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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Um fado novo

Tiago Torres da Silva / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Teresa Tarouca 

Tinha uma voz que vinha do passado
E um andar com jeito de maré
Por isso se entregou sem medo ao fado
Por isso ninguém sabe quem ele é                

Uns dizem que ele foi um marinheiro
A quem o alto-mar deu sepultura
E outros que é o próprio Marceneiro
Se o fado nunca teve tal lonjura

Quando as ondas regressam ao seu peito
Ele pede à guitarra um tom menor
E canta um fado novo de tal jeito
Que a gente julga sabê-lo de cor

Depois vai-se afastando e uma Alfama
Fica escondida sob o seu olhar
Nunca vamos saber como se chama
Mas eu que nunca o vi, chamo-lhe mar

Mais um segundo

Tiago Torres da Silva / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de Cristiana Águas 

Os meus olhos sem os teus
Só querem dizer adeus
Ao mundo que eu conheci
Mas meu amor, não m’iludo
Vou dizer adeus a tudo
Pra não te dizer a ti

Adeus meu braços febris
Onde o teu nome se diz 
Em segredos bem guardados
Adeus à boca sedenta
Onde o coração inventa 
Beijos que nunca são dados

Adeus aos meus dedos frios
Aos meus gestos tão vazios 
Das tuas mãos carinhosas
Adeus, jardim de onde vinhas
Por entre as ervas daninhas 
Que eu fingia serem rosas

Mas não digo adeus à vida
Porque até na despedida 
O meu peito sofredor
Só pede mais um segundo
Pra não deixar este mundo 
Sem te chamar meu amor

Fecho os meus olhos

Tiago Torres da Silva / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Rodrigo Costa Félix 

Fecho os meus olhos, às vezes
Para ver ao meu redor
Porque nós, os portugueses
No escuro vemos melhor

Quando me atrevo a chorar 
Fecho os meus olhos e escuto
Um fado que vem do mar 
P'ra pôr as almas de luto

E sem sair do meu quarto 
Ao sentir meu esse fado
Fecho os meus olhos e parto 
Num barco já naufragado

À proa de um coração 
Onde o fado me quer tanto
Prendo o mar na minha mão 
Fecho os meus olhos e canto

Sou alfacinha da Graça

António Vilar da Costa / Nóbrega e Sousa
Repertório de Rodrigo

Sou alfacinha de gema
Nascido na Graça,
Na estúrdia criado
Faço da vida um poema
Que nunca mais passa 
Na história do fado

Não digam mal do que é nosso
Do que é português
Que eu cá não resisto
Perco a estribeira… não posso
Só conto até três
É pá… e vai disto

Gosto da malta bairrista
Dos barcos do Tejo 
Num jeito gingado
Perde-me um xaile fadista
Mas cego, se vejo 
Esperas de gado

Mal que um boi se tresmalha
Ó feras danadas
Aquilo só visto
Salto-lhe à frente e não falha
Dou quatro palmadas
É pá… e vai disto

Gosto de entrar na balbúrdia
Sou filho da noite 
E amante da lua
Ó camaradas de estúrdia
Se há um que se afoite 
Que venha p'rá rua

Em noites de tradição
Reinava a preceito
Ó almas de Crist
Bastava um arco e um balão
Um par a meu jeito
É pá… e vai disto

Dizem que o mundo vai torto
Vão endireitá-lo
Que a isso não ligo
Digam que o fado está morto
Então já me ralo 
Porque isso é comigo

Pego na banza afinada
E basta um jeitinho 
Que o fado é só isto
Uma garganta velada
Dois copos de vinho
É pá… e vai disto

A saudade não existe

Tiago Torres da Silva / Joaquim Campos *fado amora adaptado para 5as*
Repertório de Cristina Nóbrega
                            
A saudade enlouqueceu
No dia em que tu partiste
Não sei o que é que me deu
Se afirmei como um ateu
Que a saudade não existe

Então, o fado fez pouco 
Da minha infelicidade
E nunca mais me deu troco
Não sabe quem anda louco 
Se sou eu, ou a saudade

Coitado de quem a esquece 
Nunca mais volta a ter paz
Quando a saudade enlouquece
A loucura é uma prece 
Com o fado por detrás

A saudade ficou rouca 
De tanto te ter chamado
E anda de boca em boca
Comentam que ela está louca 
Mas quem está louco é o fado

Chiado antigo

Tema gravado por Salvador Taborda com o título 
*Sonata do Chiado antigo*
César de Oliveira / Thilo Krasman
Repertório de José da Câmara 

Pelos ferros forjados da janela
Vejo tremer a renda de franzir
E o sinal dessa rosa amarela, meu amor
Dizendo; vou sair
Gritando; vou sair

Vou esperar-te 
Mesmo em frente da Havaneza
Fingimos que o encontro aconteceu
E levo concerteza
Concerteza, outra flor
Dizendo; cá estou eu
Gritando; cá estou eu

Velho Chiado enamorado
Ai… quanto amor 
Ali nasceu e morreu
Velho Chiado 
Vejo-me ao espelho
Quem está mais velho?
Serás tu ou eu?

Fomos comer pãezinhos de erva-doce
Ouvindo o choro alegre dum violino
E tinhas no olhar 
Fosse o que fosse, meu amor
Mais doce que os pãezinhos
Mais doce que os pãezinhos

Subimos a correr, Chiado acima
Coraste de prazer e d’emoção
Paraste e perfumaste 
A Lúcia-lima, meu amor
E nessa noite então, pedi a tua mão

A saudade não se parte

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Não se partiu a saudade 
Que a saudade não se parte
Fica apenas a verdade
Fica apenas a verdade
A partir de toda a parte

Não se partiu a saudade 
Das minhas mãos amarradas
Mas partiu a mocidade 
Mas partiu a mocidade
Destas almas apartadas

Saudade de quem sou 
Uu de quem era
Saudade em que me dou 
À primavera
Saudade que o meu corpo 
Já chorou
E é verde no futuro 
Em que hoje estou

Não se partiu a saudade 
Que a saudade não se acaba
É apenas liberdade 
É apenas liberdade
Duma pedra que desaba

Se não se partiu a saudade 
Pois que a saudade me morda
A saudade é ansiedade 
A saudade é ansiedade
Quando o coração acorda

Meu amor, ou meu amigo 
Qual a saudade que tenho
Que vive sempre comigo 
Que vive sempre comigo
E é maior que o meu tamanho

És a asa da gaivota 
O rosto da minha filha
Tu não podes ser derrota 
Tu não podes ser derrota
És apenas uma ilha

O infinito e a saudade

Elsa Laboreiro / Alfredo Duarte *menor-versículo*
Repertório de Yola Dinis 

Meu olhar já se cansou de te não ver
Minhas mãos já se perderam da ternura
Minha memória lembrou-se de esquecer
O teu nome, meu amor, minha amargura

Parto agora sem destino e com vontade
Das palavras que apagaste do meu peito
Não me dou à solidão nem à saudade
Nem às horas de tristeza em que me deito

Roubarei aos meus sentidos, o sentido
De encontrar em cada gesto a tua mão
Mas sei, teu coração adormecido
Há-de um dia recordar meu coração

E talvez nos encontremos junto ao mar
Ao nascer dum novo sol de liberdade
E as nossas vidas se tornem a cruzar
Entre a linha do infinito e a saudade

O sol à procura

Elsa Laboreiro / José António Sabrosa
Repertório de Yola Dinis 

Onde estás que te não vejo
Minha fonte de água pura
Minha vontade de ser
Sem ti não amo nem beijo
Sou como o sol à procura
De uma manhã pra nascer

Em cada noite, o luar
Abraça a minha janela 
Numa ternura sem fim
E diz-me que o teu olhar
É ao longe aquela estrela 
Que brilha só para mim

E a brisa da madrugada
Num sopro suave e lento 
Beija o meu rosto cansado
E eu beijo então a alvorada
Dou asas ao pensamento  
E dou-te, amor, o meu fado

Não podes dizer que não

Ary dos Santos / César d’Oliveira / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Teus olhos são azeitonas 
São tempero do meu pão
Do alto da oliveira 
Não podes dizer que não

Do alto da romãzeira 
Não podes dizer que não
Pois se a romã é janeira 
O amor não tem estação
Do alto da romãzeira 
Não podes dizer que não

Passaste por mim há pouco 
Cheirando a murta e limão
Do alto do limoeiro 
Não podes dizer que não

Desfolhamos a saudade 
À sombra duma roseira
O amor é uma rosa 
Que cheira ao que a rosa cheira;
Do alto da solidão 
Não queiras dizer que não

De laranjas vendedeira
Não vendi o coração
São tudo aquilo que eu queira
Cantando de mão em mão
Do alto da laranjeira
Não querias dizer que não
Do alto da solidão
Não queiras dizer que não

Sofrer de amor

João de Freitas / Popular *fado mouraria*
Repertório de Manuel de Almeida 

É triste andar a penar
É triste vivermos sós
Mas o mais triste é gostar
De quem não gosta de nós

Se alguma vez me deixares 
Meu amor, por caridade
Entre as coisas que levares
Leva também a saudade

Há os que vivem a sorrir 
Porque guardam ilusões
Levam a vida a mentir 
Aos seus próprios corações

E se a tristeza anda a par 
Com a dor que não se cansa
De que nos serve gostar 
D’alguém que não nos dá esp’rança

E todos devem saber 
Quanto deve ser atroz
Nós andarmos a sofrer 
Por quem não gosta de nós

Cerejas e Jasmins

Letra e música de Yola Dinis
Repertório da autora 

Folhas áridas no solo
Adejam com a brisa
Neste bosque as sombras sussurram
É um labirinto de surpresas

O som do vento nos ramos
Arrepia almas de amor
Enternece minh’alma apaixonada
É lá que mora o meu amor

Lá, os lagos são de prata
Ai… meu amor
As cerejas doces são rubis
E as flores de jasmim afrodisiam a hora

Varinas

Carlos Simões Neves / Casimiro Ramos
Repertório de Fernando Farinha 

Esbeltas, frescas, ladinas
Mal se estende a luz do céu
Vozes frescas, cristalinas
Descalças, pernas ao léu
Eis o rancho das varinas

Tranças negras ou doiradas 
Por baixo das canastrinhas
Por sobre as faces rosadas 
Lindos lenços de pintinhas
Aos beijos nas madrugadas

Belezas que vão saudar 
A brisa das marés cheias
Ao vê-las chego a pensar 
Que as encantadas sereias
Andam fugidas do mar

Quando ouvem o pregão 
Que alegre no espaço alastra
Como a dar-lhes atenção 
Espreita o peixe da canastra
Pasmado de admiração

Se ao piropo alguma atende 
P'las ruas, pelas esquinas       
Aviso a quem as pretende 
Que entre o rancho das varinas
Só o peixe é que se vende

Não julgues

Clemente Pereira / Francisco Viana *fado vianinha
Repertório de Cidália Moreira 

Não julgues que fiquei presa
À tua falsa afeição
Coração que o meu despreza
Não pode sentir paixão

Não julgues que vou chorar 
Porque te foste embora
Quem aprendeu a cantar 
Já não sabe quando chora

Não julgues que estou à espera 
De quem foi e não voltou
Já deixei de ser quem era
P'ra ser agora quem sou

Não julgues que fecho, não 
Minha porta, podes crer
Com o bater do coração 
Posso não te ouvir bater

Noivas de Santo António

Carlos Rocha / Artur Ribeiro
Repertório de Maria da Fé 

Vão casar no mesmo dia 
Pois Lisboa assim o quis
Cada qual a mais formosa 
Cada qual a mais feliz

Nenhuma acreditaria 
Há pouco tempo, talvez
Que o seu dia cor-de-rosa 
Fosse a 13 deste mês

São noivas de Santo António 
Passando ao sol da manhã
De véus brancos a acenar 
Na mesma alegria sã
São noivas de Santo António 
Unidas na mesma fé
E casadas no altar 
De Santo António da Sé

Estou a vê-las, uma a uma 
A ajoelhar com fervor
A sorrir enternecidas 
Agradecendo ao Senhor

Que sem esquecer nenhuma 
E em troca da sua mão
Vai unir as suas vidas 
Ao bem do seu coração

Sombra negra

António Vasco Morais / Alberto Costa *fado dois tons*
Repertório de António Vasco Morais

Sombra negra no meu peito
Não te quero, vai-te embora
Não serves, não te aproveito
No passado nem agora
              
Alastras dentro de mim 
A escuridão que enegrece
Não quero parecer assim 
Não gosto como parece

Trazes noite à minha vida 
E nas trevas já não vejo
Vou sorrir-te à despedida 
De onde hei-de mandar-te um beijo

De noite foste o lamento 
Que hoje já não me seduz
Acabou-se o sofrimento 
Vejo finalmente a luz

Paixão

Urbano Tavares Rodrigues / António Vitorino d’Almeida
Repertório de Carlos do Carmo 

Ai coração de Lisboa
Sangrando por tantas feridas
Dizem; que excesso de amor
Tantas rosas comovidas

Arde a paixão no teu rosto
E as ondas altas do mar
Rolam no fervor do ar
A tempestade de Agosto

Com um beijo me prendeste 
À tua blusa dourada
Com outro beijo me deste 
Os mirtos da madrugada

Maria filha da luz 
Ancoraste em meus abraços
E a espuma do sol reluz 
No segredo dos teus braços

O teu olhar

Fernando Farinha / Carlos Ramos
Repertório de Maria Amélia Proença 

Se o meu olhar não te encontrasse
Eu não seria tão diferente como sou
Apenas cinza que ficou
Talvez eu fosse o mesmo lume
A mesma chama radiosa que deu luz
E o teu desprezo apagou

Quis transformar 
Um simples sonho em realidade
Semeei rosas 
E em vez de amor, colhi maldade
Triste surpresa 
Que eu recebi da natureza

Feliz de quem um dia gostou d’alguém
E em troca do seu amor
Amor igual recebeu  
Pobre de mim 
Que gostei d’alguém assim
Com tanto amor e no fim
Em troca nada me deu