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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Balada do sino

Letra e música de José Afonso
Repertório de Amália

Uma barquinha lá vem lá vem
Dim-dem, a barquinha de Belém

Senhor barqueiro, quem leva aí?
Dão-dim, a barquinha de Aladim

Levo a cativa duma só vez
Dois, três, a barquinha do Marquês

Ao romper de alva, casada vem
Dim-dem, a barquinha que vai bem

Se a tem guardada deixe-a fugir
Dão-dim, na barquinha do Vizir

Lá vai roubada, lá vai na mão
Dim-dão, na barquinha do ladrão 

Graça da Graça

Manuela de Freitas / Pedro de Castro *fado pedro*
Repertório de Pedro Moutinho

Nasceu no Largo da Graça 
E a gente pergunta ao vê-la
Se ela tem nome de praça

Ou a praça o nome dela

Mora no Largo da Graça  
É Graça tão engraçada
Que a gente, quando ela passa 
Já não vê graça em mais nada

Às vezes ela não passa 
Mas já ninguém se acostuma
A que o Largo que é da Graça 
Fique sem graça nenhuma

Pois faça a gente o que faça 
Não se acha graça a ninguém
Se o próprio Largo da Graça 
Sem Graça, graça não tem

Eu também fico sem graça 
Se p’ra meu bem ou meu mal
Ando às voltas pela praça 
E da Graça nem sinal

Pergunto então a quem passa 
Quando se riem de mim:
Mas onde é que está a Graça? 
Que graça tem isto assim?

E oiço logo a ameaça 
De sofrer grande castigo
Se Deus me fizer a graça 
Da Graça engraçar comigo

Deus também sai a ganhar 
Caso o milagre se faça
Mil graças a Deus vou dar 
Em troca daquela Graça

Nem que seja p’ra desgraça 
Para a Graça não perder
Acho que vou achar graça 
Ficar no Largo a viver

Nem que seja p’ra desgraça 
Da Graça é que tu não sais
Graça do Largo da Graça 
Não te largo nunca mais

Mal dormido

Pedro da Silva Martins / Luís José Martins / Pedro da Silva Martins
Repertório de Marco Rodrigues

Pela noite mal dormida
O salto na madrugada
Pelo escaldão na cozinha
Pela papa entornada
Eu quero colo
Quero colo, quero colo
Ou uma noite descansada

Pelo zumbido nos ouvidos
Por esta peça pisada
Pelos berros, pelos gritos
Pela fralda e pela fralda
Eu quero colo
Quero colo, quero colo
Ou uma noite descansada

E toca não tarda nada
O despertador e sei
Como se não fosse nada 
Adormece e fica bem
Eu também
Eu também, eu também 
Também quero a minha mãe

Pela molha, pelo banho,
Pelas costas amassadas
Pela baba, pelo ranho
Pela água pela barba
Eu quero colo
Quero colo, quero colo
Ou uma noite descansada

Pelo pontapé em cheio
Pela viola riscada
Pela folha com um verso 
Na sanita, mergulhada
Quero colo
Quero colo, quero colo
Ou uma noite descansada 

Um pouco mais d’além

Maria de Lourdes de Carvalho / Amadeu Ramin *fado zeca*
Repertório de Pedro Lisboa

Eu cumpro do destino a lei exata
Do homem que sofrendo chora e canta
Eu cumpro esta pena que me exalta
De amar mais do que a própria lei nos manda

Eu amo aqueles que não entendo
No bem ou no mal, que me desejam
Eu amo os astros, o mar e a terra
Os seres que erguidos não rastejam

Amarei em ti, mulher, a criação
Divino e humano em ti transborda
Amo a paz da criança quando dorme
E a alegria sincera quando acorda

História mal contada

Tiago Torres da Silva / Carlos Barreto
Repertório de Sandra Correia

Ainda assim, porque tu existes
Mesmo os dias tristes terão alegria
Ainda assim, só porque te adoro
Até o que choro me faz companhia

Ainda assim, porque te amo tanto
Quando me levanto, sei que tu sorris
Se tu p’ra mim és mais do que um Deus
Até dizer-te adeus me deixa feliz

Entre nós
Uma estrada tão comprida
Entre nós
Uma história mal contada
Mas tu és o amor da minha vida
Entre nós há tão pouco
Há tão pouco ou quase nada
Entre nós
Uma jura não cumprida
Entre nós u
Uma dor desperdiçada
O amor nunca quer contrapartida
E eu sei que posso amar
Amar sem ser amada

Ainda assim, sei que há um momento
Em que eu só te invento se falar de mim
Ainda assim, quando digo não
Sei que o coração só vai dizer sim

Ainda assim, porque te desejo
Invento o teu beijo nesta boca nua
Se tu p’ra mim, és mais do que a vida
Até na despedida hei-de ser só tua

O nosso amor

Domingos Gonçalves da Costa / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Cidália Moreira

Meu amor, vou suplicar-te
Não me fales mais assim
Se de mim queres livrar-te
Deixa de pensar em mim
P’ra que eu possa olvidar-te

Por muito te amar e querer
Corpo e alma te entreguei
Não me arrependo sequer
Nem tão pouco te roubei
Ao amor d’outra mulher

É teu, meu amor feliz
Como o luar é da lua
Já que o destino assim quis
Ou ditosa ou infeliz
Até à morte sou tua 

Janela de Lisboa

Francisco Nicholson / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Marina Mota
Da revista *A prova dos novos* 1988

Desta janela eu posso ver a terra inteira
E a minha rua só acaba se eu quiser
Parto num sonho co’a saudade à cabeceira
E quando acordo outra manhã se fez mulher

E um turbilhão de ideias loucas me devora
Quando me perco meio tonto em teu olhar
Quando me encontro no teu grito que demora
Então eu sei que a hora é certa de te amar

Voo, sobre o céu de Lisboa
Mas não vejo fragatas 
Entre os braços do Tejo
Sonho, mas já não há canoas
Nem varinas gaiatas 
A quem roubar um beijo

Olho, vejo arcadas vazias
Onde falta o Pessoa
O Cesário e o Botto
Lembro, junto ao cais melodias
Que embalavam Lisboa
E recordam Lisboa 
Anda eu era garoto

Duas colunas a um passo do Castelo
E um Terreiro onde moraram ilusões
Gatos vadios ainda se batem em duelo
Sob o olhar da velha estátua do Camões

Num golpe de asa raso o cimo do Convento
Cruzo a Avenida, esqueço a sede no Rossio
Um cacilheiro rasga as águas num lamento
E a noite aos poucos vem deitar-se com o rio

Fado ao Porto

Letra e música de Amélia Muge
Repertório de Sandra Correia

De longe te vejo 
Como um ponto incerto
Que logo ao crescer
Se faz linha de água
Forma, mancha, rio
Vestido de escuro

Por dentro das casas
Por baixo da água
Submarinamente
Olhamos o fundo
Entramos em casa
Somos peixe, limo

Eu vou num barco Rabelo
Por cima da ponte
Pertinho do céu
No cais da Ribeira 
Passa a minha sombra
E é na tua água
Que eu me vejo ao espelho

Regatos de vida 
Correndo p’las ruas
Espelhadas no rio 
Por dentro da água 
Agitam-se as gentes 
Correndo por ela

Tens as mãos da tarde
Os olhos da noite
Sorriso de aurora
E é p’los teus passos
Que marcam as ruas
Que eu sei que és cidade, Porto

Sobem p’la garganta
Fados impossíveis 
De serem cantados
Dão frescura aos lábios
Soam no mercado
E a manhã se espanta
Todos os amores 
Por ti já são rio
São águas de prata
No eterno desejo 
De estar entre margens
Saudando as aragens

A Rita yé yé

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Amália Rodrigues 

A Rita do Zé mora ali ao pé
De uma aldeia que é perto de Caneças
E quer ser yé-yé… mas o pai, o Zé
Que não é, e que é de partir cabeças

Diz para a Rita: pensas que és bonita
Mas corto-te a guita e corto-ta já
Vai para casa, vai lavar a loiça
E ai de ti que eu oiça mais, lá-lá-lá-lá

E a Rita vai, tem medo do pai
Só quando ele sai, como ele não vê
Despreza o conselho 
Que o conselho é velho
Em frente do espelho ensaia o yé-yé

Quem terá razão nesta confusão
Que há na união do Zé e da Rita
E a ideia de tal moda faz andar à roda
O juízo tão preciso lá na aldeia toda

E a pobre Rita, que é pobre e bonita
E que ouviu na fita música de agora
Tem de calar a sua vocação
Não canta a canção que ela quer e chora

Nessa altura o Zé, quando assim a vê
Não sabe porquê, nem o que fazer
Pensa para si: anda gato aqui
Eu já percebi, coisas de mulher

Cá fica a lição p’ra quem a aceitar
Deixem a canção a quem a cantar 

Foi Deus que assim quis

Frederico de Brito / Nóbrega e Sousa
Repertório de Ada de Castro

Quem foi o artista
Quem foi que pintou
O quadro mais lindo 
Que o mundo sonhou

Tem sonhos de cores
Mistérios de luz
Mas tudo num gosto 
Que prende e seduz

Há fontes cantando 
Nos altos rochedos
Casinhas branquinhas 
Por entre vinhedos

A gente vê rios 
Descendo as encostas
Os choupos olhando 
P'ró o céu, de mãos postas

Sobreiros que contam 
Cem anos e mais
E ainda são guardas 
De longos trigais

Os sinos das torres 
Tangendo matinas
O gado pastando 
Nas loiras campinas

Arribas de areia
Muralha dos mares
O verde gritante 
Dos vastos pomares

Valados cobertos 
De lindas roseiras
Barquinhos ao longe 
De velas ligeiras

Marinhas mostrando 
Montanhas de sal
E tudo a falar-me 
Do meu Portugal 

Alegre eu ando

Natália Correia / Fontes Rocha
Declamado por Natália Correia
Adaptação de Natália Correia para um poema medieval 
da autoria de Nuno Fernandes Torneol

Ergue-te amigo que dormes nas manhãs frias
Todas as aves do mundo de amor diziam 
Alegre eu ando

Ergue-te amigo que dormes nas manhãs claras
Todas as aves do mundo de amor cantavam
Alegre eu ando

Todas as aves do mundo de amor diziam
Do meu amor e do teu se lembrariam
Alegre eu ando

Todas as aves do mundo de amor cantavam
Do meu amor e do teu se recordavam
Alegre eu ando

Do meu amor e do teu se lembrariam
Tu lhes tolhestes os ramos em que eu as via
Alegre eu ando

Do meu amor e do teu se recordavam
Tu lhes tolhestes os ramos em que pousavam
Alegre eu ando

Tu lhes tolhestes os ramos em que eu as via
E lhes secastes as fontes em que bebiam
Alegre eu ando

Tu lhes tolhestes os ramos em que pousavam
E lhes secastes as fontes que as refrescavam
Alegre eu ando

Mais nada do que nada

Letra e música de Jorge Fernando *fado ricardo*
Repertório de Lenita Gentil

Porque apareces sempre em meu caminho
Como furtiva sombra a mim pegada
Porque apareces sempre
Quando estou sozinha
E em mim, não há mais nada do que nada
Porque apareces sempre em meu caminho
Como furtiva sombra a mim pegada

Porque te arrastas dentro da memória
E te demoras dentro do meu ser
Porque não sais de vez da minha história
E deixas outra história acontecer


Porque me dói no peito o frio açoite
A solidão rondando ao ver-me assim
E de repente aqueces
Aqueces minha noite
Porque esta dor, és tu dentro de mim
Porque me dói no peito o frio açoite
A solidão rondando ao ver-me assim 

Assim nasceu este fado

António de Sousa Freitas / Joaquim Campos
Repertório de Amália Rodrigues 

Ao ver teu olhos doirados
E esse jeito de pureza
Numa hora sem cuidados
Nasceu comigo a tristeza

E foi então que senti 
Na minha alma outra dor
Ai, talvez porque te vi 
Nasceu comigo o amor

Partiste e sou sofrimento 
Sou loucura e ansiedade
Mais triste nesse momento 
Nasceu comigo a saudade

Meu sonho ardeu num instante 
Teus olhos foram meu lume
Naquela hora distante 
Nasceu comigo o ciúme

Tornou-se mais frio o dia 
Mais estranho e magoado
E à noite, que era sombria 
Nasceu comigo este fado 

Um beijo, uma carícia, muito amor

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de José Manuel Barreto

Mulher, em tuas mãos sequei meu pranto
Molhei-as com o sal da minha dor
E a noite foi descendo, entretanto
Enquanto me beijavas, meu amor…
E eu que sem saber te amava tanto
Dei-te um beijo, uma caricia, muito amor

Mulher, em ti cresci minha semente
Emigrei em teu corpo por amor
Repousando o meu ventre no teu ventre
Minha alma sobre a tua se foi pôr…
E eu que te beijava docemente
Dei-te um beijo, uma caricia, muito amor 

Mulher, fui o poeta do teu dia
Da tua noite fiz-me trovador
Pelos vidros da janela amanhecia
Quando adormeceste meu amor…
E eu, já o cansaço me vencia
Dei-te um beijo, uma caricia, muito amor 

As meninas da Terceira

Rui Pilar / Arlindo de Carvalho
Repertório de Amália Rodrigues

Às meninas da Terceira 
Nem São Miguel agradou
Vaidade é má conselheira 
Nenhuma lá namorou

As meninas da Terceira 
Vão casar ao Continente
Vejam lá a brincadeira 
Não temos cara de gente

As meninas da Terceira 
Numa cantiga brejeira
São laranjas sumarentas
Quem dera saboreá-las 
Se não fossem de más falas
Azedas e ciumentas

Nem sequer vê alegria 
Nesses pãezinhos sem sal
Quem foi a Santa Maria 
E esteve já no Faial

Na Terceira bate a asa 
Quem quiser moça formosa
É bem melhor fazer casa 
Em São Jorge ou Graciosa

Na Terceira, a chamarrita 
A ninguém dá namorada
Meninas, dança bonita
Não se quer tão deslavada

A Terceira leva o rico 
Noiva rica dos Açores
O pobre escolhe no Pico 
Casa no Corvo ou nas Flores 

Ai dona feia foste-vos queixar

Natália Correia / Fontes Rocha
Declamado por Ary dos Santos
Adaptação de Natália Correia de uma cantiga medieval 
da autoria de João Garcia de Guilhade

Ai dona feia,
Fostes-vos queixar
De que vos nunca louvo em meu trovar
Mas umas trovas vos quero dedicar
Em que louvada de toda a maneira sereis
Tal é o meu louvar
Dona feia, velha e gaiteira

Ai dona feia
Se com tanto ardor
Quereis que vos louve como trovador
Trovas farei de tal teor
Em que louvada de toda a maneira sereis
Tal é o meu louvor
Dona feia, velha e gaiteira

Ai dona feia
Nunca vos louvei em meu trovar
Eu que tanto trovei
Eis que umas trovas vos dedicarei
Em que louvada de toda a maneira sereis
E assim vos louvarei
Dona feia, velha e gaiteira

Lisboa bonita

Eugénia Teles / Hermenegildo Figueiredo
Repertório de Amália 
Grande marcha de 1964

Lisboa minha cidade
Tão airosa e tão bonita 
Outra igual eu nunca vi
Sinto a tua mocidade
Cada vez és mais catita 
E mais eu gosto de ti

Apesar de tão velhinha
És cada dia mais nova 
Tens mais cor nos teus recantos
Lisboa cidade minha
Aqui tens mais uma trova 
A cantar os teus encantos

Lisboa Lisboa
Vamos lá cantar
Esta marcha ecoa 
Na rua ao passar
Mouraria passa
Bica e Madragoa
Alfama e a Graça 
Por toda a Lisboa

Tens um Castelo altaneiro
Que é a tua sentinela 
Desde o rei conquistador
Tens a Sé, tens o Mosteiro
Tens a graça da viela 
Sempre à espera dum pintor

São Vicente te abençoa
Santo António te acarinha 
E roga a Deus que te ajude
Vela por ti, ó Lisboa
Lá na sua capelinha 
A Senhora da Saúde

E pede-me agora o que não devia

Natália Correia / Fontes Rocha
Repertório de Amália Rodrigues
Esta letra é uma adaptação de Natália Correia para um poema medieval 
da autoria de João Garcia de Guilhade

Reparaste donas
Quando no outro dia o meu namorado
Comigo falou, como se queixava
Tanto se queixou
Que lhe dei o cinto, dei-lhe o que podia
E pede-me agora, o que não devia

Vistes, antes nunca, vistes, antes 
Tal coisa se visse
Que à força de muito, muito se queixar
Fez-me da camisa, fez-me da camisa
O cordão tirar
O cordão lhe dei, no que fiz tolice
E o que pede agora, antes não pedisse

Das minhas ofertas
João de Guilhade, enquanto as quiser
Enquanto as quiser não o privarei
Que muitas e boas, Que muitas e boas
Já dele alcancei
Nem lhe negarei minha lealdade
Mas de outras loucuras, tem ele vontade

O mundo é um moínho

Letra e música de Cartola
Repertório de Gisela João 

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés 

Lisboa noiva do fado

António José / Ferrer Trindade
Repertório de Amália Rodrigues

Nessa janela de águas furtadas
Há trepadeiras entrelaçadas
E dentro delas lá está Lisboa
Olhando o Tejo no altar da Madragoa

Mas à noitinha, está combinado
Andar sozinha com o seu fado
Se desce à rua já não se importa
Que até a lua veja o fado à sua porta

Dizem que o Tejo 
É teu namorado
E todos sabemos 
Que és noiva do fado
Mas não te cases 
Com um só depois
O melhor que fazes 
É namorar com os dois

Neste noivado entre vizinhos
Não há pecado, pois são velhinhos
Mas tu Lisboa toda te enfeitas
E eu até vejo os olhares que lhe deitas

Tens um costume que eu tanto invejo
Fazer ciúme ao pobre Tejo
Quando apareces com o teu fado
Nunca te esqueces de levar xaile franjado

Pop fado

César de Oliveira / Fernando de Carvalho
Repertório de António Calvário
Esta letra poderá não estar devidamente correta


O fado que é democrata
Mudou agora de estilo
Pegou-se à arte abstrata
Em concordata com tudo aquilo

Deixou-se da vadiagem
E é todo intelectualizado
Quis aprender a linguagem
E a mensagem do pop fado

Oh pá... 
Pop agora pró fado é popular
Topa ó pá o xarope do pop
Popátuá a galope com o pop
Oh pá... 
Estão-se nas poptintas os poplintras
São mais popistas que o fado
Popelarizado, popesticado
Popstarim poplista
Pop fadista sem rei nem pop


Arranjam novos modelos
Para atrair os mirones
Remendos nos cotovelos
E os cabelos à Rolling Stones

Existencial nos inversos
Rimas de nobres sentidos
Tem os trinados dispersos
Com estes versos muito atrevidos

A voz do vento

Fernando Gomes / Valter Rolo
Repertório de Catarina Rocha

Quando a mágoa vem 
Dizer-me que ninguém
Tem mais saber do que ela
E teima em calar 
Que eu quero sonhar
Eu não fecho a janela

Escuto a voz do vento 
Que me fala do futuro
Ganho um novo alento 
E atravesso qualquer muro

Digo à tristeza que vá embora
Não fico presa ao meu passado
E sem demora vem a certeza
Dizer que é hora de um outro fado


Digo adeus à dor 
Avanço com temor
E de alma em desalinho
O medo é voraz 
Mas eu não volto atrás
Procuro o meu caminho

Sigo a voz do vento 
Que me leva ao infinito
Vou sem um lamento 
À procura do meu grito

Papoilas aos ventos

Nuno da Câmara Pereira / Custódio Castelo
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Com ela de braço dado
Toda vestida de verão
Olhinhos em seu regaço
Papoilas em minha mão

Ajeito sua cintura
Aperto o meu coração
Sinto a sua loucura
Mar da minha emoção

Navegando no trigo louro
A brincar na solidão
A beijar o seu tesouro
Acendemos a paixão

Desengano

Carminho / Jaime Santos *fado latino*
Repertório da autora

Daria o mundo inteiro para ser tua
E o mundo inteiro é meu e estou tão só
Seria tão feliz na tua rua
Que a minha é só a solidão e o dó

Já noutro tempo eu não pensava assim
Mas ao contrário deste fim profundo
Tu eras o amor a esperar por mim
E eu queria o mundo inteiro deste mundo

Sei que nada é o que sonhamos
Mas é preciso, amor, sonhar na vida
Prepara bem assim os desenganos
P’ra que os teus sonhos cheguem algum dia

O povo canta na rua

Letra e música de Eduardo Pais Mamede
Repertório de Carla Pires

Abre a janela e deixa a lua entrar
Anda co’a gente, prá rua cantar
Que agora a festa vai ser tua
E até o sol acordar o povo canta na rua


Traz o teu par 
E vem dançar a noite inteira
Vamos saltar à fogueira 
E comer sardinha assada
E não te rales, ó pá
Deixa a tristeza p’ra lá
Põe um sorriso 
E vem com a rapaziada

Vamos comprar um manjerico 
E um balão
Vamos para a marcha cantar 
E foliar, pois então
Tomar de assalto a cidade
Encher as ruas
Quem não gostar que não venha 
E não faz falta, pois não
Quem esteja alegre 
Há-de vir pró pé da malta 

Se houver senhores 
Que tenham dores de cotovelo
E lhes irritar o pelo 
De ouvir a malta cantar
Não te arrelies, ó Zé
Com o mal deles, pois é
Canta mais alto 
Só para os incomodar

Que eles não gostam de ver 
A nossa alegria
Querem o povo tristonho
Sm fantasia, bisonho
Mas queiram eles ou não 
Estamos na rua 
E em algazarra, ó Zé
A marcha passa, pois é
Canta mais alto 
Só para lhes fazer pirraça 

Às voltas com o fado

Repertório de Tiago Torres da Silva / Valter Rolo
Repertório de Inês Duarte

Meu amor se tu quiseres
Ir ao campo p’la tardinha
Traz-me vinte malmequeres
E nenhuma erva daninha

Porque quem oferece flores
Quando o dia vai murchando
Talvez vá morrer de amores
Mas ‘inda não sabe quando

E se por ocaso 
Não me vires na romaria
Não procures outra p’ra bailar
Já fiz vinte anos 
Mas não vou ficar p’ra tia
Porque um malmequer 
Me prometeu que vais voltar

Meu amor longe de ti
Sinto o corpo tão cansado
Pois quando não estás aqui
Ando às voltas com o fado

E quando o fado adivinha
0 que o meu coração quer
Obriga-me a estar sozinha
Sem a saudade sequer

Eu não te amo, quero-te

Almeida Garrett / Custódio Castelo
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Não te amo, quero-te 
O amar vem da alma
E eu na alma tenho a calma 
A calma do jazigo
Ai, não te amo, não

Não te amo, quero-te 
O amor é vida
E a vida, nem sentida 
A trago eu já comigo
Ai, não te amo, não

Ai! não te amo, não 
E só te quero
De um querer bruto e fero 
Que o sangue me devora
Não chega ao coração

Infame sou, porque te quero
E tanto, tanto, tanto
Que de mim, tenho espanto 
De ti, medo e terror
Mas amar... não te amo, não

Noites perdidas

Carlos Leitão / Pedro Pinhal
Repertório de Carla Pires

São noites perdidas 
E não sei porquê
Razões que não quero 
Saber onde estão
As portas fechadas 
Que já ninguém vê
São os sonhos mais loucos 
Sem tempo e perdão

São dias inteiros 
Que vêm e vão
Gemidos que guardo 
Na boca calada
Angústias trancadas 
Na porta do chão
Ilusões que hoje grito 
No meio do nada

Noites e dias
Madrugadas sem fim
Desejos de um beijo carnal 
A nascer
Do grito mais belo 
Que deixas em mim
Só fica a certeza da vida 
A viver

São restos de tardes 
Paradas no tempo
Caminhos trocados 
Que outrora vivi
Segredos lembrados 
Num breve momento
Saudades esquecidas 
Vividas em ti

Estrela

Letra e música de Carminho
Repertório da autora

Tu és a estrela que guia o meu coração
Tu és a estrela que iluminou o meu chão
És o sinal de que eu conduzo o destino
Tu és a estrela e eu sou o peregrino


Até aqui foi uma escuridão tal
Dessas que nos faz ser sábios do mundo
Vivi desilusão tão desigual
Que vim dar à minha infância num segundo

Nem sabes tu aquilo que fizeste
Por mim e a até por ti quando chegaste
Só sei que ao te ver, tu re-ergueste
O que em mim era só cinza e desgaste

Amor que se deu mas numa distância
Distância que nos fez acreditar
Que é essa que dá real importância
À liberdade que é poder e saber amar

Bem mais feliz agora, certamente
Vou eu seguindo assim pela vida fora
Não mais ‘starei sozinha e estou bem crente
Que o teu feixe de luz própria me segue agora

Por medo de te perder

Tiago Torres da Silva / Jaime Santos *fado alfacinha*
Repertório de Inês Duarte

Por medo te te perder
É que me encontro perdida
Sem coragem de dizer
Que eu tenho medo é da vida

Os momentos de alegria 
Não se atrevem a ficar
É que a saudade, perdi-a 
Na ânsia de a encontrar

Passo os dias à procura 
Do que por medo perdi
O medo é a noite escura 
Em que me perco de ti

E vou perdendo os sentidos 
Quando descubro, por fim
Os teus dois olhos perdidos 
Perdidos de amor por mim 

Ao meu amigo sincero

Nuno da Câmara Pereira / Custódio Castelo e Câmara Pereira
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Pró o meu amigo sincero
Que me dá a sua mão franca
Quer em Julho quer em Janeiro
Cultivo uma rosa branca


Nem cardos nem urtigas cultivo
P’ra quem me quer mal e cansa
Neste coração em que vivo
Cultivo uma rosa branca

Não grito pranto, ou maldigo
Pessoa que não me aquece
Neste meu pulsar de amigo
Cultivo uma rosa branca

Impasse

Rita Mariano de Carvalho / Franklim Godinho 
Francisco Salvação Barreto

Tu queres saber, meu amor
Qual era o desejo meu
Formar um mundo e vivermos
Somente Deus, tu e eu

Vivo tanto em teu olhar 
Nesses olhos que são espinhos
Que já nem sei como andar 
Se não vejo outros caminhos

Quando rio ou quando choro 
E até quando rezo a Deus
Recordo sempre esses olhos 
Esses olhos que são meus

Louco de amor eu sonhava 
Que o mundo seria meu
Faltou-me a luz dos teus olhos 
E o destino escureceu 

Sorte e amor

Ary dos Santos / Custódio Castelo e N.C.Pereira
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Abre os olhos e encara a tua sina
O coração ao alto todo em flor
Que as tuas mãos singelas de menina
Saibam prender e acarinhar o amor

Nessa doçura louca que fascina
Sobe mais alto ainda, que o condor
Ama aqueles que a sorte te destina
Sem desprezar nem maldizer a dor

Vai mais além do mundo e dos espaços
Com teu olhar vibrante d’ilusão
Vai tu aonde nunca foi ninguém

E prende bem a vida nos teus braços
Que a vida não é mais que um sonho vão
Se quanto mais se quer, menos se tem 

A tecedeira

Letra e música de Carminho
Repertório da autora

Nem pensem que me esqueci
De começar a fiar
Novelo que por quebrar
Deu a ideia que morri

As voltas que ao mundo irei dar 
Novamente a cantar
São com fio que fiarei 
Dia e noite sem parar

Tecerei verdes ciprestes
À dimensão desta fé
Que ensina sábios e crentes
Que árvores morrem de pé

Mas à vista não há morte
Fiarei toda a beleza
O fio apanhei por sorte 
Ou por ter muita certeza