Repertório de Camané
Este poema não sendo quadras alexandrinas, é cantado com arranjos
Mudou muito a minha rua
Quando o outono chegou
Deixou de se ver a lua
Todo o transito parou;
Muitas portas estão fechadas
Já ninguém entra por elas
Não há roupas penduradas
Não há roupas penduradas
Nem há cravos nas janelas
Não há marujos na esquina
Não há marujos na esquina
De manhã não há mercado
Nunca mais vi a varina
Nunca mais vi a varina
A namorar com o soldado;
O padeiro foi-se embora
O padeiro foi-se embora
Foi-se embora o professor
Na rua só passa agora
Na rua só passa agora
O abade e o doutor
O homem do realejo
O homem do realejo
Nunca mais por lá passou
O Tejo já não o vejo
O Tejo já não o vejo
Um grande prédio o tapou;
O relógio da estação
O relógio da estação
Marca as horas em atraso
E o menino do pião
E o menino do pião
Anda a brincar ao acaso
A livraria fechou
A livraria fechou
A tasca tem outro dono
A minha rua mudou
A minha rua mudou
Quando chegou o outono;
Há quem diga "ainda bem"
Há quem diga "ainda bem"
Está muito mais sossegada
Não se vê quase ninguém
Não se vê quase ninguém
E não se ouve quase nada;
Eu vou-lhes dando razão
Eu vou-lhes dando razão
Que lhes faça bom proveito
E só espero p'lo verão
E só espero p'lo verão
P'ra pôr a rua a meu jeito