Canal de JOSÉ FERNANDES CASTRO apadrinhado pelo mestre RODRIGO

*CLIQUE e OIÇA*

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AS LETRAS PUBLICADAS REFEREM A FONTE DE EXTRAÇÃO, OU SEJA: NEM SEMPRE SÃO MENCIONADOS OS LEGÍTIMOS CRIADORES
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ATINGIDO ESTE VALOR // QUE ME FAZ SENTIR HONRADO // CONTINUO, COM AMOR // A SER SERVIDOR DO FADO - - -
POIS MESMO DESAGRADANDO // A TROIANOS MALDIZENTES // OS GREGOS VÃO APOIANDO // E VÃO FICANDO CONTENTES
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Troçaste

J. Serrano / Júlio Proença (puxavante c(versículo)
Repertório de Nuno de Aguiar


Troçaste dela, porquê / diz-me porém
Troçar é do teu agrado / e não do meu
Ela finge que não vê / e entende bem
Porque é feliz a meu lado / como eu

Só quem te conhece bem / como eu conheço
Na tua maldade crê / e na intenção
Não negues porque vi bem / e não mereço
Troçaste dela, porquê / sem ter razão

Troçaste só por me ver / um certo dia
A passar com ela ao lado / ternamente
És a mesma até morrer / tua magia
Troçar é do teu agrado / infelizmente

O passado é folha morta / que revive
Por teu defeito rever / e a tua imagem
Tua causa pouca importa / pois não vive
Ela finge que não vê / embora veja

Ela sorriu para mim / enternecida
Dizendo ter perdoado / mas porém
Como vês, ela é assim / na minha vida
Porque é feliz a meu lado / e eu sou também

Improviso ao desafio

Carlos Conde / Várias músicas com direitos reservados
Repertório de Fernando Maurício e Francisco Martinho

FADO MOURARIA (popular)

Martinho, se és meu amigo
E o fado não te afadiga
Vem daí cantar comigo
Um despique à moda antiga

FADO MENOR (popular)
Contigo, amigo Maurício
Cantarei com muito agrado
Nunca o fado é sacrifício
Quando se gosta do fado

FADO HELENA de Casimiro Ramos
Já que és fadista eleito
Do fado triste e dolente
Vamos cantar a preceito
Mas naquele mesmo jeito
Do fado de antigamente

FADO ZÉ NEGRO de Francisco José Marques

Fadista também tu és
Da cabeça até aos pés
E altamente consagrado
Porém, se o fado é do povo
Tanto faz ser velho ou novo
O que é preciso é ser fado

FADO ALBERTO de Miguel Ramos
Cantar o rigoroso faz lembrar
Aquele orgulho nobre, aquele brio
Que havia nas cantigas a atirar
Nos motes de improviso ao desafio

ALEXANDRINO DO JOAQUIM CAMPOS

Temos ambos razão, mas p’ra irmos além
De falsas discussões ou de meras conquistas
Não basta só cantar, é preciso erguer bem
A grandeza do fado e a honra dos fadistas

Maria Alquimia

Joana Alegre / Maria Ana
Repertório de Maria Ana Bobone


De noite e dia, terra e mar são par
E eu sou ar sem chão p’ra me inteirar
Cativa de uma simples melodia
Que ecoa e rodopia, Alquimia

Sou corpo, som e voz dessa magia
Feitiço. encanto e toda a nostalgia
Quisera eu ser livre e perder
O dom de me entregar no que há de ser

Do avesso não seria quem eu sou
Saudade e alegria em que me dou
E toda a ventania e maresia
Areia, sal e fado sem Maria

Eu sou uma guitarra em oração
Saudade e alegria e uma canção
E toda a ventania e maresia
Areia, sal e fado e sou Maria

O que é o fado

Domingos Gonçalves Costa / Popular *fado *Mouraria*
Repertório de Fernando Maurício


O Fado é beijo de amor
Queixume d’alma traída
Suave pranto de dor
É o retrato da vida


Esta canção divinal
Tão nossa, tão portuguesa
É porta-voz da tristeza
Dos filhos de Portugal;
Padrão de raça imortal
Que nas naus de proa erguida
Cantou a fé mais sentida
Deste povo sonhador;
O Fado é beijo de amor
Queixume d’alma traída

Ser fadista é, na verdade
A real definição
De quem traz no coração
Amor, tristeza e saudade;
Fado é meiga claridade
De Primavera florida
Embalada e estremecida
E refúgio de amargor;
Suave pranto de dor
É o retrato da vida

Minha mãe chamou por Ana

Popular / Manuel Bobone / Popular
Repertório de Maria Ana Bobone


Minha mãe chamou por Ana
Mas a Ana não está cá
O Ana… ó Ana
Senhora minha mãe vou já

Ó figueira dá-me um figo
Ó Silva dá-me uma amora
Ó meu amor dá-me um beijo
Que eu amanhã vou-me embora

Tudo me fala de nós

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De muitas rosas vermelhas
Assim se enchem as ruas
As tuas mãos são centelhas
Velhas, cansadas e nuas

Castelos caem com o vento
Deles ficam as ilusões
Cai a luz no firmamento
De longe chegam canções

Ouço então a tua voz
Sempre mais triste a cantar
Tudo me fala de nós
E eu sonho p’ra não chorar

Sonho, sonho e vou cantando
Também cantas dentro em mim
Já vai a noite acabando
Acaba mas sem ter fim

Lisboa abençoa

Joana Alegre/ Maria Ana
Repertório de Maria Ana Bobone


Meio dia maré cheia
E a conversa corriqueira 
Na varanda da vizinha
Manjerico e sardinheira
Bebem a luz mais trigueira
Deste raiar alfacinha

Vem a tarde soalheira
Ao cimo de uma ladeira 
Já na fila p’rá carreira
Do porto sai a traineira
Vai deixando a sua esteira 
E um cheirinho a maresia

Lisboa, abençoa
Cidade que apregoa
Lisboa é gente boa
De Alfama à Madragoa


Meia-noite lua cheia
Soa a festa toda inteira 
É dia de Santo António
Mesa e bancos de madeira
E os enfeites na videira 
Adivinham matrimónio

Sardinhada e barulheira
A sangria bem caseira 
E o quentinho da braseira
Bailarico à maneira
E alegria verdadeira 
Parece que dá casório

Tejo em cada esquina, em cada colina
Todo o sino é sina, Lisboa varina

Eu não penso

Fernando Pessoa (encadeamento de dois poemas) / Maria Ana
Repertório de Maria Ana Bobone

Se estou só, quero não estar
Se não estou, quero estar só
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou

Ser feliz é ser aquele
E aquele não é feliz
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis

A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada
Mas falha se o não fizer
Fica perdido na estrada

Lá fora, as árvores são
O que se mexe a parar
Não vejo nada senão
Depois das árvores, o mar

É azul intensamente
Salpicado de luzir
E tem na onda indolente
Um suspirar de dormir

Mas nem durmo eu nem o mar
Ambos nós, no dia brando
Ele sossega a avançar
E eu não penso e estou pensando

Para ser fadista

Letra e música de João Viana
Repertório de Fernando Maurício


Na sua fé altruísta
Um bom fadista tem por divisa
Marcar estilo que apresenta
Na vestimenta que o simboliza

Andar metido em tipóias
E ter ramboias com guitarradas
Petiscos fora de portas
A horas mortas com desgarradas

P’ra ser fadista perfeito
É ter no peito bom coração
Dedilhar com certa garra
Uma guitarra na perfeição;
Ir às esperas de gado
Cantar o fado com altivez
Assim é que é ser fadista
É ser artista e bom português


Andar um pouco gingado
Melena ao lado a cair no rosto
A calça à boca de sino
E o seu varino feito com gosto

Beber, amar e sentir o fado a carpir
Mais quente que o lume
E junto com a verdade
Ter a saudade e mais o ciúme

Sem Amália

Henrique Segurado / José Fontes Rocha *fado dos sentidos*
Repertório de Maria Ana Bobone

Parece cidade aberta
À mercê do inimigo
E o sol se nos desperta
Não traz o calor antigo;
Piso as ruas que pisaste
Da tua sombra ando atrás
Quem diria que ficaste
Neste sítio onde não estás

Jamais as vozes cantaram
A vida à tua maneira
Que caminhos te levaram
A sair da nossa beira;
Por ti há quem reze o terço
Sem desfiar o rosário
Nesta Lisboa, teu berço
Eu rezo o terço ao contrário

Estarás em cada guitarra
Em bater de coração
Pois quando canta a cigarra
Não se vê na escuridão;
Deixaste a lua partida
Sempre a mudar de recorte
Que estranha forma de vida
Pode haver depois da morte

Meu berço minha raiz

Tony Carolas / Nel Garcia *fado sincopado*
Repertório de Bruno Alves


Mui nobre cidade invicta
Ser teu filho, acredita
Faz de mim um ser feliz
Vou andar de braço dado
Contigo neste meu fado
Meu berço minha raiz

Por vezes se me ausento
Só tenho no pensamento
Voltar para os teus braços
Cidade por mim amada
Longe de ti não sou nada
Tão fortes são nossos laços

Depois assim que cá chego
Ao sentir o aconchego
Que me enche o coração
A vida volta a ser vida
Vem a alegria perdida
Meu berço minha paixão

Não sei porque te calas

Manuel Bobone / Popular
Repertório de Maria Ana Bobone


Minha alma pediu à tua
Uma jurinha de amor
Mas tu és tal como a lua
Que brilha e não dá calor

Cantei p’ra ti uma vez
Mas não sei se me entendeste
Nem sei mesmo se talvez
Tudo o que eu disse esqueceste

Eu gostava de saber
O que diz o teu olhar
Mas tu nada queres dizer
E eu não devo perguntar

Por muito que eu te diga
Deste fogo que em mim lavra
Talvez eu nunca consiga
Arrancar-te uma palavra

Se um dia eu ficar calada
Tanto pior para os dois
Nunca mais te digo nada
Mas não te queixes depois

Lisboa, o Tejo e o mar

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Vem correndo pelo Tejo
Água de fontes nascida 
No alto da serrania
Doce como um doce beijo
Viva como a própria vida 
Traz saúde e alegria

Água salgada do mar
Vem convidando à aventura 
Na ânsia de liberdade
Mas na hora de embarcar
Há lágrimas de amargura 
Salgadas pela saudade

As lágrimas de saudade
Salgavam o próprio mar
Ao partir das naus de Goa
Mas o sal da tempestade
Ficava doce ao voltar
À Ribeira de Lisboa

Sem descanso, noite e dia
Juntam as águas na barra
Tejo doce e mar salgado
A tristeza e a alegria
Juntam-se ao som da guitarra
E Lisboa canta o fado

Tudo pode acontecer

Fernanda de Castro / Maria Ana
Repertório de Maria Ana Bobone


Agora sim… que já não gostas de mim
Agora. sim, tudo pode acontecer
Sem mar, sem ondas, sem praias
Invernos sem primaveras
Jardins sem cravos nem rosas
Para a tua mão colher

Sem céu de nuvens paradas
Florestas de árvores mortas
E eu sozinha, sem te ver
Agora sim… tudo pode acontecer

Agora, sim… que já não gostas de mim
Agora, sim, tudo pode acontecer
Secarem rios e fontes
Apagarem-se as estrelas
O próprio dia ser noite
E não mais amanhecer
A lua cair ao mar
Apagar-se o luar
E a alegria entristecer
Agora. sim... tudo pode acontecer

A noite será maior

Fernando Campos de Castro / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Bruno Alves


A noite, não faz sentido
Sem primeiro ter ouvido
Um até logo num beijo
Nem eu quero adormecer
Sem primeiro perceber
Que sou eu o teu desejo

A noite não será nada
Nem haverá madrugada
Sem a luz do teu olhar
Com a cor da tua boca
A noite será mais louca
E não me custa a passar

À noite quando te enleias
Os braços serão cadeias
Que prendem a claridade
Que a noite será paixão
Quando dois corpos se dão
Com prazer e liberdade

A noite, será maior
Se te deitas meu amor
Na minha cama liberta
Entre lençóis de ternura
Seremos dois em loucura
Numa eterna descoberta

Julguei endoidecer

Tristão da Silva / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Alcindo de Carvalho
Embora com algumas diferenças na letra, este tema tem sido 
constantemente gravado com o título *Julguei endoidecer* 
na música do Fado Esmeraldinha de Júlio Proença e com a letra 
atribuída a Tristão da Silva

Julguei endoidecer quando partiste
Deixando entre nós dois funda barreira
Caíu dentro de mim a noite triste
Feita de sombras negras, sem clareira

Durante dias, fui folha caída
Que o tempo vai levando por aí
Fumei, chorei, bebi, mal disse a vida
E desejei morrer, morrer por ti

Cretino, sim eu fui, porque a saudade
Falou em mim, mais alto que a razão
Não me deixando ver esta verdade
Não és mulher que valha esta paixão

Quero voltar à vida que vivi
Quero voltar a ser tal como outrora
Maldito seja o dia em que te vi
Bendita sejas tu p'la vida fora
- -- 
- - 
Despertei
Linhares Barbosa / Casimiro Ramos
Repertório de Maria Manuela Silva

Embora com algumas diferenças na letra, este tema tem sido 
constantemente gravado com o título *Julguei endoidecer* 
na música do Fado Esmeraldinha de Júlio Proença e com 
a letra atribuída a Tristão da Silva

Julguei endoidecer quando partiste
Deixando entre nós dois, funda barreira
Ficou dentro de mim, a noite triste
Feita de sombras negras, sem clareira

Durante dias, fui folha caída
Que o vento vai levando sem destino
Bebi, sofri, chorei, mal disse a vida
E tive, por meu mal, outro caminho

Um caminho cruel, porque a saudade
Falou em mim, mais alto que a razão
Não me deixando ver esta verdade
Não há homem que valha uma paixão

Vou regressar à vida que vivi
Quero voltar a ser tal como outrora
Maldito seja o dia em que te vi
Bendito sejas tu, p'la vida fora

Cidade duma só cor

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De oiro se fez a cidade
Cidade doirada e fria
De oiro se fez a cidade
Aonde ninguém vivia

Tão longe dos verdes montes
Tão longe das brancas serras
Tão longe dos verdes montes
Tão perto de ódios e guerras

De oiro se fez a cidade
Estranho modo de a fazer
De oiro se fez a cidade
E todos a queriam ter

Cidade duma só cor
Cidade doirada e fria
Todos lhe tinham amor
Mas nela ninguém vivia

Todos lhe tinham amor
O que o amor pode ser
Cidade duma só cor
E todos a queriam ter

Através duma saudade

Letra de Isidro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credivel

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Através duma saudade
Vem o passado ao presente
O que morreu volta à vida
Vem de novo a mocidade
E parece que se sente
A mocidade perdida

Passado não é tristeza
O passado faz sentido
Através duma saudade
O futuro é incerteza
E só no tempo vivido
Temos certeza e verdade

O sonho é realidade
Quand’uma recordação
Ganha vida, ganha cor
Através duma saudade
Bate forte o coração
Ao recordar um amor

Lentamente, dia a dia
Em vida vai-se a perder
O que se ganha em idade
Teve uma vida vazia
Quem não conseguiu viver
Através duma saudade

Até quando Deus quiser

Paulo Faria de Carvalho / Popular *fado das horas
Repertório de Bruno Alves


Eu canto por devoção
Por prazer e com calor
É só teu meu coração
Minha musa meu amor

Se acabasse agora o mundo
Eu era um homem feliz
Por este amor tão profundo
Que me deste de raiz

E quer essa gente ou não queira
Eu vou dizer-te mulher
Vou amar-te a vida inteira
Até quando Deus quiser

As rosas

Letra e música de Joana Espadinha
Repertório de Carminho


Morro em pedaços quando te abraço
E sei que não voltas mais
Como uma rosa triste e vaidosa
Quando o amor se vai

Que as rosas são feitas para morrer
Quando se espalham no chão
Ninguém as quer


Ninguém merece
Será que esqueces que eu sempre te cuidei
E o céu aberto
Sabe decerto as razões que eu não sei

Sabes bem que não posso esperar
Cada volta é um espinho que cai
E tu, que vais mais uma vez p'ra sempre
Ai meu amor, quem sabe o que eu chorei por ti

Se as rosas são feitas para morrer
Quando se espalham no chão, onde vão, quem serão
Algum dia minto p'ra te perdoar
Ai, meu amor, quem sabe o que eu chorei
O que eu chorei por ti

Uma longa despedida

Letra e música de Marco Oliveira *fado estelle*
Repertório de Bruno Alves


Quem nos deu esta saudade
Quando acendem na cidade
As minhas noites sem ti
Foi o medo sem a vida
Uma longa despedida
Como sempre pressenti

Quem nos disse que a memória
É o reverso de uma história
Em que nunca acontecemos?
Veio o Outono em teu lugar
Entre versos por rasgar
A mercê do que esquecemos

Tenho ainda o teu sorriso
Um breve beijo indeciso
A pender no coração
Foi mais breve a nossa vida
Do que a longa despedida
Arrancada a solidão

Sete saias

Letra e música de Artur Ribeiro
Repertório do autor


Sete saias de balão
Levas pois então para a romaria
Sete pecados mortais
Que mostrando vais todos à porfia

Cada qual da sua cor
Seja aonde for que tu vás com elas
Com as sete a saltitar
Conforme o pisar das tuas chinelas

Sete saias trazes a cair da anca
E a blusa branca
Que te vai mesmo a matar
Então os rapazes só pedem que caias
P’ra contar as saias
Sem que estejas a bailar


Com sete te vi falar
E a todos dar lenços de cambraia
Será que te dá prazer
Sete noivos ter um por cada saia

Segundo a voz da razão
Fazer coleção não dá resultado
É melhor é escolher um
E não querer nenhum mais, p’ra namorado

Mais um conselho te dou
Enquanto aqui estou não lhes dês mais roda
Nem as encurtes mais
Senão quando sais, sai a aldeia toda

Um palmo acima do pé
P'ra mostrar ao Zé onde acaba a meia
Mas pelo joelho não
Que faz confusão e é coisa feia

Foi tão pouco o nosso tempo

Fernando Cardoso / Jaime Santos *fado alvito*
Repertório de Bruno Alves

Prende a tua mão à minha
Vamos correr a cidade
Ilumina o nosso mundo
Abre os olhos e caminha
Que esta noite a saudade
Dorme sono bem profundo

Olha a nossa velha casa
De janelas mal fechadas
Presa ao chão à tua espera
Sobre as cinzas morre a brasa
Que as tuas mãos cansadas
Largaram na primavera

A saudade já desperta
Foi tão pouco o nosso tempo
Que eu não fui, que eu não fiz
No meu peito a dor aperta
Mesmo quando jure o vento
Que no céu tu és feliz

Fado Luís

João de Freitas / Nuno Meireles
Dedicado a Luís Alberto Freitas Hilário

Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quase que não te conheço
Já nem pareces o fado
Porque subiste de preço
E vives todo emproado

Ninguém te vê p’las vielas
Que antigamente habitavas
Nem nessas farras singelas
Onde tu nunca faltavas

Ai belo fado d’outrora
Da Mouraria saudosa
E fadistagem famosa
Que ali cantou e deu brado
Ai lindo fado d’agora
Cada vez tens mais amigos
Mas os fadistas antigos
Sentem saudades do fado


Foste a canção da tristeza
E se hoje tens mais valor
Maior cultura e beleza
Não tens o mesmo sabor

Daquele fado sem par
Melodioso e plangente
Que até parecia chorar
Dentro da alma da gente

Nem rosas nem flor de malva

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Nem rosas nem flor de malva
A serem verdade pura
No olhar que nos ficou
Só angústia de um sorriso
As saudades da aventura
Que entre nós não começou

Na boca ficou-me o travo
Da brancura do teu rosto
Do perfume dos teus dedos
E algum pinheiro bravo
Terá contado ao sol posto
O maior dos meus segredos

Nem um adeus que nos ficasse
A doer nas mãos fechadas
Nem o gosto de sonhar
Só a angústia dum sorriso
Em corpo de asas cortadas
E o desejo de voltar

Foi Deus que quis assim

Linda Leonardo / Jaime Santos *fado alvito*
Repertório de Maria Emília

Deixa-me ficar sozinha
Nesta cama que é só minha
Não tenhas pena de mim
Se o teu amor me fugiu
É porque nunca existiu
E foi Deus que quis assim

Palavras leva-as o vento
Mas trago em meu pensamento
As que vieram de ti
Da primavera ao outono
Estão agora ao abandono
Tantas, tantas que te ouvi

Mas não te guardo rancor
Mesmo sabendo que a dor
Se abriga em meu coração
Ao menos fechou-se o pano
De enganos e desenganos
Fruto da tua paixão

De coração magoado
Farei cumprir este fado
Que sai de dentro de mim
Se o teu amor me fugiu
Foi porque nunca existiu
E foi Deus que quis assim

À procura de ti

Fernando Cardoso / Fernando Freitas *fado noquinhas*
Repertório de Bruno Alves

Andei louco à procura d'uma rua com teu nome
Embalado no meu sonho de um dia te encontrar
Desvario que me prende, paixão que me consome
Corri toda a cidade sem meu sonho alcançar

Feito tonto procurei, a flor da tua afeição
Na esperança de te ver afagá-la com amor
A rosa azul chorava a sua triste solidão
E na fonte dos enganos bebemos a mesma dor

Fui pedir ao vento leste que me desse novas tuas
Sabendo que o teu corpo anseia por aquecer
Soprou tão forte o vento, arderam tantas ruas
Voltou depois o frio e não te vi aparecer

Cansado de procurar e de ti nem um sinal
Pensei pedir ao sol, mas já nem isso consigo
Talvez seja remédio para este tão grande mal
Fingir que não te quero, pra que venhas ter comigo

Casa de Fado

Walter Rolo / Manuel Graça Pereira
Repertório de Maria Emília


Dizes contigo: tudo bem 
Que posso até cantar p’ra cem
Desde que o xaile me proteja 
E as costas nuas ninguém veja

Canto bem melhor em casa
Dizes com ciúme em brasa
Trago nas saias compridas
Pernas com salto, escondidas

Falta-me o ar ao saber o teu regresso
Que nunca se acabe o mar
E o peixe, meu Deus, quanto peço

Ninguém duvide do amor que eu te tenho
Mas é da casa de fado
Que sou, é de lá que venho

Achas que o fado é a raíz do mal
Pior que o fado nem o carnaval
É de mau tom, imoral e rancoroso
Triste, pesado, indecente e invejoso
Vejam bem

Finjo que ouço e finjo bem 
Dou a razão a quem a tem
Juro por tudo o mais que seja
Cantar sim, mas na igreja

E se a vizinha solta a língua 
E me prometes fome e mingua
Sou um prato desolado 
E lá ficas do meu lado

És bom homem, és o homem mais amado
Não há canção que eu não cante
P´ra ti, na casa de fado

Mas o que eu gosto 
É de uma boa desgarrada
Levo a mão à cintura 
E canto sem medo de nada

E sem o fado tudo me sai mal
Pior nem o Brasil sem o carnaval
É de mau tom, imoral e rancoroso
Triste, pesado, indecente e invejoso
Vejam bem

Lisboa reza comigo

Mário Rainho / José Lopes (Fado Lopes)
Repertório de Fernando Jorge


Ó Lisboa, eu sei que gostas
De rezar, muito ao teu jeito
Nessa pose, de mãos postas
Presas ao xaile, em teu peito

Os olhos semicerrados
Como tanta vez te vi
A chorar tantos pecados
Que outros cometem por ti

Lisboa reza comigo
Quero ter essa atitude
De poder rezar contigo
À Senhora da saúde

Se cantas, como quem reza
Lisboa porque razão
Quem diz que tanto te preza
Te reza sem coração?

Nem a prece é atendida
De oração passa a pecado
E até fica ofendida
A padroeira do fado

Quero pedir-lhe, a teu lado
Que nos livre desse perigo
De ouvir fado mal rezado
Lisboa, reza comigo

Minha irmã poesia

José Fernandes Castro / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de Jorge Carlos (ao vivo)


Não há muros de silêncio
Nem há solidão perdida
Quando a saudade tem fim
O dilema tão intenso
Da rima desconhecida
Pulsa bem dentro de mim

Não sei rimar felicidade
Sem que teu nome apareça / Na luz do meu pensamento
Nem sem rimar liberdade
Sem que o amor entristeça / Do jeito mais violento

Não sei rimar primavera
Sem que teu formoso rosto / Tenha brilhos matinais
Nos tempos da minha espera
Há sempre um luar d’agosto / Que não se vislumbra mais

Não sei rimar melodia
Sem que a voz com que me falas / Tenha um sonho embalador
Ai… minha irmã poesia
Vê lá se nunca te calas / E me dás sonhos d’amor

Fado é tudo ao mesmo tempo

Torre da Guia / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Bruno Alves


Fado é sina, fado é sorte
Destino, fatalidade
O que tem d'acontecer
E ainda após a morte
No seio da humanidade
Estar vivo sem saber

Fado é Canção de Lisboa
Ou de Coimbra balada / P'ra consolar a tristeza
É trova que o povo entoa
Melodia acompanhada / À guitarra portuguesa

Fado é mote de Severa
D’Amália, de Marceneiro / De todos os seus amantes
É saudade sempre à espera
Cantada no mundo inteiro / Pelos lusos imigrantes

Fado é de corpo, e alma / É alegria, é tristeza 
É prazer, é sofrimento
É tempestade, é calma / E enquanto houver natureza
Fado a tudo ao mesmo tempo

As flores

Letra e música de Carminho *fado flores*
Repertório da autora


Os vasos servem as flores
Como servem os amores
O tempo, a atenção
Viveria imóvel, parada
Em pouca terra sarada
P’lo verdadeiro coração

As folhas verdes do campo
Sabem esperar com encanto
Sol e chuva, vento norte
Quero ter delas a paz
Ter paciência e ser capaz
De esperar a minha sorte

Corram passos nos caminhos
E apressados vão sozinhos
Procurar um coração
Eu antes quero ficar
Com o tempo eu sei esperar
Com o amor é que não

Quatro estações de amor

Mário Raínho / Jaime Santos *Alexandrino do Jaime*
Repertório de Bruno Alves

Se queres seguir um rumo diferente do traçado
No coração d'um fado que só por nós cantei
Se queres ser como o fumo, no ar evaporado
Então para um bocado, pensa no que te dei

Eras flor de Jardim, primavera de sonho
Risonho era teu rosto de veludo perfeito
Mas perdido de mim, mudei-te de medonho
Calor do mês de agosto, p’ra estufa do meu peito

Para não tombares na haste desfolhada em outono
Passei noites desperto, devoto à tua espera
Pois que o inverno baste, p’ra te guardar o sono
Porque eu não te abandono do verão à primavera

Vive e deixa-me viver

Isidoro de Oliveira / Armando Machado *fado mortalhas*
Repertório de Ana Marina
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Tal como um botão de rosa
Que ainda não é flor
Eu era bela e vaidosa
E guardava caprichosa
Uma promessa d’amor

No dia em que te encontrei
Em amor a converti
Em amor t’a entreguei
E tão presa a ti fiquei
Que não vivia sem ti

Era tua a minha vida
E como tua a levaste
Sem ti eu fiquei perdida
Tudo levaste à partida
Nem a vida me deixaste

Ouvi, é já voz corrente
Que pensas voltar p’ra mim
Ouvi, fiquei indiferente
Meu coração nada sente
Na vida tudo tem fim

Podes crer que te não esqueço
Mas não mais te quero ver
Eu não quero o teu regresso
Só uma coisa te peço
Vive e deixa-me viver

Apenas Porto

Fernando Campos de Castro / Paulo Faria de Carvalho
Repertório de Bruno Alves


Podia dar-te o nome mais bonito
O nome de Viela ou de Ribeira
Dizer apenas corpo de granito
Com rosto de rabelo e de traineira

Podia dar-te o nome de navio
Ou cais de nevoeiro junto à barra
Podia dizer pontes céu e rio
Podia até chamar-te de guitarra

Mas digo apenas Porto
Meu chão e meu lugar
Cidade que eu amo e em mim se arrasta
Chamar-te Porto antigo
Telhado à beira mar
Chamar-te Porto amigo já me basta

Podias ser gaivota de ternura
Ou cama com lençóis de neblina
Podia dizer Sé ou Rua Escura
Ou asa da Muralha Fernandina

Podia dar-te o nome do Infante
De burgo, caravela, ou sardinheira
Podia até chamar-te minha amante
Com cheiro a manjerico e a cidreira

A nobreza da alma

José Fernandes Castro / Armando Machado *fado lurdes*
Repertório de Bruno Alves


Ao fado só não dou o que não tenho
Ao fado só não vou quando não posso
O meu amor não tem nada d'estranho
Estranho é não gostar do que é tão nosso

Estranho é não sentir a pulsação
Da alma que traduz maior nobreza
Estranho é não ouvir o coração
Cantar do mesmo jeito como reza

Estranho é não gostar de poesia
Nem tentar perceber donde ela vem
Estranho é confundir o mal e o bem
Condenando o amor à revelia

Se o fado tem o doce desempenho
Do sonho que nasceu para ser nosso
Ao fado só não vou quando não posso
Ao fado só não dou o que não tenho

Deambulação poética

José Fernandes Castro
Declamado e registado em vídeo por Américo Pereira


Ali, ao dobrar da esquina / Apreciando a beleza
Duma jovial menina / De raça bem portuguesa;
Reparei que a natureza / Tem coisas intemporais
Que talvez sejam normais / Para quem pouco conhece;
Porém, a mim me parece / Que a natureza destina
Uma luz quase divina / Que quase sempre escurece;
E quando o tempo amanhece 
Da forma mais genuina
Qualquer sol desaparece
Ali ao dobrar da esquina

Ali ao dobrar do tempo/ Temendo o tempo que vinha
Reparei quanto é mesquinha / A alma do pensamento;
Tão frágil é o momento / Em que as vidas se desatam
E por vezes se maltratam / Com a dor do sofrimento;
P’la falta de sentimento / Há sorrisos de negrura
O sol é de pouca dura / A lua é raro sustento;
Enquanto no firmamento 
Uma estrela chora triste
Porque pouco ou nada existe
Ali ao dobrar do tempo

Ali ao dobrar da vida / Projetada para a morte
Reparei o quanto é forte / A memória da partida;
Ai sorte... maldita sorte 
Que andas de mim fugida
Desviando-me do norte
Ali ao dobrar da vida

A linguagem do amor

José Fernandes Castro
Declamado por Américo Pereira  

Quando as palavras são poucas
Para decifrar desejos
Existem as nossas bocas
Que beijando como loucas
Falam através dos beijos

Quando a força dos abraços
Não nos faz sofrer de dor
Estreitando nossos laços
Damos passos e mais passos
Na estrada do amor

Quando não há brancas rosas
No nosso amor sem idade
Nas nossas mãos carinhosas
Meigas e silenciosas
Há aromas de verdade

E quando estivermos sós
Numa distância maior
Através da minha voz
Inventarei para nós
A linguagem do amor

Mensagem da distância

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Américo

Daqui, desta cidade apetecida
Refúgio do meu fado redentor
Te envio rosas brancas, minha querida
Em paga do teu doce e grande amor

Daqui também te envio este poema
Ditado pela voz com que te canto
Tu és musa real deste meu tema
Por ti, a solidão não me dói tanto

Aqui, nesta distância que faz lei
O luar não tem um brilho natural
Confesso meu amor, que já nem sei
Se a vida é primavera ou vendaval

Vou tendo a minha cruz, mas no entanto
Consigo ser feliz, porque te quero
Apenas tenho sonhos de quebranto
Na noite em que por ti sou desespero

Fado que é fado

José Fernandes Castro / Jorge Goes
Repertório de Jorge Goes

Fado que é fado vive no tempo
Cantando vidas divididas p'lo amor
Fado que é fado nasce por dentro
Curando feridas provocadas pela dor

Fado que é fado é voz dum povo
Que não rejeita tempestades de paixão
Fado que é fado, velho ou mais novo
É lei que aceita as vontades que lhe dão

O fado é luz que faz viver… 
Destino-sorte
Que nos faz bem porque traduz 
Sonho e prazer
Estrela do norte que nem toda a gente tem
O fado é luz que nem todos podem ter


Fado é poesia, mensagem bela
Rima perfeita quando o sonho somos nós
É melodia, simples, singela
Que se deleita quando a alma ganha voz

E quando o fado, ganha o direito
De se embalar na voz sublime da saudade
Fica apertado, este meu peito
Numa viagem sem perder a liberdade

Rapsódia fadista

Domingos Silva / Manuel Maria Rodrigues / Popular
Repertório de Mário Rocha


Marcha do Manel Maria
Bairro Alto, meia noite
Uma sala, pouca luz 
A guitarra e o seu trinado
Não há ninguém que se acoite
Que o fado a todos seduz 
Quando se trata de fado

Nesse ambiente fadista
Sente o fadista mais garra 
E o fado tem mais calor
Quando as mãos dum guitarrista
Fazem chorar a guitarra
E alguém canta o menor

Fado Menor
Minha guitarra querida 
Tu és minha, eu de ti sou
Alma coração e vida 
Eu tudo, tudo te dou

Guitarra, de mim tem dó
Quando eu morrer, nesse dia
Não me faças sentir só 
Por Deus, faz-me companhia

Fado Mouraria
O fado é divina reza
E o bom fadista de garra
Traz a sua vida presa
Às cordas duma guitarra

A rua mais lisboeta

Lourenço Rodrigues / Vasco de Macedo
Repertório de Hermínia Silva 

Cá p'ra mim a minha rua 
É um risonho canteiro
Tem gatos miando à lua 
Nos telhados em Janeiro 

Tudo ali é português 
Tudo lá vive contente
Vive o pobre e o burguês 
É pequenina?... talvez 
Mas cabe lá toda a gente 

Melhor nunca vi, que a rua onde nasci 
Rua pobrezinha, mas tem uma graça infinda 
É humilde, qual aldeia 
Embora digam que é feia
Cá p'ra mim é a mais linda 

Não há ódios nem maldade
Tudo ali é singeleza
Não pode haver na cidade 
Rua assim mais portuguesa

Nada tem que seja novo
Essa rua da gentalha
Ali canto e me comovo 
Pois é rua do povo 
Que labuta e que trabalha

Por ti

António Mourão / Zélia Rosa Pinto
Repertório de António Mourão

Não quero, não, eu não vou implorar
E não me quero lembrar
O quanto tu foste louca
Não quero, por ti já sofrei demais
Vou afogar os meus ais
E o meu pranto, em outra boca

Ai… por ti
Por ti que nada me deste
Que tanto mal me fizeste
A minh’alma está vencida
Por ti 
Em que eu, louco acreditei
Que louco de amor lutei
Ando perdido na vida


Não quero ver-te mais no meu caminho
Ando na vida sozinho
Se é esse o desejo teu
Não querom lembrar sequer o momento
Que afinal, p´ra meu tormento
O teu amor não é meu

Por causa dos teus ciúmes

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Dizem que os altos rochedos
Contam segredos ao mar
Eu contei os meus segredos
A quem os anda a contar

Ouvi dizer que os pinheiros
Gemem p’las noites sem fim
Eu gemi dias inteiros
Sem ninguém ter dó de mim

O céu, às vezes tem pranto
Capaz de encher o mar largo
Eu por mim, não choro tanto
Mas o pranto é mais amargo

Dizem que o choro da nora
É feito do peso d’água
Também a minh’alma chora
Carregadinha de mágoa

Dorme a fonte ao abandono
De noite, nos altos cumes
Só eu não posso ter sono
Por causa dos teus ciúmes

Cidade do meu poema

José Fernandes Castro / Joaquim Campos (fado tango)
Repertório de Nano Vieira

Cidade que vais crescendo
Em perfeita liberdade
Em ti se vão escondendo
E também se vão perdendo
Os traços da mocidade

Vais mudando lentamente
A imagem do teu povo
Vais ficando diferente
E a alma da tua gente
Gosta do teu fato novo

Tens perfil mais sedutor
Tens mais sol e mais luar
Agora estás bem melhor
Porque já consegues pôr
Fantasias no olhar

Cidade, cresce depressa
Mas cresce com humildade
Nunca percas a cabeça
P’ra que o povo não esqueça
Que rimas com liberdade

Tenho falado de amores

Antero de Quental / José Marques do Amaral
Repertório de Camané
Também gravado com o título *Maria*


Tenho cantado esperanças
Tenho falado d’amores
Das saudades e dos sonhos
Com que embalo as minhas dores

Eu cuidei que era poesia
Todo esse louco sonhar
Cuidei saber o que é vida
Só porque sei delirar

Eram fantasmas que a noite
Que a noite trouxe e o dia levou
À luz da estranha alvorada
Hoje minh’alma acordou

Esquece aqueles cantos
Só agora sei falar
Perdoa-me esses delírios
Só agora soube amar

O teu sol posto

José Fernandes Castro / Francisco Viana *fado vianinha
Repertório de António Passos


Pintei o teu lindo rosto
Na tela do pensamento
Agora sinto cá dentro
A beleza do sol posto

Pintei o teu lindo olhar
Com o lápis da ternura
E senti quanta doçura
Tens, na forma de beijar

Pintei o brilho da lua
No céu do teu ideal
Para tornar sensual
O luar da tua rua

Depois pintei o desejo
Na magia dum sorriso
E através do teu beijo
Conheci o paraíso

Os meus versos

Florbela Espanca / Paulo Valentim
Repertório de Kátia Guerreiro


Rasga esses versos que eu te fiz, amor
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento
Que a tempestade os leve, aonde fôr

Rasga-os na mente se os souberes de cor
Que volte ao nada, o nada de um momento
Julguei-me grande pelo sofrimento
E pelo orgulho, ainda sou maior

Tanto verso já disse o que eu sonhei
Tantos penaram já, o que eu penei
Asas que passam, todo o mundo as sente

Rasga dos meus versos!... pobre endoidecida
Como se um grande amor, cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente

Amor total

José Fernandes Castro / Armando Machado (fado santa luzia)
Repertório de Mariana Correia

Temos encontro marcado
Num poema inacabado
À espera dum final
Somos a alma perfeita
Da paixão que só se deita
Em nome do amor total

A nossa cama é o tempo
Onde corpo e sentimento
Combinam na perfeição
O nosso mundo é o amor
Que tem o real sabor
Das coisas do coração

Temos encontro marcado
Nas rimas do mesmo fado
Que baila na nossa voz
Este amor, quase loucura
Desperta em nós a ternura
O resto... fazemos nós

O banco da felicidade

José Fernandes Castro / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Júlia Cancela

Meu amor, a primavera
Continua à nossa espera
No banco da felicidade
Na solidão do meu dia
Vou vivendo a fantasia
Que não me conta a verdade

Meu amor, a lei da vida
É esta ânsia sofrida
Que me rouba o som da voz
Trago a minh’alma quebrada
P’la falta da madrugada
Que despertará por nós

O sol da minha esperança
É luz que jamais se alcança
Porque me falta fulgor
No calor do meu pecado
Vou abafando este fado
Que fala do teu amor

Vou vivendo tempestades
Vou suportando saudades
P’ra melhor me compreender
Meu amor, a primavera
Continua à tua espera
No banco do meu viver

Pedi um beijo

José Fernandes Castro / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Júlia Cancela

Pedi um beijo á saudade
P’ra lhe saber o sabor
Mas tal beijo, na verdade
Não me soube ao teu amor

Pedi um beijo ao luar
Que mora na tua rua
P’ra poder saborear
O ar que por ti flutua

Pedi um beijo á beleza
Que te vai beijar o rosto
Só para teres a certeza
Que é de ti que tanto gosto

Era tão grande o desejo
De te beijar docemente
Que fui sonhar o teu beijo
Nos lábios do amor ausente

Provérbio ao contrário

Letra e música de Jonas
Repertório de Jonas


Um gato escaldado de água fria tem medo
Ah pois não, com razão
Sou água morna a furar pedra dura de xisto
E eu insisto
Eu podia ter sido ladrão
Não faltou a ocasião

Mas eu sou quem tudo quer
Tudo sonha e alcança
Que Deus guarda o borracho e a criança
Fui um hábito, encarnei um monge
Passando a passo largo
Quem depressa vai ao longe

Sou o provérbio ao contrário
Eu cá não caio no conto do vigário
Sou o provérbio ao contrário
Eu cá não caio no conto do vigário


Eu podia roubar o ladrão
Com direito a 100 anos de perdão
Mas eu sou quem tudo quer
Tudo sonha e alcança
Que Deus guarda o borracho e a criança
Fui um hábito, encarnei um monge
Passando a passos largos
Quem depressa vai ao longe

Pelas ruas do meu fado

José Fernandes Castro / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Júlia Cancela


Pelas ruas do meu fado
Vagueia um fado sem cor
O meu sonho amargurado
Anda triste, anda cansado
De sonhar o teu amor

Pelas ruas onde passo
Tudo me fala de ti (todos me falam)
Já não suporto o cansaço
De sentir que me desfaço
Na praia que construí

Construí com devoção
Um castelo em (de) maré cheia
Construí, mas foi em vão
Porque sem teu coração
Fiz um castelo de areia

E sempre que o meu castelo
É assaltado por ti
Eu vejo o mundo mais belo
E abandono o pesadelo
Dum sonho que não vivi

Ente parênteses: a
lterações feitas intérprete

O que é feito dela?

Letra e música de Miguel Araújo Jorge
Repertório de António Zambujo


À janela eu sei que ela / Há muito não se penteia
Na minha rua, a sua sombra / Há muito não se passeia

Que é do furtivo olhar / Que um dia íamos trocar?
Que é de todas as coisas / Que eu tinha para lhe contar

O que é feito dela?
Será que aceitou o convite de alguém
Será que anda triste e não quer ver ninguém?
O que é feito dela?


Que é feito das cidades / Que eu tinha para lhe mostrar
Que é desses filhos todos / Que ela tinha pra me dar

Que é do nosso eterno amor / Do meu furtivo olhar
E da desculpa que é bom / Que ela tenha pra me dar

Minha boca não se atreve

Amália Rodrigues / Fontes Rocha
Repertório de Amália


Não se atreve a minha boca
Que eu não a deixo atrever
A dizer que eu ando louca
Que ando louca por te ver

Não se atreve a minha boca
Ao grito que eu quero dar
Não se atreve a minha boca
Que eu não a deixo gritar

Minha boca não se atreve
Não segue o meu coração
E não diz o que não deve
É a minha expiação

Minha boca não se atreve
A dizer o que lhe digo
Se ela se atrever em breve
Sabes que sonho contigo

Ai minha boca atrevida
Tu já mo disseste a mim
E encheste a minha vida
Desse segredo ruim

Como te vi

Filomena de Sousa / Pedro Rodrigues
Repertório de Filomena de Sousa

Ouvia falar de ti
E sonhei vezes sem fim
Aquela noite de março
Em silêncio pressenti
Teus lábios, juntinho a mim
E nós dois no mesmo abraço

Com a paixão aumentando
Dei por mim esvoaçando / Nesse amor apaixonante
Julgava ter-te só meu
Ser só nosso o azul do céu / E eu sempre tua amante

Silêncio, não digas nada;
Disseste tu sem falar / Devorando os olhos meus
A boca ficou calada
P’lo beijo que soube dar / Abençoado por Deus

Depois fomos para casa
Perder os cinco sentidos / Como quem perde a razão
Silêncio, não digas nada
E ficamos mais que amigos / A falar pró coração;
Silêncio, não digas nada
E ficamos mais que amigos / Enleados em paixão

Menino de Abril

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Eu nasci, bem demais, em Abril
Eram três da manhã
Minha Mãe era nova, tão nova
Que foi minha irmã
Os seus olhos arderam de amor
Dessa dor de mulher
O seu seio, em flor, agarrei-o
Bebi-o, para viver

Fui criança num mundo em que o Mundo
Era eu que inventava
Fui “cow-boy”, fui toureiro, palhaço
E também rezava
Cresci com um pé no terror de a noite chegar
E meus sonhos serem de bruxas e ter de sonhar

Minha Mãe, sempre nova, tão nova
Olhava contente
Para os olhos, que eu tinha, tão tristes
Mais que toda a gente
Sem pensar, nem sonhar, que eu matara
O menino de Abril
E que a dor, que eu sentira, ao nascer
Se dividira em mil

Hoje, trago na boca palavras que nunca escrevi
Poemas de amor, infantis, para os quais não cresci
No meu corpo o cansaço é adulto, o amor uma espera
Invenção amarga e dura do poeta criança que eu era

A vida é cheia de espinhos

Letra de João de Freitas
Do arquivo de Luís Alberto Freitas Hilário (neto do autor)
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


A vida é cheia de espinhos
Para quem for infeliz
Pois quem não tiver carinhos
Nunca pode ser feliz
Pois ela é cheia de espinhos

Todos maldizem a hora
Triste ou boa em que nasceram
Pois há sempre alguém que chora
Os amores que se perderam
E maldizem essa hora

É sempre assim esta vida
Mesquinha, cheia de escolhos
E a felicidade perdida
Conhece-se em muitos olhos
Porque estão fartos da vida

Pois se até as próprias flores
Quando murchas, sem valia
Já perdidos seus odores
São como nós, dia a dia
Na perdição dos amores

Menina por ser bonita

Mote popular / Glosa de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Menina por ser bonita
Não cuide que mais merece
Quanto mais bela é a rosa
Mais depressa se fenece


Mais simples do que ninguém
Ponha o vestido de chita
Que tudo lhe fica bem
Menina por ser bonita

Mas só porque Deus lhe deu
Uma cara que não esquece
Não pense que o mundo é seu
Não cuide que mais merece

A vida tem maus caminhos
A sua estrada é perigosa
Tanto maiores são os espinhos
Quanto mais bela é a rosa

Não tenha pressa d’amar
Quando um amor aparece
Amor que não faz esperar
Mais depressa se fenece

Quadras soltas

Frederico de Brito
Transcritas do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não me fales que eu não posso
Atender a tua dor
Estou rezando um Padre Nosso
Por alma do nosso amor

O ribeiro não corria / Quando o teu lenço lavavas
Parou, a ver se aprendia / As cantigas que cantavas

À fonte de São João / Fui lavar penas e mágoas
As penas tão negras são / Qu’enegreceram as águas

Já a água do regato / Anda de noite a ralhar
Com teu coração ingrato / Que tanto me faz penar

Que o amor nasce da chama / Dum olhar, é ironia
Porque o cego também ama / Sem ter visto a luz do dia

No céu faltam duas ‘strelas / As de mais lindo fulgor
Pois Deus quis fazer com elas / Os olhos do meu amor

Negros ciúmes de amor / Quem nunca os exp’rimentou
Não sabe a coisa pior / Que Deus ao mundo deitou

Saudade é a flor mais linda / Que dentro em noss’alma vive
Saudades tenho-as ainda / Das saudades que já tive

As mais lindas bailarinas / E as que bailam melhor
São essas lindas meninas / Dos teus olhos, meu amor

Tu tens um ar apressado / E passas por tudo a rir
Olha que um passo mal dado / Pode fazer-te cair

Das tuas juras d’amor / Quis na feira fazer venda
Mas de tanto comprador / Nenhum gostou da fazenda

Para se poder cantar / O Fado, quando se adora
Basta apenas atirar / A alma p’la boca fora

Olhas pr’á Virgem e rezas / E eu julgo ver, nessa hora
Mais duas velas acesas / No altar de Nossa Senhora

Traz as palavras contadas / Vê lá bem com quem te expandes
Pois é dos pequenos nadas / Que nascem as coisas grandes

Para amar, tem sempre tento / Nunca é bom amar demais
Porque os moinhos de vento / Não moem com temporais

Vidas felizes, são raras / Quantas vidas há perdidas
Que, depois de rir às claras / Vão chorar às escondidas?

Mulher, fazes mal se casas / Sem uma paixão ardente
Olha que o lume sem brasas / Apaga-se facilmente

Quando tu fias o linho / Até o linho sorri
E o fuso põe-se mansinho / Bailando junto de ti

Cautela, ninguém se gabe / De ter tudo o que lhe apraz
Quem não tem nada é que sabe / A falta que tudo faz

Perdida no meio dum ermo / A casinha onde nasci
Parece um velhinho enfermo / Que nunca mais sai dali

Meu pequeno povoado / À luz do luar mansinho
É um cacho sulfatado / Beijando o pó do caminho

Planta de vários matizes / É meu Portugal jucundo
Que soube criar raízes / Nas cinco partes do mundo

Se o teu olhar visse um dia / Como trago o peito aflito
Tua boca não dizia / Metade do que tem dito

Tu disseste que eu partira / De ti, cheio de saudade?!
Tens dito tanta mentira / Mas desta vez foi verdade

Não há lábios como aqueles / Nunca vi lábios assim
Quanto mais perto estou deles / Mais longe ficam de mim

A água da fonte é louca / Anda p’ra aí a dizer
Que já te beijou a boca / Quando lá foste beber

Onde a saudade se deita

Letra e música de Ricardo Martins
Repertório de Filomena Sousa


Escrevemos um poema de vida
Com letras de ternura na palma da mão
Achamos a esperança perdida
Fizemos deste abraço a nossa canção

Cada momento que estamos a sós
É tempo de magia perfeita
Quando estamos distantes fazemos de nós
O leito onde a saudade se deita

Ai este amor
É canto, é silêncio, é grito, é libertação
Aí este amor
Centelha que ateia a fogueira de um coração
Que vive por amar


Fizemos da tormenta a bonança
Com beijos de sorrisos tocamos o céu
Num sonho que de sonhar se cansa
Seremos bem reais neste amor, tu é eu

Cada suspiro arrancado de nós
Encontra nos desejos guarida
Quando nos enlaçamos embarga-se a voz
Num fado de saudade perdida

Brinquedos de brincar

Letra de Linhares Barbosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se o teu filhinho sonhar
Com brinquedos do Natal
Não o acordes... faz mal
Um lindo sonho cortar

No pinheirinho pequeno
Põe brinquedos de brincar
Porque Jesus Nazareno
Outros não podia dar

Não lhe dês armas sangrentas
Que não são para estimar
Dá-lhe livros, ferramentas
Que não sejam de matar

Brinquedos, aos pequenitos
Nem todos se devem dar
Que nem todos os bonitos
São bonitos de brincar

O dom da vida

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se olhares para o teu futuro com um sorriso
Com um sorriso ingénuo de criança
Segue em frente, pois tens o que é preciso
P’ra ser feliz na vida, tens a esperança

Se ao lembrar o passado com saudade
O consegues fazer alegremente
Tu não perdeste a tua mocidade
Pois estás a vivê-la novamente

Se o bem tu souberes agradecer
Se sabes perdoar ao inimigo
Tens tudo o que é preciso p’ra viver
Tens o amor de Deus, tens Deus contigo

Se o que anseias a vida te não der
A vida continua a ser um bem
Feliz não é quem tem tudo o que quer
Mas quem gosta de tudo quanto tem

Praias desertas

Letra e música de Carminho
Repertório da autora

As praias desertas que eu vi nascer
São horas tão certas do meu crescer
Não julgues que o mar não te traz a mim
Se olhares bem no fundo, tu verás que sim

Estou nos cabelos, no vento que ao tê-los
Sussurram meu pranto, embalam meu canto
Se entoares bem alto com os pés no areal
E olhares bem em frente, ver-me-ás afinal

Oh meu amor eu nunca te esqueço
O meu amor e uma linha que meço
Sem tempo, nem guia, imagem nem chão
A praia deserta é a tua mão


O medo do azul que vês além
É a ilusão de não estar ninguém
as tu tens a fé, a praia nasceu
Venho co’a maré que sempre traz o que é seu

Onde morrem as saudades

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Onde morrem as saudades
E os olhos mudam de cor
São mais duras as verdades
Por serem todas de amor

Quando vens, o teu sorriso / Tem a luz de mais um dia
Cai a noite e eu preciso / Que tu venhas e sorrias

Saudades são más lembranças 
Dos olhos de quem não ri
As que trago são esperanças
Todas quantas sinto em ti

Pelo sol que trago enfim / Nos meus olhos por te ver
Sei que tudo agora em mim / Será teu até morrer

Que estranho mundo inventei
Para te ter a meu lado
Partiste mas eu fiquei
E mais um sonho acabado

Perdoa meu amor

Manuel Carvalho / Armandinho *alexandrino do Estoril*
Repertório de Filomena de Sousa

Perdoa meu amor, mas ando tão cansada
Das noites perdidas, sem ti a meu lado
Só vives pró fado, e é longa a madrugada
Os teus beijos amor, já rimam com passado

Perdoa meu amor, pode até ser intriga
Disseram-me há pouco, amas outra mulher
Só culpo o teu fado, e sei que não se obriga
O coração a gostar de quem ele não quer

Perdoa meu amor, digo-te neste fado
Não quero mais chorar, promessas esqueci
Talvez algum dia, teu coração gelado
Te lembre o meu amor e o quanto chorei por ti

Perdoa meu amor, agora também canto
Fica com teu fado, eu fico com o meu
Vou trocar teus beijos por lágrimas e pranto
E tentar ser feliz, com o que Deus me deu

Amor tão nosso

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de José Neves (ao vivo)


Quem fez o nosso amor soube o que fez
Ao dar-lhe o som dum fado que é só nosso
O nosso amor cantado em português
Mantém os corações em alvoroço

Quem fez o nosso amor deu-lhe o ciúme
Normal, como normal é a certeza
Que mesmo nos momentos de azedume
A chama da paixão mantém-se acesa

Quem fez o nosso amor também lhe deu
O brilho duma lágrima furtiva
A ligação do mar ao próprio céu
Mantém a natureza sempre ativa

Pensando bem melhor... o nosso amor
Que tem deixado as mágoas pra depois
É o jardim perfeito que deu flor
Pois quem fez o amor, fomos nós dois

Não duvides deste amor

Nair Silva / Manuel Reis
Repertório de Maria do Sameiro

Invadiste a minha vida
Como quem não quer entrar
Hesitaste e se seguida
Já só querias ficar

Deixaste a porta entreaberta
E eu não a quero fechar
Será livre a descoberta
Do prazer que te vou dar

Eu sei que o teu sorriso
Mais ateia o meu desejo
E encontro um paraíso
No ardor de cada beijo

Quero força no abraço
Ternura no teu olhar
Quero que ocupes o espaço
Que encontraste para amar

Não duvides deste amor
Liberta o teu coração
Vive como um sonhador
Ao sabor desta paixão

Foi amor

José Guimarães / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Filomena Sousa


Perdida de paixão na madrugada
Sonhei com este amor, durante o dia
De tarde passeamos de mão dada
À noite no teu ombro adormecia

Dos dois, a nossa vida fez-nos três
Por esta, luz ao céu agradeci
Mas desfizeste a conta que Deus fez
Com alguém... que se esquecerá de ti

E quando acordares deste teu sonho
Nas cinzas desse fogo sem verdade
O que sobra dessa noite, eu suponho
Teu pesadelo chamado realidade

Agora sem amor e sem vontade
Sozinha, só eu sei o que chorei
Nas lágrimas o sal sabe a saudade
Ninguém te vai amar, como eu te amei

Ai se eu pudesse

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Eu quero esquecer o dia / E aquela hora fatal
De passageira alegria / E a causa deste mal

Relembro as juras d’amor / Origem do meu sofrer
E vivendo nesta dor / É impossível viver

Ai se eu pudesse
Arrancar do coração
A mágoa desta ilusão
E da qual tu ‘inda ris
Ai se eu pudesse
Olvidar a minha sina
E esta dor que me domina
Talvez eu fosse feliz


Mas de que serve eu andar / Pensando na felicidade
Se o meu destino é penar / Sempre atrás duma saudade

Mas embora já sem esp’rança / De findar o meu tormento
Talvez um dia a bonança / Me traga o esquecimento

Minha filha, meu verso

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de Manuel Barbosa


Minha filha, meu verso tão amado
Minha razão de vida preenchida
Inspiração suprema do meu fado
Valor que valoriza a minha vida

Na paz do teu sorriso encantador
Eu sinto renascer um novo dia
No meu jardim és tu a linda flor
Exalando perfume de magia

O teu olhar de musa deslumbrada
Desperta o encantamento do amor
E a tua pequenez tão perfumada
É o meu maior poema de louvor

Em cada beijo teu, respiro vida
Por ti, serei poeta compensado
Minha razão de vida preenchida
Minha filha, meu verso tão amado

Eu sou do Fado

José Guimarães / José Luís Guimarães
Repertório de Filomena de Sousa


No fado há sentimento
Sempre que chora a saudade
Na tristeza do lamento
De quem ama de verdade

Mas quando voltas p’ra mim
No meu olhar abraçado
Baixinho digo-te assim
Eu sou de ti, eu sou do fado

Eu sou do fado da vida bairrista
Eu sou do fado e canto com garra
E no meu fado não há quem resista
À voz da fadista de xaile e guitarra


No fado há tanta ternura
Quando se canta o amor
A felicidade mais pura
Que tu trazes numa flor

A minha vida contigo
No meu corpo aconchegado
Quando és o meu abrigo
Eu sou de ti, eu sou do fado

Nasci na noite sem berço

Jorge Fernando / José António Sabrosa
Repertório de Artur Batalha


Nasci da noite sem berço
Num leito sem condição
Minha mãe rezando o terço
Morreu com o terço na mão

Dormindo só, em dispor
Da bênção de minha mãe
Cresci sedento de amor
Sem chamar mãe a ninguém

Foi por isso que aprendi
A rezar, não sei com quem
E a rezar sempre pedi
Que tu me guiasses, mãe

A tristeza que me toca
É saber que hoje aqui 'stou
Por ter vindo ao mundo em troca
No mundo que me gerou

Segue em frente

Letra de Isidro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não chores o passado, segue a vida
A felicidade perdida 
É morta, não tem valor
Não te agarres à saudade
Tu só terás felicidade 
Se encontrares um novo amor

Não queiras reviver o que morreu
Aquilo que se perdeu / Nunca mais volta a viver
Do que foi um grande amor
Só resta traição e dor / Que só te fará sofrer

Liberta a tua alma da saudade
Agora tem liberdade / P’ra fazer o que quiseres
Olha p’ra vida e sorri
Há sempre quem espere por ti / No meio de tantas mulheres

Amor não é saudade é sentimento
Logo cai no esquecimento / Quando outro amor aparece
Se encontrares um novo amor
Vai-se a tristeza e a dor / Tudo passa, tudo esquece

Fado desquitado

Torre da Guia / Lino Lobão
Repertório de Filomena Sousa


Nunca é bom retomar / O que atrás já está errado
Ou sequer fazer mais fado / Que não dá para cantar

Não adianta embalar / Um berço que está vazio
Ou dar mais fio ao fio / Que se está a ensarilhar

Não ponhas na minha boca
A trama que eu desconfio
Nem dês mais volta à roca
Que podes partir o fio
Tece-tece e entretece
Mas não me teças a mim
Porque o que demais aquece
Chega sempre frio ao fim


A louça quando se parte / Ou se perdem alguns cacos
Hoje em dia prós agrafos / já não há engenho e arte

De resto de parte a parte / Doa a dor o que doer
O melhor é desfazer / Do que errares-me e eu errar-te

Não sou poeta

Letra de Artur Soares Pereira
Transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ao chamar-me poeta, trovador
Decerto formulou critério errado
Senhora: eu sou um simples amador
E apenas faço versos para o Fado

O chamar-me poeta é despertar
Em mim sonhos, quimeras, ilusões
Por me julgar capaz, já, de ombrear
Com o vate imortal que foi Camões

E tal como você, uma enfermeira
Que cumpre a sua sina redentora
Decerto considera brincadeira
Quando eu passo e a trato por Doutora

Entre nós, as distâncias são iguais
Pois tanto um como o outro está distante
E tinha de estudar mais, muito mais
Para atingir esse ponto culminante

Escute, pois, um conselho muito meu,
Que não tenho pretensões a ser profeta
Está tão longe de Doutora, como eu
Estou longe, também, de ser poeta

A uma enfermeira que passou a cumprimentar o autor com um 
«Bom dia, Sr. Poeta», depois de ouvir fados seus cantados num 
«Natal dos Hospitais» transmitido do Hospital de S. José, onde trabalhavam.

Confessando-se apenas letrista, o autor ainda tentou demover a colega
comprometendo-a com um «Bom dia, Sr.ª Doutora», mas a brincadeira 
só terminou quando lhe entregou estes versos.

Por causa do teu olhar

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Prendi-me no teu olhar
Mas nem vi que me prendi
Agora tenho que andar
Toda a vida presa a ti

O meu coração coitado 
Só merece compaixão
Faz lembrar um condenado 
Que se entregou à prisão

Os meus olhos deprimidos 
De terem chorado tanto
São dois náufragos perdidos 
No mar largo do meu pranto

Por ti meus lábios passaram
Por vendavais de desejos
Por causa disso ficaram
Encharcadinhos de beijos

Tem pena de mim por Deus
Olha p’ra o que eu já sofri
Não leves os olhos meus
Perdidos atrás de ti

O grito da terra

Domingos Silva / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Maria Amélia Proença

Que os campos tenham mais área
Mais cultivo, mais acão
Só com a reforma agrária
É que todos terão pão

Deixai o trigo nascer / Nas terras bem amanhadas
Como é belo ver crescer / Lindas espigas doiradas

De flor (?) o loiro trigo / Grito que a terra espalha
Tu és o melhor amigo / De quem a terra trabalha

O pão que a gente consome / Ganho com suor do rosto
É pão que nos mata a fome
Sem o travo do mau gosto

Não te dou meu coração

António Vilar da Costa / José Joaquim Rosa 
Repertório de Francisco Martinho

Eu não posso nem brincando
Ver teu rosto que esqueci
Não posso porque já ando
Ceguinho d’amor por ti

Meu juramento é sincero
O meu desprezo é profundo
Juro que já não te quero
Longe de mim um segundo

Não te dou meu coração
Nem posso dar-te uma esperança
Eu que sei amar tão bem
Também sei o que é vingança;
Não fui eu que te enganei
Foste tu que me enganaste
Não te dou meu coração
Não te dou meu coração
Porque tu já mo roubaste


Eu não quero nem desejo
O calor da tua boca
Não quero nem mais um beijo
Porque um beijo é coisa pouca

Para que não me endoideças
Eu peço que nunca mais
Que nunca mais me apareças
Meu amor, tarde demais

Lisboa, o Tejo e o mar

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vem correndo pelo Tejo
Água de fontes nascida
No alto da serrania
Doce como um doce beijo
Viva como a própria vida
Traz saúde e alegria

Água salgada do mar
Vem convidando à aventura / Na ânsia de liberdade
Mas na hora de embarcar
Há lágrimas de amargura / Salgadas pela saudade

As lágrimas de saudade
Salgavam o próprio mar / Ao partir das naus de Goa
Mas o sal da tempestade
Ficava doce ao voltar / À Ribeira de Lisboa

Sem descanso, noite e dia
Juntam as águas na barra / Tejo doce e mar salgado
A tristeza e a alegria
Juntam-se ao som da guitarra / E Lisboa canta o fado

Paixão ternurenta

José Fernandes Castro / Joaquim Pimentel *a rosa e o chico*
Repertório de Filomena Sousa

Subindo contigo à lua
Numa nuvem ternurenta
O teu olhar insinua 
Uma paixão violenta
Tão violenta, tão forte
Cheia de mel e feroz
Que chego a perder o norte 
No rumo da tua foz

Saltando barreiras
Passando fronteiras que a vida apresenta
Vamos colorindo
Este sonho lindo se paixão violenta
De abraço em abraço
Ganhei um espaço no teu coração
E de beijo em beijo
Aumenta o desejo de amor em paixão


O elo que nos uniu 
Trouxe mais luz e mais cor
Decerto jamais se viu 
Um amor com tanto amor
Somos dois parecendo um 
Vivendo no mesmo fado
Amor igual a nenhum 
Com o destino marcado

Não sei viver sem o amor

Letra de Isidoro de Oliveira
Repertório de Ana Marina
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Coração se não cabes no meu peito
Só no amor tu podes descansar
Mas deixa de fazer o que tens feito
Fugindo do amor p’ra ir amar

P’ra que queres coração a liberdade
Se ao ser livre procuras um senhor
Porque andas em busca da verdade
Desprezando a verdade do amor

Quando és livre procuras a prisão
Levando o pobre corpo acorrentado
Pára a tua loucura, coração
Tem pena deste corpo já cansado

Eu sinto, coração, que és um traidor
Mas não posso fugir à minha sorte
Como não sei viver sem o amor
Hei-de ser tua escrava até à morte

Nem saudades do passado

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Nem saudades do passado
Nem versos de tradição
O Fado p’ra mim é Fado
É vida feita canção

Lembrar é mais que morrer
É parar deixar a vida
Ninguém me verá sofrer
Por uma esperança perdida

Os versos tristes que canto
São por alguém não por mim
Qualquer pranto tem encanto
Gosto de viver assim

Cesaltina

Letra de Artur Soares Pereira
Criação de Fernando de Oliveira

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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Era a linda Cesaltina
Moça por quem me perdi
Dona de ternos olhares
A mais bonita varina
Das muitas que eu conheci
Na Rua Morais Soares

Trajava sempre a rigor / Saia, blusa e chinela
E um lindo avental de folhos
Cesaltina era um amor / E quem olhasse p’ra ela
Ficava preso aos seus olhos

Mas um dia, é natural
A Cesaltina deixou / De dar conversa a qualquer
Aconteceu, foi fatal
Um, por quem se apaixonou / Fez dela a sua mulher

Agora, por sorte sua
Tem futuro mais brilhante / Porque nova vida abraça
Deixou de vender na rua
Virou em comerciante / Tem uma banca na praça

Hoje, ao passar p’la esquina / Da Cavaleiro d’Oliveira
Já não procuro os olhares
Da bonita Cesaltina
A mais formosa peixeira / Da Rua Morais Soares

Há-de passar

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Há-de passar lentamente
A loucura de te amar
Passa tudo p’ra quem sente
A própria vida passar

Há lírios brancos nos montes
Lírio branco, rosa triste
Há água pura nas fontes
Só tu, meu amor, partiste

Há na terra e há no céu
Tanta estrela como havia
Só em mim escureceu
Tanto a noite como o dia

O roteiro do passado

José Fernandes Castro e Serafim Gesta / José Duarte *fado seixal*
Repertório de José Giesta


Vejam bem como é bonito
O fontenário de agora
Tem Santo António no meio
E no nicho do passeio
Tem também Nossa Senhora

Eu não me posso esquecer / Num roteiro do passado
Os operários artistas / Que por serem bons fadistas
Valorizaram o fado

O Cunha o José da Gama / E o Avelino Gesta
Foram alguns dos cantores / Poetas e trovadores
Todos de origem modesta

As castiças sardinheiras / Soltavam pregões à toa
E a mente mais recatada / Lembra Maria Parada
E também Linda Pinhoa

Este fado tão singelo / Não fala de toda a gente
Porém fala da saudade / Que ficou na mocidade
Mas que no peito se sente

Boémio poeta

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Boémio, poeta louco
Cantou arrastado e rouco
Com palavras mal rimadas
Esses teus versos sem brilho
São como passos sem trilho
Como rosas desfolhadas

Vagueias pelas tabernas / A cantar quadras eterna
Cantar arrastado e rouco
Ó meu triste vagabundo / Pelas ruelas do mundo
Boémio, poeta louco

Choras nas noites de farra / Ante o trinar da guitarra
Mas não tens medo da fome
És famoso pelas tascas / Pelas tabernas mais rascas
Mas ninguém sabe o teu nome

Guardas no teu coração / A ébria recordação
Dum sorriso de mulher
E a cantar de improviso / Enquadras esse sorriso
Numa outra cara qualquer

Não serve, fica-lhe mal / Nunca houve outra igual
Dizes já chorando rouco
E mergulhado no tinto / Tornas-te um vulto indistinto
Boémio, poeta louco

As coisas são o que são

Letra de Linhares Barbosa
Publicada no jornal “Guitarra de Portugal” em Maio de 1939
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Sabes lá quanta tristeza
Eu tenho em gostar assim
De ti e ter a certeza
Que tu não gostas de mim

Há grande desigualdade / Entre nós, e não parece
Eu gosto por amizade / Tu gostas por interesse

Afinal, tu tens razão / Eu é que a não qu’ria ver
As coisas são o que são / Não o que deviam ser

É justo que tu me queiras / Somente por ambição
Temos muitas algibeiras / E apenas um coração