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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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O céu é testemunha

José Fernandes Castro / Custódio Castelo
Repertório de Julieta Ribeiro


O céu é testemunha verdadeira
Do amor que por ti minh’alma sente
A noite é a minha companheira
E dela fiz a minha confidente

Nas ruas onde a lua já não vem
Vou tendo o meu espaço preferido
Sou sombra que não faz sombra a ninguém
Sou nuvem que não faz nenhum sentido

Por vezes, tenho até a sensação
De ter um peso a mais no pensamento
Apenas tenho sol no coração
Se me sinto tocada p’lo teu vento

No grande amor que tenho p’ra te dar
Existem mil poemas por dizer
Ainda bem que tenho o meu luar
Para sonhar contigo e renascer

Fado mortalha

*duas mortalhas*
Linhares Barbosa / Armando Machado
Repertório de Max
Gravado com o título *duas mortalhas*

Foi na Travessa da Palha
Que um petiz de olhar bizarro
Com outros da sua igualha
Me pediu uma mortalha
Para fazer um cigarro

Acedi naturalmente 
Eu sou assim quando calha
Não é coisa reprimente
A um migalho de gente
Dar a gente uma migalha

Por tal mortalha ter dado 
Um amigo censurou-me
Respondi-lhe revoltado 
Também a fome é pecado
E há muita gente com fome

E o petiz de olhar bizarro 
Disse-me adeus, obrigado
Distraído com o cigarro 
Não viu que passava um carro
E foi por ele esmagado

E na Travessa da Palha 
O garotito morreu
Foi prá vala da canalha 
Mas levou outra mortalha
Novinha, que lhe dei eu

Desde então, sempre que fumo 
Nas fumaças do espaço
Vejo o garoto no fumo 
A pôr luto não costumo
Mas pus um fumo no braço

Fado mortalha

Gravado com o título *foi na travessa da palha*
Linhares Barbosa / Armando Machado
Repertório de Rodrigo


Foi na Travessa da Palha
Que um petiz de olhar bizarro
Com outros da sua igualha
Me pediu uma mortalha
Para fazer um cigarro

Por tal mortalha ter dado 
Um amigo censurou-me
Respondi-lhe incomodado
Também a fome é pecado 
E há tanta gente com fome

E o petiz de olhar bizarro 
Disse-me adeus, obrigado
Distraído com o cigarro
Não viu que passava um carro 
E morreu atropelado

Foi na Travessa da Palha 
Que um garotito morreu
Foi p’rá vala da canalha
Mas levou outra mortalha 
Novinha, que lhe dei eu

Nos cigarros que consumo 
Nas fumaças que desfaço
Vejo o garoto no fumo
A pôr luto não costumo 
Mas pus um fumo no braço

Lenda da Amendoeira

Carlos Conde / Gabino Ferreira
Repertório de Gabino Ferreira

Quem passar a hora morta 
P’la Rua da Amendoeira
Repare bem numa porta 
Com dois degraus de soleira

P’lo postigo ou através 
Da janela em gilhotina
Vê-se uma cruz e a seus pés 
A luz duma lamparina

Á mesma altura
Simples, discreto
Um xaile preto

Com franjas velhas;
Um retrato sem moldura

E uma lira sem cravelhas;
A casa é tão pequenina

Que não falta quem não deite
Mais uma gota de azeite

No copo da lamparina

Diz a lenda e toda agente 
Que a guitarra, certo dia
Fez um fidalgo valente 
Ajoelhar na Mouraria

E o retrato que em verdade 
Ninguém sabe de quem é
Não é mais do que a saudade 
Que se sente e não se vê

A forma como te vejo

José Fernandes Castro / Alfredo Duarte *fado versículo*
Repertório de Jorge César


Cada traço do teu rosto / incandescente
É uma estrela de cor / angelical
Teu olhar é um sol posto / ternamente
No hemisfério do amor / tão natural

Cada letra do teu nome / abençoado
É uma rima suprema / de louvor
Quando de ti tenho fome / de pecado
Procuro-te num poema / sonhador

Cada linha do teu corpo / apetecido
Tem a luz da tentação / encantadora
Em ti encontro o meu porto / prometido
Ao compasso da paixão / que me devora

Cada gesto de loucura / que te invade
Tem a magia dum sonho / redentor
É por ti que há mais ternura / e mais verdade
Nos poemas que componho / por amor

Ai Amália

Maria Luísa Bivar / João Braga
Repertório de João Braga

És povo feito mulher 
A cantar és toda a gente
Que sabe aquilo que quer 
E diz aquilo que sente

As tuas caras são tantas 
Mais de mil que Deus te deu
Com mil corações tu cantas
E há mais mil dentro do teu

Ai Amália das mil caras
E mais de mil corações
Ai rio que nnca paras
Até á foz das canções

Nos ecos da tua voz 
Nos silêncios que a torturam
Sofrem pedaços de nós 
Pedaços que se procuram

Levantas a tua voz 
O fado nasce ao teu jeito
E sentimos todos nós 
Que te cabemos no peito

A minha apresentação

Matos Sequeira / José Duarte *fado seixal*
Repertório de Fernando Farinha

Eis a apresentação minha
Meu nome vou dar á Bica
Esta figura mesquinha
É do Fernando Farinha
Vulgo *Miúdo da Bica*

A figura miúdinha 
Que a cantar mostra genica
É dum fadista alfacinha
Conhecido p’la gentinha 
Que habita o Bairro da Bica

Sabem onde é a minha casinha 
Quer saber onde ela fica?
Pergunte a qualquer vizinha
Aonde mora o Farinha 
Todos sabem lá na Bica

Quem lá for de manhãzinha 
Ao ver-me, espantado fica
E fácilmente adivinha
Que ainda novo, o Farinha 
Dá os bons dias na Bica

Loucuras de um homem só

Mário Raínho / Santos Moreira *fado moreninha*
Repertório de Fernando Maurício 


Aqui neste lugar feito d’espanto
Tecendo primaveras a sonhar
Desvendo ante os meus olhos o encanto
Das formas do teu corpo por beijar

Dou asas aos meus sonhos proibidos
Mas tenho a solidão como castigo
Amordaçando a fome dos sentidos
Que morrem por fazer amor contigo

Desfaço a ilusão, fica a saudade
No teu corpo perdido p’la lonjura
Depois, deambulando p’la cidade
Vagueia um homem só, com a loucura

Apenas em Alfama

Carlos Baleia / Daniel Gouveia
Repertório de Ana Margarida


Alfama...
Raiz da nossa aventura 
Entre o rio e a Moirama
Com telhados carmesim 
Pincelados de brancura
Alfama...
Rainha da rua escura
O amor é tua chama
E as tuas noites sem fim 
Dão livre curso á ternura

Sabe quem ama
Que apenas em Alfama
Nas vielas sinuosas
Há janelas de segredos 
E sardinheiras vistosas
Sabe quem ama
Que apenas em Alfama
São as torres do Castelo
As guardas silenciosas 
De tudo aquilo que é belo

Alfama...
Sentinela secular 
Que viste partir o Gama
Do teu Tejo ornamentado 
De prata, enfeite ao luar
Alfama...

Terra de muito sofrer 
Que a nossa alma reclama
Por seres parte do fado
Desta forma de viver

Bairro eterno

Júlio Vieitas / José António Sabrosa *fado pechincha*
Repertório de Fernando Maurício


Ó Lisboa donairosa 
Que fizeste à Mouraria 
Que anda triste e desgostosa 
A soluçar noite e dia 

Coitada, pobre velhinha 
Decerto foste ofendida 
Perdeste a graça que tinhas
Estás muito mais abatida 

Se era essa a tua sina 
Não te queixes de Lisboa 
Querias ser sempre menina 
Mas o tempo não perdoa

E numa prece singela 
P’ra que seu nome não mude
Fadistas rezai por ela 
À Senhora da Saúde

Mataram a Mouraria
E vai morrendo o passado
Mas ninguém pense algum dia 
Que pode matar o fado

Vem comigo

Júlio Vieitas / Alberto Simões Lopes *fado dois tons*
Repertório de Fernando Maurício

Vem daí anda comigo
Numa tipóia a meu lado
E verás como consigo
Recordar tempo passado


Este favor que te peço 
Podes crer não é vaidade
Mas sim a grande saudade 
Do que mais gosto, confesso

É porque eu dou grande apreço 
Aos retiros do passado
Toiradas, esperas de gado 
E a tudo o que seja antigo
Vem daí anda comigo
Numa tipóia a meu lado

Vamos ao Perna de Pau 
Ao Charquinho, ao Quebra-Bilhas
E também às maravilhas 
Do Caliça e Bacalhau

E no Retiro do Calhau 
Cantarei pra ti um fado
Vigoroso, afadistado 
Um fado que te não digo
E verás como consigo
Recordar tempo passado

Sextilhas soltas

Delfim da Silva / Alfredo Duarte *marceneiro*
Repertório de Joaquim Silveirinha

A voz do fado é tão calma

Na sua terna expressão
De amor ciúme e desdita
Que põe delícias na alma
E deixa no coração
Uma tristeza infinita

Porta-voz de singeleza
O fado que eu canto e louvo 
Sempre um amigo há-de ter
No coração da pobreza
Porque ninguém como o povo
Sabe cantar e sofrer

O fado triste e amoroso
É saudade que se canta 
É pranto que ganha voz
Por um condão misterioso
Sai a cantar da garganta 
Mas chora dentro de nós

Versos ao fado são flores
De um ramo que dia a dia 
Tem sempre perfume novo
São rosas que os trovadores
Atiram com alegria 
Para o regaço do povo

Pequena do Chafariz

Luís Simão / Moniz Trindade
Repertório de Moniz Trindade


Vai ao Chafariz-Del-Rei 
Uma pequena de Alfama
Com quem há tempo falei 
Mas não sei como se chama

Só sei que nas horas vagas 
Canta o fado nas tavernas
É pró Tejo que ela adora
Pois mora aonde ela mora 
Junto aos becos e lanternas

Quadro bairrista desta Lisboa
Tela fadista se vivesse ainda Malhoa
Um riso dela é bem a prova
P’ra que a viela seja toda ela, uma trova

Com a cântaro de barro 
Bem assente no quadril
Lá vai com o seu ar bizarro 
Muito nobre, senhoril

Pois o Chafariz-Del-Rei 
Conhece-a desde garota
Era lá que ela cantava
E que traquina, brincava 
Já provocante e marota

Fado Bacalhau

José Oliveira/ José Bacalhau *fado bacalhau*
Repertório de Frei Hermano da Câmara


Não sei o que o sinto em mim

Ao ver que me olhas assim
Nessa expressão tão sentida
Pois vejo no teu olhar
Que te esforças por me dar
Pedaços da tua vida

O teu olhar tão magoado
Tem dentro bem retratado
O sentimento do amor
Porque no peito a paixão
Pesa igual do coração 
Tanto o prazer como a dor

Sofres e eu bem o conheço
Mas tu não vês que é o preço 
Deste amor desta afeição
Também eu por tais carinhos
Te vou dando aos bocadinhos 
Pedaços do coração

O médico e a duquesa

Joaquim M. Teixeira / Frutuoso França
Repertório de Frutuoso França


Era um médico ilustre e inteligente
Que o povo humilde amava com prazer
E ele a todos queria meigamente
Salvando muita gente de morrer

Mas num dia fatal se apaixonou
P'la mais linda cliente, uma duquesa
Que dele escarneceu e assim falou:
Não lhe dou minha mão, sou da nobreza

Mais tarde a duquesa adoecia

E os grandes da ciência são chamados
Mas pertinaz doença a envolvia
Deixando os cirurgiões desanimados

Ela ao ver-se pior, desfalecida
Do seu médico antigo se lembrou
E esse jovem doutor salvou-lhe a vida
O que a muitos colegas espantou

Ela então ofereceu-lhe a sua mão
Para lhe pagar, altiva e sedutora
Mas teve uma tremenda decepção
Ouvindo esta resposta esmagadora


Se vós sois da nobreza, é por dever
Que assim me quereis pagar, mas, se me entende
Eu sou muito mais nobre, pode crer
Pois o amor duquesa não se vende

Feliz prisão

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Mário Rocha

Quando deixei há muito as lides do fado
Só encontrei um destino amargurado
Mas a saudade, por piedade, não me deixou
E hoje a seu lado eu canto o fado
Que ela própria me ensinou

Nesta canção falo em tristeza 
Sempre que passa
Triste condão do sentimento 
Da nossa raça
Tem não sei quê de infelicidade
Nesta canção
É qual prisão onde vivemos 
Sem amor á liberdade

Se é a chorar que eu sofro sempre que canto
Quero cantar p’ra dar largas ao meu pranto
Ser da tristeza por natureza, não é pecado
E quem nasceu triste como eu
Não pode deixar o fado

Mal de amor

António Vilar da Costa / João Black *fado artilheiro*
Repertório de Júlio Peres

Mal de amor, raro se perde
É como a nódoa da amora
Só com outra amora verde
A nódoa se vai embora

Ó minha infãncia florida 
Meu lindo sonho alvo e verde
Tudo perdemos na vida 
Mal de amor, raro se perde

O amor é como o lume 
Que nos consome e devora
E o veneno do ciúme
É como a nódoa da amora

O ciúme, quando alaga
Num peito que o amor deserde
Deixa nódoa que se apaga
Só com outra amora verde

Se por ti, cada vez mais 
Meu coração sofre e chora
Mesmo que queira, jamais 
A nódoa se vai embora

Conformação

Joaquim da Silva / Frutuoso França
Repertório de Frutuoso França

Era cega, coitadinha
Encontrei-a a vaguear 
Lastimando as mágoas suas
E caminhando sózinha
Andava o pão a ganhar 
Cantando o fado p’las ruas

Por sinal, era bem linda
Lamentei a sua sorte 
Chorei sua desventura
Coitada, tão nova ainda
Condenada até á morte 
A viver em amargura

Perguntei-lhe de momento
Se gostaria de ver 
O mundo no seu bulício
Nesse infernal movimento
Onde reside o prazer 
E também campeia o vício

Fica surpresa, suspira
E depois de meditar 
No seu amargo destino
Aconchega a sua lira
E respondeu-me a cantar 
Neste lindo alexandrino

Nasci assim ceguinha e dou graças a Deus
Se a santa luz do sol, p’ra mim, é denegrida
Foi porque Deus não quis abrir os olhos meus
Pra assim não poder ver as misérias na vida

Carta

José Luís Gordo / Carlos Macedo
Repertório de Carlos Macedo

Não me escrevas mais cartas, meu amor
Não quero mais sofrer esta saudade
As palavras que dizes são só dor
Eu antes quero ficar sem a verdade

Mas olha meu amor, eu sei que sofres
A distância tão grande que nos separa
Quem sofre somos nós e tu não podes
Contar-me essa tristeza que não pára

Eu antes quero viver o pensamento
Que de mim e de ti não se liberta
Não sei se tu estás bem neste momento
Mas sei que a tua carta está aberta

Soneto

Letra e musica de Luís Góis
Repertório do autor

Quando a noite me vem da voz do vento
No silêncio dos teus olhos de mulher
Surge a dor que me mata e não me fere
Num grito sempre igual, de sofrimento

Eu chamo agora em vão o esquecimento
No sonho que meu ser em vão afaga
E a chama não acende nem apaga
Arde sempre, quer à chuva quer ao vento

Se vivo maldizendo a minha sorte
Ou se fujo levando a fronte erguida
Num sonho, num anseio de verdade

Se no sonho que levo fujo à morte
A sorte mais se prende à minha vida
Num canto de desejo e de ansiedade

Cigarra e Formiga

Linhares Barbosa / Alberto Costa
Repertório de Natália dos Anjos

Desminto uma lenda antiga
Muito velhinha e bizarra
Que conta que uma formiga
P'lo trabalho e p'la fadiga
É diferente da cigarra

Eu sou cigarra e formiga 
Pois vivo desta maneira
Sou modesta rapariga
De noite boto cantiga 
De dia sou vendedeira

Não faço aquela algazarra 
Duma cigarra no prado
Canto ao som duma guitarra
De dia ninguém me agarra 
Em qualquer sítio de fado

Como o trabalho me anima 
E me dá pão e me alegra
E a freguesia me estima
Não canto nem uma rima 
Quando sou formiga negra

Sou cigarra e sou formiga 
E a tudo isto eu acho graça
Nem consinto que se diga
Mal de qualquer rapariga 
Que ganha a vida na praça

Indecisão

Tó Moliças / Fontes Rocha *fado Isabel*
Repertório de Ana Sofia Magalhães

Teus olhos andam agora
Com tua boca ao despique
A boca manda-me embora
Teus olhos pedem que fique

Não sei se deva aceitar 
O que a tua boca implora
Porque a pedir para ficar 
Teus olhos andam agora

Suplicando noite e dia 
Sem que ninguém os critique
Teus olhos dão-me alegria
Com tua boca ao despique

Teus olhos são a verdade 
Da paixão que a boca ignora
E sem dó nem piedade 
A boca manda-me embora

Não há em ti decisão 
Com que a boca não implique
Segredando ao coração 
Teus olhos pedem que fique

Carta da aldeia

António Vilar da Costa / Popular *fado corrido*
Repertório de Júlio Peres

Tu, com um palmo de terra
Eu, com dois bagos de trigo
Não é preciso mais nada
Anda, vem casar comigo

Se 'inda me tens afeição 
E for da tua vontade
Segue as leis do coração 
Maria... deixa a cidade
Uma casinha na herdade 
Basta-nos ter, por abrigo
E verás como consigo 
Tornar num trigal, a serra
Tu, com um palmo de terra
Eu, com dois bagos de trigo 

Para alegrar nosso amor
Basta a meiga Cotovia
E o Rouxinol trovador 
Que canta ao findar o dia
Não te demores, Maria 
Traz-me a ventura contigo
O Prior é nosso amigo 
Já tratou da papelada
Não é preciso mais nada
Anda, vem casar comigo

Chuva que não molha

Artur Ribeiro / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de José Vilela

Que importa que a chuva caia
Qua caia sobre a vidraça
E venha as ruas molhar
E o povo, da rua saia
E enquanto a chuva não passa
Nós vamos sair a par

Chuva dá felicidade
E põe nesses teus cabelos 
Milhões de estrelas brilhando
Pois que se deite a cidade
Ou que se entretenha a vê-los 
De rua em rua, bailando

A chuva cai, mas não molha
Os casais de namorados 
Que se atrevem a sair
O mundo que se recolha
E que nos deixe abraçados 
Sentindo a chuva cair

Beijo de saudade

Letra e musica de Duarte Miguel
Repertório de Sandra Cristina


Fechando os meus olhos abro o pensamento
Sinto a nostalgia, 
Minh’alma inebria dor e sofrimento

Vivo o meu passado num tempo presente
Vendo a tua imagem 
Como uma miragem só na minha mente

Não posso negar que estou a teu lado
Mesmo tu não estando
Vivo recordando o tempo passado

Queria voltar a beijar-te, não só recordar-te
Queria te tocar
Um só beijo já chegou, um beijo perdido
Ai de ti meu querido
A louca que eu sou

Fado triste

Linhares Barbosa 
Alfredo Duarte e Filipe Pinto *mocita dos caracóis e meia noite* 
Repertório de Júlio Peres 

Ouvi minha mãe cantar 
Quando me embalava o berço; 
Esta canção de embalar 
Ainda mais triste que o mar 
Que lembro verso por verso 

Na capelinha do monte 
Que para o mar se debruça 
Quem será que a alta noite 
Lá dentro chora e soluça? 

A tristeza é um império 
Que dentro de mim existe
Quando a noite é de mistério 
O riso torna-se sério 
E recorda um fado triste 

Não vás de noite à capela 
De noite ninguém lá vá 
Dois fantasmas saem dela 
Dois amantes mortos já 

Havia sinos carpindo 
Na capelinha d’além
Quando num berço mal vindo
Ouvi este canto lindo 
Na boca de minha mãe

Sobre uma campa nasceram 
Duas roseiras a par
Conforme o vento as movia 
Iam-se as rosas beijar

Fado xuxu

Amadeu do Vale / Frederico Valério
Repertório de Amália

O fado, canção bizarra / Pôs a samarra todo trecheiro
E lá foi com a guitarra / Até ao Rio de Janeiro

Fez-se um fadista atrevido / Tão destemido e de tal marca
Que até já é conhedico / P'lo fadistão da Fuzarca

Com sambinhas e modinhas, Abacate
Vitamate, Guaraná, Maracujá e Caruru
Com cocada, batucada para ti, Abacaxi, Goiabada
O fado é bom p'ra xuxu

Portuguesinho de raça / Bebe cachaça, come pipoca
E no catete até passa / Por cidadão carioca

Às vezes vai à favela / Calça chinela, todo se bamba
E o fado canção singela / Agora é todo do samba

Dura memória

Luís de Camões / Alain Oulman
Repertório de Amália Rodrigues

Memória do meu bem cortado em flores
Por ordem de meus tristes e maús fados
Deixai-me descansar com meus cuidados
Nesta inquietação dos meus amores

Basta-me o mal presente e os temores
Dos sucessos que espero infortunados
Sem que venham de novo bens passados
Afrontar meu repouso com suas dores

Perdi e mora tudo quanto em termos
Tão vagarosos e largos alcancei
Deixai-me pois, lembranças desta glória

Cumpre-se e acaba a vida nestes zelos
Porque neles com meu baile acabarei
Mil vidas não, uma só dura memória

Catraia do Porto

Frederico de Brito / Fernando de Carvalho
Repertório de Alberto Ribeiro

Essa linda florista 
Do mercado do Bolhão
A catraia mais trocista 
Que prendeu meu coração

Fontaínhas, a Ribeira 
E o Bonfim, eram só dela
Tinha a graça e a maneira 
De andorinha tagarela

Catraia bonita
De blusa de chita, saiote de lã
Dois olhos, dois sonhos
E uns lábios risonhos da cor de romã
Visão que enternece
E o Porto conhece de vê-la passar
Perfil agareno
De lírio moreno aberto ao luar

Desde a Praça da Batalha 
Até à Serra do Pilar
Queimam sonhos na fornalha 
Dos seus olhos de encantar

E da Foz à velha Sé 
As areias do caminho
Sob o rasto do seu pé 
Diziam muito baixinho

Cantei um fado à saudade

José Fernandes Castro / José Marques *fado rigoroso*
Repertório de Jorge César


Enquanto a solidão brinca na noite
A noite não tem pressa em acabar
Há sempre uma saudade sem acoite
Que teima em encontrar o teu lugar

Enquanto o sonho marca a existência
Não há ventos de medo nem de cor
Há sempre um coração em resistência
Na luta verdadeira do amor

Enquanto a tempestade da paixão
Envolve de prazer a madrugada
Há sempre mais calor, mais sedução
Nos versos duma alma apaixonada

Há sempre quem exista num poema
Com muito para dar e receber
O amor é sempre a rima mais suprema
Dum fado pelo qual ando a viver

Quarto alugado

António Rodrigues / José Maria Rodrigues
Repertório de Tony de Matos


Naquele quarto alugado 
Numa rua de Lisboa
O tempo correu à toa 
Resta apenas a saudade

Ao recordar o passado 
Sinto que a vida morreu
Nem és minha, nem sou teu 
Nem há sequer amizade
Daquele quarto alugado
Resta apenas a saudade

Naquele quarto alugado 
Sem tristeza e sem dinheiro
Tendo o sol por companheiro 
Só o amor lá vivia

Era feliz nosso fado 
O mundo só p'ra nós dois
Veio o ciúme e depois 
Morreu a nossa alegria
Daquele quarto alugado
Só ficou a nostalgia

Mataram a Mouraria

José Mariano / Manuel Maria Rodrigues *manel maria*
Repertório de Maria Teresa de Noronha


Já tarde, quando passava
Ouvi alguém a gemer
Naquela rua sombria
Era o fado que chorava
Porque lhe foram dizer
Mataram a Mouraria


A tradição condoída
Também chorava por ver 
O amigo desolado
E dizia; é a lei da vida
Vem o futuro a nascer 
E vai morrendo o passado

O fado já mal se ouvia
Mas teve forças ainda 
P'ra dizer á companheira
Mataram a Mouraria
Velhinha que foi tão linda 
Já não tenho quem me queira

Hei-de cantá-la mil vezes
Como souber, bem ou mal 
Ou eu não me chame fado
Enquanto houver portugueses
Ninguém diga em Portugal 
Que vai morrendo o passado

Rosinha moleira

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha


Cada vez que ia p'ra feira 
A Rosinha do moinho
Perdia a manhã inteira
Na demora do caminho

Os seus olhos eram esperanças 
E as redondas arrecadas
Tão lindas e tão doiradas 
Como as suas loiras tranças;
E os rapazes só p'ra vê-la

Iam todos atrás dela

Um... dois... três... quatro... cinco... seis

Um dia a Rosa casou 
Na capelinha da aldeia
Com alguém de quem gostou 
Que tinha um bom pé de meia
Os anos passam correndo 
E por graça do Senhor
Da semente desse amor
 Os filhos foram nascendo

Um / dois / três / quatro / cinco / seis

Hoje a Ti Rosa moleira 
Já sente o peso da idade
Mas ainda vai á feira
 Para matar a saudade

Como é comprido o caminho 
Que tão curto, outrora fora
Para a feira vai agora 
Montada no seu burrinho;
Atrás dela vão também
Os netinhos que já tem

Um / dois / três / quatro / cinco / seis

Mal chega á feira, a Rosinha 
Olhando os netos sorri
E parece uma rainha 
Com a corte atrás de s

E o moinho onde ela mora 
Enquanto ela vai feirando
Vai moendo e vai contando 
Os minutos que demora

Um / dois / três / quatro / cinco / seis

É que o moinho também
Tem os anos que ela tem

Guitarras do meu país

Manuel Alegre / Fontes Rocha
Repertório de Rosa Madeira
Este poema também foi gravado por Patrícia Costa 
com música de Miguel Amaral

Guitarras do meu país 
Que onde não canto, cantais
Que dizeis o que não diz
Meu canto que por encanto 
Se cala quando falais

Guitarras do meu país 
Que cantais onde não canto
De tantas coisas passadas
Fica sempre em vosso tom 
Um som de vozes caladas 

Vozes de povo sem dom 
Que não tem outras espadas
Senão a fúria do som 
Que há nessas vozes caladas

Guitarras que sois de mim 
A parte que sou de vós 
Bem ou mal me quero assim
Só serei eu, sendo nós
Se no plural é meu fim
Guitarras que sois a voz 
Da voz que há dentro de mim

Vagabundo de saudade

Zélia Rosa Pinto / Franklin Godinho
Repertório de António Mourão


Em mar feito de loucura
Onde só há noite escura
Donde se não vê o céu
Vagabundo de saudade
Eu não encontro a verdade
Ando sem o olhar teu


Vagas altas no meu peito 
Gritam meu sonho desfeito
Fecho os olhos p'ra não ver
No mar da minha ansiedade 
Eu só vejo uma verdade
A verdade de te querer


Vivo ao sabor das marés 
Corro a praia lés a lés
Já sinto o corpo a doer
Mas não, não posso parar 
Eu tenho que te encontrar
Nada me pode prender

No amor não há segredos

Hernâni Correia / Henrique Lourenço *fado cigana*
Repertório de Maria Teresa de Noronha


Se te vejo pensativo
Quero saber o motivo
Dizes sempre; não é nada
Mas eu sinto, meu amor
Que escondes seja o que for
E fico preocupada


Se do teu silêncio sais
Dizes-me coisas banais
Julgas iludir-me assim
Se depois no caso penso
Cada vez mais me convenço
Que não confias em mim


Recalco mais um queixume
Fico presa de ciúme
Em tudo só vejo enredos
Se eu nada te sei esconder 
Deves o mesmo fazer
No amor não há segredos

Mulheres há muitas

Matos Sequeira / António Lopes
Repertório de Francisco Martinho

Mulheres tens as que tu quiseres
Mulheres que são a nossa perdição
Que nos arrastam loucas nos prazeres
Mulheres que não têm coração
Porque lhe queres?

Foge do vício e deixa essa mulher
Escuta o que eu te digo
Mulheres que não valem sequer um sacrifício
Não são mulheres, amigo

Mulheres dessas
Por elas quem se prende
É cigarro que se fuma 
E outro que se acende
Onda que nasce 
E se desfaz em espuma
Pensa
bem: mulheres há muitas
Mãe?... mãe há só uma


Mãezinha que só nos acarinha
Que não nos deixa, é uma medalhinha
Que a gente traz ao peito com emoção
Presa a um vibrado que se fecha no coração

Há lá mulher que valha a nossa mãe
Por nós enternecida
Mulher que por mal a todos quer
Não quer ninguém
Não tem um amor na vida

Minha dor

Arlete Paixão Correia / Franklim Godinho
Repertório de Maria Teresa de Noronha


Guitarra, se tu soubesses
A dor do meu coração
Talvez por ele tivesses
Uma terna compaixão


Tristezas que a gente sente 
Não se deviam dizer
Podem julgar que se mente 
Contando nosso sofrer

Por isso, guitarra minha 
Chora comigo esta dor
Do coração és rainha 
Confidente ao meu amor

Se as minhas mágoas te digo 
Te confio os meus tormentos
Choram as cordas comigo 
Juntam-se os nossos lamentos

Fado Eugénia da Câmara

José Galhardo / Raul Ferrão
Repertório de Amália


Amar é ter alegria
Nem o mundo existiria
Não existindo esse bem
Quem não amar, não tem nada
Como é bom ser adorada
Como é bom gostar de alguém

Mas se o amor feito mágoa
Se desfaz em gotas d'água 
Pouco a pouco fica o mar
E depois, o mar desfeito
Batendo de encontro ao peito 
Põe a alma a soluçar

A vida é toda desejos
Marcam-se os dias com beijos 
Quem não amou, não viveu
Só quem perde um grande amor
É que sabe dar valor 
A todo o bem que perdeu

Mas se houver uma traição
Mata o próprio coração 
O amor que viu nascer
Nessa dor que nos tortura
Antes morrer de amargura 
Que amargurada viver

Rosa livre

João Dias / Popular *fado das horas*
Repertório de Maria Armanda

Rosa livre, rosa livre
Rasgaste o chão do degredo
Vermelha do sangue vivo
Dos que viveram sem medo

Rosa menina em Abril 
Em Maio rosa mulher
Quem em Setembro a feriu 
Em Março a queria acolher

Rosa livre, rosa livre 
Nos campos da minha terra
Flor de sangue que redime 
Soldados do fim da guerra

Rosa livre, rosa livre 
A gritar num tempo novo
Rosa cada vez mais livre 
No peito aberto do povo

Chegou o fim

António Rocha / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de António Rocha


Não volto mais, podes crer
Ao cais onde um dia fui
Para me despedir de ti
Já me cansei de sofrer
És dor que já não me dói
És passado que esqueci

Quando partiste deixaste
Uma promessa a meu lado 
Que dizia que voltavas
E nem sequer reparaste
Que também tinhas deixado 
Saudades que não levavas

Fui dizer-te adeus ao cais
Depois sonhei que voltavas 
Voltei ao cais da partida
Mas tu não voltaste mais
E assim cada vez ficavas 
Mais longe da minha vida

Sofri por ti, é verdade
Hoje no meu coração 
Já não mora o desespero
Vivi tanto com a saudade
Que lhe ganhei afeição 
E agora já não te quero

Recordar é viver

Frederico de Brito / João Viana
Repertório de Carlos Ramos


Concordo 
Que se fale da Severa
Pois no seu tempo já era 
Mais que rainha do fado
E entendo 
Que é bom lembrarmo-nos mais
Desses nomes imortais
Dos fadistas do passado

Tecer a glória 
Duma Cesária fadista
E da Maria Vitória 
Ou duma Júlia Florista
Dum Armandinho
Fadistas duma só crença
Marceneiro e Machadinho
Joaquim Campos e Proença

Dos poucos nomes que eu disse
Não devo, mesmo que eu queira
Esquecer a Maria Alice
Nem a Emília Ferreira

E então nesta hora incerta
Lembrar-me a Ercília Costa
A Amália, Hermínia e Berta
Das quais tanto o povo gosta


Agora 
Quando os mais novos acordam
São os velhos que recordam 
Como em tempos era o fado
E os de hoje
De vida alegre e louçã
Hão-de chorar amanhã 
Com saudades do passado

Ninguém entende
Nessa aparência bizarra
Como é que a gente se prende 
Às cordas duma guitarra

Ninguém maldiga 
Do fado que nos encanta
Que a vida é uma cantiga 
Que nem toda a gente canta

Mas quando eu já for velhinho
Hei-de entreter-me, bem sei
Ensinando ao meu netinho
Os fados que já cantei

Talvez os velhos lhe apontem
As minhas noites de agrado

Que lhe digam, que lhe contem
Que eu também cantava o fado

Do amor e da saudade

Carlos Conde / Henrique Lourenço *fado cigana*
Repertório de Maria Amélia Proença
Poema também gravado por Alfredo Duarte Jnr
com música de Alfredo Duarte *Marceneiro*


É sempre, tristonha e ingrata
Que se torna a despedida
Por quem temos amizade
Mas se a saudade nos mata
Eu quero ter muita vida
Para morrer de saudade 

A saudade é um queixa
Que se parte e se reparte 
Porque fere e mortifica
Mas é ela que nos deixa
Sentir a dor de quem parte 
E a tristeza de quem fica

A saudade aviva mais
É um riso a soluçar 
É um soluço a sorrir
Lágrima que anda no cais
Na esperança de ver chegar
Quem um dia viu partir

Sei que é tristonha e ingrata
Para a alma dolorida 
Que se afoga na ansiedade
Mas se a saudade nos mata
Eu quero ter muita vida 
Para morrer de saudade

Dois pecadores

Clemente Pereira / Jaime Santos *fado jaime*
Repertório de Natalino Duarte


Teus olhos que me prenderam
Mágoas me deram
Por terno abrigo
E são a todo o momento
Do sofrimento 
Que anda comigo
De dia andam na rua
Mostrando a tua 
Falsa amizade
E à noite ainda risonhos
Embalam sonhos 
De falsidade

Não julgues, vendo uma estrela
Que a vida é bela
Que a vida é sã
No dia a dia da gente
Sempre é diferente 
Nosso amanhã
E quando a alma é vencida
Por ter na vida 
Sonhos profanos
São sempre os olhos fatais
Que sentem mais 
Os desenganos

Vivem mostrando sorrisos
Que são precisos 
P'ra teu encanto
Mas guarda-os p'ra quando alguém
Quiser também 
Ver o teu pranto
Dá-lhe o bem que os meus desejam
Que eles sejam 
Bons sonhadores
Não vivas com esse gosto
De teres no rosto 
Dois pecadores

A luz do teu caminho

António Rocha / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de Francisco Martinho


Deixa-me ser a luz do teu caminho
Deixa-me ser um pouco do teu ser
Deixa que eu seja o guia do destino
Que destina a razão do teu viver

Eu queria ser a brisa morna e leve
Que agita o teu cabelo com meiguice
Poder estar um momento ainda que breve
Junto de ti sem que outro alguém me visse

Se eu conseguisse ser teu pensamento
Quando fitas serena o azul do céu
Jamais escutarias o lamento
Desta paixão por ti que Deus me deu

Eu queria ser o sol que de mansinho
Vem beijar o teu rosto com prazer
Deixa-me ser a luz do teu caminho
Deixa-me ser um pouco do teu ser

Levaste saudades minhas

José Luís Alcaria / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de António Melo Correia

Largou mesmo agora o cais
O barco que vai p'ró mar
Embarquei nele os meus ais
Por eles fico a chorar


Céu azul cortando os dias 
Terá ele, por companheiro
Ai amor bem me dizias 
Que fosse eu por ti, primeiro

Levaste saudades minhas 
Deixaste saudades tuas
Meu amor, as andorinhas 
Beijaram por ti as ruas

Passo os dias a esperar 
O teu regresso de longe
Volta amor, p'ra eu quebrar 
Esta solidão de monge

Fado dum mundo louco

Zeca Maneca / João Maria dos Anjos
Repertório de Artur Batalha


Noite negra nua e fria
Uma garganta escondida
Estranho silêncio no ar
A cantar a nostalgia
Que nela vinha perdida
Numa noite sem luar

Era a voz do louco fado
Dum pesadelo a fugir 
Ao fascínio da maldade
No seu mundo inconformado
Onde teve que cair 
No abismo da verdade

Uivou a noite dos lobos
Chorou a noite sem calma 
Neste mundo sem razão
Nas gargalhadas dos bobos
Nos tristes corpos sem alma 
A viver na escuridão

Cara bonita

José Correia / Ferrer Trindade
Repertório de Tristão da Silva

Ao ver teu rosto bonito
Custa-me a crer, não acredito
Que um fado triste te deu
Grande castigo igual ao meu

Mas se bem te fitar
Nesses teus olhos 
Em que sem fé um sonho ardeu
Talvez entenda a razão
Porque tu és tal como eu

Cara bonita
Disfarças bem teu desgosto
Andas a rir da desdita 
Que adivinho no teu rosto
Linda carita, 
P'ra te ver feliz eu queria
A tua cara bonita 
Junto a mim de noite e dia

Ao ver teu rosto bonito
Custa-me a crer, não acredito
Que já sofreste também
E p'ra teu mal amando alguém

A vida, quis assim
E castigou-nos por tanto amar
A mim e a ti
Por isso entendo a razão
Pois como tu, também sofri