O meu bairro
Repertório de Fernando Maurício
Eu nasci na Mouraria
Na rua do Capelão
Onde a Severa vivia
Onde o fado é tradição
Se o destino está marcado
E só por ele vivemos
O bairro onde nascemos
Também lhe anda ligado
Não me sinto malfadado
Nem maldigo a condição
Que desde o berço é razão
Desta minha nostalgia
Eu nasci na Mouraria
Na rua do Capelão
Por ser assim fatalista
Fiz a minha alma escrava
Da saudade que pairava
Nesse bairro tão fadista
E não consinto que exista
Quem ponha mais devoção
Mais alma, mais coração,
Ao cantar a Mouraria
Onde a Severa vivia
Onde o fado é tradição
Aquela rua
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Aquela rua sombria
Triste e negra, negra e fria
Onde vives sempre ausente
Minha rua, pobre rua
Onde a minha alma nua
Traz a saudade tão quente
Antigamente essa rua
Era a guarida da lua
Que banhava o nosso amor
Tu partiste, e desde então
Essa rua é solidão
Saudade, silêncio e dor
Um pedido à saudade
Repertório de Miguel Bandeirinha
Saudade, escuta este fado
Que sempre canto a pensar
Na chama que tens acesa
Por ti cometo o pecado
De pôr a alma a chorar
Ao compasso da tristeza
Não sou em nada dif'rente
De quem sente bem o peso
Que tens na alma do tempo
Sou fruto dum acidente
Do qual escapei ileso
Mas ferido cá por dentro
Um acidente de amor
Que marcou a minha vida
E matou a felicidade
Por isso, faz-me um favor
Deixa-me d'alma ferida
E vai-te embora saudade
Acontece
Repertório de Teresa Câmara
0 Tocas, bom rapazote
Em Alfama viu a morte
Numa noite escura e fria
Atrás dele vinha o Manel
Conduzindo uma Famel
É rapaz da Mouraria
É uma história bem comprida
Rivalidade antiga
Das marchas populares
Estava Alfama e Mouraria
A marchar com galhardia
Foi a noite dos azares
0 avô do Manel
Ficou (logo) à flor da pele
Quando olhou pró manjerico
Numa quadra viu a escrita
Dedicada à sua Rita
Parecendo vir do Chico
30 anos se passaram
Nunca mais se falaram
Com a jura de vingança
0 avô do Tocas, coitado
Inocente e assustado
De marchar perdeu a esperança
Nessa noite escura e fria
A jantar ninguém sorria
Quando alguém lançou um grito
Era o velho Alcobia
Confessando a autoria
Das quadras do manjerico
Intrigado vai Manel
Montado na Famel
0 seu cavalo alado
Quando o Tocas alcançou
Toda a história lhe contou
E marcharam lado a lado
Desde menino
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Perguntei um dia ao fado
Por que razão é destino
Respondeu-me, em tom magoado
Sou assim desde menino
Mas se ele é um amoroso
E enaltece o ser amado
Porque se mostra inditoso?
Perguntei um dia ao fado
Olhou-me e disse sem querer
Sou dos pobres, qual um hino
E eu fiquei sem saber
Por que razão é destino
E seguindo o mesmo norte
Confiou, já conformado
Passei a vida sem sorte
Respondeu-me, em tom magoado
Andei com as coisas belas
Conheci o mau e o fino
P’los salões e p’las vielas
Sou assim desde menino
Apenas sombra
Repertório de Teresinha Landeiro
Sorri como quem ama loucamente
E faz o coração bater dif’rente
Veste-se a preceito
Deixa-me sem jeito
Por ser apenas sombra em tanta gente
Nas ruas onde passa sem me ver
Engano o coração para não sofrer
Em sonhos vejo um beijo
Que ficou no meu desejo
E sonho que não mais o vou perder
Passa por mim
Como se os dias fossem seus
Olha p’ra mim
Como se fosse o rei dos céus
Segue por fim
No seu passo confiante
Esquece o cetim
Da minha roupa extravagante
Deixa pela rua
O meu cheiro favorito
Apaga a lua
Para ser o mais bonito
O olhar insinua
Que não espera por ninguém
A vida é só sua
E eu pertenço-lhe também
Este dom
Repertório de Miguel Bandeirinha
Este dom que em mim nasceu
Vou reparti-lo por vós
Sendo meu, não é só meu
É alma de todos nós
Este dom que em mim nasceu
Neste meu peito fadista
Bate um coração de povo
Pela sede de conquista
Gravei um poema novo
Neste meu peito fadista
Vou pelas ruas do fado
Cantarolar minha dor
Mesmo de sonho amarrado
Em busca dum novo amor
Vou pelas ruas do fado
Ao compasso da saudade
Canto o que alguém escreveu
P’ra ser feliz, não é tarde
Pois tenho por felicidade
Este dom que em mim nasceu
Não me chamem pelo nome
Lá vai a Rita
A sorrir, a gingar
Com seu ar folião
É a mais linda varina
Que passa ladina
Entoando um pregão
Ao vê-la no seu andar
Onde em si a graça esconde
Não há ninguém que não pare
E lhe diga uma graça
Ao que ela responde
A Rita pescada fina
Já foi pescada
Com uma rede divina
Feita e bordada
A Rita é como a sereia
Espalha desejos
Já tem alguém que a enleia
Que lhe dá beijos
A Rita traz uma trança
Que salta e balança
Ao compasso do passo
Tem nas saias que são três
O sabor das marés
E o perfume a sargaço
Canta o fado quando calha
A voz é dor a carpir
E quando passa a muralha
Há gracejos a que ela
Responde a sorrir
Fado do rosário
Repertório de Teresa Câmara
Ao dar-me um rosário um dia
A minha mãe me pedia
P’ró rezar por toda a gente
Grande pecado fiz eu
Pois de todo me esqueceu
Rezei-o por ti somente
Sem conto, as contas rezei
Nem uma vez me lembrei
De o rezar por mais alguém
Faltei a quem me deu vida
E a prece não foi ouvida
Por Maria, nossa mãe
E foi tal o meu fadário
Que em pouco tempo o rosário
terminava os dias seus
Minha mãe com tais afrontas
Se um dia me pede as contas
Que contas vou dar, meu Deus?
Embora digas que não
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Embora digas que não
Embora saibas quem sou
Embora feches a mão
Onde bate um coração
Serei sempre quem te dou
Mesmo que, assim, te destruas
Serei assim, mesmo assim
E mesmo sabendo tuas
As noites de muitas ruas
Serás tu perto de mim
Hás-de encontrar a verdade
Encontrarás a razão
Nascerás noutra cidade
Onde sejas liberdade
Embora digas que não
Baton
Repertório de Teresinha Landeiro
Não ponho batom porque tenho o dom
De saber que é hoje que me vais beijar
Ponho-me bonita, mas sem muita fita
Ouvi que se foge de quem quer brilhar
Só levo um sorriso, vou fazer-me ao piso
Causar prejuízo no teu coração
Olho de relance, mas sem muita chance
Não quero um romance entre a multidão
Vem se for verdade
Mesmo que haja perigo
Vem se for verdade
Anda, perder-te comigo
Eu assumo o fogo, gosto deste jogo
De um ter que não tem
De um querer controverso
Ar irreverente, finjo-me indiferente
Não conto a ninguém
Que és o meu avesso
Com subtileza e muita certeza
Roubo a firmeza do teu olhar sério
Mais tarde ou mais cedo cais no meu enredo
E o nosso segredo aumenta o mistério
Isto é sempre assim, fico até ao fim
Neste vai não vai que já virou moda
Como nunca é desta perco a fé que resta
A esperança cai, a cabeça roda
Farta deste esquema, vivo num dilema
Ou saio de cena, ou escolho ficar
Se eu puser batom, um de qualquer tom
Esquece lá o dom, só vim pra dançar
Mulheres de Lisboa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
As tamanquinhas de salto
Que vão saltando em teus pés
Soam mesmo a Bairro Alto
E a bater no asfalto
Vão a dizer quem tu és
Cantas a tua tristeza
Choras a tua alegria
Nem sequer tens a certeza
De ser moura ou portuguesa
És mulher da Mouraria
Ficas no cais a chorar
Teu coração arde em chama
Viste o homem embarcar
Sem saber se vai voltar
Tu és a mulher de Alfama
Vais passando com tal raça
Que se vê donde tu vens
És todo um bairro que passa
E o bairro chama-se Graça
Pela graça que tu tens
Mas doutro bairro qualquer
Seja Bica ou Madragoa
Em pouco ou nada difere
Pois só há uma mulher
Essa mulher é Lisboa
Passaste
Repertório de Teresa Câmara
Passaste por mim, passaste
Teu braço p’lo meu roçaste
Tão de mansinho, ao de leve
Ficou no ar teu perfume
E no meu peito o queixume
Por esse encontro tão breve
Tão breve que até duvido
Tenha mesmo acontecido
Esse teu passar por mim
Pois quando para trás olhei
E entre vultos te busquei
Já não vi traços de ti
Foi talvez meu coração
A criar esta ilusão
De te ver passar aqui
Ao lado doutra mulher
Noutro perfume qualquer
Julguei seres tu quem eu vi
Tivesses mesmo passado
Tão junto a mim, lado a lado
E o meu olhar te diria:
Meu amor ainda te quero
A toda a hora te espero
Volta até que acabe o dia
Hora marcada
Desconheço se esta letra foi gravada
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Badalada a badalada
O tempo lento passava
E desde a hora marcada
P’lo teu encontro esperava
Hora a hora foi-se o dia
Naquela esquina afastada
Teu vulto não aparecia
Passou a hora marcada
Tantas horas, tantos anos
Desfizeste tu sem dó
Tantos sonhos e enganos
Esquecendo uma hora só
As horas que são tão poucas
Desperdiças afinal
Em coisas vãs, coisas loucas
Esquecendo a hora fatal
Traíste-me, isso é contigo
Badalada a badalada
Há-de soar-te o castigo
Tens uma hora marcada
O amor não é brincadeira
Repertório de Fernanda Peres
Quiseste brincar comigo
Saiu-te cara a brincadeira
Agora para teu castigo
Brinco contigo de outra maneira
Foste-te embora p’ra me esquecer
E queres agora voltar a ter
Mas eu estou rindo do teu queixume
E divertida com o teu ciúme
Não quero sentir o que já senti
Não quero ouvir falar mais de ti
Águas paradas não movem moinhos
E eu não preciso dos teus carinhos
Não sei do teu endereço
E até já nem te conheço
Dizias aos quatro ventos
Que isto a brincar era melhor
Não gastes os teus intentos
Teus argumentos já sei de cor
Agora choras uma ilusão
Vê se decoras bem a lição
Vê o que fazes quando brincares
E pesa as frases quando falares
Dizer adeus é tão triste
Repertório de Teresa Câmara
Dizer adeus é tão triste
Como é triste a noite escura
É dor que dói e persiste
Em saudade e amargura
Quando alguém então nos deixa
Ai, dói tanto a despedida
O coração não se queixa
0 coração não se queixa
Mas perdem-se anos de vida
Um adeus dito à partida
Fica na alma a roer
E lembra por toda a vida
Quem se não pode esquecer
Adeus, palavra singela
Que é tão triste de verdade
Não há saudade sem ela
Não há saudade sem ela
Nem adeus sem a saudade
Não deixas de ser forcado
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Muitas palmas eu bati
Quando fazias sereno
Pegas tão grandes que eu vi
Que até o Campo Pequeno
Era pequeno p’ra ti
Num sonho da mocidade
Tu buscavas fama e loiros
Com coragem e vontade
Começaste a pegar toiros
E o sonho fez-se verdade
Hoje podes recordar
Grandes tardes de glória
Pode-se mesmo afirmar
Que tu ficarás na Hhstória
Da arte de bem pegar
Pegador já retirado
Forcado cheio de raça
Está presente o teu passado
Mesmo sem sair à praça
Não deixas de ser forcado
Amanhã
Repertório de Teresinha Landeiro
Amanhã, é o que digo a toda a gente
Porque vivo num constante contra-plano
Já jurei que vou tentar fazer diferente
Mas talvez seja melhor tentar p’ró ano
Desço a rua em contratempo, é rotina
E no pulso um relógio contra mim
Vou com pressa e a roupa não combina
O cabelo p’ró que é vai bem assim
Escrevo tudo num papel que nunca tive
E desejo ter um dia uma agenda
É então que nenhum plano sobrevive
E os amigos já me querem pôr à venda
Já não sei se o plano de hoje é p’ró almoço
Se p’ró lanche, p’ró o jantar, se tenho dois
Pouco importa, eu já sei que nunca posso
E o de hoje fica sempre p’ra depois
As conversas que se têm de fugida
Não dão espaço p’ra lamentos nem p’ra ais
Diz-me à pressa como é bela a tua vida
Amanhã temos tempo para mais
Saia preta
Repertório de Teresa Câmara
Ai Malmequer, ai Rosmaninho
Diz-me quantas pedras
Ai branca flor, ai Alecrim
Parecem-me tantas
Uma saia preta
Um lenço bordado
Quatro paredes
P’ra cantar o Fado
Um copo vazio
Um verso chorado
Quem quiser cantar
Canta em qualquer lado
Ai diz que sim, ai diz que não
Quantas são as mágoas
Ai diz que não, ai diz que sim
São como andorinhas
Não as guardo em mim
Um amor-perfeito
Que eu hei-de cantar
Canção vadia
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
No tropel da caravana
Mal a poeira se erguia
Ao longe pelos caminhos
Vinha o riso da cigana
E aquela canção vadia
Que ambos fizemos sozinhos
Corriam noites inteiras
E os nossos corpos vibravam
Em murmúrios de paixão
Contorcidas nas fogueiras
Labaredas crepitavam
Ao som daquela canção
Um dia, como o costume
As carripanas bateram
E a caravana abalou
Das fogueiras foi-se o lume
As cinzas arrefeceram
E o pó no ar se elevou
Correram meses e anos
Não voltava a caravana
Nem a poeira se erguia
Vieram outros ciganos
Mas não aquela cigana
Nem essa canção vadia
Como eu te quero
Repertório de Fernando Farinha
Quero-te mais do que à vida
Quero-te mais do que aos meus
E se não fosse pecado
Queria-te mais do que a Deus
Sem ti, a vida é sombria
Sem ti, não posso viver
Sem ti, não tenho alegria
Sem ti, prefiro morrer;
Que me foi dado por Deus
É por môr dos olhos teus
E por isso, minha querida
Quero-te mais do que à vida
Quero-te mais do que aos meus
Não tomes como maldade
Esta minha confissão
Nos gostos do coração
Deve haver sinceridade;
Condeno até nos ateus
Mas ao ver os olhos teus
Fico tão apaixonado
E se não fosse pecado
Queria-te mais do que a Deus
Fado triste
Repertório de Maria Ana Bobone
Se um dia o meu coração
Queria dizer-lhe que não
Se um dia a tua má-estrela
Por muitas voltas que dês
O mundo não volta atrás
Tudo acontece uma vez
E o mal que se fez já não se desfaz
Por isso não-vale
Queimar-me nesse teu fogo
Se o amor que nos persegue e condena
É sol que se apaga logo
Cai a noite como dantes
Porque estamos tão distantes
Já nem num fado consigo
E as palavras que te digo
Mas se, entretanto, a saudade
For mais forte e me vencer
Talvez mais cedo ou mais tarde
Me falte a vontade de te esquecer
E ficarei outra de quem vez
Nas mãos de quem não merece
Como se um todo o mal que me fez
Fosse um bem que Deus que me desse
Amar é esquecer alguém
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Beijar a mão a quem mata
Perfumar-lhe a pele do rosto
Fazer, do medo, fragata
Em Janeiro, ou em Agosto;
Eu beijo a mão a quem mata
Sem vergonha, e sem desgosto
Matar é esquecer alguém
Amar demais é morrer
Não me lembro de ninguém
Que ame só por querer;
Matar é esquecer alguém
Que não nos quis esquecer
Dar um beijo é perdoar
É falar de liberdade
Abrir as mãos, e deixar
Que bebam nossa verdade:
Dar um beijo é perdoar
A quem matou a vontade
Fado maior menor desconexo
Repertório de Filomena Sousa
Ó fado diz-me em que fado
Nosso fado hei-de cantar
Se há um tom p’ra cada lado
O Dois Tons é se calhar
Já que o nosso amor, que eu saiba
Anda de mal a pior
Não sei bem, mas talvez caiba
Dentro do Fado Menor
Voltar atrás é um sonho
Que já não posso aceitar
E o Fado Maior, suponho
Não voltarei a cantar
Pois neste amor dividido
Louco, desperto e incerto
Talvez que seja o Corrido
O fado p’ra nós, mais certo
O fado do nosso amor
No eterno marca-passo
É um fado sem sabor
Sem harmonia ou compasso
O que é a saudade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Eu gostava de saber
Que alguém pudesse dizer
Mas sim, com veracidade
O que é esse sentimento
Verdadeiro sofrimento
A que chamamos saudade
Alguns afirmam sem pejo
Que após se trocar um beijo
Quando ficamos a sós
Sentimos, sim, por desdita
Uma tristeza infinita
A moer, dentro de nós
Outros expõem razões
Dizendo que os corações
Se expandem de quando em quando
Por isso é que nas partidas
Os lenços, nas despedidas
São saudades, acenando
O que é saudade, afinal
Que nos causa tanto mal
E quebra a nossa vontade?
É qualquer coisa a minar
Que ninguém sabe explicar
Até eu, que sou saudade
Há festa no bairro
Repertório de Maria Ana Bobone
Hoje há festa cá no bairro
Vamos saltar à fogueira
E até mesmo o Santo António
Vai entrar na brincadeira
São Pedro acendeu no céu
Em cada estrela um balão
E se o formos convidar
São João não diz que não
Ó
rapazes venham todos
A cantar de flor ao peito
Gargantas bem afinadas
Penteados a preceito
Rapazes do Bairro Alto
De Alfama e da Madragoa
Venham todos namorar
Que a namorada é Lisboa
E na noite de Santo António
Não há pobre, não há rico
Quem não tem uma alcachofra?
Quem não tem um manjerico?
E no dia de São Pedro
Na noite de São João
Quem não tem uma cigarra
A cantar no coração
Mulher e fadista
Tributo a Maria Severa
Não esqueçam, gente do Fado
Nem um momento sequer
Esse nome aureolado
Que se tornou respeitado
Como fadista e mulher
Glória da Lisboa antiga
Dentro e fora da cidade
Quando a sua voz amiga
Entoava uma cantiga
Era um sonho de saudade
Foi do Fado a sentinela
Com sentimento e magia
Na sua forma singela
Não havia como ela
P’ra cantar o Mouraria
Duma intuição verdadeira
Ó fadistagem sincera
Lembrai pois a vida inteira
Essa grande cantadeira
Que foi Maria Severa
Cantigas ao Deus-dará
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Do arquivo de Francisco Mendes
O Fado, por mau condão
Uniu-se à guitarra louca
Ela vai de mão em mão
Ele anda de boca em boca
Se calculas que te casas
Não deixes p’ra muito tarde
A lenha nova faz brasas
E a velha às vezes nem arde
A quem me foi desleal
Fiei um pouco d’amor
Agora, sei que fiz mal
Em não pedir fiador
Por já ter chorado tanto
Pouco tenho que chorar
Guardei um resto de pranto
P’ra quando choro a cantar
Carochinha de Lisboa
Repertório de Maria Ana Bobone
É quando acorda esta cidade estremunhada
Que se levanta e pede ao sol que mostre o dia
E lembre a noite, se foi bem ou mal-passada
E se foi feita de tristeza ou de alegria
Abre dois olhos, janelas de par em par
Atira a vista para um espelho que é o rio
E só acaba, finalmente, de acordar
Ao ver-se linda na proa de um navio
E à janela de Lisboa
Louca, louca por casar
Naquela da Mouraria
Não é defeito é feitio
Quem quer casar com a carochinha
Que é bonita e formosinha?
Cinco reis do meu sobrado
Com dez reis de mel coado
E um lugar nesta casinha
O sol a pino alumia os corações
E o meio-dia bate as horas na barriga
Saltam sardinhas a brilhar sobre carvões
Sai um almoço como sai uma cantiga
Estonteada pela luz que lhe faz mal
Olhos na rua, paraíso de mundanas
Descansa a vista, pisca os olhos e afinal
E só baixar com cuidadinho as persianas
Caindo a noite, cai um manto de sossego
Sobra fingida sobre um mundo em movimento
A gente canta, janta, grita, perde o medo
E fala até, devagarinho, em casamento
Mas a menina já cansada, quer mudança
Olha para o rio e vê as luzes em Almada
Fecha as janelas, fecha os olhos e descansa
Oue Deus a guarde e lhe dê noite sossegada
Fadistices
Fernando Maurício e Natércia da Conceição
Tu não te metas comigo
Pois não quero discussões
Para improvisar contigo
Natércia, só o Camões
O Camões foi um poeta
E tu que és, afinal?
És apenas um pateta
Da canção nacional
Mesmo assim tu não me ralas
E nem contigo me exalto
Ou tu pensas ser a Callas
Do fado do Bairro Alto?
Contigo mais não abuso
Pois não me quero zangar
És parecido c’o Caruso
O que tens é falta de ar
Basta de tanta piada
Porque o que dizes é treta
Afinal a desgarrada
Já ia dando em opereta
Pobre de mim que sou eu
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Pobre de mim que sou eu
Assim como tu me vês
Tudo de mim se perdeu
Tudo de nós se desfez
Fui sonhando outras lembranças
Que me viessem do céu
Nem dor nem dor nem esp’ranças
Pobre de mim que sou eu
No meu fado canto a luz
Dum Mundo em que não crês
Do fado faço outra cruz
Assim como tu me vês
Cerro os olhos a cantar
P’ra não olhar para os teus
Cerro os olhos p’ra chorar
Tudo de mim se perdeu
Vou cantando e com mais raça
Mil vezes e outra vez
É triste o tempo que passa
Tudo de nós se desfez
Folhas caídas
Repertório de Maria Teresa de Noronha
Outono, folhas caídas
Com sangue Deus as pintou
Folhas tão cedo nascidas
Pobres folhas mal vividas
Um vento louco as levou
Nasceram na primavera
Serem como as folhas de era
Mas chega o verão, o calor
Vão perdendo o seu frescor
Pressentem a sua dor
Ao inverno não chegaram
Da cor do sangue as pintaram
Ventos loucos as levaram
Senta-te aí
Criação de Jorge Palma / Rio Grande
Repertório de Francisco Moreira
Está na hora de ouvires o teu pai
Puxa para ti essa cadeira
Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora a hora e durante a vida inteira
Podes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direção da lua
Olha a sombra que tens colada aos pés
Estou cansado, aceita o testemunho
Não tenho o teu caminho p’ra escrever
Tens de ser tu, com o teu próprio punho
E era isto que eu te qu’ria dizer
Sou uma metade do que era
Com mais outro tanto de cidade
Vou-me embora, que o coração não espera
À procura da mais velha metade
Está na hora de ouvires o teu pai
Puxa para ti essa cadeira
Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora a hora e durante a vida inteira
Chelas
Repertório de Sara Correia
Dizem “Sara” tem cuidado com o que dizes
Lava a cara, tu não mostres de onde vens
Põe vestidos e esconde as tuas raízes
Finge lá que és senhora, tu finges bem
Dizem “Sara” tu usa as unhas mais curtas
Fala bom português, larga o calão
Não fales da pobreza, da noite escura
Ganha quem tem poder e não coração
Mas no meu bairro
Que gritam ao mundo
No meu bairro vejo gente
E que quem vem da rua é sempre nobre
Eu venho do bairro
Da janela conto as estrelas
Não sou de mais lado nenhum
Eu sou de Chelas
Dizem “Sara, a maquilhagem está carregada
Dizem “Sara” finge lá ser o que não és
Mas disso eu já sei tudo e estou cansada
Trago o fado na voz e ténis nos pés
Dizem “Sara” tu sorri, sê mais comedida
Cumprimenta os senhores, faz-me o favor
Mas o fado que eu canto, canta-me a vida
É a voz de quem nasce filho da dor
Troçaste
Repertório de Nuno de Aguiar
Troçaste dela, porquê / diz-me porém
Troçar é do teu agrado / e não do meu
Ela finge que não vê / e entende bem
Porque é feliz a meu lado / como eu
Só quem te conhece bem / como eu conheço
Na tua maldade crê / e na intenção
Não negues porque vi bem / e não mereço
Troçaste dela, porquê / sem ter razão
Troçaste só por me ver / um certo dia
A passar com ela ao lado / ternamente
És a mesma até morrer / tua magia
Troçar é do teu agrado / infelizmente
O passado é folha morta / que revive
Por teu defeito rever / e a tua imagem
Tua causa pouca importa / pois não vive
Ela finge que não vê / embora veja
Ela sorriu para mim / enternecida
Dizendo ter perdoado / mas porém
Como vês, ela é assim / na minha vida
Porque é feliz a meu lado / e eu sou também
Improviso ao desafio
Repertório de Fernando Maurício e Francisco Martinho
FADO MOURARIA (popular)
Martinho, se és meu amigo
E o fado não te afadiga
Vem daí cantar comigo
Um despique à moda antiga
FADO MENOR (popular)
Contigo, amigo Maurício
Cantarei com muito agrado
Nunca o fado é sacrifício
Quando se gosta do fado
FADO HELENA de Casimiro Ramos
Já que és fadista eleito
Do fado triste e dolente
Vamos cantar a preceito
Mas naquele mesmo jeito
Do fado de antigamente
FADO ZÉ NEGRO de Francisco José Marques
Fadista também tu és
Da cabeça até aos pés
E altamente consagrado
Porém, se o fado é do povo
Tanto faz ser velho ou novo
O que é preciso é ser fado
FADO ALBERTO de Miguel Ramos
Cantar o rigoroso faz lembrar
Aquele orgulho nobre, aquele brio
Que havia nas cantigas a atirar
Nos motes de improviso ao desafio
ALEXANDRINO DO JOAQUIM CAMPOS
Temos ambos razão
De falsas discussões
Não basta só cantar
Maria Alquimia
Repertório de Maria Ana Bobone
De noite e dia, terra e mar são par
E eu sou ar sem chão p’ra me inteirar
Cativa de uma simples melodia
Que ecoa e rodopia, Alquimia
Sou corpo, som e voz dessa magia
Feitiço. encanto e toda a nostalgia
Quisera eu ser livre e perder
O dom de me entregar no que há de ser
Do avesso não seria quem eu sou
Saudade e alegria em que me dou
E toda a ventania e maresia
Areia, sal e fado sem Maria
Eu sou uma guitarra em oração
Saudade e alegria e uma canção
E toda a ventania e maresia
Areia, sal e fado e sou Maria
O que é o fado
Repertório de Fernando Maurício
O Fado é beijo de amor
Queixume d’alma traída
Suave pranto de dor
É o retrato da vida
Esta canção divinal
Tão nossa, tão portuguesa
É porta-voz da tristeza
Dos filhos de Portugal;
Padrão de raça imortal
Que nas naus de proa erguida
Cantou a fé mais sentida
Deste povo sonhador;
O Fado é beijo de amor
Queixume d’alma traída
Ser fadista é, na verdade
A real definição
De quem traz no coração
Amor, tristeza e saudade;
Fado é meiga claridade
De Primavera florida
Embalada e estremecida
E refúgio de amargor;
Suave pranto de dor
É o retrato da vida
Minha mãe chamou por Ana
Repertório de Maria Ana Bobone
Minha mãe chamou por Ana
Mas a Ana não está cá
O Ana… ó Ana
Senhora minha mãe vou já
Ó figueira dá-me um figo
Ó Silva dá-me uma amora
Ó meu amor dá-me um beijo
Que eu amanhã vou-me embora
Tudo me fala de nós
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
De muitas rosas vermelhas
Assim se enchem as ruas
As tuas mãos são centelhas
Velhas, cansadas e nuas
Castelos caem com o vento
Deles ficam as ilusões
Cai a luz no firmamento
De longe chegam canções
Ouço então a tua voz
Sempre mais triste a cantar
Tudo me fala de nós
E eu sonho p’ra não chorar
Sonho, sonho e vou cantando
Também cantas dentro em mim
Já vai a noite acabando
Acaba mas sem ter fim
Lisboa abençoa
Repertório de Maria Ana Bobone
Meio dia maré cheia
E a conversa corriqueira
Manjerico e sardinheira
Bebem a luz mais trigueira
Vem a tarde soalheira
Ao cimo de uma ladeira
Do porto sai a traineira
Vai deixando a sua esteira
Lisboa, abençoa
Cidade que apregoa
Lisboa é gente boa
De Alfama à Madragoa
Meia-noite lua cheia
Soa a festa toda inteira
Mesa e bancos de madeira
E os enfeites na videira
Sardinhada e barulheira
A sangria bem caseira
Bailarico à maneira
E alegria verdadeira
Tejo em cada esquina, em cada colina
Todo o sino é sina, Lisboa varina
Eu não penso
Repertório de Maria Ana Bobone
Se estou só, quero não estar
Se não estou, quero estar só
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou
Ser feliz é ser aquele
E aquele não é feliz
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis
A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada
Mas falha se o não fizer
Fica perdido na estrada
Lá fora, as árvores são
O que se mexe a parar
Não vejo nada senão
Depois das árvores, o mar
É azul intensamente
Salpicado de luzir
E tem na onda indolente
Um suspirar de dormir
Mas nem durmo eu nem o mar
Ambos nós, no dia brando
Ele sossega a avançar
E eu não penso e estou pensando
Para ser fadista
Repertório de Fernando Maurício
Na sua fé altruísta
Um bom fadista tem por divisa
Marcar estilo que apresenta
Na vestimenta que o simboliza
Andar metido em tipóias
E ter ramboias com guitarradas
Petiscos fora de portas
A horas mortas com desgarradas
P’ra ser fadista perfeito
É ter no peito bom coração
Dedilhar com certa garra
Uma guitarra na perfeição;
Ir às esperas de gado
Cantar o fado com altivez
Assim é que é ser fadista
É ser artista e bom português
Andar um pouco gingado
Melena ao lado a cair no rosto
A calça à boca de sino
E o seu varino feito com gosto
Beber, amar e sentir o fado a carpir
Mais quente que o lume
E junto com a verdade
Ter a saudade e mais o ciúme
Sem Amália
Repertório de Maria Ana Bobone
Parece cidade aberta
À mercê do inimigo
E o sol se nos desperta
Não traz o calor antigo;
Piso as ruas que pisaste
Da tua sombra ando atrás
Quem diria que ficaste
Neste sítio onde não estás
Jamais as vozes cantaram
A vida à tua maneira
Que caminhos te levaram
A sair da nossa beira;
Por ti há quem reze o terço
Sem desfiar o rosário
Nesta Lisboa, teu berço
Eu rezo o terço ao contrário
Estarás em cada guitarra
Em bater de coração
Pois quando canta a cigarra
Não se vê na escuridão;
Deixaste a lua partida
Sempre a mudar de recorte
Que estranha forma de vida
Pode haver depois da morte
Meu berço minha raiz
Repertório de Bruno Alves
Mui nobre cidade invicta
Ser teu filho, acredita
Faz de mim um ser feliz
Vou andar de braço dado
Contigo neste meu fado
Meu berço minha raiz
Por vezes se me ausento
Só tenho no pensamento
Voltar para os teus braços
Cidade por mim amada
Longe de ti não sou nada
Tão fortes são nossos laços
Depois assim que cá chego
Ao sentir o aconchego
Que me enche o coração
A vida volta a ser vida
Vem a alegria perdida
Meu berço minha paixão
Não sei porque te calas
Repertório de Maria Ana Bobone
Minha alma pediu à tua
Uma jurinha de amor
Mas tu és tal como a lua
Que brilha e não dá calor
Cantei p’ra ti uma vez
Mas não sei se me entendeste
Nem sei mesmo se talvez
Tudo o que eu disse esqueceste
Eu gostava de saber
O que diz o teu olhar
Mas tu nada queres dizer
E eu não devo perguntar
Por muito que eu te diga
Deste fogo que em mim lavra
Talvez eu nunca consiga
Arrancar-te uma palavra
Se um dia eu ficar calada
Tanto pior para os dois
Nunca mais te digo nada
Mas não te queixes depois
Lisboa, o Tejo e o mar
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Vem correndo pelo Tejo
Água de fontes nascida
Doce como um doce beijo
Viva como a própria vida
Água salgada do mar
Vem convidando à aventura
Mas na hora de embarcar
Há lágrimas de amargura
As lágrimas de saudade
Salgavam o próprio mar
Ao partir das naus de Goa
Mas o sal da tempestade
Ficava doce ao voltar
À Ribeira de Lisboa
Sem descanso, noite e dia
Juntam as águas na barra
Tejo doce e mar salgado
A tristeza e a alegria
Juntam-se ao som da guitarra
E Lisboa canta o fado
Tudo pode acontecer
Repertório de Maria Ana Bobone
Agora sim…
Agora. sim, tudo pode acontecer
Sem mar, sem ondas, sem praias
Invernos sem primaveras
Jardins sem cravos nem rosas
Para a tua mão colher
Sem céu de nuvens paradas
Florestas de árvores mortas
E eu sozinha, sem te ver
Agora sim… tudo pode acontecer
Agora, sim…
Agora, sim, tudo pode acontecer
Secarem rios e fontes
Apagarem-se as estrelas
O próprio dia ser noite
E não mais amanhecer
A lua cair ao mar
Apagar-se o luar
E a alegria entristecer
Agora. sim...
A noite será maior
Repertório de Bruno Alves
A noite, não faz sentido
Sem primeiro ter ouvido
Um até logo num beijo
Nem eu quero adormecer
Sem primeiro perceber
Que sou eu o teu desejo
A noite não será nada
Nem haverá madrugada
Sem a luz do teu olhar
Com a cor da tua boca
A noite será mais louca
E não me custa a passar
À noite quando te enleias
Os braços serão cadeias
Que prendem a claridade
Que a noite será paixão
Quando dois corpos se dão
Com prazer e liberdade
A noite, será maior
Se te deitas meu amor
Na minha cama liberta
Entre lençóis de ternura
Seremos dois em loucura
Numa eterna descoberta
Julguei endoidecer
Repertório de Alcindo de Carvalho
Julguei endoidecer quando partiste
Deixando entre nós dois funda barreira
Caíu dentro de mim a noite triste
Feita de sombras negras, sem clareira
Durante dias, fui folha caída
Que o tempo vai levando por aí
Fumei, chorei, bebi, mal disse a vida
E desejei morrer, morrer por ti
Cretino, sim eu fui, porque a saudade
Falou em mim, mais alto que a razão
Não me deixando ver esta verdade
Não és mulher que valha esta paixão
Quero voltar à vida que vivi
Quero voltar a ser tal como outrora
Maldito seja o dia em que te vi
Bendita sejas tu p'la vida fora
- - -
Linhares Barbosa / Casimiro Ramos
Repertório de Maria Manuela Silva
Embora com algumas diferenças na letra, este tema tem sido
Julguei endoidecer quando partiste
Deixando entre nós dois, funda barreira
Ficou dentro de mim, a noite triste
Feita de sombras negras, sem clareira
Durante dias, fui folha caída
Que o vento vai levando sem destino
Bebi, sofri, chorei, mal disse a vida
E tive, por meu mal, outro caminho
Um caminho cruel, porque a saudade
Falou em mim, mais alto que a razão
Não me deixando ver esta verdade
Não há homem que valha uma paixão
Vou regressar à vida que vivi
Quero voltar a ser tal como outrora
Maldito seja o dia em que te vi
Bendito sejas tu, p'la vida fora
Cidade duma só cor
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
De oiro se fez a cidade
Cidade doirada e fria
De oiro se fez a cidade
Aonde ninguém vivia
Tão longe dos verdes montes
Tão longe das brancas serras
Tão longe dos verdes montes
Tão perto de ódios e guerras
De oiro se fez a cidade
Estranho modo de a fazer
De oiro se fez a cidade
E todos a queriam ter
Cidade duma só cor
Cidade doirada e fria
Todos lhe tinham amor
Mas nela ninguém vivia
Todos lhe tinham amor
O que o amor pode ser
Cidade duma só cor
E todos a queriam ter
Através duma saudade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credivel
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Através duma saudade
Vem o passado ao presente
O que morreu volta à vida
Vem de novo a mocidade
E parece que se sente
A mocidade perdida
Passado não é tristeza
O passado faz sentido
Através duma saudade
O futuro é incerteza
E só no tempo vivido
Temos certeza e verdade
O sonho é realidade
Quand’uma recordação
Ganha vida, ganha cor
Através duma saudade
Bate forte o coração
Ao recordar um amor
Lentamente, dia a dia
Em vida vai-se a perder
O que se ganha em idade
Teve uma vida vazia
Quem não conseguiu viver
Através duma saudade
Até quando Deus quiser
Repertório de Bruno Alves
Eu canto por devoção
Por prazer e com calor
É só teu meu coração
Minha musa meu amor
Se acabasse agora o mundo
Eu era um homem feliz
Por este amor tão profundo
Que me deste de raiz
E quer essa gente ou não queira
Eu vou dizer-te mulher
Vou amar-te a vida inteira
Até quando Deus quiser
As rosas
Repertório de Carminho
Morro em pedaços quando te abraço
E sei que não voltas mais
Como uma rosa triste e vaidosa
Quando o amor se vai
Que as rosas são feitas para morrer
Quando se espalham no chão
Ninguém as quer
Ninguém merece
Será que esqueces
E o céu aberto sabe decerto
Sabes bem que não posso esperar
Cada volta é um espinho que cai
E tu, que vais mais uma vez p'ra sempre
Ai meu amor
Se as rosas são feitas para morrer
Quando se espalham no chão
Algum dia minto p'ra te perdoar
Ai, meu amor
Uma longa despedida
Repertório de Bruno Alves
Quem nos deu esta saudade
Quando acendem na cidade
As minhas noites sem ti
Foi o medo sem a vida
Uma longa despedida
Como sempre pressenti
Quem nos disse que a memória
É o reverso de uma história
Em que nunca acontecemos?
Veio o Outono em teu lugar
Entre versos por rasgar
A mercê do que esquecemos
Tenho ainda o teu sorriso
Um breve beijo indeciso
A pender no coração
Foi mais breve a nossa vida
Do que a longa despedida
Arrancada a solidão
Sete saias
Repertório do autor
Sete saias de balão
Levas pois então
Sete pecados mortais
Que mostrando vais
Seja aonde for
Com as sete a saltitar
Conforme o pisar
Sete saias trazes a cair da anca
E a blusa branca
Que te vai mesmo a matar
Então os rapazes só pedem que caias
P’ra contar as saias
Sem que estejas a bailar
Com sete te vi falar
E a todos dar
Será que te dá prazer
Sete noivos ter
Fazer coleção
É melhor é escolher um
E não querer nenhum
Mais um conselho te dou
Enquanto aqui estou
Nem as encurtes mais
Senão quando sais
P'ra mostrar ao Zé
Mas pelo joelho não
Que faz confusão
Foi tão pouco o nosso tempo
Repertório de Bruno Alves
Prende a tua mão à minha
Vamos correr a cidade
Ilumina o nosso mundo
Abre os olhos e caminha
Que esta noite a saudade
Dorme sono bem profundo
Olha a nossa velha casa
De janelas mal fechadas
Presa ao chão à tua espera
Sobre as cinzas morre a brasa
Que as tuas mãos cansadas
Largaram na primavera
A saudade já desperta
Foi tão pouco o nosso tempo
Que eu não fui, que eu não fiz
No meu peito a dor aperta
Mesmo quando jure o vento
Que no céu tu és feliz
Fado Luís
Dedicado a Luís Alberto Freitas Hilário
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Já nem pareces o fado
Porque subiste de preço
E vives todo emproado
Ninguém te vê p’las vielas
Que antigamente habitavas
Nem nessas farras singelas
Onde tu nunca faltavas
Ai belo fado d’outrora
Da Mouraria saudosa
E fadistagem famosa
Que ali cantou e deu brado
Ai lindo fado d’agora
Cada vez tens mais amigos
Mas os fadistas antigos
Sentem saudades do fado
Foste a canção da tristeza
E se hoje tens mais valor
Maior cultura e beleza
Não tens o mesmo sabor
Daquele fado sem par
Melodioso e plangente
Que até parecia chorar
Dentro da alma da gente
Nem rosas nem flor de malva
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Nem rosas nem flor de malva
A serem verdade pura
No olhar que nos ficou
Só angústia de um sorriso
As saudades da aventura
Que entre nós não começou
Na boca ficou-me o travo
Da brancura do teu rosto
Do perfume dos teus dedos
E algum pinheiro bravo
Terá contado ao sol posto
O maior dos meus segredos
Nem um adeus que nos ficasse
A doer nas mãos fechadas
Nem o gosto de sonhar
Só a angústia dum sorriso
Em corpo de asas cortadas
E o desejo de voltar
Foi Deus que quis assim
Repertório de Maria Emília
Deixa-me ficar sozinha
Nesta cama que é só minha
Não tenhas pena de mim
Se o teu amor me fugiu
É porque nunca existiu
E foi Deus que quis assim
Palavras leva-as o vento
Mas trago em meu pensamento
As que vieram de ti
Da primavera ao outono
Estão agora ao abandono
Tantas, tantas que te ouvi
Mas não te guardo rancor
Mesmo sabendo que a dor
Se abriga em meu coração
Ao menos fechou-se o pano
De enganos e desenganos
Fruto da tua paixão
De coração magoado
Farei cumprir este fado
Que sai de dentro de mim
Se o teu amor me fugiu
Foi porque nunca existiu
E foi Deus que quis assim
À procura de ti
Repertório de Bruno Alves
Andei louco à procura d'uma rua com teu nome
Embalado no meu sonho de um dia te encontrar
Desvario que me prende, paixão que me consome
Corri toda a cidade sem meu sonho alcançar
Feito tonto procurei, a flor da tua afeição
Na esperança de te ver afagá-la com amor
A rosa azul chorava a sua triste solidão
E na fonte dos enganos bebemos a mesma dor
Fui pedir ao vento leste que me desse novas tuas
Sabendo que o teu corpo anseia por aquecer
Soprou tão forte o vento, arderam tantas ruas
Voltou depois o frio e não te vi aparecer
Cansado de procurar e de ti nem um sinal
Pensei pedir ao sol, mas já nem isso consigo
Talvez seja remédio para este tão grande mal
Fingir que não te quero, pra que venhas ter comigo
Casa de Fado
Repertório de Maria Emília
Dizes contigo: tudo bem
Desde que o xaile me proteja
Canto bem melhor em casa
Trago nas saias compridas
Falta-me o ar
Que nunca se acabe o mar
E o peixe, meu Deus, quanto peço
Ninguém duvide
Mas é da casa de fado
Que sou, é de lá que venho
Achas que o fado é a raiz do mal
Pior que o fado nem o carnaval
É de mau tom, imoral e rancoroso
Triste, pesado, indecente e invejoso
Vejam bem
Finjo que ouço e finjo bem
Juro por tudo o mais que seja
E se a vizinha solta a língua
Sou um prato desolado
És bom homem
Não há canção que eu não cante
Mas o que eu gosto
Levo a mão à cintura
E sem o fado tudo me sai mal
Pior nem o Brasil sem o carnaval
É de mau tom, imoral e rancoroso
Triste, pesado, indecente e invejoso
Vejam bem
Lisboa reza comigo
Repertório de Fernando Jorge
Ó Lisboa, eu sei que gostas
De rezar, muito ao teu jeito
Nessa pose, de mãos postas
Presas ao xaile, em teu peito
Os olhos semicerrados
Como tanta vez te vi
A chorar tantos pecados
Que outros cometem por ti
Lisboa reza comigo
Quero ter essa atitude
De poder rezar contigo
À Senhora da saúde
Se cantas, como quem reza
Lisboa porque razão
Quem diz que tanto te preza
Te reza sem coração?
Nem a prece é atendida
De oração passa a pecado
E até fica ofendida
A padroeira do fado
Quero pedir-lhe, a teu lado
Que nos livre desse perigo
De ouvir fado mal rezado
Lisboa, reza comigo
Minha irmã poesia
Repertório de Jorge Carlos (ao vivo)
Não há muros de silêncio
Nem há solidão perdida
Quando a saudade tem fim
O dilema tão intenso
Da rima desconhecida
Pulsa bem dentro de mim
Não sei rimar felicidade
Sem que teu nome apareça
Nem sem rimar liberdade
Sem que o amor entristeça
Não sei rimar primavera
Sem que teu formoso rosto
Nos tempos da minha espera
Há sempre um luar d’agosto
Não sei rimar melodia
Sem que a voz com que me falas
Ai… minha irmã poesia
Vê lá se nunca te calas
A história das penas
Repertório de Silva Machado (ao vivo)
Grandes ou muito pequenas
Pesadas ou muito leves
Tenho pena dessas penas
Quer sejam longas ou breves
São penas que vão marcando
O coração das pessoas
Todas elas magoando
Porque não há penas boas
Cada pena tem história
De ciúme ou de paixão
Só é pena que a memória
Tenha penas sem razão
E quando a vida terrena
Der a missão por cumprida
Decerto vou sentir pena
Das penas que tem a vida
Fado é tudo ao mesmo tempo
Repertório de Bruno Alves
Fado é sina, fado é sorte
Destino, fatalidade
O que tem d'acontecer
E ainda após a morte
No seio da humanidade
Estar vivo sem saber
Fado é Canção de Lisboa
Ou de Coimbra balada
É trova que o povo entoa
Melodia acompanhada
Fado é mote de Severa
D’Amália, de Marceneiro
É saudade sempre à espera
Cantada no mundo inteiro
Fado é de corpo, e alma
É tempestade, é calma
Fado a tudo ao mesmo tempo
Poeta português
Sérgio Marques (ao vivo) na apresentação do livro do autor
*SETEMBRO, jardim do amor*
E que as palavras sofrem d'escassez
Relê qualquer poema bem escrito
P'la musa dum poeta português
Se pensas que a verdade perdeu cor
E que o amor perdeu a sua vez
Relê qualquer poema sonhador
Pertença dum poeta português
Se pensas que já nada faz sentido
E tendes a perder a sensatez
Repara no clarão reacendido
P'la alma dum poeta português
Depois de tudo leres, tenta saber
A história verdadeira do que lês
Decerto ficarás a perceber
A alma dum poeta português
As flores
Repertório da autora
Os vasos servem as flores
Como servem os amores
O tempo, a atenção
Viveria imóvel, parada
Em pouca terra sarada
P’lo verdadeiro coração
As folhas verdes do campo
Sabem esperar com encanto
Sol e chuva, vento norte
Quero ter delas a paz
Ter paciência e ser capaz
De esperar a minha sorte
Corram passos nos caminhos
E apressados vão sozinhos
Procurar um coração
Eu antes quero ficar
Com o tempo eu sei esperar
Com o amor é que não
Quatro estações de amor
Repertório de Bruno Alves
Se queres seguir um rumo diferente do traçado
No coração d'um fado que só por nós cantei
Se queres ser como o fumo, no ar evaporado
Então para um bocado, pensa no que te dei
Eras flor de Jardim, primavera de sonho
Risonho era teu rosto de veludo perfeito
Mas perdido de mim, mudei-te de medonho
Calor do mês de agosto, p’ra estufa do meu peito
Para não tombares na haste desfolhada em outono
Passei noites desperto, devoto à tua espera
Pois que o inverno baste, p’ra te guardar o sono
Porque eu não te abandono do verão à primavera
Vive e deixa-me viver
Repertório de Ana Marina
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Tal como um botão de rosa
Que ainda não é flor
Eu era bela e vaidosa
E guardava caprichosa
Uma promessa d’amor
No dia em que te encontrei
Em amor a converti
Em amor t’a entreguei
E tão presa a ti fiquei
Que não vivia sem ti
Era tua a minha vida
E como tua a levaste
Sem ti eu fiquei perdida
Tudo levaste à partida
Nem a vida me deixaste
Ouvi, é já voz corrente
Que pensas voltar p’ra mim
Ouvi, fiquei indiferente
Meu coração nada sente
Na vida tudo tem fim
Podes crer que te não esqueço
Mas não mais te quero ver
Eu não quero o teu regresso
Só uma coisa te peço
Vive e deixa-me viver
Romagem de saudade
Repertório de Manuel Salé (ao vivo)
Em romagem de dor e de saudade
Fui visitar a casa onde nasci
O lar onde vivi com humildade
O tempo que me fez chegar aqui
Os vidros das janelas, já quebrados
E a porta já com traços de tristeza
Ali, eu vi, partido em mil bocados
Um sonho, pouco mais que uma incerteza
Ao lado, o velhinho balancé
Qual jóia de museu, qual velharia
Aonde o meu avô, o velho Zé
Me dava bons momentos de alegria
No canto juvenil da minha história
Revi a minha bola companheira
Então senti que o fogo da memória
Me vai acompanhar a vida inteira
Jangada de fado
Repertório de Manuel Delindro (ao vivo)
Parti num sonho perfeito
Levando a bater no peito
Um coração sonhador
Qual marujo apaixonado
Numa jangada de fado
Desbravei o mar do amor
Suportei ventos de sul
Num mar coberto de azul
Busquei a ilha da sorte
Tentando encontrar o norte
Velejando, velejando
Aos poucos fui conquistando
O meu espaço no mar
Até que por fim, cheguei
À ilha que procurei
Onde sempre quis morar
Mas vi, numa carta aberta
Um manuscrito enrolado
Era uma mensagem tua
Dizendo: amor continua
Tens de cumprir o teu fado
Ciganita mulher
Repertório de Manuel Salé (ao vivo)
Ciganita d’olhar puro
Que lês na palma da mão
O futuro das manhãs
Acautela o teu futuro
Para que teu coração
Não sofra promessas vãs
Ciganita, tem cuidado
Porque nos sopros da alma
Cada um tem o seu fado
E a alma não se acalma
Tens contigo a singeleza
E o dom de adivinhar
Porém não tens, concerteza
Alguém, a quem dedicar
E lá vais de rua em rua
Buscando linhas da mão
Ciganita continua
Em busca duma paixão
Apenas Porto
Repertório de Bruno Alves
Podia dar-te o nome mais bonito
O nome de Viela ou de Ribeira
Dizer apenas corpo de granito
Com rosto de rabelo e de traineira
Podia dar-te o nome de navio
Ou cais de nevoeiro junto à barra
Podia dizer pontes céu e rio
Podia até chamar-te de guitarra
Mas digo apenas Porto
Meu chão e meu lugar
Cidade que eu amo
Chamar-te Porto antigo
Telhado à beira mar
Chamar-te Porto amigo
Podias ser gaivota de ternura
Ou cama com lençóis de neblina
Podia dizer Sé ou Rua Escura
Ou asa da Muralha Fernandina
Podia dar-te o nome do Infante
De burgo, caravela, ou sardinheira
Podia até chamar-te minha amante
Com cheiro a manjerico e a cidreira
A nobreza da alma
Repertório de Bruno Alves
Ao fado só não dou o que não tenho
Ao fado só não vou quando não posso
O meu amor não tem nada d'estranho
Estranho é não gostar do que é tão nosso
Estranho é não sentir a pulsação
Da alma que traduz maior nobreza
Estranho é não ouvir o coração
Cantar do mesmo jeito como reza
Estranho é não gostar de poesia
Nem tentar perceber donde ela vem
Estranho é confundir o mal e o bem
Condenando o amor à revelia
Se o fado tem o doce desempenho
Do sonho que nasceu para ser nosso
Ao fado só não vou quando não posso
Ao fado só não dou o que não tenho
Deambulação poética
Declamado e registado em vídeo por Américo Pereira
Ali, ao dobrar da esquina
Duma jovial menina
Reparei que a natureza
Que talvez sejam normais
Porém, a mim me parece
Uma luz quase divina
E quando o tempo amanhece
Qualquer sol desaparece
Ali ao dobrar da esquina
Ali ao dobrar do tempo
Reparei quanto é mesquinha
Tão frágil é o momento
E por vezes se maltratam
P’la falta de sentimento
O sol é de pouca dura
Enquanto no firmamento
Porque pouco ou nada existe
Ali ao dobrar do tempo
Ali ao dobrar da vida
Reparei o quanto é forte
Ai sorte... maldita sorte
Desviando-me do norte
Ali ao dobrar da vida
Baile dos sentidos
Repertório de Maria da Glória (ao vivo)
Quem puder amar que ame
Mas que ame intensamente
E quem puder, reclame
Uma vida diferente
Quem puder beijar que beije
Mas que beije por amor
E ao desejar que deseje
Um beijo muito maior
Quem quiser dançar que dance
Mas que dance com prazer
Que o corpo nunca se canse
De mexer e remexer
Quem puder cantar que cante
Com ritmo compassado
Para que a alma se espante
Com a magia do fado
A marca do meu fado
Repertório de José Ferreira (ao vivo)
A marca do meu fado é esta dor
Que teima em revelar-se lentamente
E quase faz morrer um grande amor
Que quero conservar eternamente
A marca do meu fado é a saudade
Que tenho, dos momentos que vivi
O fogo dum amor já muito tarde
É chama que só arde para ti
A marca do meu fado é a tristeza
Que sinto, porque estás longe de mim
Agora, meu amor, tenho a certeza
Que tudo tem princípio meio e fim
Agora neste fado em solidão
Procuro a redenção do meu pecado
Na dor deste poema de paixão
Encontro sempre a marca do teu fado