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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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O sorriso é coisa boa

Letra e musica de Vicente da Câmara
Repertório do autor

Um tão bonito sorriso
Nunca se deve esconder
Pode um dia, sem aviso
Querer sorrir e não poder

Sorria sempre sem medo 
E não pense em mal nenhum
Que o sorriso é o segredo 
Na alma de cada um

Se alguém deixa de sorrir 
Vem-me logo ao pensamento
Que tudo o que está p’ra vir 
É falta de encantamento

Sorria portanto á toa 
Sorria sempre primeiro
O sorriso é coisa boa 
Que pertence ao mundo inteiro

Chaves da vida

*não vou, não vou*
Júlio de Sousa / Moniz Pereira
Repertório de Lucília do Carmo


Eu tinha as chaves da vida e não abri
As portas onde morava a felicidade
Eu tinha as chaves da vida e não vivi
A minha vida foi toda uma saudade

E tanta ilusão que tinha e foi perdida
Tanta esperança no amor foi destroçada
Não sei porque me queixo desta vida
Se não quero outra vida para nada

Se foi p'ra isto que nasci 
Se foi p'ra isto que hoje sou
Se foi só isto que mereci 
Não vou, não vou
Podem passar bocas pedindo 
Olhos em fogo, tudo acabou
Pode passar o amor mais lindo 
Não vou, não vou

Eu tinha as chaves da vida e fui roubada
Mataram dentro de mim toda a poesia
Deixaram só tristeza e mais nada
E a fonte dos meus olhos que eu não queria

Ausente

Tema também gravado com o título: Adeus ó minha gente
Jorge Fernando / Custódio Castelo
Repertório de Jorge Fernando

Adeus ó minha gente
Vou fazer-me à dura estrada
Minh'alma ardentemente
Quer erguer-se e está prostrada
Longe está meu horizonte
Uma luz resta-me ao longe
Qual fogueira em alto monte

Adeus ó minha gente 
A quem vejo arrependidos
As mãos que me negaram 
Já mas deram como amigos
Mas dentro de mim arde 
O sossego abrasador
Do Alentejo em fim de tarde

Adeus ó minha gente 
Venham ver-me á despedida
Nasci no lado errado 
No lado errado da vida
Partindo fico ausente 
Nem memória vou guardar
Ai adeus ó minha gente

Diário que me resta

Letra e música de Diogo Clemente
Repertório de Hélder Moutinho


Quando o relógio do meu peito
Este poeta
Se desalinha, cai no chão
E acorda a voz
A alma surge além de mim
Em voz aberta
Como no dia em que perdi
O amor do meu amor

Nesse tempo a vida fez
Por me ajudar
Foi reescrevendo a noite e o dia
Nos meus passos
Hoje nos braços trago o mundo
Em teu lugar
E o mundo inteiro é peso a mais
Para os meus braços

Não é que os dias se desenhem
Mal ou bem
Lá vão passando devagar
Devagarinho
É cá por dentro este silêncio
Que mantém
O sol poente pelas pedras
As pedras do caminho

Mas eu renego uma outra vida
Tendo esta
O porto amigo de quem vive
Sem desejos
A alma triste é o diário
Que me resta
E ainda desfolho alguns poemas
Dos teus beijos

Que fado é este que trago

Hélder Moutinho / Yami *Fernando Araújo* 
Repertório de Hélder Moutinho 


Que fado é este que trago
No mar alto da saudade
Onde navega a paixão;
E onde ás vezes naufrago
Com toda a minha verdade
Com todo o meu coração

Que rio é este onde correm
As mágoas da minha vida
Correntes do meu país
Quando as saudades não morrem
Vale mais a despedida 
P’ra voltar a ser feliz

Que fado é este que trago
No mar alto da saudade 
Que fado, que fado, que fado és
E onde ás vezes naufrago
Com toda a minha verdade 
Que fado, que fado, que fado és

Que espelho é este onde vejo
Um olhar de solidão 
Se o Outono desespera
Quando no primeiro beijo
Senti que o teu coração 
Descobria a Primavera

Sete esperanças, sete dias

Manuel de Andrade / Alfredo Marceneiro *fado cravo*
Repertório de João Braga


Sete esperanças sete dias
Era tudo o que trazias
Nada mais me querias dar
Sete ventos te trouxeram
Mais outros sete vieram
Mais tarde pra te levar

Teus olhos vinham de longe 
Teus olhos vinham de longe
De mais longe que os teus passos
Vitórias fáceis de mais 
Deste-os em beijos iguais 
Sete dias nos meus braços

Brancos lírios não mos deste 
Nem esse perfume agreste 
Que nos teus olhos trazias
Vinhas de mãos estendidas 
Trazer-me em frases mentidas
Sete esperanças sete dias

Rua do meio

Hélder Moutinho / Hélder Moutinho e Manuel Oliveira 
Repertório de Hélder Moutinho 

Naquelas águas furtadas
Estendidas sob um desejo
Quantas palavras contadas
Inventadas num só beijo 


Naquela janela aberta
Á beira-rio de Lisboa
Rua sombria deserta
Ao cimo da Madragoa 


Rua do meio à Lapa
Do meio da vida
Onde o lençol destapa 
A solidão esquecida
Rua do meio à Lapa
Uma história de lisboa
Para mim
Rua do meio á Madragoa

Quantas saudades perdidas
Quantas histórias quebradas
Segredos das nossas vidas
E as mágoas amarrotadas 


Em cada noite perdida
Quantos versos por cantar
Numa história prometida
Com gaivotas no olhar

Labirinto ou não foi nada

David Mourão Ferreira / Hélder Moutinho
Repertorio de Hélder Moutinho

Talvez houvesse uma flor
Aberta na tua mão
Podia ter sido amor
Mas foi apenas traição

É tão grande o labirinto 
Que vai dar à tua rua
Ai de mim que nem pressinto 
A cor dos ombros da lua

Talvez houvesse a passagem 
De uma estrela no teu rosto
Era quase uma viagem 
Foi apenas um desgosto

É tão negro o labirinto 
Que vai dar à tua rua
Só o fantasma do instinto 
Na cinza do céu flutua

Tens agora a mão fechada 
No rosto nenhum fulgor
Não foi nada, não foi nada 
Podia ter sido amor

Minhas penas

Fernando Caldeira / Carlos da Maia *fado perseguição
Repertório de Maria Teresa de Noronha


Como diferem das minhas
As penas das avezinhas
Que de leves, leva o ar
Só as minhas pesam tanto
Que às vezes já nem o pranto
Lhes alivia o pesar

As minhas penas não caem
Não voam nunca, nem saem 
Comigo desta amargura
Mostram apenas na vida
A estrada já conhecida 
Trilhada p’los sem ventura

Passam dias, passam meses
Passa um ano muitas vezes 
Sem que uma pena se vá
E se uma vem mais pequena
Ai depois nem vale a pena 
Por que mais penas me dá

Que felizes são as aves
Como são leves, suaves 
As penas que Deus lhes deu
Só as minhas pesam tanto
Ai se tu soubesses quanto 
Sabe Deus e sei-o eu

E num segundo

Letra e musica de Luís Caracol 
Repertório de Hélder Moutinho 


Se os meus olhos se perdem nos teus
E os sentidos se enlaçam em nós
Tenho medo de não me encontrar
De ficarmos sós

Se os meus sonhos se escodem nos teus
E os tormentos se insurgem no ar
Tenho medo de ficarmos sós
De não me encontrar 

E se a esquina da dor atravessa
Os lamentos das noites sem fim
O que vai ser de mim 


Será que o dia não acorda
Num rasgo de lua que atravessa o mundo
E num segundo me deixa sonhar 
Em querer ficar

Se os meus beijos se perdem nos teus
E os segredos se calam sem voz
Tenho medo de não me encontrar
De ficarmos sós

Se os meus passos encontram os teus
E os momentos se negam a dar
Tenho medo de ficarmos sós
De não me encontrar

Jacinta aguadeira

José Araújo / Joaquim Campos *fado rosita*Repertório de Catarina Nunes dos Santos
Jacinta Nunes Figueira
Era, desde tenra idade
A mais linda aguadeira
Da Cova da Piedade

Começava na Romeira / E das Barrocas ao Pombal
Percorria a vila inteira / Sorrindo em tom jovial

À noitinha já cansada / Sentada junto ao braseiro
Cantava bem abraçada / Ao seu amado aguadeiro

Esta história tão singela / Da velhinha Piedade
Pode não ser a mais bela / Mas traz-me muita saudade

Nem ventos nem madrugadas

Hélder Moutinho / Hélder Moutinho e Manuel Oliveira  
Repertório de Hélder Moutinho 

Não é o vento do norte
Não é um fado magoado
Que o fado fala da sorte
E toda a sorte é um fado

Não é o mar que nos trouxe 
Tantas palavras sentidas
Como se o mar já não fosse 
O espelho das nossas vidas

Podia até ser o céu 
Em madrugadas serenas
Que o sonho não é só meu 
Nem são só minhas as penas

Nem o vento nem o mar 
Nem o céu nem a canção
É a luz do teu olhar 
Que me acorda o coração

Nem as sombras da cidade 
Onde aguardo a madrugada
É apenas a saudade 
Da nossa casa fechada

Caixinha de música

Hélder Moutinho / Hélder Moutinho e Miguel Monteiro 
Repertório de Hélder Moutinho 


As cordas que correm no ventre do mar
No ventre das coisas que sabes de cor
São ondas profundas, profundo o olhar
Que trazes contigo e comigo na dor

Os versos que correm no ventre da vida
No ventre de tudo o que te faz ficar
São rimas de amor, não têm saída
São como as palavras que não sei cantar

As folhas que caiem no cais do outono
No porto de abrigo das nossas esperanças
Acordam o medo do nosso abandono
Que não sejam breves as nossas lembranças

Que não seja tudo, apenas poesia
Apenas um sonho no ventre do mar
E que a vida seja um dia após dia
Para todos os dias sabermos amar

Um copo de sol

Letra e música de: Amélia Muge
Repertório de Pedro Moutinho

Bebe um copo de sol
Com mais de mil milhões de anos
Que é da estirpe das estrelas 
Que destilam os humanos
Deixa o calor afogar-se na veia
Há lá coisa assim mais séria 
Que andar nesta bebedeira

Bebe um copo de sol
Um de copo sol “on the rocks”
E tem paixões siderais 
De Lisboa até Cascais
P’ra beber sol
O mundo inteiro é uma tasca
Onde a gente se enfrasca 
De manhã ao pôr do sol

Bebe um copo de sol
Que a tarde vem bem avançada
A lua está mesmo a chegar 
E p’ra beber nunca tem nada
P’ra se vingar, a lua inventa um arder
Que num fermento qualquer 
A gente aprende a beber

Bebe um copo de sol
Por mim, por ti, por todos nós
Frutos da seiva solar 
Que nos fez netos, nos faz avós
Vai luz adentro 
Ao campo bom desta adega
Como um corpo que se dá
Bebe o sol que a ti se entrega

Perdi-me nos olhos teus

Hélder Moutinho / Popular *fado mouraria* 
Repertório de Hélder Moutinho 

Perdi-me nos olhos teus
Como quem perde a razão
Quando dissemos adeus
Perdi o meu coração 


Cai a noite e o luar 
Revela-nos uma saudade
Como se toda a verdade 
Descobrisse o nosso olhar;
Se não sabemos sonhar 
P’ra poder dizer adeus
Não há segredos nos céus 
Nem sequer um vento agreste;
Por todo o amor que me deste 
Perdi-me nos olhos teus 

Depois, vem a solidão 
Abraçar-me lentamente
Que por minha condição 
Me afasta de toda a gente;
É que a minha voz não mente 
Quando canta o coração
E por isso, desde então 
Quis ficar só por momentos; 
Nos meus próprios pensamentos 
Como quem perde a razão 

Se era dia, escureceu 
Fez-se noite e uma tristeza
Ficou na minh’alma presa 
Quando o nosso amor morreu;
Depois, quando amanheceu 
Fui pedir por mim a Deus
Que o brilho dos olhos meus 
Não se perdesse, no entanto;
Perdemos todo o encanto 
Quando dissemos adeus

Ainda ficamos à espera 
Que o nosso outono morresse
E que o inverno merecesse 
Uma nova primavera;
Não era tarde, não era 
Era a nossa condição
Pela qual uma razão 
Se perde num desalento;
Por isso nesse momento 
Perdi o meu coração

O rio que nos viu nascer

Maria de Jesus Facco Viana / Vicente da Câmara
Repertório de Vicente da Câmara

O rio que nos viu nascer
Viu também nascer Lisboa
Sou português, tenho avós
O bom sangue não perdoa...
E como qualquer de nós
Embarco quase sem querer
Que o rio que nos viu nascer
Viu também nascer Lisboa

Partir mas sem saber quando 
E sem destino marcado
A vida vai-se passando 
E o que era amarra, soltou-se
E agora é como se fosse 
Um barco mal encalhado
Partir mas sem saber quando 
E sem destino marcado

O Tejo faz-nos partir
Lisboa faz-nos voltar
As marés sempre a seguir
As rotas do Oriente...
Tantas terras, tanta gente
Mais o apelo do mar
O Tejo faz-nos partir
Lisboa faz-nos voltar

A saudade

Linhares Barbosa / Filipe Pinto *fado meia-noite*
Repertório de Carlos Ramos

Sabendo que em tua ausência
Prazer algum me conforta
No momento em que saíste
A saudade entrou-me a porta

Andou em volta da casa 
Como se ela sua fosse
Chegou pertinho de mim 
Puxou um banco e sentou-se

Estavas só e tive pena 
Disse-me então a saudade
Vamos esperar por ela 
Podes chorar à vontade

E não me larga um momento 
Toda a noite e todo o dia
Enquanto tu não voltares 
Não quero outra companhia

Moleira dos longos olhos

Vicente da Camara / Branco Rodrigues
Repertório de Vicente de Câmara


Olha como roda a roda da velha azenha
Olha como volta e anda sempre a voltear
Lá vão com ela rodando sem mais parar
Os pensamentos que no seu girar apanha

À sua porta sentada lá está fiando
A moleirinha que o seu fuso faz girar
E com o fuso também faz rodopiar
Os belos sonhos que ela tem vindo sonhando

À sua volta tudo roda e rodopia
Até a brisa suas tranças despenteia
E entre as mós os belos sonhos porque anseia
Saem desfeitos como o grão se desfaria

Mas oh moleira, uma estrada sem abrolhos
É como azenha que não tenha movimento
É pois chegado esse natural momento
De abrires p'rá vida teus belos e longos olhos

À espera de uma paixão

Hélder Moutinho / Yami *Fernando Araújo* 
Repertório de Hélder Moutinho 


Nesse teu olhar tristonho
Onde parece que a lua
Se desnuda lentamente;
Há o reverso dum sonho
Numa verdade tão nua
Que nasce tão de repente

Nessa tua voz sentida
Tão doce como o segredo 
Que um dia te revelei
Nasce outra vida na vida
Outra saudade sem medo 
Outra verdade sem lei

No brilho do teu sorriso

Encontrei a primavera 
Desbravei a solidão
Amar demais é preciso
Se uma paixão desespera 
À espera de outra paixão

Maria triste

Letra e musica de Jorge Fernando
Repertório de Filipa Cardoso

Tinha um xaile s
obre os ombros encurvados
E um sorriso a trair a sua idade
Nos seus olhos, m
eios tristes e enrugados
Tinha a sombra atormentada da saudade

Sobre os pés que se arrastavam mal calçados
O seu corpo deformado p’la idade

Sem pudor se deu á vida
Num destino encruzilhado
Maria triste cumpriu seu fado

Foi a mãe de quatro filhos e o fado
O sustento a
 sustentar-lhe a pobre vida
O seu homem de feitio endiabrado
Foi levado ainda novo à
 flor da vida

Quatro filhos deixou ele a seu cuidado
E o alento a suavizar-lhe a alma ferida

Sua voz noturna, s
ombra esmaecida
Paira ainda com encanto perfumado
Na memória dos poetas, cuja a vida
Partilhou num timbre intenso e
 magoado

E nas noites da cidade adormecida
Há quem pense ouvir-lhe a voz
Cantando um fado

Fado à janela

Letra e musica de Marco Oliveira 
Repertório de Hélder Moutinho 

Eu não sabia 
Que ela espreitava à janela
Sempre que eu passava
Nunca ouvi o nome dela
Nem que segredos guardava 

Trazia sempre um sorriso 
Discreto e preciso
Mas não me falava
E o coração distante 
De qualquer instante 
Que eu não reparava 

Mas como agora se foi embora
Já não encontro o seu olhar
Abro a janela, espero por ela
Talvez um dia volte a passar 


Nunca baixava o olhar 
Ao ver-me chegar
De noite ou de dia
Mal sabia que ao passar
Era amor o que eu sentia 

Trazia sempre a saudade 
De quem na verdade
Nunca conheceu
E o silêncio de um beijo 
De rosa e desejo
Que nunca me deu 

Eu não sabia 
Que ela espreitava à janela
Sempre que eu passava
Talvez um dia me veja 
E eu mesmo seja 
Quem não reparava

Dia estranho

Letra e musica de: Jorge Fernando
Repertório de Filipa Cardoso

Já sei que hoje vai ser um dia estranho
Não sei como entender pequenos nadas
O amor não dá para saber o tamanho
Nem quando nos faz ver coisas erradas

Porque é que á noite a sós
Cumpro o castigo
Que a pouco se resume 
O meu amor
Entre o querer e o não querer
Baixinho digo
Apaga a luz do quarto
Por favor

Já sei que hoje vai ser um dia longo
Atreves-me um adeus quase obrigado
Despedes-te á mercê dum só ditongo
Na evasiva questão dum ser zangado

Já sei que hoje vai ser um dia errado
Dos que se alongam sem nunca acabar
E a mágoa no meu peito magoado
Apaga-me o desejo de voltar

Tenho uma onda no mar

Hélder Moutinho / H. Moutinho e Manuel Oliveira 
Repertório de Hélder Moutinho 

Perfume de rosas bravas
Folhas caídas, novembro 
Brisa nas margens do Tejo
Nos beijos que não me davas
Vinham restos de setembro 
Amordaçados num beijo 

Tenho um segredo na praia 
Tenho uma onda no mar
E quando a tarde desmaia 
Só me resta o teu olhar
Tenho uma rosa encarnada 
Ao lado do coração
Tenho toda a primavera 
No calor da tua mão 

Era branca a madrugada
No contraste do segredo 
Que trazias no olhar
E a lua ás vezes calada
Desvendava quase a medo 
O som das ondas do mar

Lisboa cantava a dor
Que os nossos corpos fechados 
Suspiravam de desejo
Era o perfume da flor
Nos lençóis amarrotados 
Amordaçados num beijo

Cai a noite

Letra e musica de: Jorge Fernando 
Repertório de Filipa Cardoso 

Não é apenas o frio 
Da noite que se avizinha
É este enorme vazio 
Que me obriga a estar sózinha

Bate as horas junto à foz 
Cai a noite leve bruma
E ao chamar-te, a minha voz
Não tem resposta nenhuma 

Fica comigo, preciso ter
Algum sossego em mim
Recuso a sorte de perder-te assim


Não é raiva nem despeito 
Que entristece o meu olhar
É esta ferida no peito 
Que eu não sei como cuidar

Fosse eu a paz deste rio 
Entre as margens da cidade
P’ra matar este vazio 
Que está cheio de saudade

A cor dos olhos

Domingos Gonçalves da Costa / Frederico de Brito *fado artilheiro*
Repertório de Hélder Moutinho

Dizem que os olhos leais
São os castanhos, pois bem
Conheço uns olhos fatais
Que são castanhos também

Olhos pretos, negra cruz 
Quem o disse concerteza
Não vê que a noite sem luz 
Também tem sua beleza

Olhos azuis, falsidade 
Errou quem isto escreveu;
Nunca pode haver maldade 
Nuns olhos da cor do céu

Nos olhos verdes, cautela 
Ninguém se deixe embalar
Lembra o mar e procela 
É irmã gémea do mar

Não há resposta acertada
Que traduza bem a cor
Dos olhos da nossa amada 
Se andamos cegos de amor

Á noite voltas ao ninho

Maria Manuel Cid / Custódio Castelo
Repertório de António Pelarigo

Comparo a fala que tens
Ao canto do passarinho
Dizes sempre que não vens
E á noite voltas ao ninho

Voar, voar, é condão / Do teu corpo sem guarida
Faz parar o coração / Que anda cansado da vida

Repara que o tempo passa / E logo se vai embora
Cada segundo se abraça / Ao minuto duma hora

Toda a verdade nos faz / Matar o sonho mas lindo
Agarra o tempo e verás / Que os dias te vão fugindo

Agarra os sons dos teus ais / Assim terás o teu fado
A gente não pode mais / Voltar atrás ao passado

Aquela estrela

José Guimarães / Armandinho *alexandrino antigo*
Repertório de Joaquim Brandão

Em noite de natal, um pobre pequenito
Sentado num portal duma estreita viela
Com seu ar inocente, olhando o infinito
Prendeu o seu olhar ao brilho duma estrela

E tal como os poetas que o silêncio inspirou
A meditar ficou, pensando em sua mãe
Se é verdade que Deus para o céu a levou
Ela deve morar numa estrela, também

E rogando a Jesus, com voz de enternecer
Ele ansiou poder estar juntinho dela
Erguendo as mãos aos céus, pediu para morrer
Para poder viver também, naquela estrela

Cansado de pensar, ali adormeceu
E teve um sonho lindo, visão celestial
Agarradinho á mãe, passeou pelo céu
E sonhando passou a noite de Natal

Ah fado dum ladrão

Óscar Martins Caro / Carlos Santos
Repertório de Maria Rosa Rodrigues

Há quem diga mal do fado
Mas dizer mal, foi sempre moda
Pois ele já é cantando
Por gente da alta roda

Até mesmo a estrangeirada 
Seja em Lisboa, ou noutro lado
Não pergunta por mais nada 
Só quer sardinhas e fado

Nos meus tempos de fadista
Ah fado dum ladrão
Gemiam guitarras 
Num beco bairrista
Que até nos chegavam ao coração
Era cantado nas hortas
Ah fado dum ladrão
Mas hoje, vaidoso
Transpôs as portas
Do mais requintado e rico salão

Noutro tempo a fidalguia 
Dava-se ao luxo, ditosa era
De passar na Mouraria 
As noites com a Severa

Ouvir dizer mal, não posso 
Do lindo fado que o povo fez
Pois quem diz mal do que é nosso 
Não é um bom português

Aqui tens meu coração

Carlos Conde / Popular *fado menor*
Repertório de Fernando Maurício 

Também gravado com o título *É teu o meu coração* 

Aqui tens meu coração
Mata-o se quiseres, meu bem
Mas vê que estás dentro dele
Se o matas, morres também

Dei-te a alma em paixão cega 
Perdido em cega paixão
Mas se a minh'alma não chega 
Aqui tens meu coração

Reduto que não se vence 
Quando em amor se detém
Mas como ele te pertence 
Mata-o se quiseres, meu bem

Nada mais tenho de meu 
Do que este amigo fiel
Podes matá-lo, ele é teu 
Mas vê que estás dentro dele

Como ponto de partida 
Um só rumo se mantém
Se lhe dás fé, terás vida 
Se o matas, morres também

Refúgio do fado

José Fernandes Castro / Alfredo Mendes *fado latino*
Repertório de Manuel Barbosa

Aqui, neste refúgio da saudade
Onde vão desfilando sons dispersos
Há vestígios reais de felicidade
Na alma mensageira dos meus versos

Aqui, neste refúgio do fado
Os sonhos vão marcando o ritual
E na voz do poeta amargurado
Há rimas de pecado divinal

Aqui, nesta maré de sentimento
Navegam mil guitarras geniais
Há poemas rimando com tormento
No tormento das rimas mais reais

Aqui, o tempo passa tão depressa
Que já não nos dá tempo p’ra sonhar
Mas não há coração que não mereça
O refúgio do fado, p’ra cantar

Teus olhos são duas fontes

Amália Rodrigues / Fontes Rocha
Repertório de Amália

Teus olhos são duas fontes
Que eu queria ver chorar
Água a correr pelos montes
Que chegasse até ao mar

Teus olhos são dois pecados 
Teus olhos pecados são
Que eu mesmo d’olhos fechados 
Sei onde teus olhos estão

Teus olhos são andorinhas 
Que aparecem com o calor
Meu amor vê se adivinhas 
O que já sabes de cor

Teus olhos duas asinhas 
Que tu bates de mansinho
Teus olhos são andorinhas 
Que perderam o caminho

Sol de Agosto

José Fernandes Castro / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Nelson Duarte

Quero apenas mil sorrisos
Morando no rosto meu
Quero ter do corpo teu
O sumo dos paraísos

Quero ter mil primaveras 
Com milhões de roseirais
Quero ser, até demais 
Tudo o que da vida esperas

Tens no olhar, fantasia 
Do mais lindo sol de Agosto
Tens doçura de sol posto 
Quando a noite principia

Tens no corpo, tempestade 
De marés de encantamento
E no meu deslumbramento 
Vejo em ti a felicidade

Sedento de ti

Jorge Fernando / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Fernando Maurício

Sedento de ti, amor
Fiz destes versos ternura
Como quem gera uma flor
Num campo de pedra dura

Sedento de ti, amor 
Do corpo que me oferecias
Onde voguei ao sabor 
Das marés que me trazias

Sedento de ti, amor 
Andei na neve dos sonhos
Num trenó feito de dor 
Puxado por cães medonhos

Sedento de ti, amor 
Encontrei abandonado
Embriagado na dor 
Do teu fado que é meu fado

Lisboa é um cais de chegada

José Luís Gordo / Manuel Mendes
Repertório de Vasco Rafael

Lisboa é o cais de quem não quer partir
Lisboa é o cais de quem só quer chegar
Lisboa é uma mulher sempre a sorrir
Que veste a ternura em seu olhar

Lisboa é um rio á beira-mar
Tem gritos de gaivotas nas entranhas
Cacilheiros de amor a navegar
Num Tejo que nasceu ali em Espanha

Lisboa é uma avenida no meu peito
Coração dentro do meu coração
Lisboa é uma estrela sempre a jeito
Que eu guardo sempre aqui na minha mão

Lisboa tem paredes côr-de-rosa
E jardins salpicados de luar
Lisboa é uma pomba sempre nova
E nunca mais se cansa de voar

Saudades do fado antigo

Óscar Martins Caro / Carlos dos Santos
Da revista *Maravilhas da nossa terra*

Ai que saudade 
Do fado de antigamente
Tinha mais realidade
Vibrava a alma da gente
Tanta tristeza 
Quando a guitarra gemia
Mas a alma portuguesa
Vibrava quando o ouvia

Ai Mouraria
Capelão e Benformoso
Onde a guitarra gemia 
Nos dedos do Vimioso
Ai Mouraria
Vai chorando pela Severa
Que ao morreu levou também 
O fado da sua era

Tudo morreu
Até parece castigo
Só há guitarras no céu
Soluçando o fado antigo
Talvez lembrando 
Essa glória do passado
Que se ouve de quando em quando
Mas já não parece fado

Filho noite

José Luís Gordo / Franklim Godinho *fado franklim*
Repertório de Artur Batalha

Sou da noite um filho noite
E traga a noite na alma
Na pele, o sangue das mãos;
As estrelas são mais fortes
Parecem dar outros nortes
Ás ruas do coração

É a noite que me serve
De refúgio aos sofrimentos 
Que a memória quer esquecer
A razão nada de deve
Sou filho dos pensamentos 
Sem vozes de eu entender

É a noite que me cobre
Com seu manto de negrura 
Os sentidos dos meus passos
Que loucos, como dois pobres
Querem esquecer a ternura 
Que tive nos teus abraços

Formosa Lisboa

Óscar Martins Caro / Carlos dos Santos
Repertório de Tony Quim

Do alto do teu castelo 
Brasão e rara beleza
Temos o quadro mais belo 
Pintado p’la natureza

Nos teus telhados velhinhos 
Há poesia e calor
E por isso os passarinhos 
Fazem lá, ninhos de amor

Linda Lisboa... 
És sentinela do Tejo
Que ao passar atira um beijo
Num adeus de saudação
Linda Lisboa... 
Das graciosas varinas
Dos namoros p’las esquinas
Quando chega o São João

Só beleza Deus te deu
 E tradições das mais belas
Estás tão perto do céu 
P’ra brilhar com as estrelas

Turista que te visita 
Jamais te pode esquecer
Leva a imagem bonita 
Do que nunca pode ver

Soluço d’amante

José Fernandes Castro / Raúl Pinto *fado raúl pinto*
Repertório de Maria José Assunção


Neste soluçar distante
Que ao longe se faz ouvir
Te envio a minha saudade;
Neste soluço d'amante
Vai a dor de me sentir
Mais poema e mais verdade

Neste soluçar tristonho
Vai a raiva que me impede
De ser fado em oração
Vai toda a força do sonho
Que tem, quem morre de sede
Mas de sede de razão

Não vou eu, porque não quero
Transportar-me ao paraíso 
De mentiras e fracassos
Fico cá, porque t'espero
E porque vai ser preciso 
Alguém que te abra os braços

Lisboa formosa

Moita Girão / Adelino dos Santos
Repertório de Fernando Maurício


És de todas as cidades
A cidade mais vistosa
Tens a cor maravilhosa 
Com que se pintam saudades
Tens craveiros à janela
Beijados pelo luar
És rica, desde a chinela 
Ao sol que te vem beijar

Lisboa formosa
Menina mimada que sabe cantar
Tens graça de rosa
Linda perfumada, aberta ao luar
Lisboa formosa
Menina risonha de lindo passado
Lisboa saudosa
Lisboa que sonha, Lisboa do fado

São teus bairros diamantes
Com que vaidosa te enfeitas
Sempre que à noite te deitas
Vestes estrelas de brilhantes
Em carícia apaixonada

O Tejo beija-te os pés
Lisboa cidade amada
Lisboa tão linda és

Fui ao mar buscar sardinhas

Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves
Repertório de Amália

Fui ao mar buscar sardinhas

Para dar ao meu amor
Perdi-me nas janelinhas
Que espreitavam do vapor

A espreitar lá do vapor 
Vi a cara dum francês
E seja lá como for 
Eu vou ao mar outra vez

Eu fui ao mar outra vez 
Ia o vapor de abalada
Já lá não vi o francês 
Vim de lá toda molhada

Saltou-me de mim toda a esperança 
Saltou do mar a sardinha
Salta a pulga da balança 
Não faz mal, não era minha

Vou ao mar buscar sardinha 
Já me esqueci do francês
A ideia não é minha 
Nem minha nem de vocês

Coisas que eu tenho na ideia 
Depois de ter ido ao mar
Será que me entrou areia 
Onde não devia entrar?

Pode não fazer sentido 
Pode o verso não caber
Mas o que eu me tenho rido 
Nem vocês queiram saber

Não é para adivinhar 
Que eu não gosto de adivinhas
Já sabem que eu fui ao mar
E fui lá buscar sardinhas

Sardinha que anda no mar 
Deve andar consoladinha
Tem água, sabe nadar 
Quem me dera ser sardinha!

A Lucinda camareira

Henrique Rego / Alfredo Duarte *fado bailarico*
Repertório de Fernando Maurício

A Lucinda camareira
Era a moça mais ladina

Mais formosa, mais brejeira
Do café da Marcelina


De maneira graciosa 
Sobre um lindo penteado
Trazia sempre uma rosa 
Cor de rosa avermelhado;
Eu vivi enfeitiçado 
Por aquela feiticeira
Que airosamente ligeira 
Servia de mesa em mesa;
Tinha feições de princesa 
A Lucinda camareira

Primando pela brancura 
O seu avental de folhos
Realçava-lhe a negrura  
Encantadora dos olhos;
Nem desgostos nem abrolhos
Sofrera desde menina
Que apesar de libertina 
Orgulhosa e perturbante;
No velho café cantante
Era a moça mais ladina

Os marialvas em tipóias 
Iam da baixa num salto
Ver a mais linda das jóias 
Ao café do Bairro Alto;
A camareira que exalto 
De tão singular maneira
Era amada pela cegueira 
Que a palavra amor requer;
Para mim era a mulher
Mais formosa e mais brejeira

Certa noite de fim d’ano 
Em que certo cantador
Cantava ao som do piano 
Cantigas feitas de amor;
Um cigano alquilador 
De têz bronzeada e fina
Por afortunada sina 
A Lucinda conquistou;
E para sempre a levou 
Do café da Marcelina

Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*

Nalguns raros casos, talvez influenciado pela incontestável qualidade e aceitação do estilo 
dos «reis do descritivo» seus contemporâneos (Linhares Barbosa e Carlos Conde)
Henrique Rego esqueceu o pendor rústico que o caracterizou e cultivou letras de puro 
recorte lisboeta, citadino e castiço, provando a sua versatilidade e o grande mestre
que também era, como quem diz: «Também sou capaz». É o caso de outro ex-libris:

Gostava de ser quem era

Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves
Repertório de Amália

Tinha alegria nos olhos
Tinha sorrisos na boca
Tinha uma saia de folhos
Tinha uma cabeça louca

Tinha uma louca esperança 
Tinha fé no meu destino
Tinha sonhos de criança 
Tinha um mundo pequenino

Tinha toda a minha rua 
Tinha as outras raparigas
Tinha estrelas, tinha a lua 
Tinha rodas de cantigas

Gostava de ser quem era 
Pois quando eu era menina
Tinha toda a primavera 
Só numa flor pequenina

Se deixas de ser quem és

Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves 
Repertório de Amália 

Meu amor de Alfazema
Alecrim e Rosmaninho
Queria fazer-te um poema
Mas perco-me no caminho

Nossa senhora das Dores 
Meu raminho de oliveira
Eu ando cega d’amores 
Não me cureis a cegueira;
Nossa Senhora das Dores 
Sê-de a minha padroeira

Entra em mim um mar gelado 
Em dias que te não vejo
Sou um barco naufragado 
Mesmo sem sair do Tejo

Ai de mim que ando perdida 
Que ando perdida d’amores
Perdida ente temores 
Perdida entre as marés;
Ai de mim, fico perdida 
Se deixas de ser quem és

Tens mãos macias de gato 
Meio manso, meio bravio
Olhas às vezes regato 
Outras mar e outras rio

Confessando

Jorge Fernando / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Fernando Maurício

Esta carta minha mãe
É o espelho onde o teu filho
Se desnuda totalmente;
O fogo que o vinho tem
Acendeu este rastilho
E a coragem de ser gente

É por ela, sim confesso
Que de segundo a segundo 
Bebo a febre de morrer
Mas quando a vires só te peço
Não lhe contes o meu mundo 
Não lhe dês esse prazer

Neste meu quarto isolado
O vinho que vou bebendo 
A sua imagem retém
Sobrevivo neste fado
Muito embora eu a perdendo 
Continuo a ter-te mãe

Mesmo que não seja

José Fernandes Castro / António dos Santos
Repertório de João Cruz

Mesmo que não seja amor
Aquilo que me consome
Decerto, terá o nome
Dum poema redentor

Mesmo que não seja pranto
O brilho do meu olhar
Decerto, farei chorar 
Teu olhar, enquanto canto

Mesmo que não tenha tempo
Para te roubar um beijo
Vou pôr no teu pensamento 
As rimas do meu desejo

E mesmo que minha voz 
Cante sopros magoados
Haverá sol nos meus fados 
Cantados, só para nós

Na Mouraria

Gabriel de Oliveira / José Pereira *fado latino*
Repertório de Fernando Maurício


Na velha Mouraria é onde eu moro
Qual jóia sem valor em áureo cofre
Agora é lá que eu sofro, canto e choro
Como um fadista chora, canta e sofre

Embala-me à janela o sonho lindo
Do Fado suspirando à luz da lua
E as lágrimas que choro vão caindo
Quais pérolas de mágoa sobre a rua

Perpassa o sentimento português
Naquelas ruas tristes e bizarras
E sobre as tuas pedras muita vez
Eu julgo ouvir trinar, velhas guitarras

Na minha vida incalma de fadista
Eu sinto dentro d’alma noite e dia
Vibrar alegremente a fé bairrista
De quem sabe sofrer na Mouraria

Ai esta pena de mim

Amália Rodrigues / José António Serôdio
Repertório de Amália

Ai esta angústia sem fim
Ai este meu coração
Ai esta pena de mim
Ai a minha solidão

Ai minha infância dorida 
Ai o meu bem que não foi
Ai minha vida perdida 
Ai lucidez que me dói

Ai esta grande ansiedade 
Ai este não ter sossego
Ai passado sem saudade 
Ai minha falta de apego

Ai de mim que vou vivendo 
Em meu grande desespero
Ai tudo o que não entendo 
Ai o que entendo e não quero

Eu, ela e o fado

Moita Girão / Armando Machado *fado marana*
Repertório de Fernando Maurício


Põe as tuas argolas nas orelhas
Calça chinela e leva meia branca
Sobre o cabelo põe rosas vermelhas

Que vamos à toirada a Vila Franca

Hás-de ir a trajar bem p’ra dar nas vistas
E dizer mal de ti, que ninguém pense
Quero mostrar a todos os fadistas

Que a mais bela fadista me pertence

Quando a praça estiver de todo à cunha
Que vamos a marcar ninguém o nega
Depois quando tocar pró boi à unha

Eu hei-de oferecer-te a melhor pega

Havemos de cear fora de portas
Onde a minha guitarra vai dar brado
Ali de canjirão a horas mortas

Hás-de mostrar como se canta o fado

Dá-me um beijo

Este fado é também conhecido com o título: És tudo para mim
Frederico de Freitas / Silva Tavares
Repertório de Amália

Talvez por muito amar a liberdade
Invejo a vida livre dos pardais
Mas prende-me em teus braços sem piedade
E eu juro da prisão não sair mais

Não posso ouvir o fado sem vibrar
E não domino em mim a febre de o cantar
Mas dá-me um beijo teu fremente
Verás que fico assim, calada eternamente

Adoro a luz do sol que me alumia
Por grata e singular mercê de Deus
Mas fecha-me num quarto noite e dia
E eu troco a luz do sol pelos olhos teus

Baixinho aqui pra nós, muito em segredo
Eu sempre fui medrosa até mais não
Mas pra que sejas meu não tenho medo
Nem mesmo de perder a salvação

O beijo que não se deu

Clemente Pereira / Casimiro Ramos *fado pinóia*
Repertório de Fernando Maurício 


Tanta ternura em desejo
Nos lábios pode ficar
A lembrar aquele beijo 
Que não se chegou a dar 

Quando um beijo é prometido 
Fica-nos sempre o ensejo
De haver em nosso sentido 
Tanta ternura em desejo 

E aquele que a nossa boca 
Em promessa quis pagar
Às vezes por coisa pouca 
Nos lábios pode ficar 

Se é de sincera amizade 
E nunca um simples gracejo
Sentimos sempre vontade 
A lembrar aquele beijo 

No nosso amor sempre nele
Há beijos pra recordar
Mas nunca se esquece aquele 
Que não se chegou a dar

Fado xuxu

Frederico Valério / Amadeu do Vale
Repertório de Amália

O fado canção bizarra

Pôs a samarra todo brejeiro
E lá foi com a guitarra até ao Rio de Janeiro
Fez-se um fadista atrevido

Tão destemido e de tal marca
Que até já é conhedico, p'lo fadistão da Fuzarca

Com sambinhas e modinhas, Abacate

Vitamate, Guaraná, Maracujá e Caruru
Com cocada, batucada, para ti
Abacaxi e Goiabada

O fado é bom p'ra xuxu

Portuguesinho de raça

Bebe cachaça, come pipoca
E no catete até passa por cidadão carioca
Às vezes vai à favela

Calça chinela, todo se bamba
E o fado canção singela, agora é todo do samba

Madrugadas

José Fernandes Castro / Frederico de Brito *fado azenha*
Repertório de Artur Lobo

Na madrugada da vida
Sou imagem repartida
Pelos momentos dispersos;
Na madrugada do sonho
E nos sonhos que transponho
Sou a alma dos meus versos

Na madrugada do mundo
Sou poeta moribundo 
Sou corpo desencontrado
Na madrugada do amor
Sou corpo, em sonho maior 
Sonhando amor compensado

Na madrugada da paz
Sou muitas vezes capaz 
De cantar minha saudade
Na madrugada do tempo
Sou força de pensamento 
Sou marca de felicidade

O meu desejo

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Leonor Santos

Quero que sejas o mar da minha vida
P’ra me afogar em ti, de quando em vez
Eu quero ser a onda em ti perdida
E ter de ti, a força das marés

Eu quero ser o barco que naufraga
Na força dessa tua tempestade
E ficar para sempre em tua água
Mergulhar nesta paixão sem ter idade

Quero acordar ao som da tua voz
E despertar em ti paixões sem fim
Quero viver contigo um sonho a sós
E dar-te todo o mel que há em mim

Não negues meu amor este desejo
Nem penses que o meu sonho já morreu
Dá-me o calor e a força do teu beijo
E deixa que teu mundo seja eu