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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Canção de fé

Letra e música de Marco Oliveira
Repertório do autor 

Ela acreditava em Deus
Ia ao domingo à igreja
E brindava ao mundo inteiro
Com um copo de cerveja;
Tinha a cor do paraíso 
No seu jeito de sorrir
E rezava Avé-Maria 
Ao que estava para vir

Ela tinha fé em Deus
Ela tinha fé em Deus
Ela tinha fé

Eu andava por aí 
Como um tolo que não sente
Foi então que a conheci 
E passei a ser um crente;
Da poesia dos seus olhos
Bendita entre as mulheres
Que trazia a minha luz 
Entre mil amanheceres

Ela tinha fé no amor
Ela tinha fé no amor
Ela tinha fé

Abençoamos os abraços 
E tantos beijos trocados
Na sagrada união 
Dos amantes encontrados;
Depois de casar com ela 
E beijá-la no altar
Acordamos em Paris 
Para nunca mais voltar

Se algum dia me perder 
Nos caminhos do pecado
Sei que posso agradecer 
Tê-la sempre do meu lado;
Não sei se acredito em Deus
Não sei bem o que é o amor
Sei que tenho os olhos seus 
Que me guiam pr’onde eu for

Ela tinha fé em mim
Ela tinha fé em mim
Ela tinha fé

Fado ronda

Manuel de Almeida / Popular *fado mouraria*
Repertório de Manuel de Almeida 

Fado dizes, fado escreves
Fado sentes, fado cantas
Todas as penas são leves
Quando voam das gargantas

Quando da noite perdida 
Tens a aurora conquistada
Ganhas o norte da vida 
E a estrela da madrugada

Fado, dizem que é tristeza 
Eu digo que é liberdade
Só tenho uma realeza 
A de cantar a verdade

E ter a funda certeza 
De viver co’a luz do sol
De ter uma lua presa 
Nas dobras do meu lençol

E na noite prolongada 
P’la saudade sentida
Ver a vida ser mudada 
Ver a morte ser vencida

Sei que pareço um ladrão

Mote de António Aleixo / Glosa de Carlos Conde / Popular *fado corrido*
Repertório de Rodrigo 

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço
Que não parecendo o que são
São aquilo que eu pareço

Ao nascer, fui bafejado 
Com duas coisas diferentes
Pertencer aos indigentes 
E viver com porte honrado;
Bem ou mal recompensado 
Não faço nisto, questão
Só sei dizer de antemão 
Que neste mar de tristeza;
Com toda a minha pobreza
Sei que pareço um ladrão

Quem rouba não pode andar
Mal vestido, esfarrapado
Tem que andar aperaltado 
Prós incautos enganar;
Só assim pode contar 
Usando desse processo
Com o manifesto apreço 
Que todos lhe dão, a rodos;
Não posso conhecer todos 
Mas há muitos que eu conheço

Vou citar este ditado 
Que já vem de muito longe
O hábito faz o monge 
Que é pró caso, adequado;     
Se usa um nome afidalgado 
Logo excelência lhe dão
Todos lhe apertam a mão
Vivem em alto esplendor;
Enganam seja quem for 
Não parecendo o que são

Vão a festas elegantes 
Como pessoas honestas
E no final dessas festas 
Faltam jóias e brilhantes;
Foram os falsos importantes 
Que deram na sala, ingresso
Com frases que eu desconheço 
Bem vestidos, ardilosos;
Esses vulgares criminosos 
São aquilo que eu pareço

Aqui é o lugar

Alice Vieira / Branco de Oliveira
Repertório de Alexandra Cruz 

Entrei no coração da cidade
E encontrei a minha idade
Num rosto que amanhecia
Bailei nas eiras dum tempo novo
E vi no meio do meu povo
Outro povo que nascia

Cheguei a este lugar de agora
Com os fantasmas de outrora
Esquecidos no que vivi
Ganhei, na certeza do presente
A força de ser diferente
E o direito a estar aqui

Aqui é o lugar do nosso começo
Meu jeito de estar onde me conheço
Aqui é um país d’olhos de criança
No mar, a raiz dum cravo d’esperança

Velas brancas

José de Vanconcellos e Sá / António Pinto Basto
Repertório de António Pinto Basto 

Não baloiça a barcaça já no cais
Nas pedras, a saúda, o tempo morno
Não navega a carcaça nunca mais
A morte são destroços sem retorno

Mil milhas navegou 
A favor e contra o vento
Muitas vidas salvou 
Porque não recusou
Dar vida no momento

No azul velas brancas tão heróicas
Na solidão de agora se apodrecem
Brancura de batalhas muito estóicas
São lágrimas que os risos nunca esquecem

Madeira enegrecida 
Nas ondas do sargaço
Ossada ressequida
Um corpo teve vida
Não tem hoje um abraço

Fora das rotas nada mais lhe resta
Das barcaças em rumo, nem adeus
Relembra então no molho em fim de festa
As memórias dos sonhos que eram seus

O jovem não entende
Há nas almas destreza
Uma luz quando acende
Brilhante, incandescente
Não fica um dia acesa 

Vieste como quem chega

Vasco de Lima Couto / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas”
Repertório de Eliana Castro 

Vieste como quem chega
Num barco de partir logo
E no instante da alegria
A cidade adormecia
No seu deserto de fogo

Trazias a tua boca 
Com sorrisos magoados
E quando me aproximei 
Das tuas mãos, reparei
Que eram dois campos fechados

Eram dois campos com sede 
Duas raízes com fome
Eram dádiva e segredo 
Onde o amor que não tem medo
Se esconde por não ter nome

Beijamos o olhar da noite 
Num desejo tão profundo
Que ajardinamos a lua 
Ficamos com a alma nua
Dos preconceitos do mundo

Vapores

Carlão / Fernando Freitas *fado pena*
Repertório de Marco Rodrigues

Caminha pela rua à patrão
Com a pinta que hoje se chama swag
Já não fuma tabaco e alcatrão
Ainda que o vapor não o sossegue

O fato de treino já voltou à moda
Mas o corta-unhas fica em casa
E é certo que uma querida se incomoda
Se vir que já vem com grão na asa

Agora o homem quer-se bonito
Sensível, atento e delicado
E ele até se afasta do conflito
Mas não se imagina depilado

No bairro já ganhou alcunha nova
Toda a gente o chama de vapores
Nas costas que é para evitar a sova 
Que há coisas que não mudam
Meus senhores 

Utopia

Catarina Carvalho / António Neto
Repertório de Cristina Maria

Hoje quero um sol sem céu
Quero que o calor seja frio
E as lágrimas negras como o carvão
Hoje grito e não tenho medo
E os meus olhos mentem
Num perfeito segredo

Hoje as palavras tremem 
E o corpo foge
Do toque da luz da lua
Da brisa do mar
Dos passos na areia, perdidos
Sem te encontrar

Hoje vou vestir a dor
Pinto um sorriso no rosto
Escolho a alegria
Num estado inquieto de loucura
Invento a segurança serena
E prendo a esperança
Com mentiras de coragem

Voltar a ser criança

Tiago Torres da Silva / Samuel Quedas
Repertório de Carla Pires 

Guardei só a lembrança mais bonita
Do mundo de memórias que esqueci
Não fui eu que escolhi mas acredita
Que só me aconteceu lembrar de ti;
E a alma tudo esquece mas recita
Os versos que num dia te escrevi

Agora já nem sei o que a saudade
Pretende quando diz gostar de mim
Se lembrar-me de ti me dá vontade
De andar por entre as rosas do jardim;
E a vida que já vai pela metade
Acaba por não ter princípio ou fim

Mas para que a tristeza não regresse
Deixa que eu chegue ao fim desta canção
Que o nosso coração por vezes esquece
De dar valor ao que lhe está à mão


Depois de eu te guardar nessa lembrança
Que nunca vai deixar de dar calor
Anda ser o meu par naquela dança
Que faz de nós dois, um só bailador;
É que ao dançar, eu volto a ser criança
E tu voltas para mim... oh meu amor

Desenlace

Marco Oliveira / Pedro Rodrigues
Repertório de Marco Oliveira

Já passei de rua em rua
E saí de bar em bar
Sem saber se me perdi
Julguei ver a sombra nua
Doutro tempo a caminhar
Só ao encontro de ti

Não quer dizer que te esqueça
Se por ter que te esquecer 
A memória persuade
Por mais feliz que pareça
Na tua ausência, mulher 
Vou morrendo de saudade

Já me vieram dizer
Que por mais tempo que passe 
Mais sozinha vais ficando
E ficamos sem saber
Qual será o desenlace 
Deste amor que vai passando

Se a saudade não recua
Como vamos enganar 
Uma esperança que não temos
Voltamos de rua em rua
Saímos de bar em bar 
Só pra ver o que perdemos

Zé sapateiro

Letra e música de Armando Estrela
Repertório de Teresa Tarouca 

Ó Zé… tens o teu peito escavado 
Do desgosto e do calçado
Que trabalhas nesse jeito;
Com carinho contra o peito
Nesse peito sem ter fé

Ó Zé...
Tu escolheste a liberdade
Nos copos e na saudade
E assim mesmo é como é


Ó Zé… tu tens o peito escavado
Dos sapatos do senhor
Que te deu o pontapé;
Quando quiseste ser gente
E só pudeste ser Zé

Ó Zé… tens o teu peito escavado
Dos sapatinhos da moça
Que te fez andar brejeiro;
E afinal foi só por troça
E ficaste Zé solteiro

Ó Zé… nesse peito escavado
Do desgosto e do calçado
Só te restam poucas esperanças
Com carinho contra o peito 
Sapatinhos de crianças 

Teus olhos são dois garotos

Manuel de Almeida / Popular *fado mouraria*
Repertório de Manuel de Almeida 

Teus olhos são dois garotos
Cheios de mimo e de graça
Porque se metem na rua
Com toda a gente que passa

Deixa de preces, não rezes
Erguendo os olhos aos céus
Deus me perdoe, mas às vezes
Tenho ciúmes de Deus

Um lenço branco de neve
Acenando junto ao cais
Ou quer dizer; até breve
Ou quer dizer; nunca mais

Nesta triste despedida
Nem sei o que hei-de fazer
Levar-te não é possível
Deixar-te não pode ser 

Velho Portugal menino

Vânia Ferreira / Abel Ferreira
Repertório de Florênca

Velho Portugal menino
Canto mouro d’além-mar
Trazes desfraldada ao mastro
Tua glória na história;
Fazes da alma lusa um hino
Velho Portugal menino

Povo ingénuo, bom e amigo
Que apesar de tão antigo
Faz lembrar feliz criança
De olhos fitos na esperança;
Fado, amor e paz, teu hino
Velho Portugal menino

Traço

Jorge Fernando / Guilherme Banza
Repertório de Jorge Fernando 

Traço, espaço
Traço, que ultrapasso
Na urgência de viver
O rádio a ensurdecer
P'ra se estar bem
Se é contínuo o traço
Embaraço
Sigo atrás de quem não quero
O ponteiro a bater a 
mais de cem

Se eu rodar lento demais
Nos pedais embraio a terça
Paro em todos os sinais
Que são demais
Pra quem tem muita pressa

Se pisar o traço, arrisco
Piso o risco na faixa errada
Abro o sinal, esquerda, pisco
Assumo o risco
De apanhar a brigada

Perco a margem da distância
Insegurança por um segundo
Vou para lá da tolerância
Meto a mudança 
Que a vida é prego a fundo 

Lisboa, canta-me um fado

David Gonçalves / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Maja Milinkovic

Lisboa, canta-me um fado
E vagueia p’las esquinas      
Nas noites de solidão
Faz-me viver o passado
Amanhecer com as varinas
Na ternura dum pregão

És velhinha mas bairrista
Nos teus bairros há saudade
Minha trova predileta
És mãe de qualquer fadista
Nostalgia que invade
O coração do poeta

E por isso eu não te esqueço
Lá p’las sombras da Moirama          
No meu viver magoado
Quem sabe se não te peço
Quando passares por Alfama
Lisboa, canta-me um fado

Vingança

Letra e música de Lupicínio Rodrigues
Repertório de Amália Rodrigues

Eu gostei tanto, tanto
Quando me contaram 
Que a encontraram 
Bebendo e chorando 
Na mesa dum bar
E que quando os amigos do peito 
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz
Não a deixou falar;
Eu gostei tanto, tanto
Quando me contaram
Que tive mesmo que fazer esforço
P'ra ninguém notar

O remorso , t
alvez seja a causa 
Do seu desespero
Você deve estar bem consciente
Do que praticou
Vem-me fazer passar essa vergonha
Com um companheiro
E a vergonha é a herança maior
Que meu pai me deixou

Mas enquanto houver 
Força em meu peito
Eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Você há-de rolar como as pedras 
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu 
P'ra poder descansar 

Mais um risco

Letra e música de  Paco Gonzalez
Repertório de Francisco Martinho

Mais um risco na agenda da minha vida
Mais um risco de perder por tanto amar
Miserável este coração ardente
Que naufraga no mar do teu falso olhar

Mais um risco, se te vejo na avenida
Mais um risco no desejo que me abraça
Como louco eu te entrego a minha vida
Pra que a pises no caminho da desgraça

Mais um risco, porque mentindo me feres
Mais um risco nos beijos de caridade
Mas quem sabe se um dia és tu que me queres
E eu te pague co’a moeda da saudade

Mais um risco no vexame do teu riso
Mais um risco nas noites que hão-de passar
Não tens pena que eu me arrisque tanto, tanto
Para que um dia não te possa perdoar

Por transformação existo

Manuel de Almeida / Popular *fado das horas*
Repertório de João Chora e Rodrigo 

Por transformação existo
No mundo que não tem fim
Que serei eu depois disto?
Que fui eu antes de mim?

Ninguém me diz donde vim 
E com dúvidas me visto
Se fui outro e sou assim 
Por transformação existo

Sem saber ao que cheguei 
Vivo a duvidar de mim
E nem sei como fiquei 
No mundo que não tem fim

Quando a vida me deixar 
Terei vivido só isto
Ou morrerei a pensar 
Que serei eu depois disto?

Se o meu presente é passado 
Não há futuro com fim
E se vim sem ter chegado 
Que fui eu antes de mim?

Valsa da despedida

Letra e música de Marco Oliveira
Repertório do autor

Nada que possas dizer 
Me vai fazer voltar
Nem a chuva dos teus olhos 
Me vai saber prender

Nada que possas dizer
Mesmo que possas mudar
Nas tuas frases feitas 
Não me vou perder

Nem os teus beijos de mágoa
Vão saber parar o vento
Nas ruas onde deixaste 
O nosso amor morrer

Não digas que fui eu
Quem te deixou ao relento
Quem te fez perder o chão
Se tens a vida por viver

Senhor doutor

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Jorge Fernando c/ António Zambujo

Troquei de curso não quis ser doutor
O estetoscópio não me faz feliz
Antes saber onde e como nasce o amor
Que eu darei conta do que me pedis

Traçarei linhas contendo o rigor
Tudo o que em sorte puder desvendar
Troquei de curso, não quis ser doutor
Para na escola do amor me formar

Mochila às costas, dei costas a tudo
Se a terra roda também quis rodar
Fechei à chave a gaveta onde o canudo
Jaz como um morto em jazigo sem ar

Cruzei as falas com um velho enrugado
Rosto sereno de poucas palavras
Disse saber só que o amor nasceu destinado
A ser as almas, as suas escravas

Mas também pode ser dado e se dar
A quem por bem o queira conhecer
E em vez de prender até pode libertar
A quem o tenha e o saiba entender 

Sabe-se pouco se o seu saber for
A teoria em si decorada
Só através do sentir-se sabe que é o amor
Basta-se a si, não precisa de nada

Olhou-me o velho com teu ar sisudo
Disse em verdade: nada sei do amor
Troco a fadiga frustrada pelo canudo
Pois é mais fácil chegar-se a doutor

Fado doméstico

Alice Vieira / Branco de Oliveira
Repertório de Alexandra Cruz

Abre os olhos
Era noite ainda agora
Chama o homem
Grita ao filho que se apresse
Abre o rádio, ouve a chuva lá por fora
Olha as horas e o café que arrefece

Risca o fósforo
Põe no lume a cafeteira
Da gaveta 
Tira a faca que mais corta
Vê passar o merceeiro e a peixeira
Só não vê passar a vida à sua porta

Vai à praça
Cose a roupa, corta o pão
Olha as horas
Põe os pratos na toalha
Lava a louça
Faz as contas, esfrega o chão
Fecha os olhos
Tem um filho quando calha;
Fecha os olhos
Morre um dia, quanto calha

Menina do lenço preto

Manuel de Almeida / Popular *fado das horas*
Repertório de Manuel de Almeida 

O meu destino é amar
Ai amor, quisera eu
Ir ao céu agradecer
O destino que me deu

Menina do lenço preto 
Tenha cuidado consigo
Vão dizer que tomou luto 
Por ‘star zangada comigo

Partiste, fiquei chorando
Voltaste, chorando estou
Voltou a tua presença 
Teu coração não voltou

A esperança é como o sol 
Que nos enche de alegria
Se ela parte, faz-se noite 
Ela volta, é logo dia

Versos contados

Letra e música de Cuca Roseta
Repertório da autora

Do meu fado fiz a letra 
E da letra fiz canção
Fado tem sua ciência 
Não se canta sem razão

Matemática somente 
Só se for da que se sente
Fado soma sentimento 
E divide sofrimento

Fado sabe a sentimento 
Fado sente a sabedoria
Fado nasce no momento
Fado é novo a cada dia
Digo bem cada palavra
Para que se entenda bem
Mas se a digo com garra
É porque a sinto também

As palavras são aos montes 
Mas nem sempre vão às fontes
Não há a palavra certa 
Consertada em dor desperta

Deixo de pensar palavras
Quando as canto mais ausentes 
Mais presentes do que amarras 
A cantar fado não mentes