tão pesaroso

Era tão meiga e tão bela
E eu tenho tanta saudade
Com a minha pouca idade
Não posso viver sem ela;
Com teu dom celestial
Se ouvisses a prece minha
Davas-me a minha mãezinha
Como prenda de Natal


Meu Radi, ó meu senhor / Tu também tinhas mãezinha
Não precisavas da minha / Que me dava tanto amor

Se a encontrares, meu Jesus / Diz-lhe que quero beijá-la
E não podendo olvidá-la / Arrasto pesada cruz
- - -
 - -
 -
ORIGINAL com o título *NOITE de NATAL

Indo pôr um sapatinho / Em cima da chaminé
Ao filho de Nazaré / Fala assim um rapazinho

Menino que és tão bondoso / Minha mãezinha morreu
E dizem que foi p’ra o céu / Mas vivo tão pesaroso

Eu gostava tanto dela / E sinto tanta saudade
Com a minha pouca idade / Não posso viver sem ela

Se a encontrares, meu Jesus / Diz-lhe que quero beijá-la
E não podendo olvidá-la / Arrasto pesada cruz

Com teu dom celestia / Se ouvires a prece minha
Davas-me a minha mãezinha / Como prenda de Natal

Meu bendito, meu Senhor / Tu também tinhas mãezinha
Não precisavas da minha / Que me dava tanto amor

Se a não queres devolver / Outra prenda podes dar
Quando eu adormecer / Nos braços dela acordar

Fado é destino

Letra de Isidro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Dizem que o fado é destino
Que nos é dado ao nascer
Tem-se fado em pequenino
Tem-se fado até morrer

Incerto e pouco seguro / É o fado da criança
Não tem mais do que futuro / É este o fado da esperança

Já grande, com juventude / Com a vida a enfrentar
É forte a nossa atitudem / Porque temos que lutar

Umas vezes devagar / Outras vezes de corrida
Passa-se a vida a lutar / O fado é a própria vida

O caminho é percorrido / E quando chega a idade
O fado não é vivido / O fado é todo saudade

Os homens que eu amei

Tiago Torres de Silva / Carlos Gonçalves
Repertório de Tereza Tarouca


Os homens que eu amei
Amei-os um a um
A todos me entreguei
E não amei nenhum

Os homens que eu amei
Amei-os um a um
Por todos eu chorei
E não me amou nenhum

Os homens que eu amei
Amei-os um a um
A todos eu matei
E não morreu nenhum

Os homens que eu amei
Amei-os um a um
Por todos me matei
Não me chorou nenhum

A fonte da Mouraria

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Houve em tempos uma fonte
Num beco da Mouraria
E era ali, mesmo defronte
Que a Severa vivia

Costumava o Vimioso / Nas velhas noites de farra
Nesse recanto frondoso / Afinar sua guitarra

Quando a Severa cantava / A velha fonte sentia
E comovida chorava / Pela água que corria

E há tempos, soube-o eu / Um velhinho mo contou
Quando a Severa morreu / A velha fonte secou

O retrato do meu fado

José Fernandes Castro / Júlio Proença *fado laiva*
Repertório de Luísa Nascimento


Sou simplesmente uma voz que se levanta
Sempre que sente verdades que o povo canta
Toda me entrego às rimas que o fado tem
E nunca nego os meus fados a ninguém

Sou a cantiga
Que passa de boca em boca
Numa correria louca
Em perfeita direção
Velha cantiga
Carregada de mensagem
Que parece uma viagem
À volta do coração


Trago na voz a virtude e o pecado
Que em todos nós vivem sempre lado a lado
Mesmo que a dor venha morar sempre em mim
Canto o amor do princípio até ao fim

Linda cidade

Letra de João de Freitas
Escrita para o repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Maio de 1941


Esta cidade tão linda
Que até parece encantada
Possui a doçura infinda
De ser p’lo Tejo banhada

Nos seus bairros cheios de cor
E meiguice nos cantares
Festeja-se com amor
Nossos Santos Populares

Nesta Lisboa mora a beleza
E a singeleza, de braço dado
Durante o dia soam pregões
Que são brasões do seu passado
Há fabricantes que nunca esquecem
Pois se conhecem p’lo seu trajar
E em toda a parte vê-se as varinas
Meigas, ladinas, de lindo olhar

É garbosa sentinela
O oceano a espreitar
Donde tanta caravela
Partiu p’ra o imenso mar

E parece estar escutando
As vozes dos pioneiros
Que lá no mar vão cantando
Os feitos dos marinheiros

Meu amor, gota de mel

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor, gota de mel
Sonho breve, flor de cinzel
Relógio de horas paradas
Meu amor corpo de vento
Meu riso, meu pensamento
Barro das minhas estradas

Se ando triste, ou 'stou cansado / O meu amor, atento, e calado 
É seda, e calma, e esperança
Abre as mãos, e deixa a vida / Escapar-lhe, de fugida 
Vindo a mim como criança

Meu amor, minh’água pura / Liberdade que perdura 
orpo inteiro sem prisão
Vem dizer ao mundo novo / Que temos sangue de povo
E que o povo é nosso irmão

Vampiros, reis da desgraça / Senhores da morte que passa 
Levando quem é verdade
Eis aqui o meu amor / Guerreiro de peito em flor
Portugal, minha saudade

Mal de amor

João de Freitas / Francisco Carvalhinho
Repertório de Isaura Gonçalves


Quem um dia sofreu dum mal d’amor
Deve compreender esta razão
Que não existe alguém que possa impor
A vontade ao seu próprio coração

Numa noite, eu tentei em vão conter
Meu pobre coração que aniquilaste
Mas o meu peito, abrindo-o, ele a gemer
Seguiu atrás de ti quando abalaste

Se te fartares, amor, vem ter comigo
Porque a vida sem ti é escuridão
Mas traz meu coração, que foi contigo
Que eu não posso viver sem coração

Ele anda rastejando sobre o leito
Da estrada que seguiste, mudo e triste
Talvez que volte em mil pedaços feito
Porque a tão grande mágoa não resiste

E eu sofro ao pensar na infelicidade
De ter aberto o peito, que ironia
P’ra que o meu coração, junto à saudade
Acompanhe os teus passos, noite e dia

Adeus vagabundo

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vagabundo que vagueias
Por caminhos, por aldeias
Sem ter rumo, sem ter norte
Caminhante que palmilhas
Essa estrada, curtas milhas
Que leva às portas da morte

Vai, amigo, porta em porta
Nessa rua escura e torta / A pedir por caridade
Segue a caminhada eterna
Deixando em cada taberna / Um amor, uma saudade

Vai sorrindo, vai cantado
Pois o sol já vai baixando / E mais um dia morreu
Vai, amigo, passo a passo
E não temas o cansaço / Pois esse caminho é teu

Adeus, segue o teu caminho
Caminhando ao desatino / Vagabundo, vai sozinho
Até que um dia, perdido
Adormeças esquecido / Na berma desse caminho

Marcha da Severa

João de Freitas / Nuno Meireles
Repertório de Maria José da Guia


Quem vier visitar o Bairro Alto
P’ra ouvir esta canção sempre sincera
Não poderá passar sem dar um salto
Ao Restaurante Típico “A Severa”

Depois de estar na sala, bem sentado
E a comer um petisco saboroso
Ouve lindas canções e o nosso Fado
Mas o Fado castiço e rigoroso

Severa, Severa, Severa
Já toda a gente apregoa
Que é nesta linda Lisboa
Um restaurante afamado
Severa, Severa, Severa
Um nome, um padrão de glória
Que está gravado na história
Do nosso tão lindo Fado


Todo aquele que quiser, pode cantar
Mostrando a sua voz nas desgarradas
Com certeza dirá, ao retirar,
Que as noitadas aqui são bem passadas

Depois, p’lo caminho, irá pensando
Voltar outra vez cá, oh quem me dera!
E decerto, baixinho, vai cantando
O estribilho da marcha d’A Severa

Despedida

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


No chorar dos olhos teus
Na hora da despedida
Eu vi que ao dizer-te adeus
Disse adeus à própria vida


E é tão triste a despedida / Tão triste é dizer adeus
Que chorei a própria vida / No chorar dos olhos teus

Para mal dos meus pecados / Naquela hora sentida
Eu morri p’los olhos teus / Na hora da despedida

Quem dera que um dia a vida / Me desse um dia, meu Deus
A tua imagem querida / Que eu vi ao dizer-te adeus

Não penses que aos olhos meus / Foste esquecida ou traída
Juro que ao dizer-te adeus / Disse adeus à própria vida

Desgarrada

Tiago Torres da Silva
Quadras escritas para o final de um concerto da guitarrista 
Marta Pereira da Costa, interpretada por Kátia Guerreiro
Marco Rodrigues e Rodrigo Costa Félix

Sei que o fado é feminino / E se for ele a escolher
Quer ouvir o seu destino / No canto de uma mulher

No meu bairro reza a lenda
Que o fado mais verdadeiro
Escolhe um homem que o entenda
Para ser o seu herdeiro

Basta um vestido e um xaile / E um andar elegante
Para a fadista dar baile / A qualquer homem que cante

Se é assim vou consentir
Que estou no lugar errado
Se o fado está no vestir
Então eu não sou do fado

Nem d'homem nem de mulher / Não é velho nem é novo
O fado é de quem o quer / E quem o quer é o povo

E talvez seja por isso
Que é tão bom vê-lo daqui
Neste bairro tão castiço
A cantar ao pé de ti

Pátria amada

Letra de João de Freitas
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Junho de 1941

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Portugal conquistador
O teu valor é tão cantado
Com antigos navegantes
E mareantes que deram brado

Tua grande fama encerra
Por toda a terra, páginas belas
Descobrindo há muitos anos
Os Oceano nas caravelas

Tens a glória dos heróicos cavaleiros
Que foram os pioneiros
Do teu valor tão profundo
E a tua história está gravada a letras d’oiro
E é o teu maior tesoiro
Pois assombrou todo o mundo


Com teus feitos invencíveis
Foram temíveis tuas espadas
Que tanto e tanto brilharam
Pois que lutaram pelas Cruzadas

P’lo teu heróico passado
Tu és olhado com fé ardente
Falam de ti com respeito
E rendem pranto à lusa gente

Nosso corridinho

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu velho Fado Corrido
Doce gemer triste e brando
Empresta-me esse gemido
Que eu quero chorar cantando

Basta p’ra mostrar a garra / Desses teus sons divinais
O choro duma guitarra / Um soluço e nada mais

Tanto és paixão das vielas / Meu boémio sonhador
Como és o sonho daquelas / Que se perdem por amor

O fado que nós cantamos / Enquanto o coração chora
É com ele que atiramos / A alma p’la boca fora

Não há fado por mais louco / Mais triste ou mais divertido
Que não guarde em si um pouco / Do nosso Fado Corrido

Saudades de mil lembranças

João Ferreira Rosa / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de José Pracana


O triste que sinto em mim
Dói muito mas tem beleza
Se estou alegre, estou triste
Com saudades da tristeza

Ao cantar, minhas saudades
Saem do meu coração
Voam pombos p’las trindades
Mas voltam sempre onde estão

Pobre de mim, que sou eu
Assim como tu me vês?
Tudo de mim se perdeu
Tudo de nós se desfez

Saudades de mil lembranças
Tem a minh’alma sentida
Trazem dores, levam as esperanças
Que me prendiam à vida

Despedida

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Partiste, fiquei sozinho
E o resto do meu caminho
Ficou perdido no pó
Só saudades me deixaste
Das vezes que me beijaste
Mas, no fundo, fiquei só

Ficaram cinzas de lume
E espero sem um queixume / As tristezas que já sinto
Podias ter-me deixado
Ou até mesmo trocado / Mas, mentiras, não consinto

Amo-te mais do que tudo
E este amor há-de ser mudo / Hei-de matá-lo sem dó
Mesmo que morra de dor
Não me mentirás, amor / Que prefiro viver só

Sinal

João Ferreira Rosa / Popular *fado menor*
Repertório de Maja Milinkovic


Vivi a guerra brutal
Que ecoou no meu país
Sem ter feito nenhum mal
Menina triste, infeliz

Ouvi um dia uma voz / Que sem perceber sentia
Parecia falar de nós / Da gente que mais sofria

Era Amália que cantava / Lá longe em Portugal
E que em mim despertava / Na minha vida, um sinal

Quis ir ver a sua terra / Aprender o português
E o fado que em mim encerra / Que hoje canto p’ra vocês

Quadras variadas

De Henrique Rego
Transcritas do livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional* de
Daniel Gouveia e Francisco Mendes


Por mais pérolas que citem
Tu não julgues minha louca
Que hajam pérolas que imitem 
As pérolas da tua boca

Não existem bailarinas / Nem nos confins da Europa
Que bailem como as meninas / Desses teus olhos, cachopa

Tantas mentiras empregas / Sempre que falas comigo
Que às vezes até me negas / As mentiras que eu te digo

Se entrasse no teu alcouce / Conforme pedes que eu entre
Ia trair quem te trouxe / Nove meses no seu ventre

Se juras, malmequer branco / Que o meu amor bem me quer
Eu juro que não te arranco / Nem uma folha, sequer

Recordar com devoção / Um pretérito bendito
É conter o infinito / No espaço dum coração

Numa vertigem tão forte / A vida vai tão depressa
Que à vezes perto da morte / É que a vida então começa

Santo António milagreiro / Pelo amor que te dedico
Enfeita-me o céu inteiro / Com vasos de manjerico

Ao meu querido São João / Meu devotado patrono
Vou-lhe dar meu coração / Para lhe servir de trono

Meu amor, no bailarico / De saia verde, a bailar
Faz lembrar um manjerico / Regado e posto ao luar

Meus irmãos

Letra de João de Freitas
Escrita para Ercília Costa reaparecer no Brasil”
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal em Setembro de 1938
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível


Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Meus irmãos, voltei de novo
A visitar este povo
Grande e de rara beleza
E a trazer-vos as saudades
Das aldeias e cidades
Da terra mãe, Portuguesa

Ai, como andava ansiosa
De ao Brasil, nação ditosa / De novo poder voltar
P’ra vos cantar outra vez
O fado bem português / Que eu sinto e canto a rezar

Corri Portugal inteiro
E neste fado altaneiro / Pedi às vossas mãezinhas
Que sempre vos escrevessem
Porque vocês nunca esquecem / Aquelas lindas velhinhas

Todas me queriam beijar
Pedindo para vos dar / Seus beijos, mas eram tantas
Que eu guardei no coração
P’ra vos dar nesta canção / Os beijos daquelas santas

Chorei com pena de ti

Isidoro de Oliveira / João David Rosa *fado rosa*
Repertório de Nuno de Siqueira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

O choro não pude conter
No dia em que te perdi
Não chorei por te perder
Chorei com pena de ti

Sei que sempre me mentiste / Não me soubeste merecer
Mas no dia em que partiste / O choro não pude conter

Na vida tudo te dera / Já não vivia sem ti
Mas voltei a ser quem era / No dia em que te perdi

Tudo em ti era traição / Que o amor não deixou ver
Chorei talvez sem razão / Não chorei por te perder

És mais uma nessa vida / Como tantas que há p’ra aí
E ao ver-te mulher perdida / Chorei com pena de ti

Glórias

Letra de João de Freitas
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal em Outubro de 1938
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Numa aldeia francesa, uma senhora
Contou-me a simpatia sem igual
Na sua voz tão linda e sonhadora
Que sempre conservou por Portugal

Contou-me, quando foi da grande guerra
Por já perto o canhão se ouvir troar
A sua linda aldeia, a sua terra
Recebera uma ordem p’rá deixar

Com tudo preparado, ia partir
P’ra bem longe da luta e seus revezes
Quando p’ra sua aldeia viu surgir
Um batalhão de heróicos portugueses

Recordou essa frase, verdadeira
Do grande general Napoleão
Com soldados assim, minha bandeira
Transformaria o mundo em uma nação

Conservou-se com fé, cheia de esperança
E o seu lindo torrão não foi tomado
Embora esse cantinho lá na França
De sangue português fosse regado

E terminou dizendo, podeis crer
Nestas afirmações que são veementes
Feliz daquele país que possa ter
P’ra o defender soldados tão valentes

Impossível

Letra de Linhares Barbosa
Publicada no jornal “Guitarra de Portugal” em Outubro de 1945
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Podes-me dar por castigo
Que te não torne a escrever
Mas que não sonhe contigo
Isso não podes fazer

O teu desdém, o teu ódio / Obriga-me a respeitá-los
Acaba o teu episódio / Faz dos meus olhos vassalos
Se te apraz, vem arrancá-los / Podes ser cruel comigo
Não me poupes ao perigo / De te adorar cegamente
Tudo o que é mau, finalmente
Podes-me dar por castigo

Condena o meu coração / Ao mais servil dos desterros
Não tenhas comiseração / Quero pagar os meus erros
Põe os meus braços a ferros / A minha alma a sofrer
Aniquila-me o prazer / De te ver, de te falar
Que te não vá procurar
Que te não torne a escrever

Nada na vida me influi / Tudo na vida me cansa
Não sou nada do que fui / Porque fui sempre criança
Ai, de quem jamais alcança / Um peito leal, amigo
Como um feroz inimigo / Impões-me como barreira
Que sonhe em tudo o que queira
Mas que não sonhe contigo

Não t'imponhas aos meu sonhos / Nem tão pouco aos pensamentos
Sejam tristes ou risonhos / Não são teus esses momentos
Que evitar de sofrimentos / Se os pudesses desfazer
Podes-me até convencer / Que te não torne a olhar
Que deixe de em ti sonhar
Isso não podes fazer

Aquele par

João de Freitas / Pedro Rodrigues
Repertório de José Moreira


Ela, vestida de chita
Ele, de zuarte azulado
Desse azul que nos encanta
Mas era o par mais catita
Que passava lado a lado
Na rua da Fonte Santa

Foi simples o seu amor
Nascido sob o condão / De ser jurado ante a cruz
Ele, por ser fundidor
Fundiu o seu coração / Ao da Maria da Luz

Mas ele um dia partiu
Buscando em terra distante / A fortuna tentadora
E esse par não mais se viu
Passar alegre e galante / Como ali passara outrora

E hoje, p’ra seu consolo
Se a Maria da Luz sai / P’ra saber novas d’além
Traz uma filhinha ao colo
Vivo retrato do pai / Mais linda que a própria mãe

Passagem do ano

Letra de João de Freitas
Repertório de Alberto Ribeiro
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Janeiro de 1939 
com dedicatória ao poeta e grande amigo Norberto Ferreira

Bateu a meia-noite; é mais um ano
Que acabou o seu reinado, e outro vem
Trazendo felicidade ou desengano
Como fiel amor esperando alguém

Bateu a meia-noite: é manifesta
A alegria ruidosa de momentos
Há copos tilintando, reina a festa
Todos querem esconder os seus tormentos

Bateu a meia-noite e p’la cidade
Apitos estridentes vão soando
Trocam-se longos beijos de saudade
Enquanto o ano novo vai chegando

Bateu a meia-noite: há restaurantes
Cheios até à porta num delírio
Há canções de alegria, delirantes
Todos querem esquecer o seu martírio

Passou a meia-noite: é como um sonho
Que toda a gente tem: depressa passa
Pois o ano que vem nunca é risonho
P’ra quem tiver na vida só desgraça

Os quatro efes

Nuno de Aguiar / Alfredo Duarte *fado mocita dos caracóis*
Repertório de Nuno de Aguiar
Esta versão é ligeiramente diferente diferente de outras 
também interpretadas pelo seu autor

Estes nomes consagrados
A quem eu presto homenagem
Foram vultos afamados
Há muito perpetuados
No meio da fadistagem

O Farinha, sem exceções / E dum enorme talento
Em retiros e salões / Foi a voz das multidões
No seu glorioso tempo

Um outro grande valor / Que eu ouvi desde criança
Se alguém cantou a rigor / Lindos poemas de amor
Foi o Frutuoso França

Outro génio talentoso / Do nosso amado cantinho
Que trinava o rigoroso / Num gorjear mavioso
Era o Francisco Martinho

Maurício, mais um artista / Que a nossa grei adorou
Por direito de conquista / Foi um castiço fadista
Que Lisboa idolatrou

Esta estrofe não faz parte desta gravação mas sim duma outra em que  
o Nuno de Aguiar usou a música do Fado Fé de Casimiro Ramos

E sem efe, mas dotado / 
Duma linda voz que tinha
Era também consagrado / Meu ídolo maior do fado
Foi o grande Silveirinha

A água da minha fonte

João Ferreira Rosa / Maria Teresa de Noronha *fado pintéus
Repertório de João Braga


A água da minha fonte
Tem sempre um novo cantar
Tal qual a cor que há no monte
E anda sempre a mudar

Conforme as estrelas no céu / Se à noite há ou não luar
Conforme te oiço eu / Quanto te oiço chegar

A água da minha fonte / Tem mil jeitos de cantar
Acompanha a cor do monte / Acompanha o meu pensar

Acompanha o dia-a-dia / Noites e noites sem par
A minha água da fonte / Alegria de te amar

Cruzei na rua contigo

Mote de Maria Manuel Cid / Glosa de Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Cruzei na rua contigo
Repara que mal te vi
Pois francamente te digo
Que nem eu te conheci


Quis-te com muita amizade / Para ti fui mais que amigo
Julgava morta a saudade / Cruzei na rua contigo

Saudades são do passado / Dos dias perto de ti
Passei mesmo ao teu lado / Repara que mal te vi

Passei perto e não sentiste / O meu olhar tão sentido
Acredita que o feriste / Pois francamente te digo

Estás mudada tão dif'rente / Daquela com quem vivi
Estás igual a tanta gente / Que nem eu te conheci

As saudades que me dás

José Fernandes Castro / Alfredo Duarte *Marceneiro*
Repertório de Carlos de Vasconcelos


As saudades que me dás
Passam vagarosamente
Nas ruas por onde vou
Eu nem sequer sou capaz
De te rever ternamente
Nos passos que por ti dou

Não sou capaz de sentir
A brisa suave e calma
Que me beija e me sufoca
Nem sequer sei repetir
Os sopros da minha alma
Através da minha boca

Por ti vou saboreando
Rimas que alguém escreveu
No livro dum amor triste
E por ti vou caminhando
Num espaço apenas meu
Pois sem ti, já nada existe

Vem daí

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credivel
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vem até à Madragoa
Traz contigo essa Lisboa
Vem daí, anda com ela
Faz a roda p’las esquinas
Que vais ver essas varinas
Como bailam de chinela

Vem ouvir pregões cantados
Tão dolentes, tão magoados / Que até lembram orações
São as queixas das fadigas
São pedaços de cantigas / Que nem parecem pregões

Vem cá ver como se dança
Num bailarico da Esperança / Entre varinas gaiatas
Tal como vogam as lanchas
Como baloiçam as pranchas / Na descarga das fragatas

Vem cá ver como trabalham
Vem ouvir como elas ralham / Numa gritaria tonta
Cada boca é uma adaga
Num motejo, numa praga / Num louvor ou numa afronta

Madragoa de chinela
Xaile ao ombro, lá vai ela / Como é linda a Madragoa
É travessa? o que tem isso?
Se é o bairro mais castiço / Mais alegre de Lisboa

As tristezas do meu fado

João Ferreira Rosa / Popular *fado menor*
Repertório de João Ferreira Rosa


As tristezas do meu fado
São aquelas que me deste
Por isso, em meu tom magoado
Tens todo o mal que fizeste

Fiquei feliz e contente
Ao saber que não partias
Ficaste, mas tão diferente
Nem meu cantar entendias

E então, estando contigo
Senti-me só a teu lado
Que pena não teres partido
Que pena não teres ficado

A lenda

Letra de Silva Nunes
Escrita a pedido do diretor da “Voz de Portugal”
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Morou na Rua da Rosa
A Mariquinhas do fado
Que teve alma e coração
Foi mais linda do que airosa
E teve um quarto alugado
Na rua do Capelão

Criou fama, cantou fados
Pelos becos e travessas / E apesar do porte rude
Soube remir os pecados
Cumprindo as suas promessas / À Senhora da Saúde

Dava-se bem na balbúrdia
E o seu corpo de mulher / Nunca temia a navalha
Por isso, às vezes, na estúrdia
Trocava um conde qualquer / Por qualquer outro canalha

Mesmo assim, olhava o céu
Pedindo pela filhinha / Que era a sua luz do dia
Que era pura como o véu
Que cobre aquela santinha / Da Capelinha da Guia

Já se foi a enterrar
Quem me contou tudo isto 7 Sem falar nas tabuinhas
Dizem que p´rá mãe salvar
Foi noiva de Jesus Cristo / A filha da Mariquinhas

O meu nome é Margarida

João Ferreira Rosa / Alfredo Duarte (fado louco)
Repertório de Margarida Soeiro (ao vivo)


O meu nome é Margarida
Desde o dia em que nasci
O nome marcou-me a vida
Só agora percebi

Margarida, oiço chamar / Quando na voz tenho fado
E sinto no meu cantar / Que me ouves a meu lado

Embalada nas guitarras / Não me sais do pensamento
E sinto que tu me agarras / A todo e qualquer momento

O que sou eu afinal / O que fui, o que serei
A todos darei sinal / Nos fados que cantarei

Canção negra

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credivel
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Aquilo que vai no vento
São ecos de sofrimento
Duma tarde que passou
É esse som que se ouvia
A tua canção vadia
Que nunca ninguém cantou

A canção era loucura
Vazio de sepultura / Era silêncio afinal
Roseiras secas e tortas
Delírio de folhas mortas / Pairando no roseiral

Quando erguendo as mãos aos céus
Te lancei o meu adeus / A tua canção passou
Passou a canção vadia
Canção negra, negra, fria / Que só o vento cantou

É festa é festa da gente

João Ferreira Rosa / Carlos Macedo
Repertório de Carlos Macedo

Portugal dos arraiais
Pelas eiras a bailar
Lindas noites ao luar
Recordei-te tanta vez;
Lá longe, onde não vês
Mais que a saudade e o ma

Milho rei nas desfolhadas e beijos de raparigas
É festa, é festa da gente
Pegas de caras, touradas, guitarradas e cantigas
É festa, é festa da gente

A guitarra vou tocando
Ao bater do coração
Trago um fado em cada mão
Tenho outro fado na voz;
Muita alegria para nós
Na festa que vou cantando

Tenho um amor cor do céu

João Ferreira Rosa / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de António de Noronha


Tenho um amor cor do céu
Tenho um amor cor do mar
Tenho um amor, sol e oiro
Que me não deixa calar

Tenho um amor cor do dia / Que tanto tarda a chegar
Tenho um fado, noite fria / Tristeza por acabar

As tuas mãos, meu amor / Porque não hão-de alcançar
Uma estrela ou uma flor / Das que trazes no olhar

Tenho um amor cor do céu /Tenho um amor cor do mar
O amor que Deus me deu / Só Deus mo pode tirar

Meu amor, amor sem cruz

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada.
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor amor sem cruz
Vem ver o mar feito luz
Vem cantar anda bailar
A meio da noite estranha
Não há tristeza que venha
Até a noite acabar

Vem morrer em desvario
Seremos leito de rio / Corpos de corpo mais puro
O pinhal entrou na praia
E qualquer medo desmaia / Contra o céu menos escuro

Descerás até ao fundo
Onde a luz do mar é mundo / Serás tu quem sou agora
Os dois enfim condenados
Por fim os dois abraçados / Tempo sem força nem hora

Meu amor a rir amor
Amor inteiro sem dor / Em mulher mais que mulher
Vem cantar vem rir bailar
Até a noite acabar / Antes da noite morrer

O ardina e o groom

Letra de Linhares Barbosa
Publicada no jornal “Guitarra de Portugal”, Ano XVI, número 335
de 25 de Novembro de 1937 para o repertório de Domingos Silva
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Alegres e joviais
Eram João e José
Palreiros como pardais
Um, “ardina” dos jornais
Outro, groom dum café

Filhos do mesmo casal 
No mesmo berço nascidos
Eram irmãos e, afinal 
Davam-se de forma tal
Que nem dois desconhecidos

Quanta e quanta discussão 
Entre o João e o José
José era um toleirão
E não falava ao João 
Quando vestia a libré

Julgava-se milionário 
Por ter galões no boné
Via o irmão co’o Diário 
Alcunhava-o de ordinário 
E corria-o do café

João, de calções rasgados
Boina ruça, pé descalço
Gritava: p’ra teus pecados 
Tens muitos galões doirados
Mas nem vês que o oiro é falso

Fazes-me dó a valer 
Quando te imaginas mais
Não sabes ler nem escrever
E eu já aprendi a ler 
De tanto vender jornais

Trabalho honrado é virtude
Ser pobre a ninguém ofende
A vaidade é que se ilude
É no trabalho mais rude
Que às vezes muito se aprende