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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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A vida como ela é

Tiago Torres da Silva / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Joana Amendoeira 

Quando se tem pouca idade
Só se percebe a saudade
Se espreitarmos à janela
E ao vermos a mãe partir
Só pensamos em fugir
P’ra baixo das saias dela

Saudade é ter que ir p'rá cama
Após vestir o pijama 
E sonhar com temporais
Mas por ter medo do escuro
Ir num passinho inseguro 
Dormir prá cama dos pais

É estar com gripe ou anginas
Encharcado em aspirinas 
E saber que os companheiros
Lá foram jogar à bola
No campeonato da escola 
Mas não foram os primeiros

É o brinquedo estragado
É o sapato apertado 
Que já não cabe no pé
É tudo o que ao ir embora
Nos obriga a ver agora 
A vida como ela é

Contra a maré

Letra e musica de Carminho
Repertório da autora

Eu remo contra a maré de dia
Quase que perco o meu pé, podia
Uma forma de evitar o dia
Andar de noite ao luar, podia

À noite por entre as sombras
Correm os rios, as ondas
Sou como peixe e flutua um feixe de lua
P’ra que não te escondas

Gosto do amanhecer com calma
Mas quero chapéu de sol prá alma
O meu canto não se faz dos dias
É a claridade a mais, sabias

À noite sob as estrelas
Bailam as luzes, vem vê-las
Sou como a sombra ladina, feita bailarina
Que dança com elas

Chorar de alegria

Tiago Torres da Silva / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Mafalda Arnauth

Não aprendas a tristeza
Só porque gostas de fado
Deixa que a alma indefesa
Esteja aberta prá surpresa
Que um poema tem guardado

Não te entregues à saudade 
Só porque queres ser fadista
Entrega-te à liberdade
De teres a tua verdade 
Mesmo que alguém lhe resista

Não te dês à solidão 
Só porque ela te vigia
Se choras por tradição
Sabe que o fado-canção 
Também chora de alegria

Se alguém for o que não é 
Ponha as cantigas de lado
Cantar é questão de fé
E quem for o que não é 
Jamais pode ser do fado

Brincar aos fados

Tago Torres da Silva / Bernanrdo Lino Teixeira *fado ginguinha*
Repertório de Camané

Quem quer brincar a uma nova brincadeira
Que não tem índios, nem polícias, nem ladrões
E toda a gente pode brincar à primeira
Basta saber cantarolar duas canções

Uma vassoura pode ser uma viola
Uma guitarra pode ser feita em cartão
É muito fácil, basta usar tesoura e cola
Para dar asas à tua imaginação

Uma cortina faz de xaile improvisado
E num instante nasce um palco no quintal
Até o gato que não quer ser chateado
É a plateia que te aplaude no final

Então tu escolhes um cd, pôe-no baixinho
E em karaok, em playback, ou a cantar
És a Amália, a Mariza, ou a Carminho
E vais aos fados, mesmo que seja a brincar

9 amores

Letra e musica de Paulo de Carvalho
Repertório de Kátia Guerreiro

São nove os amores que eu vivo
Que trago dentro do peito
São ilhas de mil encantos
Terras de gente que amo
Que choro, que rio e que sou

Como viver com o espanto
Deste mar à minha volta
Azul por dentro dos olhos
Verde por dentro da alma
Da espuma branca dos dias

Eu sou uma ilha
Esta terra é minha mãe e minha filha
Sou uma voz p’ro seu canto
Terra que eu amo tanto

São nove as filhas que sei
Viagens de sonhos doces
Companheiras dos antigos
Que cantam a luz dos tempos
Nas ilhas dos meus amores

Noites de dezembro

Silva Ferreira / Cavalheiro Júnior *fado porto*
Repertório de Carlos Madureira

Eram noites de dezembro
E aquele frio que lembro 
De uma lareira apagada
E minha mãe, onde mora
Onde grita, onde chora 
Essa mulher magoada

Corria o zinco no vento
Morria o pinho no tempo 
E minha casa morria
Eram noites de dezembro
E aquele frio que lembro 
E aquela lareira fria

Só minha mãe era luz
Por ter nos olhos um brilho 
Que não pode ter ninguém
Nessa noite fui Jesus
Porque me sentia filho 
De Maria de Belém

Marcos brancos de cantigas

Silva Ferreira / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Carlos Madureira

Marcos brancos de cantigas
Madrigais do meu país
Trovas e lendas antigas
Ai esta funda raiz

Ai este apego, esta amarra
Ai este partir, ficando
Ai o som desta guitarra
Lembra o meu povo chorando

Se parte volta correndo
Cuidando ser mais feliz
Pensa viver, vai morrendo
Ai esta funda raiz

Silêncio que se vai cantar o fado

Tiago Torres da Silva / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Carlos Leitão

Silêncio que se vai cantar o fado
Não são palavras ditas por dizer
Se alguém não sabe ouvir estando calado
O fado já não pode acontecer

Também na sala de aula, o professor
Não quer barulho e pode-se zangar
Se apanha algum aluno falador
Que não aprende nem deixa ensinar

A tua mãe, quando não queres escutá-la
Basta-lhe erguer de leve as sobrancelhas
P’ra te dizer que qaundo um burro fala
Os outros todos baixam as orelhas

E quando um dia tu puderes ouvir
O que o fado nos diz quando é cantado
És tu quem de repente vai pedir
Silêncio que se vai cantar o fado

Na ribeira deste rio

Fernando Pessoa / Mário Pacheco
Repertório de Carminho

Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio
Nada me impede, me impele
Me dá calor ou dá frio

Vou vivendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada
Vejo os rastros que ele traz
Numa seqüência arrastada
Do que ficou para trás

Vou vendo e vou meditando
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando

Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali
E do seu curso me fio
Porque se o vi ou não vi
Ele passa e eu confio

O nosso amor meu amor

Letra e musica de Carlos Macedo
Repertório do autor

Já gostei quando cantei 
E do palco te vi
Vi ternura em teus olhos 
E cantei para ti

Vesti as minhas canções 
Com o melhor p’ra te dar
E despi as emoções 
Em troca do teu olhar

Nosso amor, meu amor
Não é uma miragem
É uma longa viagem sem fim
Nosso amor, meu amor
Faz-nos sempre sonhar
E é tão fácil gostar assim

Gostei de ti quando te vi 
No palco a cantar
Gostei de ti e senti 
Tanto amor p’ra te dar

Gostei de ti e pensei 
Em seguir os teus passos
E a sonhar te beijei 
E acordei nos teus braços

Juntei-me à voz verdadeira

Lídia Jorge / António Chaínho
Repertório de Elba Ramalho

Juntei-me à voz da guitarra  
Por ser mais que verdadeira
Provei que eu própria era
Feita de sua madeira

Viemos da mesma árvore
Talhadas do mesmo jeito
Guitarra tem as minhas formas
Eu tenho o seu próprio peito

Estão em mim as suas cordas
E até a mão de quem toca
É carne da minha carne
Falando na minha boca

Grito distante

Manuel Só / Alvaro Martins
Repertório de Tony Lopes

Eu daqui grito porque acredito
Que esta prece ao infinito
Nunca se esquece
Pois permanece feita num mito

Saudade é dor que o amor
Deixou ficar e com rigor
Nos faz chorar
P’ra nos livrar do seu valor

Recordar... é sentir na terra alheia
A saudade da areia
Que deixamos lá distante
E chorar... é lavar dos pensamentos
Dos malfadados momentos
Que nos vergam de rompante

Mas eu canto
Que hei-de vencer a saudade
P’ra mostrar à humanidade
O esforço que tenho feito
E garanto à terra que me viu nascer
Que hei-de cantar até morrer
Com este amor no meu peito

Serapião Pimenta

José Castro Carvalho / Alvaro Martins
Repertório de Zé Carvalho

O Serapião Pimenta
Que já passou dos oitenta
P’ró que lhe deu, vejam bem
Foi pedir em casamento
A filha do Chico Bento
Que nem vinte anos tem

Com tal diferença de idade
Havia necessidade 
A fim de evitar sarilhos
Fazer os dois uns testes
E lá foram um dia destes 
Saber se teriam filhos

Fez cada um sua análise
E até hemodiálise 
Num exame bem estudado
Uns vinte dias depois
Lá compareceram os dois 
P’ra saber o resultado

A sua análise está bem
Nada de grave contém 
É o que assinala esta cruz
A menina está intacta
Logo portanto, está apta 
P’ra casar e dar à luz

Perante tal resultado
O Pimenta entusiasmado 
Logo ali pediu a Deus
Que tudo lhe perdoasse
E lá do alto mandasse 
A benção prós filhos seus

Tenha calminha Pimenta
Porque o seu teste apresenta 
Uma cruz e mais um i
Boa saúde, de facto
Para casar está apto 
Mas só p’ra fazer xixi

O Tejo e as gaivotas

Mário Rainho / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Vanessa Alves 

Não há nuvens sobre o Tejo
Há só bandos de gaivotas
São como estrelas remotas
Que num voo apaixonado
Lhe quisessem dar um beijo
Enlouquecidas, devotas
Com gorjeios, que são notas
Vestindo os versos dum fado

Este rio que corre 
Mas muito pouco apressado
Até ao mar, onde morre 
Tem gaivotas por telhado

Parece querer ficar 
Abraçado a uma canoa
E a brincar 
Com as gaivotas de Lisboa

Quando a Lua aparece 
E baixa até ele, do alto
Este rio adormece 
Mas acorda em sobressalto

E as gaivotas, despertas 
Sem ter gestos de abandono
D’asas abertas 
Vão guardar-lhe o sono

As mulheres

José Castro Carvalho / Alvaro Martins
Repertório de Zé Carvalho

Ai as mulheres... 
Deus me livre, Deus me livre
Ai as mulheres... 
Desse ser que um dia fez
Ai as mulheres... 
Há mulheres de tal calibre
Ai as mulheres... 
Em vez duma quero três

Ai pobres dos mal casados 
Que casaram por promessas
Andam na vida trocados 
Andam na vida às avessas

Quando é a mulher quem manda 
Dá-nos até a impressão
Que a vida pára, não anda 
Se cá vou é quem comanda
P’ra que serve o capitão

Quem desdenha quer comprar 
Toda a vida ouvi dizer
E a gente só quer amar 
A que mais nos faz sofrer

O homem tudo consente 
Quando vai em tal feitiço
A mulher é uma serpente 
Que se enrosca bem na gente
E o que a gente quer é isso

Desafio

Joaquim Nogueira Marques / Popular *fado mouraria estilizado*
Repertório de Maria Emília Sobral

Vou lançar-te um desafio
Vê se sabes responder
É um nome meigo, macio
Que é morada e é mulher

À volta sete colinas 
São seu tecto, chão e casa
Dos olhos são as meninas 
Os bairros que ela abraça

Por becos, escadas, vielas 
É que faz os seus caminhos
Tem luz, flores nas janelas 
O céu e o mar por vizinhos

Um namorado a seus pés 
Que beijos de água lhe dá
Tem fado de lés a lés 
Qual o seu nome ? diz lá!

O homem tem de cantar

Torre da Guia / Alvaro Martins *fado varito*
Repertório de Tony Lopes

O homem tem de cantar
À vida, constantemente
Para poder suportar
O lugar que lhe calhar
Na vida de toda a gente

Canta a mãe quando embala
Seu filhinho com amor
Canta o pai quando trabalha
O pão justo do suor

Canta inteira a natureza
Que acorda sempre a cantar
E canto eu a certeza

Do amor que quero dar

Menina de rosto oval

António Frazão / Alvaro Martins
Repertório de Nuno de Aguiar

Menina de rosto oval 
Que bates o linha novo
Na ribeirinha do povo 
A pensar no enxoval

Bates sem sentir fadiga 
Em suave movimento
Entoando uma cantiga 
Que fala de casamento

Seu avental
Baila com o vento
E o rosto oval
A sorrir sem um lamento

Inundando o areal 
Bate o sol no estendedoiro
Ai... corando a fios d’oiro 
O linho do enxoval

E lá no meio do remanso 
Onde a água é mais cristal
Ata linhos em descanso 
Menina do rosto oval

Eu e o mar

Maria Manuel Cid / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Maria Emília Sobral

Fui ao mar buscar alento
E o mar nada me deu
Quem dera que num momento
Viesse o teu pensamento
Abraçar de novo o meu

Quem dera que as minhas penas 
Fossem nas ondas também
Que as minhas horas amenas
Ficassem calmas, serenas 
Como o mar às vezes tem

E que nunca a tempestade 
Transformasse o mar sem fim
Desse ao sonho a realidade
E nunca a voz da verdade 
Viesse gritar em mim

Homenagem a Sta Maria

Maria do Sameiro / Martinho d’Assunção
Repertório de Maria do Sameiro

Imaculada Virgem Maria
Foi visitada p’lo anjo de Deus 
Um certo dia
Um filho santo darás à luz
O Espírito Santo
Um filho de Deus chamado Jesus

Tu respondeste com humildade
Sou sua serva
Faça-se em mim a sua vontade
Entre as mulheres bendita serás
E bendito é o fruto 
Desse teu ventre que à luz darás

Maria... Santa Maria
Maria mãe de Jesus
Ao mundo déste alegria
E o mundo deu-te uma cruz
Maria... Santa Maria
Ó mãe do rei salvador
Ao mundo traz harmonia
Traz perdão, paz e amor

O mundo canta tua bondade
Rainha santa
Rogai por nós, ó majestade
Mulher bendita, mãe sem igual
Mãe infinita, mãe de nós todos
Mãe do Natal

Amor profundo, esposa de Deus
Rainha do mundo
Do sol e da terra, do mar e dos céus
És minha calma de noite e dia
Guardas minh’alma
Por isso te canto, ó Santa Maria

Ironias

Herculano Gonçalves / Alvaro Martins
Repertório de Nuno de Aguiar

Quem sofrer e calar penas
Em sofrimento dobrado
Quando mais fundo é o rio
Mais corre manso e calado

Não há amor sem ciúmes 
Tem ciúmes quem quer bem
E às vezes temos ciúmes 
Sem nós sabermos de quem

Penso que pensas que penso 
Em ti, a cada momento
E outra a pensar que eu dispenso 
Só a ela, o pensamento

Gosto é a razão sentida 
Desgosto a razão recente (?)
Gosto e desgosto é a vida 
Contra a vontade da gente

Para quem tenha saudades 
A tristeza nunca finda
E há sempre lugar no peito 
P'ra mais saudades ainda

O milagre que pedi

Letra e música de Carlos Macedo
Repertório do autor

Pedi a Nossa Senhora 
Uma graça com fervor
Meu amor não foi embora 
É maior o nosso amor

Eu prometi caminhar 
Até à Cova da Iria
Valeu a pena rezar 
Rezar à Virgem Maria

Senhora pelo vosso cuidado
Obrigado, obrigado
Senhora pelo vosso cuidado
Obrigado, obrigado

Ó Virgem tanto me deste 
Já não sofro o que sofri
Sou feliz porque fizeste 
O milagre que pedi

Virgem Santa padroeira 
Se achais que merecemos
Fazei que a paz seja inteira 
Neste mundo em que vivemos

Os loucos não mentem

Torre da Guia / Alvaro Martins
Repertório de Maria d’Assunção

Loucos, que loucos que eu os vi
Junto com eles senti
Do que é capaz o amor
Loucos, loucos assim como eles
Eu p’ráli no meio deles
A viver a mesma dor

É sempre assim
O amor faz recordar
Faz viver e faz chorar
Magoa mesmo cá dentro
E há quem diga
Que é fácil de dominar
Que pode até amarrar
A força do sentimento

Loucos, os loucos não são vaidosos
Amam, insistem, teimosos
No amor que lhes consentem
Loucos, loucos sim mas na verdade
Merecem a felicidade 
Porque os loucos não mentem

Nome trocado

Joaquim Nogueira Marques / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Maria Emília Sobral

Trocaste meu nome um dia
Eu fingi não perceber
Fingi também que dormia
Não tive que responder

O nome que foi trocado 
Nem sei a quem pertenceu
A mim não me dá cuidado 
Um nome que não é meu

Agora quando me chamas 
Primeiro quero saber
Se desta vez não te enganas 
Se sou eu a responder

Qualquer se pode enganar 
Isso eu entendo, contudo
Quando um dia te trocar 
Troco nome e troco tudo

Acabou ontem à noite

Constantino Menino / Popular *fado menor*
Repertório de António Mourão
Este tema também aparece gravado com uma melodia 
de José Maria Nóbrega

Tudo acaba, tudo morre
Não pode o mundo parar
Acabou ontem à noite
A loucura de te amar

Muita vez a morte é vida 
Depois de muito sofrer
Acabei com a loucura 
Para voltar a viver

Libertei-me da maldade 
Cantei, chorei e bebi
Abençoada loucura 
Que me fez dono de mim

Quem me viu, chamou-me louco 
E sorriu do meu cantar
Sem saber que em mim morria 
A loucura de te amar

Poema da malta das naus

António Gedeão / Paulo Valentim
Repertório de Kátia Guerreiro

Lancei ao mar um madeiro
Espetei-lhe um pau e um lençol
Com palpite marinheiro
Medi a altura do sol

Com a mão esquerda benzi-me 
Com a direita esganei
Mil vezes no chão, bati-me 
Outras mil me levantei

Dormi no dorso das vagas 
Pasmei na orla das praias
Arreneguei, roguei pragas 
Mordi pelouros e zagaias

Tremi no escuro da selva 
Alambique de suores
Estendi na areia e na relva  
Mulheres de todas as cores

Moldei as chaves do mundo  
A que outros chamaram seu
Mas quem mergulhou no fundo 
Do sonho, esse, fui eu

O meu sabor é diferente 
Provo-me e saibo-me a sal
Não se nasce impunemente 
Nas praias de Portugal 

Como eu os vi

Neca Rafael / Alvaro Martins
Repertório de César Morgado 

Quando eu a vi 
Vi que me queria falar
Falou-me em ti 
E depois pôs-se a chorar

Pôs-se a chorar e coitada 
A chorar se despediu
Ela a chorar me pediu 
P’ra eu não te contar nada

Que coisas tem o amor
O riso a dor a alegria e pranto
Como tive pena dela
Dela, daquela que te ama tanto

Vejo-te agora 
Sozinho, triste e sem ela
Mandaste-a embora 
Andas a sofrer por ela

Não lembraste que depois 
Dum arrufo tão banal
Andam a sofrer o mal 
Da culpa que cabe aos dois

Quando isso acontecer

Tó Moliças / Carlos Macedo
Repertório de Carlos Macedo

Se sinto fugir-me a sorte
Que me abate tristemente
Quero lá saber da morte
Eu digo constantemente

Quando cansar de vencido 
Se a sorte não me valer
Eu direi desiludido 
Que não me importa morrer

Eu digo constantemente 
Que não me importa morrer
Só não quero é estar presente 
Quando isso acontecer

Depois do mal me passar 
Vendo a vida alegremente
Se a morte me procurar 
Só não quero é estar presente

É tudo revolta minha 
Eu sei bem que hei-de morrer
Só que quero é ser velhinho 
Quando isso acontecer

Sem ti

Torre da Guia / Manuel dos Santos
Repertório de Maria d’Assunção

Sem ti
Não sei o que sou
O que faço, aonde vou
Vagueio louca, sem rumo
Sem ti
Sou mais uma entre a gentalha
Triste pedaço de palha
Que arde sem deitar fumo

A minha vida é a tua
Como as pedras são da lua
Como a lua é do céu
Tudo o que tenho é teu
Os meus sonhos e gemidos
E até os cinco sentidos
Que a natureza me deu

Sem ti
Não sonho nem penso
E nem preciso de lenço
Para acenar um adeus
Sem ti
Sou um pedaço de nada
Nos braços da madrugada
Errantes como judeus

Nesta vida tudo é fado

Letra e música de Carlos Macedo
Repertório do autor

Fado é tudo nesta vida 
Que a gente tem de enfrentar
Fado é uma voz dolorida 
Que canta p’ra não chorar

O beijo duma criança 
Quando beija a sua mãe
É ternura que não cansa 
Pode ser fado também

O gemer duma guitarra ao nosso lado
É fado... é fado
Se um fadista conta coisas do passado
É fado... é fado
Poder sorrir a seguir de ter chorado
É fado... é fado
Poder amar e também ser muito amado
É fado... é fado

Os namorados na rua 
Têm fado nos seus beijos
Fazem poemas à lua 
Para matarem desejos

Fado alegre e fado triste 
Existe em qualquer lugar
Um fadista não resiste 
Por isso vive a cantar 

Fado de Alfama

Torcato da luz / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria da Fé

Não tem vielas, tem veias 
Alfama virada ao rio
Ancorada nas areias 
Como se fora navio;
Não tem vielas, tem velas
Içadas em desafio

Debruçada
das janelas 
Por onde assobia o frio
Postigos de caravelas 
A que o mar nunca se abriu

Alfama persegue o cheiro 
Nas voltas das escadinhas
De algum amor marinheiro 
Sabendo a sal e sardinhas

Na água dos chafarizes 
Mata a sede da lembrança
Desses momentos felizes 
Em que nunca foi criança

Ancorada nas areias 
Como se fora navio
Não tem vielas, tem veias 
Alfama virada ao rio