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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Rosa do rio

Manuel Carvalho / Raúl Pinto
Repertório de Manuel Soares 

Num sombrio rés-do-chão
Da rua dos Canastreiros
Viveu a Rosa Maria
Mesmo defronte ao Reimão
Onde rufias barqueiros
Iam ao fado vadio

Nesse rés-do-chão sombrio
Só tinha por companhia 
A sua velha redoma
Havia sempre um pavio
Aceso de noite e dia 
À senhora da Vandoma

Amou fidalgos artistas
Assumiu de corpo inteiro 
Seus pecados com vaidade
Riu-se das suas conquistas
Apenas um marinheiro 
A fez chorar de saudade

Lavava roupa no Douro
Passava o tempo a brunir 
P’ra seu sustento danado
Sua voz era um tesouro
Ao destino quis fugir 
Mas morreu cantando o fado

Sonho de marinheiro

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias

Por um instante lembro o Infante
Volto a 500
Terras distantes, nomes sonantes
Rosa dos ventos
Ondas de amor, misto de paixão e fé
Junção de cores, cacau, café

À beira rio
À beira tejo, à beira mar
Ali sentado
Sonho acordado a imaginar
As caravelas
Com suas velas a desfraldar
E os mareantes
Como gigantes vencendo o mar

Vem-me à memória passos da história
Nossos avós
Na maresia, a poesia fala de nós
Velhos padrões, calmaria e tempestade
Mil emoções, sinto vaidade

Resistir à saudade

Manuel Carvalho / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Fernanda Barbosa 

Depois de tanto sofrer
Habituei-me a viver
Na vida com a saudade
O tempo que tudo cura
Mata o passado e a jura
E faz sentir a verdade

Sou um verso sem reverso
Uma ida sem regresso 
Poema que nunca li
Sou rio que não tem foz
Trago no fado e na voz 
Esta saudade de ti

Com teus olhos já não sonho
Eram castanhos, suponho 
Quase o teu rosto esqueci
E o sabor dos teus beijos
Já não me acendem desejos 
Já não me lembro de ti

E é nesta resistência
Ao sofrimento, à demência
Que me mata lentamente
Mas eu já me habituei
À saudade que nem sei 
Se esta dor me alimenta

Retrato em branco e preto

Tom Jobim / Chico Buarque
Repertório de Marta Rosa

Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinha
Eu vou ficar tanto pior

O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto e que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a escrever

Pra te dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E tu sabes a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

Uma só noite em desejo

Fernando Campos de Castro / Joaquim Campos  *fado rosita"
Repertório de João Loy 

Meu amor, amor amado
A quem me dou em segredo
Meu amor alucinado
Que me liberta e dá medo

Vem deitar-te nesta cama 
Feita de fogo e ternura
Onde o meu corpo te chama 
Com lucidez e loucura

Tenho saudades de ti 
Do cheiro da tua roupa
Desde a hora em que morri 
Nas praias da tua boca

Meu corpo que tanto quero 
Sobre o teu corpo, num beijo
Meu amor de quem espero 
Uma só noite em desejo

História do quadrilheiro

*História do quadrilheiro Manuel Domingos Louzeiro*
António Aleixo / José Niza
Repertório de Adriano Correia de Oliveira

Já lá vai preso o ladrão
Que em toda a parte aparecia
Contam-se mais de um milhão
De roubos que ele fazia


Meus senhores vão ouvir 
A história do quadrilheiro
Manuel Domingos Louzeiro 
Que foi a pena cumprir
Enquanto alguém de Salir 
Num primor de descrição
Lhe chama até "Lampião" 
Mas, Salirenses honrados
Podeis dormir descansados
Que lá foi preso o ladrão

P’las coisas que o povo diz 
O tal Domingos tem sido
P’ra uns, terrível bandido 
P’ra outros, grande infeliz
Mas eu, sem querer ser juiz 
Vi que ele se despedia
Da mulher com quem vivia 
Numa amizade sincera
E não vi nele a tal fera
Que em toda a parte aparecia

Desse rei dos criminosos 
Direi aos que o conheceram
Poucos crimes apareceram 
E poucos são os queixosos
Apenas alguns medrosos 
Terrível fama lhe dão
Para a justiça só são 
Os seus crimes dois ou três
Mas coisas que ele não fez
Contam-se mais de um milhão

Por alguns sítios passava 
Onde há só gente honradinha
Que roubava à vontadinha 
E que ninguém acusava
Tudo Domingos pagava 
E ele às vezes nem sabia
Que à sua sombra vivia 
Gente que passa por justa
Fazendo crimes à custa
Dos roubos que ele fazia

Orações

Carlos Conde  / Popular
Repertório de Alfredo Duarte Jnr. 

É hoje dia de festa
Estão os sinos a tocar
Não sei que alegria é esta
Que me dá para chorar

Sai agora a procissão 
A alegria é manifesta
Há rosmaninho p'lo chão 
É hoje dia de festa

A Senhora da Bonança 
Desceu hoje do altar
Corre um perfume d'esperança 
Estão os sinos a tocar

Açafates, trigo aos molhos 
Garotada a correr lesta
Sinto lágrimas nos olhos 
Não sei que alegria é esta

Recolhe a Virgem no andor 
Sobem foguetes no ar
Sopra um místico fervor 
Que me dá para chorar

Dança dos peixes

João Monge / José Medeiros
Repertório de Hélder Moutinho 

O mar me leva 
Mas nunca me deixes
Ó mar me enleva 
Com a dança dos peixes

Fiz um barquinho com a pele da mão
Parti por ti, parti por nós os dois
O que não vivi vou sonhar depois
Levo a nossa ilha, amor
Dentro do meu coração

O mar me leva 
Para o fim do mundo
Se é negra a treva
Mais o mar é fundo

Mas há-de haver uma candeia no mar
Parti por ti, deixa a luz acesa
Chorei, sorri e um lugar à mesa
Com a dança dos peixes 
Um dia eu hei-de voltar

Na cidade dos poetas

Valentim Matias / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Valentim Matias 

Na cidade dos poetas
As palavras prediletas
Refletem a emoção
Cidade dos sentimentos
Das tristezas e lamentos
Com um nó no coração

Amores e desamores
Espinhos e também flores 
Beleza, fascinação
Angustias a fervilhar
Gente que teima em amar 
E muita desilusão

Na cidade dos poetas
Por vezes também profetas 
Nem que seja da desgraça
Que sonham com o momento
De já não ver sofrimento 
Entre a multidão que passa

Mas é bem crua a verdade
E a nua realidade 
Ultrapassa o seu desejo
Cidade dos sonhadores
Com o maior dos fervores 
Daqui te envio um beijo

Fado do embalo

Amélia Muge / João Godinho
Repertório de Joana Amendoeira

E hoje o fado é pequenino
Num sonho aprende a ser destino

As guitarras a trinar, a trinar
Estão a embalar

Vá dorme... dorme... ai meu tesouro
Faz da noite um berço de ouro

As guitarras a trinar, a trinar
Estão a embalar

Quimeras à solta

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte
Repertório de Joaquim Brandão 

Senti hoje a tal revolta
Ao ver ilusões à solta
Pelas ruas da cidade
É revolta que se sente
Quando no peito da gente
Já não cabe mais saudade

Vivo cansado a sonhar
Já não tenho dor p’ra dar
Ao desejo que m’enleia
Morro nesta ansiedade
À procura da verdade
Com sonhos feitos d’areia

Esta angustia que me mata
Vai vencendo quando ataca
O que penso de mim mesmo
Pois só encontro a verdade
Pelas ruas da cidade
A matar sonhos a esmo

Assim vai a vida embora
Os sonhos ficam lá fora 
À espera do fado norte
Viver a vida a preceito
Toda a gente tem direito
Mas é preciso ter sorte

Conta corrente

Carlos Conde / Miguel Ramos
Repertório de Teresa Nunes 

Tu partes por capricho, eu por afrontas
Mas antes do balanço a tanto amor
Vamos fazer primeiro as nossas contas
Que eu devo ter um saldo a meu favor

Põe num lado os ciúmes que eu passei
E noutro os teus momentos de prazer
Desconta agora os beijos que eu te dei
E vê quanto me ficas a dever

Põe num lado esta minha adoração
E noutro as amarguras que me dás
Desconta o meu carinho e o me perdão
E vê se estás em débito ou não estás

Tu nem dos próprios juros te libertas
Pois vê-se pelas provas já tiradas
Que as contas por mim feitas estão certas
Enquanto as tuas somas dão erradas

Mas tu sabes quem sou e eu sei quem és
P’ra que havemos de estar em rebeldia?
Vamos fazer as pazes de uma vez
Porque temos de pôr a escrita em dia

Palavras do meu fado

Manuel Carvalho / João Alberto *fado sinas trocadas*
Repertório de António Tavares

Vai nas palavras que canto 
O jeito de m’exprimir
No fado que gosto tanto 
Vai meu modo de sentir

Ouvindo vão compreender 
A alegria ou o lamento
Que o poeta ao escrever 
Lançou nas asas do vento

São as palavras mais sentidas
De quem sabe o mundo amar
Levam rimas prometidas
P’ra eu cantar
Palavras lindas, às vezes setas
Louvando a paz, negando a guerra
Mas cantarei sempre os poetas
Da minha terra

São palavras com beleza 
As que nos falam d’amor
Quantas vezes são tristeza 
Feitas de saudade e dor

Todas juntinhas num tema 
Pintura bela dum quadro
Que formam este poema 
Que cabe neste meu fado

Trago palavras comigo

Manuel Carvalho / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Joaquim Brandão 

Trago palavras guardadas
À muito para te dizer
No meu peito sufocadas
Algumas delas tiradas
De poemas por fazer

Palavras que traz o vento 
Doem muito e tanto assim
Que vivo agora o momento 
De pensar que houve um momento
Que te esqueceste de mim

Trago palavras também 
Enfeitadas de alecrim
Para dar à minha mãe 
Esse amor e doce bem
Nunca se esquece de mim

E das palavras que trago 
Algumas andam comigo
Neste coração de vago 
À procura de um afago
À procura dum abrigo

Fora de moda

Tiago Torres da Silva / Valter Rolo
Repertório de Joana Amendoeira 

Disse que não ia  
E agora desdigo
Vou à romaria 
P’ra me encontrar contigo

Mas se perguntarem 
Diz que lá não me viste
Que é p’ra não falarem 
Do que ‘inda não existe

Sobre uma paixão
Não se pode fazer uma alusão banal
Sem a transformar
Em confusão, em dor, ou mesmo em medo
Sobre uma paixão
Há que aprender que o silêncio é essencial
Acho que nós
Só podemos existir quase em segredo

Toquem uma valsa 
De um sabor tão antigo
Eu já estou descalça 
P’ra ir dançar contigo

Façam-me a vontade 
Eu quero abrir a roda
Já tenho saudade 
De estar fora de moda

Se alguém nos seduz 
Nem sentimos a falta
Dos focos de luz 
Que enfeitam a ribalta

Sei que te pertenço 
Por ter reconhecido
Um prazer imenso 
Em cantar ao teu ouvido

Mundo

Fernando Tavares Rodrigues / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Kátia Guerreiro 

Eu quis num gesto só abrir-te o mundo
Deixar no teu olhar a cor da esperança
Toda a vida é eterna num segundo
Num segundo porém nada se alcança

Um dia descobrimos o mistério
De viver dia-a-dia de mão dada
Dos sentidos fizemos um império
Do qual não resta hoje quase nada

De manhã acendemos as estrelas
Sendo um do outro escravos mas heróis
Inventámos países cidadelas

Agora tu e eu apenas dois;
Mastros ainda erguidos mas sem velas
À espera do que vem sempre depois

Condão

João Monge / Carlos Barreto
Repertório de Hélder Moutinho 

Ai se eu tivesse o condão 
De te dar o paraíso
Pedia a Deus para não
Inventar mais o perdão 
Porque não era preciso

Ai se eu tivesse o condão 
De sonhar como em criança
Virava pedras em pão
Punha um em cada mão 
Deixava tudo de herança

Não quero a mais nem a menos
Para mim nem para ninguém
Somos todos tão pequenos
Ao pé da terra mãe

Só queria um largo maior 
E um lar para cada um
Com papoilas ao redor
Uma paisagem melhor 
E sem palácio nenhum

É tão fácil o meu sonho 
Tão fácil de imaginar
São loucuras que componho
Depois fico meio tristonho 
Quando acabo de acordar

Ai se eu tivesse o condão 
De dar um pouco de mim
Uma semente no chão
Inventava uma oração 
Sem princípio e sem fim

Mas sou um homem normal 
Sem poder nem ambição
Tenho o dom de ser igual
A qualquer simples mortal 
Ai se eu tivesse o condão

É a hora

Tiago Torres da Silva / Paulo de Carvalho
Repertório de Joana Amendoeira c/Paulo de Carvalho 

A hora em que a boca e o beijo
A hora em que o braço e o gesto
A hora em que aquilo que vejo
Não faz esquecer tudo o resto

A hora em que a voz e o grito
A hora em que o corpo e a calma
A hora em que eu só acredito
Nas coisas mais simples da alma

Só te posso amar
Se é no teu silêncio 
Que o meu olhar se demora
Deixa-me ficar presa do momento
Em que o corpo diz... é a hora

A hora em que o sonho e a vida
A hora em que a dor e a verdade
A hora em que a alma atrevida
Se põe a brincar à vontade

A hora em que o riso e o drama
A hora em que o tempo e a voz
A hora em que o palco me chama 
E o medo se esconde de nós

A canção que te pedi

Tiago Torres da Silva / Pedro Amendoeira
Repertório de Joana Amendoeira

Pedi-te uma canção 
Que falasse de amor
Faltou-te inspiração
Ou o tempo p'ra compor?

Pedi-te uma canção 
Daquelas imortais
Mas agora a questão 
É que chegou tarde demais

Ouvindo o que fizeste
Não sei o que fazer
Se a canção que me deste 
Diz ‘star pronta p’ra nascer

Não ia imaginar
Assim que a recebi
Que me ia apaixonar 
Pela canção que te pedi

Era muito mais, era um fado
A razão porque canto e existo
E o coração apaixonado
Pede p’ra cantar 
E eu sei que não resisto

Agora peço ao tempo 
Que corra devagar
Ou então eu invento 
Uma hora p’ra cantar

Nem antes nem após
Não vou sair daqui
Sem dar a minha voz 
À canção que te pedi

Canção vira lata

Letra e música de João Monge
Repertório de Hél der Moutinho 

Eu queria escrever-te um poema domingueiro
Assim meio rafeiro com a rima sem gravata
Daqueles poemas onde cabe o mundo inteiro
Para te mostar um coração vira-lata

Eu queria cantar uma canção que tu recordes
Daquelas que arrepiam a cova-do-ladrão
Mas só aprendi a fazer os tês acordes
E agora, mulher, ainda tenho salvação?

Ai Geni...
Eu queria ser o teu artista
O trapezista que te faz soltar um grito
Ai Geni...
Ser o teu pássaro de alpista
No teu poleiro, queria ser o mais bonito

Eu queria ter assim a pinta do Caetano
Que embala com carinho o teu bichinho-do-ouvido
Fazer boa figura e não pôr nódoa no teu pano
E agora, mulher, achas que sou um bom partido?

A guitarra do Chico

Eduardo Damas / Manuel Paião
Repertório de Maria Valejo 

O Chico do Cachené 
Que toca no Escondidinho
Anda agora mais alegre 
Que uma andorinha no ninho

O Chico do Cachené 
Até já canta outra trova
Tudo isto, vejam bem 
Porque tem guitarra nova

O Chico do Cachené
Tem agora uma guitarra
Que toca como quem chora
Um fado que se desgarra
Pedrinhas de madrepérola
E cordas da cor do ouro
Esta guitarra para o Chico
Vale mais que um tesouro


Quando toca, o seu tocar 
Vai a gente arrepiando
O som da sua guitarra 
Parece a dor conversando

Porque o Chico ao tocar
Sente tal amor profundo
Que às vezes parece estar 
Bem fora, do outro mundo

Um segundo

Mário Rainho / Carlos da Maia *fado perseguição
Repertório de Vânia Duarte

Um segundo, um só segundo
Bastava p'ra ver o mundo
Nas ruas do teu olhar
Se tu me desses pernoite
Nos teus olhos cor de noite
Onde há estrelas a morar

Um segundo era o bastante
Se esse teu sorriso amante 
Por um momento mais breve
Roçasse os lábios-desejo
E me mordessem num beijo 
Os teus dentes cor de neve

Um segundo e morreria
Logo depois renascia 
Das trevas à claridade
Vale mais num segundo
Ter um desejo profundo 
Que sem nada a eternidade

Arraial de Santo António

Júlio Dantas / Frederico de Freitas
Repertório de Amália

Cheira a rua a alecrim 
A berlinda passa a trote
Vai a noiva de palmito 
Vai a noiva de palmito 
Vai o noivo de capote

Nem uma te escapa
Meu Santo Antoninho
Põe a tua capa
Mete-te ao caminho

Já lá tem lençóis de renda 
A alfazema está a arder
Para divertir um homem 
Para divertir um homem
Não há como uma mulher

A menina vai deitar-se 
Que a benzeu o padre cura
É melhor lá estar em casa 
É melhor lá estar em casa
Que espreitar à fechadura

Ai o capote encarnado 
Ai o lenço de cambraia
Ai a luz que se apagou 
Ai a luz que se apagou
Quando ia a cair-lhe a saia

Cara-metade

João Monge / Manuel Paulo
Repertório de Hélder Moutinho

Havia meia flor no teu olhar
Havia meio luar na tua voz
Havia meia lágrima p’ra dar
Meio abraço a separar
O que havia ao meio de nós

Havia meio amor em cada lado
Do rio que tinha a raiva de janeiro
Havia meio amada, meio amado
Meio sofrido, meio chorado
E não havia nada inteiro

Mas o amor é juntar as metades
Que Deus espelhou no eterno labirinto
É só juntar duas meias verdades
A ternura e as saudades
À metade que eu já sinto

Gostar de quem gosta de nós

Letra e musica de Tiago Bettencourt
Repertório de Raquel Tavares 

Gostar de quem gosta de nós 
Nunca é em vão
É curva que se rende 
Ao caminho que se estende
Gostar de quem nos faz melhor 
É riso que se abre
Lua cheia que nos arde
Só me encontro aqui  
Se te encontro em mim

Danço à sombra deste mar
Na onda deste amor
Meu vício doce lar
Procura de calor
E há sempre uma razão, outro amor
Há sempre esta paixão
Que me diz que vem
Gostar de quem gosta de nós

Se me queres ver, me queres levar
Não olhes para a frente
Fecha os olhos, anda, sente
Vem nesta canção que sei de cor
Meu coração é tão maior
Só me encontro aqui 
Se te encontro em mim

Sonho a saudade

Mário Pereira / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Débora Rodrigues 

Sonhei que foste embora e não voltavas
Que foste de vez p’ra longe do meu peito
Senti que ao acordar já cá não estavas
Julguei ficar sem ti neste meu leito

Peguei no xaile preto que me deste
No dia em que te dei meu coração
Cantei baixinho o fado que escreveste
Amor, tudo em ti é oração

Não posso acreditar que tu partiste
Sem ti é mais vazio este teu espaço
Sem ti a minha vida é triste, triste
Amor, que faço eu sem teu abraço

E ao último acorde da guitarra
O sonho não foi mais que fraca chama
O amor é sempre eterno quando agarra
A vida ao fado de quem se ama

Canção em linha reta

João Monge / Carlos Barreto
Repertório de Hélder Moutinho 

Ai se a minha mãe soubesse
As coisas que dela herdei 
E não quero revelar
A dor alheia que entristece
Nas ruas onde passei 
E que me fazem cantar

Eu já cantei p’ra vagabundo
P’ra gente do outro mundo 
E p’ra quem nem lugar tem
Eu finjo que são coisas de poeta
São canções em linha reta 
Que aprendi co’a minha mãe

É bom saber de onde vim
Saber a terra que piso
Há dois irmãos dentro de mim
A loucura e o juízo

Às vezes mostro o meu lado feliz
Canto na boca de cena 
À luz da estrela polar
Ao longe vejo o seu olhar que diz
Que esta vida vale a pena
Que vale a pena cantar

E juro que amanhã vai ser diferente
Vai haver baile de gente 
Com o amor que a gente tem
Então não são coisas de poeta
São canções em linha reta 
Que aprendi co’a minha mãe

Nosso amor

José Jesus Patrício / Miguel Ramos *fado latino**
Repertório de Bruno Igrejas 

Deixa-me ser o céu dos teus desejos
O companheiro amante dos teus passos
Multiplicar por mil os nossos beijos
Na prisão tão feliz dos nossos braços

Quero contigo andar, sempre a meu lado
Entrelaçar, sorrindo, os nossos dedos
Que Deus perdoe, se amar tanto é pecado
Não sabe o nosso amor guardar segredos

Feliz meu pensamento em alegria
Num desfraldar de amor sem timidez
O nosso amor tão louco em fantasia
Descobre o teu, meu corpo de uma vez

Unidos por amor, na mesma estrada
Num caminhar d’esperança, cheio de luz
E ao romper o céu da madrugada
Encontra nosso amor frente a Jesus