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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Siga a dança

João Machado / Carlos Baleia
Repertório de Dora Maria

Se chove num dia e noutro há calor
Se à ventania segue a calmaria 
Com tempo melhor
Se há choro d'alegria e também a dor
Numa sintonia que envolve o amor                        

É porque no mundo existe a mudança 
Que melhor se alcança se na simples prece 
Pusermos a esperança
E como no fundo isto se conhece
Muita gente esquece 
Que é naquela esperança que tudo acontece                 

Logo em pequenino      
Com choro ao nascer se enfrenta o destino
Não dá p’ra saber
Se irá velho ser quem hoje é menino
Há horas sombrias
Instantes de humor, mágoas, alegrias
E ainda o amor
Que enche de sabor tantas fantasias    

Se nada é eterno na vida da gente
Seria um inferno se o agreste inverno 
Fosse permanente
Se até o moderno passa velozmente
E um amor terno morre de repente

É porque este mundo 'stá sempre em mudança 
Que melhor se alcança se na simples prece 
Pusermos a esperança
E como no fundo isto se conhece
Muita gente esquece 
Mas é nessa esperança que tudo acontece 

À porta da Brasileira

Domingos Lobo / Mário Pacheco
Repertório de Cristiana Águas

Encontrei-te por acaso
No Chiado ontem à tarde
E reparei que ias triste
Afinal o nosso caso
Ainda é sangue que arde
Sombra de amor que resiste

Disseste que me esquecias
Entre dois copos de rum 
Morre um amor, outro amanhece
Mas no olhar exibias
Aquele langor comum 
Que o sol tem quando amanhece

O olhar, espelho da alma
È traiçoeiro e transporta 
As mágoas do coração
E vi nele muda e calma
A palavra que abre a porta 
Aos medos da solidão

Mas o amor tem tantos laços
Dor, ciúme e alegria 
Veredas da vida inteira
E quando te abri os braços
Teu beijo acendeu o dia 
À porta da Brasileira

Estou aqui

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Dora Maria

Já é noite, a terra dorme
Entre nós mais nada existe
Estão os meus olhos conforme
Esteja a alma alegre ou triste

Já é noite e o pensamento
Ganha asas, voa longe
Quero arrancar-me ao tormento
Da solidão de monge

Saudade eu estou aqui
Não precisas procurar-me mais
Saudade eu estou aqui
Dás aos seres anseios desiguais
Não procures mais, eis-me


Já é noite e eu não sossego
Adivinho-te dormindo
E é a inventar que eu me entrego
Ao sonho que me vem vindo

E a solidão que não finda
Em meu peito se aconchega
Já não sei se é noite ainda
Ou antes o dia chega

Horas de breu

Vasco Graça Moura / Manuel Reis
Repertório de Sandra Correia

No dia de eu me ir embora
Não sei se chora quem me prendeu
Na hora da despedida
A minha vida quase morreu

Agora só corre a água
Da mágoa que amor me deu
E mora no coração
Um vão só de breu

Na rua, de madrugada
Esta balada, triste gemeu
E a lua quando tentava
Ver quem cantava, viu que era eu

Xerazade

Letra e musica de Custódio Castelo
Repertório de Dora Maria

Mas num fado vai e vem
Uma história ou mais de cem
Histórias a um amor ausente
São as lágrimas de alguém
Cujo o amor, um amor já tem
E nele vive tristemente

Velou-me à condição de dar por mim
A espera tão longa d’uma alegria
E assim me vou morrendo dia a dia
Na esperança de ser esperança um dia

Trago à memória o que não soube viver
Sigo a corrente deste rio saudade
Na esperança de te poder ter

Saudades de Portugal

Casimiro Silva / Armando Machado
Repertório de Casimiro Silva


Meu Portugal pequenino
Onde o tempo veio parar
Eu tinha tanta saudade 
De quem deixei cá ficar

Portugal é sol, é verde
E o meu berço é sempre meu
Do Algarve a Trás-os-Montes 
O mais português sou eu

Balança balança barquinho no mar
Balança balança barquinho a chegar
Balança balança nas ondas do mar
Que eu não perco a esperança
De à praia voltar

Canto numa terra estranha 
Esta canção imortal
E è da fronteira d'Espanha 
Que eu vejo o meu Portugal

Canto o fado com amor 
Mas não me sinto feliz
Porque a saudade é maior 
É maior do que Paris

Falta um sentimento

Tiago Torres da Silva / Pedro Pinhal
Repertório de Dora Maria

Falta um sentimento
Não é medo, nem pavor, nem saudade
Não é dor, nem prazer
Mem o peito a bater
Nem prisão, nem luar, nem liberdade

Falta um sentimento
Que não fala do presente ou passado
Não vos digo o seu nome
Porque ele abandonou-me
Por ciúme ou inveja do fado

Falta um sentimento
Que eu não sei se senti ou se o evitei
E ao saber que há gente 
Que diz que o não o sente
Ele instala-se, ri-se e faz lei

Falta um sentimento
Que me quer quanto me tem deixado
E por ser antigo só quer estar comigo
Se eu estou pronta pra cantar o fado

Canto imaginário

Tiago Torres da Silva / José Cid
Repertório de Dora Maria

No meu quarto de cidade 
Não há luzes nem barulho
Há apenas a saudade 
Envolta em papel de embrulho

Há o canto imaginário 
Das aves da minha infância
Existe um mundo ao contrário 
Onde só vejo a distância

Fecho-me à chave
Corro descalça
Sou uma ave
Danço uma valsa
Sapos e grilos
Vão-me lembrando
Dias tranquilos
Sem onde ou quando

Da janela do meu quarto 
Só se pode ver a rua
E eu é que nunca me farto 
De esperar que venha a lua

E se sei que está oculta 
Por detrás de um prédio vizinho
E o meu coração que  exulta 
Por ir-lhe  abrindo um caminho

Tudo me dói

Júlia Silva / Alvaro Duarte Simões *meia noite e uma guitarra*
Repertório de Júlia Silva

Do amor ando perdida
Já nem tenho coração
E nem sei da minha vida
Perdida na solidão;
Ai dói-me ser esquecida
Doí-me esta minha ilusão

Num sonho por mim vivido 
Que a vida me fez sonhar
Ficou meu sonho escondido 
No fundo do meu olhar;
Doí-me este sonho perdido 
Doí-me não poder amar

Sonhando vou de fugida 
O teu peito atravessar
Levo uma guitarra amiga 
Para os teus sonhos cantar;
Ai doí-me esta voz sofrida 
Dói-me a guitarra a chorar

E se o amor encontrar 
Ganharei um coração
Tenho uma vida p’ra dar 
Desconheço a solidão;
Um amor já posso dar 
Encontrei um coração

Quem és tu

Letra e musica de Leonardo Azevedo
Repertório de Casimiro Silva

Quem és tu
Musa da minha canção
Que roubou meu coração
E partiu sem mais voltar
Quem és tu
Traz de volta o que è meu
Não deixaste nada teu
Partiste sem nada dar

Quem és tu
A lembrança do passado
Num diário mal traçado
Que o tempo apagou
Quem és tu
És tempestade ou bonança
És desespero ou esperança
Quem és tu
E eu quem sou

Folhas caídas

Silva Tavares / António Melo
Repertório de Tristão da Silva

Com sua velha mania 
De eterna renovação
Esta noite, a ventania
Cobriu de folhas o chão

Pisei várias de seguida
E ao passar na tua rua
Lembrei-me da nossa vida
De quando a minha foi tua

Também tu foste arrastada 
P'lo turbilhão
E tão fresca e delicada 
Que para não seres pisada 
Eu apanhei-te do chão
Mas tu eras mulher
Não eras qualquer 
Folha vulgar de Lineu
E quanto mal me fizeste 
Com o pago que me déste
Sabe-o Deus e sei-o eu

Se vejo as árvores nuas 
Logo entristeço e depois
Fujo de andar pelas ruas 
Por onde andamos os dois

Recompus a minha vida 
Mas confesso com desgosto
Que ante um folha caída 
Sinto a cor subir-me ao rosto

Pescador de olhos azuis

Letra e musica de José Cid
Repertório de Dora Maria

Pescador de olhos azuis 
De um azul  da cor do mar
Queria fugir no teu barco 
P’ra podermos naufragar

Naufragar nalgum rochedo 
Tal tábua de salvação
Ou então morrer na praia 
P’ra espanto da multidão

Ai pescador de olhos azuis
Ai pescador de olhos azuis

As forças vão-me faltando 
Já não consigo nadar
Com os teus braços tão fortes 
Pescador vem me salvar

A praia fica distante 
Já vejo o fundo do mar
Dizem que morrer assim 
É como ressuscitar

Sonhos

Júlia Silva / Popular *fado menor*
Repertório de Júlia Silva

A minha alma atrevida
Os meus sonhos libertou
Fugiram da minha vida
E do espaço que eu sou

Sinto o meu corpo cansado 
Sinto-me só e vencida
Os sonhos são do passado 
Tenho minha alma despida

Sofro com isso, que importa 
Se acordo à noite a chorar
Porque em vida já estou morta 
Sem sonhos para sonhar

Será que agora eles moram 
Algures num outro mundo
Dentro duma outra alma 
Com um amor mais profundo

Se um dia eles voltarem 
P’ra me dizer a verdade
Mesmo se eles não ficarem 
Dá p’ra matar a saudade

Sei que a perdi

Tristão da Silva / A. Rodrigues / I. Miranda
Repertório de Tristão da Silva

Lamento não ter sofrido
Cada momento vivido
Ao pé daquela mulher
Fugindo à realidade
Sem termos nossa verdade
Nem a mentira, sequer

Sei que a perdi... 
Perdido também fiquei
Deste saber que não sei
De dores que nunca senti
Sei que a perdi... 
Sem nunca tê-la querido
Com pena de haver sofrido
O mal que nunca sofri


Momentos de minha história
Sem lembrança, sem memória
Do que fomos, eu e ela
A mim só resta a certeza
Desta tremenda tristeza
De não mais lembrar-me dela

Quando em Lisboa

Rui Manuel / Martinho d'Assunção
Repertório de Casimiro Silva

Quando em Lisboa amadurecem as guitarras
E a madrugada se entreolha à luz de velas
A solidão é uma sombra que devora
As outras sombras que percorrem as vielas;
Quando em Lisboa amadurecem as guitarras
O fado parte como o Tejo, barra fora

Quando em Lisboa anoitece
O Bairro Alto parece
Chamar Alfama num convite à desgarrada
Se a Mouraria o aceita
A Madragoa aproveita
Lisboa já não vai dormir, fica acordada

Quando em Lisboa o silêncio é um poema
E descobrimos que as palavras somos nós
Só nos amantes pode haver intimidade
Igual ao som duma guitarra e uma voz;
Quando em Lisboa o silêncio é um poema
O fado diz que tomou conta da cidade

Grito de oxalá

Maria Luísa Baptista / José Bacalhau
Repertório de Dora Maria

Na manhã em que partiste
O teu olhar era triste
Tinhas no rosto saudade
Foste barco ao deus dará
Foste grito de oxalá
Perdido na tempestade

Fiquei pregada no cais
O vento calou meus ais 
Fui vela que se rasgou
E o bem-me-quer que me deste
Era um malmequer silvestre 
Que ao ver-me chorar, murchou

O longo rasto de espuma
Misturou-se com a bruma 
Perdeu-se no horizonte
Dilui-se a tua imagem
Depois foste só miragem 
Dum passado tão distante

Hoje eu só peço a Deus
Que perdoe os erros meus 
E entenda a minha prece
Que te traga para o meu lado
Se for esse o nosso fado 
Porque o nosso amor merece

Fado dos fados

F.Abranches / Casimiro Ramos
Repertório de Tristão da Silva

Ao som dum fado 
Alguém viu o meu destino
Quando eu era pequenino
Mas nada me quis contar
Ao som dum fado
Comecei logo a vivê-lo
De nada serviu escondê-lo
Pois não se fez esperar
Ao som dum fado 
Gastei toda a mocidade
Em busca duma amizade 
Que nunca soube encontrar

Fado dos fados
Que ninguém canta por medo
Cada nota é um segredo
Cada acorde uma loucura
Fado dos fados
È todo um corpo a vibrar
E uma boca a procurar
Doutra boca, a amargura


Só a saudade 
Pode encher almas vazias
Mascarar-se de alegrias 
Por tudo o que já è fim
Quanta saudade 
Do que fui e do que sou
Triste fado que embalou 
Quanta saudade de mim
Minha saudade
Minha velha companheira
Não saias da minha beira
Quero-te toda pra mim

Limão verde

Ana Madalena / Faria da Silveira
Repertório de Ana Madalena 

Este meu viver é um limão verde
Ai verde limão d'esperança frustrada
Quando sinto amargo, o meu coração
Procuro fazer uma limonada

Ai verde limão, ai amor amargo
Um pouco de mel dum só beijo teu
Já adoçaria este amargo travo
Deste limão verde que a vida me deu


Amargos de boca, ai... quem os não tem
São piores que a sede do amor negado
Mas é por teus beijos esta sede louca
Que esta minha boca mais tem amargado

Duas paixões

Júlia Silva / Raúl Pinto
Repertório de Júlia Silva

Negando a vida que vivi
Deixei tudo e então parti
Troquei amor por amor
De um deles tenho carinho
Tenho ternura e um ninho
Do outro distância e dor

O que está perto eu adoro
Pelo que está longe, choro 
Gosto dele com paixão
E apesar de distante
Penso nele a todo instante 
Vive no meu coração

Faz parte do meu passado
E mesmo não estando a meu lado 
Ilumina o meu presente
Representa o meu futuro
E é o amor mais puro 
Mesmo estando ausente

Vivo estas duas paixões
Amo estes dois corações 
E espero amor também
O que está longe è saudade
Mas é amor de verdade 
Porque sou a sua mãe

A vida vai

Letra e musica de Janaína Pereira
Repertório de Dora Maria

Pode ser que seja o fim
Ou um novo começo
Talvez seja o estopim
Pois não me reconheço

Quando olho no espelho 
Vejo uma outra pessoa
E por mais que o corte doa
Vai ser bem melhor assim

Se a vida vai a vida vai
Eu vou com ela
Se a vida vai a vida vai
Então me leva

Eu te vejo seduzir
Meu destino está a espera
Não importa o que há de vir
Já não sou mais quem eu era
O amor me encoraja a seguir
E a vontade acelera

Não chore não, temos a vida inteira
Temos muito tempo ainda
Não desespere, não baixe a cabeça
Deixa curar a ferida
Não cutuque escute entenda 
Cuide bem da sua vida, pois

Em que mundo nasci

Artur Ribeiro / Fernando Freitas *fado noquinhas*
Repertório de Tristão da Silva

Em que mundos nasci, a que mastro me asteio
E porque fui deposto neste covil de loucos
Em que ventre pari os versos que trauteio
Porque me foi imposto ter de cantar a moucos

De que marés sobrei, a que ventos me agito
Porque razão aceito ser boneco de corda
Porque me acomodei, porque raios não grito
Homem ao mar e deito meu corpo pela borda

Em que mundos nasci, que trago na ideia
Ao deitar a fatexa a perdidos dilemas
A que mundos desci, que sem que ninguém leia
Escrevo a fazer queixa de min, nos meus poemas

Canção de noite perdida

Júlia Silva / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Júlia Silva

Chamam ao fado ilusão
Dizem não ter afeição
Por nada e por ninguém
Vai mundo fora é vadio
Até canta ao desafio
Não conhece pai nem mãe

Canção de noite perdida
Muda o destino da vida 
Impõe sua tradição
Faz reviver a saudade
Vai mentindo à verdade 
E rima com solidão

Vive sempre à média luz
Uma tristeza traduz 
Até faz chorar a dor
Mas disse alguém e com tino
O fado é o nosso hino 
Nossa vida e nosso amor

Trouxe-o a mim passo a passo
E na força dum abraço 
Guardei-o no coração
Como quem guardou o mundo
No espaço dum segundo 
Na palma da sua mão

Vais estranhar

Jorge Benvinda / Nuno Figueiredo
Repertório de Dora Maria

Vais estranhar
Mas é com ele que adormeço
Com ele acordo e levo os dias a sonhar
Falo do fado, a canção que me alimenta
Me enche a alma, com alma me faz cantar

Não te enciúmes
É um amor de pequena
Nasci no fado, tanto com ele brinquei
Pois no que toca ao amor de gente grande
Tu não duvides, foi contigo que o achei

Anda p’ráqui, fica juntinho
Escuta o que te vou contar
Coisa simples tão bela
Tenho para te mostrar
É magia, vês o chão a fugir
No embalo do fado nos vejo partir

Sei que é difícil entender o que te conto
Mas vivo assim desde que me lembro existir
Como se a vida fosse feita em dois mundos
Um pé na terra, outro na lua a seguir

Cara a cara

M. Carvalho / J. Correia / J. Oliveira
Repertório de Tristão da Silva

Não te rias divertida
Lá porque eu te dei e dediquei 
Um grande amor
Nem te fies nesta vida
Que eu serei depois de nós os dois 
A rir melhor

Vou dizer-te cara a cara
Que é mentira, sem receio
Que eu de ti já nada espero
Nem tolero, nem anseio;
Hei-de rir com toda a gente
Do que afirmas em voz clara
Vou dizer-te frente a frente
Que é mentira e cara a cara

És vaidosa, presumida
E foste dizer que por te querer
Ris-te de mim
Tu não rias divertida
Que eu serei depois de nós os dois 
A rir no fim

Grito de revolta

Júlia Silva e Manuel Silva / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Júlia Silva

Partiste ... minha mãe querida
Tua ida não tem volta
Entoarei toda a vida
Com minh'alma ferida
O meu grito de revolta

Teu adeus não teve jeito 
Contas havemos de ajustar
Teu coração foi-se desfeito
Mas não tinhas o direito 
De tão cedo me deixar

Se souberas como gostava 
De ver teus olhos sorrindo
No tempo em que ajoelhava
E junto de ti brincava 
Como teu rir era lindo

Tua missão... terminou 
Com amor te vou lembrar
Um vazio em mim ficou
Entre nos nada mudou 
Mesmo morta te vou amar

Canção da Beira

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Tristão da Silva

Adeus ó minha terra
Jardim da serra, minha lareira
Adeus doce cantinho
Meu quente Minho, ó 
 minha Beira

Adeus risonho lar
Hei-de voltar graças aos céus
Eu sempre hei-de lembrar-te
Por toda a parte, adeus adeus

Fado

Zeni d'Ovar / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Júlia Silva

Quando no mundo nos foge
Tudo o que nos pertencia
Já não é ontem nem hoje
Nem é noite nem é dia

E andar sem direção 
Procurando o que não temos
Sem cabeça e sem razão 
A chorar o que perdemos

Quando nos vêm roubar 
Tudo o que quisemos ter
Nada mais nos pode dar 
A alegria de viver

Ai tristeza que nos mata 
Ai amarga solidão
Ai no que se não desata 
E nos cerra o coração

Cais da vida

Maria de Lurdes Brás / João Maria dos Anjos
Repertório de Afonso Oliveira

Fiz da noite a minha casa
Fiz da lua o meu telhado
Das estrelas fiz a luz
O calor do sol ė brasa
Na fogueira do meu fado
Iluminei minha cruz

Minha cruz de desalentos
Meu rosário de tristezas 
Minha mágoa de saudade
Vida de agitados ventos
Inverno de incertezas 
Primavera d'ansiedades

Nau perdida no mar alto
P'la tempestade arrastada 
Sem tábua de salvação
Esperança em sobressalto
Fica
comigo amarrada 
No cais do meu coração

Penas

Júlia Silva / Cavalheiro Júnior *fado porto*
Repertório de Júlia Silva

Trago penas em minh’alma
Penas de fúria e de calma
Que teimam viver comigo
Ocupam o meu espaço
Envolvendo-me num laço
Se calhar è por castigo

Tempestades desvairadas
Trazem-me penas molhadas 
Dum pranto amargo e sozinho
Passeiam na minha vida
Fazendo dela sofrida 
E prosseguem seu caminho

São penas soltas ao vento
Que sofrem sem um lamento 
Atravessando marés
Vagueiam desnorteadas
E depois, extenuadas 
Vêm cair a meus pés

E num soluço magoado
Escrevem-me este fado 
Que me pedem p'ra cantar
São penas da minha vida
Vida que vivo sentida 
Vida que vivo a sonhar

Vem

Maria Rosário Pedreira / José António Sabrosa 
Repertório de Carminho

Vem essa coisa qualquer
Como seta despedida
Direita ao meu coração
E eu choro e rio sem querer
Nunca de mim tão perdida
Pobre de mim tão sem chão

Que luz è essa que cega 
Que desatina, atordoa
Que vem de dentro e m’invade
Que me transforma se chega 
Mas quando parte, magoa
Num alívio e saudade

Vem essa coisa tão estranha 
Dar-me um laço que desprende
Uma doçura que amarga
E eu pequenina e tamanha 
Num corpo que não se rende
A uma estreiteza tão larga

Que graça è essa tão séria 
Que corrói até ao osso
E me arde de tão fria
Dá-me tudo, até miséria 
Vem meu amor que eu não posso
Viver assim mais um dia

Fadista já velhinho

João Ferreira Rosa / Alfredo Duarte *fado lumiar/marceneiro*
Repertório de João Ferreira Rosa

Um fadista já velhinho
Muito triste coitadinho
Contou-me quase a chorar
As saudades do passado
Em que ele cantava o fado
Que todos queriam escutar

Contou-me então como eram
As noitadas que fizeram 
Fadistas e cavaleiros
O alegre São Martinho
Nos retiros com bom vinho 
E o calor dos fogareiros

De olhos semicerrados
Baixinho lembrou uns fados 
Sua tristeza aumentou
Mas parando de repente
Olhando-me bem de frente 
Com voz mais firme afirmou

A minha grande tristeza
Não me é dada pela pobreza 
Nem lembranças que contei
É o medo de morrer
Sem de novo poder ver 
Portugal ter o seu Rei

A vinha e o olival

Pierre Aderne / Mú Carvalho
Repertório de Cristiana Águas e Pedro Moutinho

Janelas vão-se abrir
Os olhos marejar
Telhados vão sorrir
Os barcos vão dançar

Nas ruas de Alfama 
Vai ter festa e procissão
Nos rossios de quem ama 
Nas quadras da oração

Na luz dessa cidade 
Nascente de água pura
Sacio a saudade 
Recebo minha cura

Na luz do teu olhar 
Fui fogo e tive frio
Com o Sado a desaguar 
Nos fados que copio

Já fui vinha e olival 
Lá gastei as minhas vidas
No açúcar e no sal 
De chegadas e partidas

Mulher amor eterno

Gabriel Silva / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Ana Maurício

Sou mulher, calor, alento
Sou queixume, sou lamento
É tudo o mais que Deus quis
Sem ser esteira, sou do mundo
E no meu sentir profundo
Choro, canto e sou feliz

Sou vida que um dia acaba
Sou beleza que se esmaga 
Ao beijo mais violento
Os meus braços são abrigo
E trago sempre comigo 
Ciúme, amor, sentimento

Sou a mãe de gerações
Irmã gémea das traições 
Ternura, pranto, alegria
Virgem de ventre fechado
Que se não fosse rasgado 
Ninguém no mundo existia

Sou doçura, sou bondade
Sou mentira, sou verdade 
Das loucas paixões, inferno
Sou alma, tortura, grito
Deste medonho infinito 
Sou mulher, amor eterno