Alves
Coelho e Raul Portela / S.Tavares, F.Romano e A.Carneiro
Repertório
de Fernando Madeira
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Criação de Alfredo Pereira na
revista *Rosas de Portugal*
Éden
Teatro, 1927
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
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Ao
fogacho da fornalha
Donde sai o ferro quente / Que se amolda a fantasia
O ideal de quem trabalha
É
ganhar honradamente / O seu pão de cada dia
E
esse pão ganho a suar / Para o pobre é um tesoiro
Melhor que o melhor manjar / Servido em baixela d'oiro
Melhor que o melhor manjar / Servido em baixela d'oiro
Torna que
torna bem compassado
Sobre a bigorna do som do malho
Ai reproduz o nosso fado bem fadado
Porque não há fado melhor que o do trabalho
Sobre a bigorna do som do malho
Ai reproduz o nosso fado bem fadado
Porque não há fado melhor que o do trabalho
Os
que passam toda a vida
Trabalhando tendo em vistas / A firmeza dos seus braços
Com a sua fronte erguida
São os grandes idealistas / Deste mundo de madraços
Trabalhando tendo em vistas / A firmeza dos seus braços
Com a sua fronte erguida
São os grandes idealistas / Deste mundo de madraços
E
ao compasso dos martelos / Ou das serras a serrar
O seu sonho é sempre belo / Porque é belo trabalhar
O seu sonho é sempre belo / Porque é belo trabalhar
bem ao estilo do Estado Novo, segundo o qual o operário
deveria manter-se disciplinado, satisfeito com o seu destino e com o seu salário, numa
perspectiva de pobreza evangélica e de renúncia aos atributos das classes ricas:
o trabalho, «Melhor que o melhor manjar / Servido em baixela de oiro».
Tanto mais de estranhar quanto Silva Tavares era alentejano, nascido
em Estremoz, terra de endémica contestação proletária, mas este extraordinário poeta
e autor teatral terminou a carreira como funcionário público, desempenhando
funções de chefia na Emissora Nacional, a estação radiofónica do Estado.