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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Não presta?

Mote: Nuno de Aguiar / Glosa: Daniel Gouveia / Popular *menor e corrido*
Repertório de Daniel Gouveia

Dizem que o fado não presta
Mas não sei qual a razão
Se é ainda o que nos resta
Que nos fala ao coração

Há p’ra aí muito sujeito 
Que se aposta em dizer mal
Do fado, mas, por sinal 
Nunca o ouviu a preceito;
Por soberba, ou por despeito 
Rebaixam esta canção
Sem qualquer explicação 
Afinal, que treta é esta?
Dizem que o fado não presta
Mas não sei qual a razão

Ao contrário, muitos há 
Que o sentem vibrar na alma
Sentem fervor, sentem calma
 Consolo na hora má
Estão bem onde o fado está 
E o povo desta nação
Se o ouve, tem-lhe afeição 
O seu valor não contesta;
Se é ainda o que nos resta
Que nos fala ao coração

O Zé pagante

Artur Soares Pereira / Alfredo Duarte *fado odeon*
Repertório de Daniel Gouveia

Nos tempos da outra senhora
Diz quem por ela não chora
A coisa era bem pior
Mas os anos vão passando
Os governos vão mudando
E a coisa não está melhor

Sempre que o Governo sai
Eu penso que a coisa vai 
Desta vez, p’ra melhorar
Mas depois fico zangado
Pois vejo que o ordenado 
Continua a não chegar

Às vezes fico a pensar
Se hei-de ou não acreditar 
Em quem se senta em São Bento
Pois nada, nada os comove
Se um partido diz que chove 
O outro diz que faz vento

E os senhores deputados
Com chorudos ordenados 
Gostam desta confusão
Cá vou carregando a trouxa
Quando o mar bate na rocha 
Quem se lixa é o mexilhão


REFRÃO DA VERSÃO ORIGINAL
Desconheço se esta letra foi gravida
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Música Carlos Dias *Fado Zé Cacilheiro*

Sou Zé pagante
Deste país vacilante
Onde cada governante
Vai dizendo a sua treta
Cá vou pagando
Sorridente e não bufando
E vendo, de quando em quando
Nosso ouro ir pró maneta

Noite dos amantes

João Dias / Carlos Simões  Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Vasco Rafael

Noite, noite, mãe imensa
Dos amantes proibidos
Que o dia jamais te vença
E a lua seja presença
Constante nos meu sentidos

Vou nadar na madrugada 
Nas asas dum sonho-mar
E não quero ver mais nada 
Do que uma rosa encarnada
Numa boca por beijar

Noite, noite, dos amantes 
Com gargalhadas de estrelas
Esperança de navegantes 
À noite mais confiantes
Na sorte das suas velas

Jardim de todos os medos 
Dos mitos, que havia dantes
Sobre o mar, tecendo enredos 
Prendo a noite nos meus dedos
Noite, noite, dos amantes

Quadras soltas

Torre da Guia / Alvaro Martins *fado sada*
Repertório de Adelaide Madrugada

Nunca dizes se gostaste
Daquilo que te calei
Sei bem que o adivinhaste
O que pensaste não sei

Adivinhei o que pensas 
Só por saber que não era
Qualquer das coisas imensas 
Que a minh’alma sempre espera

Dias são dias e noites 
São noites e não dormi
Os dias a não te ver 
As noites pensando em ti

Por muito que pense e pense 
Naquilo que me disseste
Teu silêncio não convence 
Falaste quando vieste

Fado do abraço

Letra e musica de Cuca Roseta
Repertório da autora

Quanto te abraço, meu amor
O mundo pára suspenso
Num momento constrangedor
Entre o tempo e o contratempo
Abraça-me meu amor

O teu abraço é a vontade 
Onde se adia prazer
Um só abraço na saudade 
A perfeição de um quase ser
Abraça-me meu amor

Quanto te abraço, meu amor 
Sustenho a respiração
Num momento constrangedor 
De uma prece em comunhão
Abraça-me meu amor

O teu abraço é o completo 
Onde a beleza contida
Está no quase incompleto 
Que dá sabor à vida
Abraça-me meu amor

Somos dois loucos

José Maria Antunes / Artur Ribeiro
Repertório de Artur Ribeiro

Fitei os olhos teus, só vi ternura
Beijei os lábios teus, vezes sem fim
Senti dentro de mim tanta loucura
Que fui roubar o sol e quando vim;
Eu pus raios de sol na noite escura
E tu roubaste a lua para mim

Somos dois loucos 

Seguindo em frente
Teimosamente, mãos
dadas
Rostos unidos
Somos dois loucos 

Apaixonados
Mas não culpados 
De sermos loucos varridos

Tu és toda a razão dos meus pecados
Eu sou a tentação dos sonhos teus
Também sou o porquê dos teus cuidados
E tu a inspiração dos versos meus;
Os dois, de corações ajoelhados
Pedimos deste amor, perdão a Deus

Fado do perdão

Cuca Roseta / André Sardet
Repertório de Cuca Roseta

Que não nos separe a vida
Que não posso cantá-la assim
Se canto à despedida
Perde-se a vida de mim

Que morro sem o teu beijo
Neste coração a bater
Aqui dentro do meu peito
Com medo de te perder

Ah, volta meu amor
Por favor, peço a Deus
Apaga a dor e o rancor
Que afasta os teus braços dos meus

A teus pés ponho o coração
Meus olhos lavam tua mão
Meus cabelos sangram no chão
Meu amor, peço perdão

Flor morta

Torre da Guia / Jaime Santos *fado alfacinha*
Repertório de Adelaide Madrugada

Quando me dás uma flor
Na ideia de me honrar
Nem sequer pensas na dor
Da flor que me queres dar

Como foste tu cortar 
Tanta vida florida
Pensando vir contentar 
Tristezas da minha vida

Não o vês, irrefletido 
Que uma vida e uma flor
Têm tanto de parecido 
Quer no prazer, quer na dor

Se o fazes por amor 
Que amor estranho é o teu
Quando me dás uma flor 
Que já há muito morreu

O Infante

Fernando Pessoa / João Braga
Repertório de João Braga

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce
Deus quis que a terra fosse toda uma
Que o mar unisse, já não separasse
Sagrou-te e foste desvendando a espuma

E a orla branca foi de ilha em continente
Clareou, correndo, até ao fim do mundo
E viu-se a terra inteira, de repente
Surgir, redonda, do azul profundo

Quem te sagrou criou-te português
Do mar e nós em ti nos deu sinal
Cumpriu-se o mar e o Império se desfez
Senhor, falta cumprir-se Portugal

Fado da vaidade

Florbela Espanca / Cuca Roseta
Repertório de Cuca Roseta

Sonho que sou a poetisa eleita
Aquela que diz tudo e tudo sabe
Que tem a inspiração pura e perfeita
Que reúne num verso a imensidade

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo, e que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita

Sonho que sou alguém cá neste mundo
Aquela de saber vasto e profundo
Aos pés de quem a terra anda curvada

E quando mais no céu eu vou sonhando
E quando mais no alto ando voando
Acordo do meu sonho e não sou nada

Fado proibido

Cuca Roseta / Pedro Lima
Repertório de Cuca Roseta

Não é um erro amar 
Nem é te querer
Nem mesmo desejar 
Pecado ou maldizer

Não é maldade amar 
Nem é te querer
Nem mesmo desejar 
Castigo ou dever

Água em pedra dura 
Se for obrigação
Bate até que fura 
Não dura e não é são, não

Não é proibido amar
Cá dentro só para mim
Amar só por amar 
Numa esperança sem fim
Ah!... só quero amar
Imaginar, enfim
Eu posso até sonhar 
Que és parte de mim

Na despedida

Boavida Pinheiro e Nuno de Aguiar
Joaquim Campos *fado puxavante estilado em versículo*
Repertório de Nuno de Aguiar

Na hora da despedida / tristemente
Dá-se um beijo mais intenso / qual loucura
Com o coração suspenso / infelizmente
No momento da partida / que tortura

Forte a emoção sentida / com fervor
Num enlace de bom senso / por bem querer
Eu direi que te pertenço / meu amor
P’ra sempre, p’ra toda a vida / até Deus querer

Na despedida, adeus não / não o direi
Que o desejo é regressar / para ficar
Se embacia o olhar / com que te olhei
Nos invade o coração / que sabe amar

Há que essa mágoa conter / e suportar
Na esperança de acreditar / em novo dia
Que em breve se vai voltar / voltar a amar
P’ra nossa vida viver / com alegria

Por quem choras, coração

Artur Ribeiro / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de Francisco Martinho

Por quem choras, coração
Não chores, porque eu bem vi
Esse teu pranto sem fim
Diz-me lá porque razão
Andas a chorar por ti
Em vez de chorares por mim

Por quem vais nessa tristeza
Por quem vais perder as horas 
Perdido na noite escura
Não tenho bem a certeza
Mas penso, por quem tu choras 
Não anda à nossa procura

Por quem choras, coração
Diz lá porque não te queixas 
De quem te fez sofrer tanto
Esse teu choro é traição
Tu choras por ti, mas deixas 
Meus olhos rasos de pranto

A guerra das rosas

Manuela de Freitas / José Mário Branco
Repertório de Camané

Partiste sem dizer adeus nem nada
Fingiste que a culpa era toda minha
Disseste que eu tinha a vida estragada
E eu gritei-te da escada
Que fosses morrer sozinha

Voltaste e nem desculpa pediste
Perguntaste porque é que eu tinha chorado
Não respondi, mas quando vi que sorriste
Eu disse que estava triste
Porque tu tinhas voltado

Zangada, esvaziaste o meu armário
E em nada ficou meu disco preferido
De raiva, rasguei o teu diário
Virei teu saco ao contrário
Dei-te cabo de um vestido

Queimaste o meu jantar favorito
Deixaste o meu champanhe azedar
E quando cozinhei o periquito
Para abafar o teu grito
Eu comecei a cantar

Fumavas, eu nem suportava o cheiro
Teimavas em me acender um cigarro
E quando tu me ofereceste um isqueiro
Atirei-te com o cinzeiro
Escondi as chaves do carro

Não queria que visses televisão
Em dia de jogos de Portugal
Torcias contra a nossa seleção
Se eu via um filme de acção
Tu mudavas de canal

Tu querias que eu fosse contigo ao bar
Só ias, se eu não entrasse contigo
Saía p’ra não ter de te aturar
Tu ficavas a dançar
Com o meu melhor amigo

Gozavas porque eu não queria beber
Ralhavas ao veres-me de grão na asa
Eu ia  festa sem te dizer
Nunca cheguei a saber
Se tu ficavas em casa

Tu
deste ao porteiro roupa minha
Soubeste que eu lhe dera o teu roupão
Eu dei o teu anel à vizinha
E p’ la estima que eu lhe tinha
Ofereceste-lhe o meu cão

Foste-te me lendo o teu romance de amor
Sabendo que eu não gostava da história
No dia de o mandares pró editor
Fui ao teu computador
Apaguei-o da memória

Se cozinhavas, eu jantava sempre fora
Juravas que eu havia de pagá-las
Põe-te na rua; dizias-me a toda a hora
E quando eu me fui embora
Tu ficaste-me coas malas

Depois desses anos infernais
Os dois éramos caso arrumado
Achando que também era demais
Jurámos pra nunca mais
Foi cada um pra seu lado

No escuro, tu insistes que eu não presto
Eu juro que falta a parte melhor
Um beijo acaba com o teu protesto
Amanhã conto-te o resto
Boa noite meu amor

Atrás de um sonho

Frederico de Brito / Shegundo Galarza
Repertório e Carlos Ramos

Fui atrás dum sorriso
Que deixou minh’alma louca
E para quê? para alguém me dizer
Que o ladrão lhe fugira da boca

Fui atrás do encanto
Que eu achei num meigo olhar
E só voltei carregado de pranto
Que a saudade hoje pôs a secar

Andamos nós a vida inteira 
Atrás dum sonho
E o que acontece a um qualquer
Por mim suponho
Foge uma esperança 
E nós sentimos a revolta
Indo atrás dela 
A confiança que não volta;
Vem o ciúme a conversar 
Por uns momentos
P’ra nos mentir
P’ra nos dizer 
Que não vem mais
E cá pra nós
É sempre mau  semear ventos
Sabendo já 
Que só colhemos vendavais

Fui atrás da saudade
Desta vez tive cautela
É que eu levei a tristeza também
P’ra constar que ando às vezes com ela

Fui atrás dum desejo 
E apartei-me dos meus ais
É que as tristezas já são de sobejo
E as saudade p’ra mim são demais

Saudades não as quero

Frederico de Brito / Lopes Vieira
Repertório de Fernanda Maria

Bateram, fui abrir, era a saudade
Que vinha p’ra falar a teu respeito
Entrou com um sorriso de maldade
Depois sentou-se à beira do meu leito;
E quis que eu lhe contasse só metade
Das dores que trago dentro do meu peito 

Não mandes mais esta saudade
Ouve os meus ais, por caridade
Ou eu então, deixo esfriar esta paixão;
Amor... podes mandar se for sincero
Saudades... isso não, pois não as quero

Bateram novamente, era o ciúme
E eu mal me apercebi de que bateram
Trazia o mesmo ódio do costume
E todas as intrigas que lhe deram;
E vinha sem um pranto ou um queixume
Saber o que as saudades me fizerem

A nova Mouraria

José Araújo / Alfredo dos Santos *marcha do correeiro*
Repertório Liliana Martinho Santos

Tem a forma de chinela
A velhinha Mouraria
Orgulhosa do passado
Mas quem hoje vive nela
Sente uma imensa alegria
Neste espaço renovado

Tem almas de todo o mundo
Numa manta colorida 
Que nos dá tanto calor
Sentimento bem profundo
Dos que lutam uma vida 
Dando e recebendo amor

E quem vem doutra Lisboa
Sente toda a emoção 
Desta vida em harmonia
Aqui vive gente boa
Amando com devoção 
O Bairro da Mouraria

Deusa do amor

Manuel Delindro / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de Manuel Delindro

Ó deusa do amor que apareceste
Aqui na minha ilha tão perdida
Ó bela adormecida que trouxeste
A luz do novo amor à minha vida

Ó minha mariposa bela e doce
Abre as asas douradas… vem a mim
A loucura feliz que aqui me trouxe
Tem princípio, tem meio… e não fim

Não desprezes a vida um só momento
Pois dela surgirá o entardecer
Um misto de ternura e sentimento
Dará fulgor ao nosso amanhecer

Ó deusa do amor que não rejeito
Se queres cortar a raiz à ilusão
Então, a ferro e fogo, abre meu peito
Arranca-me a esperança e o coração

Louco

Henrique Rego / Popular *fado menor*
Repertório de Alfredo Marceneiro

Quiseste que eu fosse louco
P’ra que te amasse melhor
Mas amaste-me tão pouco
Que eu fiquei louco d’amor

Assim arrasto a loucura 
Perguntando a toda a gente
Se do amor, a tontura 
Um louco também a sente

E se quiseres amar 
Esta loucura, mulher
Dá-me apenas um olhar 
Que me faça endoidecer

Dá-me um olhar mesmo triste 
Pois só nesta condição
Dou-te a loucura que existe
Dentro do meu coração

O lenço que me ofertaste 
Tinha um coração no meio
Quando ao nosso amor faltaste 
Eu fui-me ao lenço e rasguei-o

O que sobrou foi amor

Letra e musica de Pedro Campos
Repertório de Hélder Moutinho

Promessas das luzes 
Deste bairro que eu conheço
Das noites tão sofridas em que peço
A Deus por mim
Momentos perdidos 
Neste tempo que passou
Tão tristes, alegres como eu sou
Fazem parte de mim

Lisboa dos bairros 
Da tristeza que não passa
Das horas que dão vida 
E o sol da Graça da minha dor
Lisboa nasceu assim para mim 
Nos braços da Mouraria
E o que sobrou foi amor
Lisboa da vida do dia a dia
Dos becos da Mouraria
E o que sobrou foi amor

Fora de horas

Letra e musica de Belo Marques
Repertório de Fernanda Maria

Fadista, geme a tua desventura
Não faças conta ao tempo quando choras
Que o fado em certas horas de amargura
Só deve ser cantado fora d’horas

Não bate o coração a horas tantas
Nem sabe quando ri ou quando chora
O fado é mais sentido quando o cantas
Se a hora de o cantar passa da hora

O fado é o destino duma hora
Um dia ela virá, mas não sei quando
Quem tem um coração que canta e chora
Não pode ouvir as horas que vão dando

Bateu-me o fado à porta, lentamente
A quem fui receber de mãos abertas
Meu triste coração ficou doente
E nunca mais bateu a horas certas

Violência doméstica

Mário Rainho / Marina Mota
Repertório de Marina Mota

Os lábios dela 
Já só murmuram cansaço
Nas veias dela 
Pulsa lento o sangue quente
Aos braços dela 
Já não se cola um abraço
Isto, porque ela 
Até se esquece que é gente

A voz calou-se
Como se pecado fosse
Falarmos da sua dor
E tem no peito 
A bater descompassado
O coração envergonhado
Só porque sentiu amor
Olhem pra ela
Esse corpo fustigado
Onde um grito amordaçado
Por medo já se escondeu
Reparem nela
Não finjam que não notaram
Que as forças já se esgotaram
Mas a alma não morreu


Dos olhos dela 
Escorre o mar da humilhação
Vive com ela 
A mais dura solidão
Sorri p'ra ela
Dá-lhe um pouco de atenção
Que a vida dela 
Pode estar na tua mão

Fado livre

Miguel Novo / Joaquim Campos Silva *fado rosita*
Reportório de Camané

Não ser livre, não consigo
Por isso já decidi
Se não for livre contigo
Vejo-me livre de ti

Amo-te à minha maneira 
Não sei se é crime ou castigo
Mas por muito que eu te queira 
Não ser livre, não consigo

Deus me livre de trocar 
A liberdade por ti
És livre de não gostar 
Por isso já decidi

O risco de te perder 
É preço de maior perigo
Deus te livre de eu te querer 
Se não for livre contigo

Ao escolher a liberdade 
Sabendo que te perdi
Sem me livrar da saudade 
Vejo-me livre de ti;
Não me livro da saudade
Mas fico livre de ti

Sonhos junto ao rio

António Rocha / Manuel Mendes
Repertório de António Rocha

Corria o Tejo calma e lentamente
Um cheiro a maresia enchia o ar
E eu ali parado à tua frente
Perdido nos teus olhos verde-mar

Uma brisa suave acariciava
O teu rosto sereno, encantador
Enquanto a minha voz balbuciava
Num som impercetível, meu amor

Esvoaçam gaivotas ondulantes
Numa dança que fazia lembrar
O bailar dos meus olhos suplicantes
Perdidos nos teus olhos verde-mar

É testemunha a tarde que morria
De tudo quanto o teu olhar não viu
Na paisagem, no amor, na fantasia
Deste sonho nascido junto ao rio

Tristeza sai do meu peito

*Tristeza sai do meu fado*
Artur Ribeiro / Jaime Santos *fado alvito*
Repertório de Alcindo de Carvalho

Tristeza põe-me de parte
Faz tempo demais que moras
Na minha pobre razão
Já são horas de mudar-te
Põe riso nas minhas horas
E sai do meu coração

Tristeza, no meu caminho
Vais pôr a rosa mais bela 
Que Deus guarde em seu jardim
Já basta de andar sozinho
Também quero a minha estrela 
E um céu só para mim

Tristeza, faz-me a vontade
Põe os meus olhos de lado 
Deixa de viver comigo
Leva daqui a saudade
Tristeza sai do meu fado 
Leva meu choro contigo

Vida

Letra e musica de Pedro Campos
Repertório de Hélder Moutinho

Se ela pudesse dizer tudo o que sentia
Atravessar cada viela da cidade
Nos beirais, nos pregões da Mouraria
Dizer o que sentia, na verdade

E neste beco onde foi Rosa Maria
Vida cansada e a alma por um fio
Pensando num rapaz novo no bairro
Cantava assim como a ponte canta ao rio

Quando eu te vejo
Se souberes o que eu desejo
Voar no tempo de um beijo
Por uma rua qualquer
Abrir as asas
E acordar na tua mão
Ver bater o coração
Sem me perder

E se tu não me quiseres
E for triste o que disseres
Talvez me queiras mostrar
Que a vida é mesmo assim
Eu prometo, qualquer dia
Tu serás o que eu queria
Tu és a vida para mim

Amor zagal

Henrique Rego / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Alfredo Marceneiro

Não queiras ir pra cidade
Despreza o teu pensamento
Deixa-te estar que estás bem
Não tens amor à herdade
Onde foi teu nascimento
Onde morreu tua mãe

Ouve o que eu te vou dizer
Escuta meus ais, Margarida 
Não me faças mais sofrer
Fica comigo, querida
Enleada nos meus braços 
Para sempre, até morrer

Tenta dar um passo errado
Olvidando as companheiras 
Deste torrão adorado
E as carícias tão fagueiras
Do  que te quero oferecer 
Um coração dedicado

Por mim serás adorada
Um grande acolhimento 
Com uma condição, porém
Celebrarmos o casamento
Onde foi teu nascimento 
Onde morreu tua mãe

Não sei que nome dás ao meu amor

Maria de Lourdes Carvalho / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de António Mourão


Andei esquecido de mim p’ra te lembrar
Na minha vida és tema renovado
És rima que não canto por cantar
Tu és toda a razão deste meu fado

Teus lábios de promessas e ternura
Lonjuras de carícias no eterno
Teus olhos, alegrias e venturas
Sonhado paraíso deste inferno

Há clareiras de esperança em teu sorriso
Acenos de maldade que são dor
Tens tudo que de mim te á preciso
Não sei que nome dás ao meu amor

Lutei contra esta raiva de te querer
Supliquei abandono à saudade
Lutei por conseguir o teu viver
Cheguei junto de ti e já é tarde

Escrito no destino

João Monge / Popular *fado menor*
Repertório de Hélder Moutinho

Tenho um coração deserto
Onde não mora ninguém
O fado mora lá perto
E é ele quem me quer bem

Do vão da minha janela 
Eu vejo a lua passar
O peito chama por ela 
Mas ela não quer entrar

Na rua não há viv’alma 
Só o fado me quer bem
Dá-me o caminha da alma 
E fica triste também

Pus um escrito no destino 
Ninguém o quer habitar
Só o fado é inquilino 
E paga a renda a chorar

Vestida de fantasia

Deolinda Maria / Edgar Nogueira
Repertório de Deolinda Maria

Vestida de fantasia
Eu ando assim todo o ano
Contrária a tudo o que faço
Eu fingo ter alegria
Mas a mim própria me engano
Tenho o condão do palhaço

Ninguém pode adivinhar 
O que eu sou na realidade
Não me deixo conhecer
Eu canto p’ra não chorar
Ou p’ra melhor ocultar
O meu estranho viver

De ilusões também se vive
Boa sorte nunca tive
Cantando, sinto-me alguém
No carnaval desta vida
Muita gente anda a fingir
Alegrias que não tem