Alberto Franco / Fernando Freitas *fado pena*
Repertório de Ana Pacheco
Dizem-me que é tarde e não te espere
Que nunca mais render-me amor virás
Pois o amor que a fria razão fere
É certo que com ferros morrerá
Não quis as leis austeras afrontar
Apenas o amor guiou meus passos
E se por Pedro à morte me entregar
Que a minha vida acabe nos seus braços
Como esquecer as brancas madrugadas
O seu encanto brando e amoroso
As horas por nós dois tão celebradas
Nas margens do Mondego rumoroso
Não sei, meu rei, se voltarás ou não
Nem quando a minha espera findará
Mas disse-me baixinho o coração
Que o nosso amor a morte vencerá
Sonho por sonhar
António Cálem / Popular c/arranjos de Jorge Fontes
Repertório de Ondina Sotto Mayor
Quem me dera a solidão
Ser eu sozinho a chorar
Sem te ter no coração
Sem te ver no meu olhar
Sem te ver no meu olhar
Repertório de Ondina Sotto Mayor
Quem me dera a solidão
Ser eu sozinho a chorar
Sem te ter no coração
Sem te ver no meu olhar
Sem te ver no meu olhar
Sem te ler no pensamento
Semente feita luar
Semente feita luar
Levada a sabor do vento
Levada a sabor do vento
Levada a sabor do vento
Levada a sabor da vida
Quem dera que o pensamento
Quem dera que o pensamento
Fosse a semente perdida
Fosse a semente perdida
Fosse a semente perdida
Que não voltasse a encontrar
Quem dera que a minha vida
Quem dera que a minha vida
Fosse um sonho por sonhar
De manhã
Alberto Franco / Santos Moreira *fado moreninha”
Repertório de Carina Mateus
Manhã de Verão, domingo luminoso
Lisboa, sonolenta, ainda preguiça
Pelo bairro burguês silencioso
Passam damas beatas para a missa
Ela acordou há pouco ansiosa
Só de pensar no dia que aí vem
Estreará o vestido cor-de-rosa
Ou o azul que nela cai tão bem?
Um domingo no campo, que alegria
Ar livre e os encantos mais diversos
E para o piquenique a companhia
Dum certo moço triste que faz versos
Ela colheu um ramo de papoulas
Vermelhas, cor do poente que arde
Pô-lo no peito sem vaidades tolas
E foi a mais bonita dessa tarde
Repertório de Carina Mateus
Manhã de Verão, domingo luminoso
Lisboa, sonolenta, ainda preguiça
Pelo bairro burguês silencioso
Passam damas beatas para a missa
Ela acordou há pouco ansiosa
Só de pensar no dia que aí vem
Estreará o vestido cor-de-rosa
Ou o azul que nela cai tão bem?
Um domingo no campo, que alegria
Ar livre e os encantos mais diversos
E para o piquenique a companhia
Dum certo moço triste que faz versos
Ela colheu um ramo de papoulas
Vermelhas, cor do poente que arde
Pô-lo no peito sem vaidades tolas
E foi a mais bonita dessa tarde
Serenata
António Cálem / Alfredo Duarte *fado bailarico*
Repertório de João Braga
A lua faz o cenário
Num palco que julgo ver
Telhados dum campanário
E ao fundo um rio a correr
Ondeiam gestos usados
Repertório de João Braga
A lua faz o cenário
Num palco que julgo ver
Telhados dum campanário
E ao fundo um rio a correr
Ondeiam gestos usados
Nascidos só de fadiga
E há só murmúrios velados
E há só murmúrios velados
A sonhar uma cantiga
Pedaços de guitarradas
Pedaços de guitarradas
Fazem vibrar as vidraças
Onde acordam estremunhadas
Onde acordam estremunhadas
Figuras gastas e baças
E uma que só retrata
E uma que só retrata
O sonho e o coração
Julga ouvir a serenata
Julga ouvir a serenata
Que nunca mais lhe farão
Três nomes
Alberto Franco / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Raquel Maria
As nossas vidas negaram
Cegaram os horizontes
Os sonhos amortalharam
E em choro transformaram
O canto alegre das fontes
Tanto ódio semeado
Com punhos de renda fina
Em quanto salão dourado
Do luxo mais requintado
Pairam aves de rapina
O amor não teve lugar
Foi das trevas a vitória
Um lenço branco a acenar
Um navio em alto mar
Ficaram da nossa história
Mas nas páginas dum livro
Persiste a recordação
Por muito amar estamos vivos
Três nomes do amor cativos
Mariana, Teresa e Simão
Repertório de Raquel Maria
As nossas vidas negaram
Cegaram os horizontes
Os sonhos amortalharam
E em choro transformaram
O canto alegre das fontes
Tanto ódio semeado
Com punhos de renda fina
Em quanto salão dourado
Do luxo mais requintado
Pairam aves de rapina
O amor não teve lugar
Foi das trevas a vitória
Um lenço branco a acenar
Um navio em alto mar
Ficaram da nossa história
Mas nas páginas dum livro
Persiste a recordação
Por muito amar estamos vivos
Três nomes do amor cativos
Mariana, Teresa e Simão
Sim ou não
António Cálem / José António Sabrosa *fado saudade das saudades*
Repertório de António de Noronha
Que triste é passar a vida
Entre um sim e entre um não
Viver da hora perdida
Do bater dum coração
Ficar à espera dum nada
Que triste é passar a vida
Entre um sim e entre um não
Viver da hora perdida
Do bater dum coração
Ficar à espera dum nada
Dum silêncio que ainda dura
Ser-se noite em madrugada
Ser-se noite em madrugada
Ou manhã em noite escura
E o coração a bater
E o coração a bater
Ora diz sim ou diz não
A vida que vai nascer
A vida que vai nascer
Ou a morte e a solidão
Mas não me digas que não
Mas não me digas que não
Sem saber para onde vais
Diz-me que sim, coração
Diz-me que sim, coração
Deixa o não para nunca mais
Dona Genciana
Alberto Franco / Pedro Rodrigues
Repertório de Ana Pacheco
Depois que o canhão soou
E Lisboa vitoriou
A República tão bela
Numa avenida catita
Uma crioula bonita
Passava o tempo à janela
Genciana tropical
Do Brasil p’ra Portugal
Com o seu nome de flor
Da janela em que reinava
A todos enamorava
Desde o operário ao doutor
Mas a janela ansiada
Um dia apareceu fechada
Genciana não estava lá
Dizem que fugiu do frio
Que voltou para o seu Rio
Por feitiço de Orixá
Há gente que nesta hora
Sente saudades e chora
Junto àquela persiana
Um velhote que a amou
Ainda há pouco me falou
Nos encantos de Genciana
Repertório de Ana Pacheco
Depois que o canhão soou
E Lisboa vitoriou
A República tão bela
Numa avenida catita
Uma crioula bonita
Passava o tempo à janela
Genciana tropical
Do Brasil p’ra Portugal
Com o seu nome de flor
Da janela em que reinava
A todos enamorava
Desde o operário ao doutor
Mas a janela ansiada
Um dia apareceu fechada
Genciana não estava lá
Dizem que fugiu do frio
Que voltou para o seu Rio
Por feitiço de Orixá
Há gente que nesta hora
Sente saudades e chora
Junto àquela persiana
Um velhote que a amou
Ainda há pouco me falou
Nos encantos de Genciana
Passam os dias, os anos
António Cálem / Joaquim Campos *fado Rosita*
Repertório de Miguel Sanches
Passam os dias, os anos
E és tu que hás-de ficar
A viver do desengano
De só te saber sonhar
É que eles passam sem fim
Repertório de Miguel Sanches
Passam os dias, os anos
E és tu que hás-de ficar
A viver do desengano
De só te saber sonhar
É que eles passam sem fim
E contigo permanecem
É que há mundos que esqueci
É que há mundos que esqueci
Mas contigo não se esquecem
É que tu trazes aos dias
É que tu trazes aos dias
O que aos dias me faltava
O riso, as alegrias
O riso, as alegrias
Que o mundo já não me dava
Mas ninguém mais, somos nós
Mas ninguém mais, somos nós
A sulcar o mar profundo
É que o mundo somos nós
É que o mundo somos nós
E o resto nem sei se é mundo
Canção da costureirinha
Arnaldo Leite / Campos Monteiro / Fernando Carvalho
Repertório de Maria de Fátima Bravo
Esta vida minha toda amor e fé
Lembra a daquela andorinha
Que voa sempre à tardinha
Sobre os telhados da Sé
Corro o Porto a eito
Esta vida minha toda amor e fé
Lembra a daquela andorinha
Que voa sempre à tardinha
Sobre os telhados da Sé
Corro o Porto a eito
De ruas em flor
Xaile atado em cruz no peito
Porque o meu amor
Xaile atado em cruz no peito
Porque o meu amor
Vive satisfeito
No seu bendito calor
Ó linda costureirinha
Teus sonhos e teus segredos
São um novelo de linha
Entre os fusos dos teus dedos
E os teus olhos tão escravos
D'um trabalho sem igual
Tens o cordão d'alinhavos
E por anel um dedal
Sou a costureira
E à noite em casa
Trabalho de tal maneira
Que os meus olhos de canseira
Ardem mais do que uma brasa
Já não vejo a rua
No seu bendito calor
Ó linda costureirinha
Teus sonhos e teus segredos
São um novelo de linha
Entre os fusos dos teus dedos
E os teus olhos tão escravos
D'um trabalho sem igual
Tens o cordão d'alinhavos
E por anel um dedal
Sou a costureira
E à noite em casa
Trabalho de tal maneira
Que os meus olhos de canseira
Ardem mais do que uma brasa
Já não vejo a rua
Vejo agulha e linha
Vai-se o sol, desmaia a lua
E tu ali sozinha
Vai-se o sol, desmaia a lua
E tu ali sozinha
Triste vida a tua
Ó linda costureirinha
Ó linda costureirinha
Teu andar tão leve, leve
Lembra o de uma princesinha
Sobre um caminho de neve
E o teu riso cristalino
Fonte d’ amor e beleza
É a letra do novo hino
Onde não reina a tristeza
Ó linda costureirinha
Ó linda costureirinha
Teu andar tão leve, leve
Lembra o de uma princesinha
Sobre um caminho de neve
E o teu riso cristalino
Fonte d’ amor e beleza
É a letra do novo hino
Onde não reina a tristeza
Sonho desfeito
Lera e música de Frei Hermano da Câmara
Repertório do autor
Esta paixão
Repertório do autor
Esta paixão
Que nasceu na primavera
Já deixou de ser o que era
Meu coração
Já deixou de ser o que era
Meu coração
Ao ver-me assim satisfeito
Punha-se aos saltos no peito
Num turbilhão
E agora já nada resta
Que uma tristeza funesta
Punha-se aos saltos no peito
Num turbilhão
E agora já nada resta
Que uma tristeza funesta
Pelo chão
Vejo a sombra da alegria
Na minh`alma morre o dia
Cai a noite e a escuridão
E quando canto
Vejo a sombra da alegria
Na minh`alma morre o dia
Cai a noite e a escuridão
E quando canto
Ao som triste da guitarra
Fico preso pela amarra
Fico preso pela amarra
Dum profundo sentimento
E canto tanto
E canto tanto
Que o meu coração amigo
Quer também cantar comigo
Quer também cantar comigo
E aumenta o meu sofrimento
Uma ilusão
Uma ilusão
Que eu pensei que estava morta
Veio bater à minha porta
Veio bater à minha porta
Por compaixão
Quis-se sentar a meu lado
Cantou comigo este fado
Com emoção
Mas finalmente ao saber
Que eu já não quero viver
Meu coração vai batendo devagar
E até que eu queira parar
Vou rezando esta oração
Quando esta dor
Quis-se sentar a meu lado
Cantou comigo este fado
Com emoção
Mas finalmente ao saber
Que eu já não quero viver
Meu coração vai batendo devagar
E até que eu queira parar
Vou rezando esta oração
Quando esta dor
Vir meus dias apagados
E estes meus olhos fechados
Braços em cruz sobre o peito
Ó meu amor
E estes meus olhos fechados
Braços em cruz sobre o peito
Ó meu amor
Nesse dia tão medonho
Pede a Deus um outro sonho
Porque este já está desfeito
Pede a Deus um outro sonho
Porque este já está desfeito
Lisboa cidade sol
Arlindo de Carvalho / Eduardo Olímpio
Repertório de Lenita Gentil
Nos braços da madrugada
Lisboa vejo acordar
Seus olhos de água salgada
Saudades têm do mar
A voz fresca dum ardina
Ajuda o sol a nascer
E o bailar duma varina
Ao descer uma colina
Sabe a gosto de viver
Onde é que o sol
Repertório de Lenita Gentil
Nos braços da madrugada
Lisboa vejo acordar
Seus olhos de água salgada
Saudades têm do mar
A voz fresca dum ardina
Ajuda o sol a nascer
E o bailar duma varina
Ao descer uma colina
Sabe a gosto de viver
Onde é que o sol
Tem mais bela a claridade?
É em Lisboa, é em Lisboa
Onde é que a noite
É em Lisboa, é em Lisboa
Onde é que a noite
Canta a palavra saudade?
É em Lisboa, é em Lisboa
Onde é que o fado
É em Lisboa, é em Lisboa
Onde é que o fado
Tem mais alma e mais verdade?
É em Lisboa, é em Lisboa
Não há no mundo cidade
Como Lisboa, como Lisboa
Canoas dormem pousando
Os remos à beira cais
E há moços que andam pescando
Cachopas, nos arraiais
Lisboa, velha Lisboa
Ó musa d´inspiração
Do Cesário e do Pessoa
Em tuas asas já voa
O azul duma canção
É em Lisboa, é em Lisboa
Não há no mundo cidade
Como Lisboa, como Lisboa
Canoas dormem pousando
Os remos à beira cais
E há moços que andam pescando
Cachopas, nos arraiais
Lisboa, velha Lisboa
Ó musa d´inspiração
Do Cesário e do Pessoa
Em tuas asas já voa
O azul duma canção
Sonho perdido
António Cálem / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de João Braga
Noite branca de luar
Nesse teu corpo presente
Onde apenas sei sonhar
O sonho de toda a gente
O sonho de toda a gente
Repertório de João Braga
Noite branca de luar
Nesse teu corpo presente
Onde apenas sei sonhar
O sonho de toda a gente
O sonho de toda a gente
Que paga para o sonhar
Um sonho que nem é sonho
Um sonho que nem é sonho
Que é apenas despertar
Se ao menos em ti quisesse
Se ao menos em ti quisesse
Sonhar que o sonho era meu
Mas a vida em ti esquece
Mas a vida em ti esquece
O sonho que se perdeu
O sonho que jaz perdido
O sonho que jaz perdido
No fim do teu coração
E que se abre num sorriso
E que se abre num sorriso
Quase a pedir-me perdão
Não te conheço sequer
António Cálem / Fernando Freitas *fado das sardinheiras*
Repertório de Joana Possollo Cruz
Não te conheço sequer
Nem sei que cantas para mim
Mas sei que te vi passar
À noite no meu jardim
E sei que tu me cantaste
Repertório de Joana Possollo Cruz
Não te conheço sequer
Nem sei que cantas para mim
Mas sei que te vi passar
À noite no meu jardim
E sei que tu me cantaste
Um fado que eu já sentira
E sei que a letra era minha
E sei que a letra era minha
Num menor que nunca ouvira
Nem mesmo sei se era fado
Nem mesmo sei se era fado
Se era o luar que descia
Mas vi-te de braço dado
Mas vi-te de braço dado
Com a noite que sorria
Não te conheço, bem sei
Não te conheço, bem sei
Sonhei antes de te ver
Mas de tudo o que sonhei
Mas de tudo o que sonhei
Ficou este amanhecer
Morrer por ti
José Pereira da Conceição / Popular “fado das horas
Repertório de Manuel Barbosa
Que importa o mundo saber
Que é por ti amor, que eu canto
Pois é fácil perceber
Porque é que te quero tanto
Que importa o mundo saber
Repertório de Manuel Barbosa
Que importa o mundo saber
Que é por ti amor, que eu canto
Pois é fácil perceber
Porque é que te quero tanto
Que importa o mundo saber
Que os versos que te dedico
Escrevo-os com tal prazer
Escrevo-os com tal prazer
Que por ti, feliz eu fico
Que importa o mundo saber
Que importa o mundo saber
Que a gente pouco se rala
Se não sabem entender
Se não sabem entender
Que é de amor que o amor fala
Quero lá saber do mundo
Quero lá saber do mundo
Se o mundo não quer saber
Que por este amor profundo
Que por este amor profundo
Um dia eu hei-de morrer
Saudade espuma do mar
José Aucher / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Teresa Siqueira
Saudade, espuma do mar
E a onda baixou na areia
Para marcar o lugar
Onde esteve em maré cheia
Saudade, espuma perdida
Que o vento espalhou no ar
Foste por ele vencida
Cedeste-lhe o teu lugar
E se o tempon na verdade
A espuma do mar levou
Porque não leva a saudade
Que o teu amor me deixou
Repertório de Teresa Siqueira
Saudade, espuma do mar
E a onda baixou na areia
Para marcar o lugar
Onde esteve em maré cheia
Saudade, espuma perdida
Que o vento espalhou no ar
Foste por ele vencida
Cedeste-lhe o teu lugar
E se o tempon na verdade
A espuma do mar levou
Porque não leva a saudade
Que o teu amor me deixou
Para quê versos?
António Calém / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Zé Caravela
Para quê versos, meu amor?
Versos são aonde eu for
O teu nome e nada mais
Porquê dizer tudo ao vento
Mesmo que esse meu lamento
Seja o eco dos meus ais?
Para quê versos, meu amor?
Eu já cantei toda a dor
Já chorei e fiz chorar
Não sei mais o que te diga
Não sei trova mais antiga
Que ainda te saiba cantar
Para quê versos, meu amor?
Se tu és aquela flor
Que eu vi pela vez primeira?
Depois do tempo vivido
Foste esse lírio florido
Que eu sonhei a vida inteira
Repertório de Zé Caravela
Para quê versos, meu amor?
Versos são aonde eu for
O teu nome e nada mais
Porquê dizer tudo ao vento
Mesmo que esse meu lamento
Seja o eco dos meus ais?
Para quê versos, meu amor?
Eu já cantei toda a dor
Já chorei e fiz chorar
Não sei mais o que te diga
Não sei trova mais antiga
Que ainda te saiba cantar
Para quê versos, meu amor?
Se tu és aquela flor
Que eu vi pela vez primeira?
Depois do tempo vivido
Foste esse lírio florido
Que eu sonhei a vida inteira
História do Chico do Cachené
Este magnífico trabalho foi-me cedido pelo mestre
DANIEL GOUVEIA
- - -
Em 1945, Linhares Barbosa escreveu um «auto poético fadista»
intitulado: O Julgamento do Chico do Cachené.
Tudo começou quando um grupo de amigos, dos quais faziam parte
o artista plástico e boémio D. Tomás José de Melo (Tom)
e Linhares Barbosa, saiu da Adega Machado
após um animado almoço.
Um ferro-velho ambulante expunha num carrinho várias bugigangas
onde Tom divisou um boneco de madeira, nu com meio metro
de altura.
Comprou-o, sob as piadas dos amigos, e levou-o consigo.
Dias depois apareceu no Machado com o boneco vestido à «faia»
de jaqueta, calça de boca-de-sino, bota «afiambrada», chapéu à banda
e cache-nez de seda ao pescoço.
Armando Machado pô-lo numa peanha, em local bem visível da casa
e mestre Linhares batizou-o de «Chico do Cachené».
Mais uns tempos passados e o mesmo grupo divertia-se em
fazer comentários ao «Chico».
Uns acusando-o de ser um estroina, bêbado, sem ocupação
senão a de estar na sua peanha a ouvir fados
vivendo à custa de uma mulher (a Micas).
Outros defendendo-o, alegando que tinha sido
um desgosto de amor ele nem era mau rapaz, e por aí fora.
Então, Linhares Barbosa propôs fazer-lhe um julgamento
em forma para o que escreveria os depoimentos da acusação
da defesa, a sentença tudo em letras de fado a fim de ser
cantado ali mesmo.
Estreou-se este auto poético fadista em 28 de Julho de 1945
às 15h00, na Adega Machado.
Foram intervenientes:
Maria de Lurdes Machado, Fernando Farinha, Natália dos Anjos
Maria de Castro, Jacinto Pereira e Gabino Ferreira
Acompanhados, à guitarra e à viola por
António Henriques e Flávio Teixeira.
O próprio Linhares desempenhou o papel de Juiz
Em 25 de Maio de 1948 foi de novo levado à cena, no Café Luso.
Depois, caiu no esquecimento, as letras perderam-se
havendo apenas excertos publicados na Guitarra de Portugal
n.º 5, de 15 de Agosto e 1945.
Encontradas, na íntegra, nos arquivos de Francisco Mendes
foi o auto encenado por José Manuel Osório em 1999
sendo representado na mesma Adega Machado
onde fora estreado, na Adega Mesquita, A Severa, Café Luso
Clube de Fado, O Faia, O Timpanas, Restaurante Senhor Vinho
Sociedade A Voz do Operário e Taverna do Embuçado.
No ano seguinte, subiu à cena no Grande Auditório
do Centro Cultural de Belém.
Foram intérpretes:
Alice Pimenta, Maria Amélia Proença, Julieta Estrela, António Rocha
Daniel Gouveia, Filipe Duarte e Hélder Moutinho
com acompanhamento de Carlos Fontes e João Chitas (guitarras)
Luís Costa (viola) e Pedro Morato (viola-baixo).
- - -
Eis as letras, na sequência com que foram cantadas em 1999 e 2000
QUEM É O CHICO DO CACHENÉ
O "Chico do Cachené"
Tem sempre um grãozinho n’asa
É o Faia mais fadista
Que "habita" na minha casa
Com ele nunca houve tricas
Nem intrigas, nem sarilhos
Gostam dele, e os meus dois filhos
Gostam dele, e os meus dois filhos
Tanto o Licas como o Tricas
Dizem que amou certa Micas
Dizem que amou certa Micas
Que poucos sabem quem é
E que ela passou o pé
E que ela passou o pé
Deixando quase no esquife
Num quarto do "Bairro Bife"
Num quarto do "Bairro Bife"
O "Chico do Cachené"
Sempre mãos nas algibeiras
Sempre mãos nas algibeiras
Sorriso sempre na "lata"
Na boca sempre a beata
Na boca sempre a beata
P'ra lhe dar "tic" às maneiras
Atira-se às cantadeiras
Atira-se às cantadeiras
E já marcou entrevista
A certa mulher bairrista
A certa mulher bairrista
Que a altas horas lá cai
Quem for com ele mal não vai
É o Faia mais Fadista
Dizem que aquele chapéu
Quem for com ele mal não vai
É o Faia mais Fadista
Dizem que aquele chapéu
Que o cachené e a tralha
E que também a medalha
E que também a medalha
Foi a Micas que lhe deu
Dês' que ela desapareceu
Dês' que ela desapareceu
P'ra se atolar mais na vasa
No peito dele, uma brasa
Abrasa-lhe o coração
Pobre Faia. Desde então
Tem sempre um grãozinho n’asa
Outro dia, um badameco
Pobre Faia. Desde então
Tem sempre um grãozinho n’asa
Outro dia, um badameco
Armou por lá uma cena
Lá porque a sua pequena
Lá porque a sua pequena
Estava a olhar p'ra o boneco"
Ele olhou o "Papo Seco"
Ele olhou o "Papo Seco"
E nisto, o "pipi" foi d'asa
Com ele ninguém faz vasa
Com ele ninguém faz vasa
E ainda mais o admiro
Porque é o tipo mais "giro"
Que "habita" na minha casa
O CHICO DO CACHENÉ
Certa vez, foi à noitinha
Porque é o tipo mais "giro"
Que "habita" na minha casa
O CHICO DO CACHENÉ
Certa vez, foi à noitinha
O Chico do Cachené
Chamou-me e disse: «Farinha
Vou contar-te a vida minha
Vou contar-te a vida minha
Para saberes como é
Bem criado e mal fadado
Os meus pais tinham de seu
Por eles era adorado
Por eles era adorado
Instruído e educado
Cheguei a andar no liceu
Ao estudo tomei horror
Era p’ra mim um suplício
Deixei aula e professor
Deixei aula e professor
Fui p’ra aprendiz de impressor
Para uma casa do ofício
Eu era menino e moço
Para uma casa do ofício
Eu era menino e moço
Simples como uma donzela
’Té que um dia – que alvoroço
’Té que um dia – que alvoroço
Fui à Travessa do Poço
Vi a Micas, gostei dela
A casa não voltei mais
Vi a Micas, gostei dela
A casa não voltei mais
Meus pais tiveram desgosto
Calcula: deixei meus pais
Calcula: deixei meus pais
Preso nos olhos fatais
Que a Micas tinha no rosto
Com ela aprendi o Fado
Com ela aprendi o Fado
O Fado a que te dedicas
Mas sempre, sempre empregado
Que, p’ra mim, era um pecado
Mas sempre, sempre empregado
Que, p’ra mim, era um pecado
Viver à custa da Micas
Vivi assim alguns anos
Vivi assim alguns anos
Quatro vezes lhe pus casa
Mas o seus olhos tiranos
Vadios como dois ciganos
Mas o seus olhos tiranos
Vadios como dois ciganos
Fugiam, batiam asa
Muita vez a fui buscar
Muita vez a fui buscar
Às ruas do outro «fado»
Um dia, p’ra não voltar
Fugiu... É que o seu olhar
Um dia, p’ra não voltar
Fugiu... É que o seu olhar
Tinha que ser desgraçado
Hoje não tenho um afago
Hoje não tenho um afago
Um carinho, uma afeição
Sou um esquecido, mal pago
Sou um esquecido, mal pago
É no vinho que eu apago
O fogo desta paixão
Depois de contar-me a vida
Depois de contar-me a vida
O Chico pôs-se de pé
Pediu mais uma bebida
E uma lágrima atrevida
Pediu mais uma bebida
E uma lágrima atrevida
Caiu-lhe no cachené
A MICAS ERA UMA JÓIA
Todos cantam a odisseia
A MICAS ERA UMA JÓIA
Todos cantam a odisseia
Do Chico, com simpatia
Mas ninguém diz que, ao velhaco
Quando estava na cadeia
Mas ninguém diz que, ao velhaco
Quando estava na cadeia
Era a Micas quem lá ia
levar onças de tabaco
Não vivia à custa dela
levar onças de tabaco
Não vivia à custa dela
Não fazia dela escrava
Louvo-lhe esses sentimentos
Mas muita, muita farpela
Louvo-lhe esses sentimentos
Mas muita, muita farpela
Era a Micas que a comprava
Numa loja, a pagamentos
A Micas era uma joia
Numa loja, a pagamentos
A Micas era uma joia
Leviana, sim, talvez
No fundo, uma desgraçada
Certa vez, numa ramboia
No fundo, uma desgraçada
Certa vez, numa ramboia
Por nada que ela lhe fez
Ele moeu-a à pancada
Resultou, dessa tareia
Ele moeu-a à pancada
Resultou, dessa tareia
Da forma de a agredir
O ser preso... e até se diz:
Só esteve um mês na cadeia
O ser preso... e até se diz:
Só esteve um mês na cadeia
Porque a Micas foi pedir
por ele, ao Doutor Juiz
Também se deu um sarilho
por ele, ao Doutor Juiz
Também se deu um sarilho
Muito grande, entre ela e ele:
A mãe dela mo contou
A Micas tivera um filho
A mãe dela mo contou
A Micas tivera um filho
Um filhinho que era dele
E que ele não perfilhou
Não vim para a defender
E que ele não perfilhou
Não vim para a defender
Nem levantar-lhe degrau
No trono das desgraçadas
Mas costuma-se dizer
No trono das desgraçadas
Mas costuma-se dizer
Que quando cachorro é mau
Todos lhe atiram pedradas
BÊBADO, BATOTEIRO E DESORDEIRO
Ele ganhava um quartinho
Era sempre o que ganhava
Mas gastava tudo em vinho!
E às vezes não lhe chegava
Conheci-o, meus senhores
Todos lhe atiram pedradas
BÊBADO, BATOTEIRO E DESORDEIRO
Ele ganhava um quartinho
Era sempre o que ganhava
Mas gastava tudo em vinho!
E às vezes não lhe chegava
Conheci-o, meus senhores
De "setenta", de "ginjeira"
Numa banca pataqueira
Numa banca pataqueira
Ali p'ra os Restauradores
Como tod'os jogadores
Como tod'os jogadores
Andava sempre a caminho
Da tavolagem, pró "pinho"
Da tavolagem, pró "pinho"
Sempre a pedir emprestado
Mas não era precisado
Ele ganhava um quartinho
Entrou na Dança da Bica
Mas não era precisado
Ele ganhava um quartinho
Entrou na Dança da Bica
Lembro-me, era eu criança
Fez com que acabasse a dança
Fez com que acabasse a dança
E foi parar à Botica
Uma outra vez, em Benfica
Uma outra vez, em Benfica
Em que o Brito improvisava
Ameaçou quem lá estava
Ameaçou quem lá estava
E desafiou uns poucos
Por fim, apanhou dois socos
Era sempre o que ganhava
A Micas gostava dele
Por fim, apanhou dois socos
Era sempre o que ganhava
A Micas gostava dele
Chamava-lhe o "seu menino"
Sei que lhe deu um varino
Sei que lhe deu um varino
Com uma gola de pele
Deu-lhe um relógio, um anel
Deu-lhe um relógio, um anel
'Té o próprio "pianinho"
Em que tocava o fadinho
Em que tocava o fadinho
Ela lho dera também
O Chico ganhava bem
Mas gastava tudo em vinho
O "Chico do Cachené"
O Chico ganhava bem
Mas gastava tudo em vinho
O "Chico do Cachené"
É tatuado no peito
Prestou-se a isso o sujeito
Prestou-se a isso o sujeito
Quando esteve em S. José
Se isto é verdade, ou não é
Se isto é verdade, ou não é
Não sei: era o que constava
A "massa" que lhe emprestava
A "massa" que lhe emprestava
O Samuel agiota
Era toda prá batota
Era toda prá batota
E às vezes, não lhe chegava
AS MÁS COMPANHIAS
O Chico fez tropelias
E deu aborrecimentos
Só devido às companhias
E não aos seus sentimentos
Cantava o Fado, era faia
AS MÁS COMPANHIAS
O Chico fez tropelias
E deu aborrecimentos
Só devido às companhias
E não aos seus sentimentos
Cantava o Fado, era faia
Bebia, jogava à chapa
Mas sempre vestia capa
Mas sempre vestia capa
Pelo círio da Atalaia
A Micas era da laia
A Micas era da laia
Das que fazem judiarias
Duma vez andou dez dias
Duma vez andou dez dias
Afastada do cortiço
Como não gostava disso
O Chico fez tropelias
Certa vez que o Chico foi
Como não gostava disso
O Chico fez tropelias
Certa vez que o Chico foi
Às toirinhas em Palmela
Era ouvir o grito dela
Era ouvir o grito dela
O meu Chico hoje é um boi
Sou mulher, Deus me perdoe
Sou mulher, Deus me perdoe
Que este e outros argumentos
Venham a ser elementos
Venham a ser elementos
P’ra quem o Chico processa
A Micas era má peça
E deu aborrecimentos
Numa certa terça-feira
A Micas era má peça
E deu aborrecimentos
Numa certa terça-feira
Foram ambos para a esquadra
Porque na Feira da Ladra
Porque na Feira da Ladra
Ela armou em desordeira
Fora que a Júlia Cesteira
Fora que a Júlia Cesteira
Adela nas Olarias
E dava ali os «bons-dias»
E dava ali os «bons-dias»
Pisou a saia da Micas
O Chico meteu-se em tricas
Só devido às companhias
Outra vez, p’lo Carnaval
O Chico meteu-se em tricas
Só devido às companhias
Outra vez, p’lo Carnaval
Foram ao baile à Trindade
Pois diga-se à puridade
Pois diga-se à puridade
Que ambos não dançavam mal
Um guarda municipal
Um guarda municipal
Disse dois atrevimentos
O Chico deu-lhe dois «tentos»
O Chico deu-lhe dois «tentos»
E tudo isto presume
Que levou tudo ao ciúme
E não aos seus sentimentos
BOÉMIO, VALENTE E ARTISTA
Vingava a honra ofendida
Tinha uma alma altruísta
Antes do Fado ser Arte
Já a Chico era um Artista
Certo "Amigo de Peniche”
Que levou tudo ao ciúme
E não aos seus sentimentos
BOÉMIO, VALENTE E ARTISTA
Vingava a honra ofendida
Tinha uma alma altruísta
Antes do Fado ser Arte
Já a Chico era um Artista
Certo "Amigo de Peniche”
Que ele julgava uma jóia
Viu-o ele de tipóia
Viu-o ele de tipóia
Com a Micas, em Carriche
Viu-os, aguentou-se fixe
Viu-os, aguentou-se fixe
Mas não gostou da partida
Depois, 'spancou a atrevida
Depois, 'spancou a atrevida
E o amigo de má-fé
Era assim o «Cachené»
Vingava a honra ofendida
Teve amigos verdadeiros
Era assim o «Cachené»
Vingava a honra ofendida
Teve amigos verdadeiros
Escritores e doutores
Tu cá, tu lá, com atores
Tu cá, tu lá, com atores
Tu lá, tu cá, com toureiros
Deu-se até com Conselheiros
Deu-se até com Conselheiros
E com muito Jornalista
Foi o melhor "Cancanista"
Foi o melhor "Cancanista"
Do Baile dos Quintalinhos
E, entre vários pergaminhos
Tinha uma alma altruísta
Em noites de S. João
E, entre vários pergaminhos
Tinha uma alma altruísta
Em noites de S. João
Passava noites inteiras
Dançando valsas rasteiras
Dançando valsas rasteiras
Mazurcas, Polca a Tacão
Palhinhas e jaquetão
Palhinhas e jaquetão
Calça branca, ou de zuarte
Nas feiras, por toda a parte
Nas feiras, por toda a parte
Com titulares, com ciganos
Passou-se isto há trinta anos
Antes do Fado ser Arte
Jogava o Pau e à Espada / Em qualquer jogo, era rijo
Uma tarde, no Montijo / Varreu a Vila à paulada
Em muita espera e toirada / Deixou a perder de vista
Muito forcado burlista / E, nos sectores da "Canção"
'Inda não davam cartão
Já o Chico era um Artista
Passou-se isto há trinta anos
Antes do Fado ser Arte
Jogava o Pau e à Espada / Em qualquer jogo, era rijo
Uma tarde, no Montijo / Varreu a Vila à paulada
Em muita espera e toirada / Deixou a perder de vista
Muito forcado burlista / E, nos sectores da "Canção"
'Inda não davam cartão
Já o Chico era um Artista
SENTENÇA
O Chico do Cachené
Já todos sabem quem é
É um boneco inocente
Sem gestos, sem atitudes
É um boneco inocente
Sem gestos, sem atitudes
Sem defeitos, sem virtudes
Um boneco, simplesmente
Concebido e modelado
Um boneco, simplesmente
Concebido e modelado
P’la nossa imaginação
Com barro de fantasia
É um sopro do passado
Com barro de fantasia
É um sopro do passado
Um pouco de tradição
De sonho e de poesia
Criámo-lo à nossa imagem
De sonho e de poesia
Criámo-lo à nossa imagem
Com mais ou menos verdade
Somos os seus criadores
Rendemos-lhe vassalagem
Somos os seus criadores
Rendemos-lhe vassalagem
Porque fala de saudade
E até dos nossos amores
Pretendemo-lo julgar
E até dos nossos amores
Pretendemo-lo julgar
Vimos que ele era, porém
Filho do meio ambiente
E que era um caso vulgar
Filho do meio ambiente
E que era um caso vulgar
Era um tudo de ninguém
Um nada de toda a gente
Ninguém com certeza ignora
Um nada de toda a gente
Ninguém com certeza ignora
Que estivemos evocando
A tradição, o passado
Bendita esta «Boa-Hora»
A tradição, o passado
Bendita esta «Boa-Hora»
Onde estivemos brincando
Com as guitarras e o Fado
Não se provou a má fé
Com as guitarras e o Fado
Não se provou a má fé
Nos pecados do arguido
Que as paixões não nos iludam
O Chico do Cachené
Que as paixões não nos iludam
O Chico do Cachené
Está, portanto, absolvido
«Leis do Fado não se mudam»
«Leis do Fado não se mudam»
Linhares Barbosa ainda escreveu mais uma letra
sobre o «Chico do Cachené» para o cartaz que anunciava
a representação de 1948 no Café Luso, intitulada
"Alguns Comentários" onde fazia a apresentação do elenco
e onde se vê que alguns dos fadistas e instrumentistas
da primeira representação foram substituídos:
(Bocage)
O Chico, mais uma vez
Foi preso e vai ser julgado
«Leis do Fado não se mudam»
Reza um antigo ditado
Cumprindo das leis o uso
O Chico vai a Juízo
Porque o juízo é preciso
Porque o juízo é preciso
E o Chico ao juízo é escuso
Vai ser julgado no «Luso»
Vai ser julgado no «Luso»
Lá para o fim deste mês
Será punido?... Talvez!
Será punido?... Talvez!
Esperemos que a Justiça fale
Enfim, vai a tribunal
O Chico, mais uma vez
Já anda metendo cunhas
Enfim, vai a tribunal
O Chico, mais uma vez
Já anda metendo cunhas
Para não ser condenado
Mas não leva um advogado
Mas não leva um advogado
Um daqueles que tem «unhas»
Conhecem-se a testemunhas
Conhecem-se a testemunhas
É tudo gente do Fado
Vai a Lourdes do Machado
Vai a Lourdes do Machado
O Farinha, o Gabino
Pobre faia!... É o destino!
Foi preso e vai ser julgado
Vai o Jacinto Pereira
Pobre faia!... É o destino!
Foi preso e vai ser julgado
Vai o Jacinto Pereira
Que o deseja ver na montra
E também vai depor contra
E também vai depor contra
A Natália, a galinheira
A Márcia, outra cantadeira
A Márcia, outra cantadeira
Vai pedir que ao Chico acudam
Mas estas coisas não grudam
Mas estas coisas não grudam
Nem convencem os jurados
O Chico tem seus pecados.
«Leis do Fado não se mudam»
Sempre metido na «Adega
O Chico tem seus pecados.
«Leis do Fado não se mudam»
Sempre metido na «Adega
Do Machado», o infeliz
Comia e bebia a «giz»
Comia e bebia a «giz»
E apanhava a sua cega
O Flávio, este não sossega
O Flávio, este não sossega
O Amando anda enervado
O Nery, vai estar ao lado
O Nery, vai estar ao lado
Do Chico do Cachené
O que nos salva é a Fé
Reza um antigo ditado
O que nos salva é a Fé
Reza um antigo ditado
Jardim perdido
António Cálem / José António Sabrosa
Repertório de Miguel Sanches
Nunca mais será assim
Foi fechado o meu jardim
Aos teus olhos que o abriram
Rosas morreram em mim
Cravos, lírios e um jasmim
Que por tuas mãos floriram
Tudo morreu ao sol pôr
O fruto do teu amor
Repertório de Miguel Sanches
Nunca mais será assim
Foi fechado o meu jardim
Aos teus olhos que o abriram
Rosas morreram em mim
Cravos, lírios e um jasmim
Que por tuas mãos floriram
Tudo morreu ao sol pôr
O fruto do teu amor
Nas minhas mãos desunidas
Afastou-se o arvoredo
E descobriu-se o enredo
Afastou-se o arvoredo
E descobriu-se o enredo
Enredando as nossas vidas
Fechado o jardim da infância
Em que agora é já distância
Fechado o jardim da infância
Em que agora é já distância
O calor dos teus abraços
Agora não sou ninguém
Talvez a sombra de quem
Agora não sou ninguém
Talvez a sombra de quem
Deixou luz entre os teus passos
Já sem voz
António Cálem / Pedro Rodrigues
Repertório de Carlos Barra
Já sem voz p’ra te cantar
Lágrimas p’ra te chorar
Como é triste a realidade
E lembrar-me a primavera
O sonho da tua espera
E a negrura da saudade
Hoje és minha e eu sou teu
Mas quanto em nós se perdeu
Repertório de Carlos Barra
Já sem voz p’ra te cantar
Lágrimas p’ra te chorar
Como é triste a realidade
E lembrar-me a primavera
O sonho da tua espera
E a negrura da saudade
Hoje és minha e eu sou teu
Mas quanto em nós se perdeu
Quando então éramos dois
Quanto mais longe mais perto
E o nosso amor encoberto
Quanto mais longe mais perto
E o nosso amor encoberto
Deixou-nos assim depois
Não me peças mais canções
É que os nossos corações
Não me peças mais canções
É que os nossos corações
Deixaram já de bater
Todo o amor é amizade
E o sonho apenas saudade
Todo o amor é amizade
E o sonho apenas saudade
Saudade doutro viver
Ouvir gaivotas
António Cálem / Alvaro Duarte Simões *meia noite e uma guitarra*
Repertório de João Braga
Que triste é ouvir gaivotas
No longe dos oceanos
Que triste é perder as rotas
Neste mar de desenganos
Ai que dor é ser o mar
Repertório de João Braga
Que triste é ouvir gaivotas
No longe dos oceanos
Que triste é perder as rotas
Neste mar de desenganos
Ai que dor é ser o mar
Este mar que não tem fim
E que dor é naufragar
E que dor é naufragar
Sozinho, dentro de mim
Ser eu só além da bruma
Ser eu só além da bruma
Todo o frio que me invade
E morrer em branca espuma
E morrer em branca espuma
No mar largo da saudade
Ai que triste é ouvir gaivotas
Ai que triste é ouvir gaivotas
No longe dos oceanos
Que triste é perder as rotas
Que triste é perder as rotas
Neste mar de desenganos
Saudade de ninguém
António Cálem / Helena Maria Viana *fado lenitivo*
Repertório de João Braga
O voar duma gaivota
Traçou pelo ar a rota
Que o mar teve ao te deixar
Ficaram rochas perdidas
Algas na praia esquecidas
E ondas p’ra te cantar
Duas asas e um adeus
Longe da terra ou dos céus
Repertório de João Braga
O voar duma gaivota
Traçou pelo ar a rota
Que o mar teve ao te deixar
Ficaram rochas perdidas
Algas na praia esquecidas
E ondas p’ra te cantar
Duas asas e um adeus
Longe da terra ou dos céus
São sinais de despedida
Eu sonhei ser mais além
Sonhei azul, não sei bem
Eu sonhei ser mais além
Sonhei azul, não sei bem
Se era sonho ou era vida
Mas a gaivota partiu
E o meu olhar que a seguiu
Mas a gaivota partiu
E o meu olhar que a seguiu
Partiu com ela também
Ficou esta praia nua
A noite negra sem lua
Ficou esta praia nua
A noite negra sem lua
E a saudade de ninguém
Voltei a teu lado
António Campos / Armandinho *fado manganine*
Repertório de Alice Maria
P’ra quê falar do passado
Que ficou lá na distãncia
Voltei, estou a teu lado
Só isso tem importãncia
Não perguntes onde andei
Nem o que fiz por aí
Não perguntes que eu não sei
Onde andei longe de ti
Andei na noite vagando
Em labirintos medonhos
Andei por aí, tentando
Acordar-me dos meus sonhos
Andei por aí sem norte
Andei por aí vencida
Andei tão perto da morte
Que esqueci a própria vida
Repertório de Alice Maria
P’ra quê falar do passado
Que ficou lá na distãncia
Voltei, estou a teu lado
Só isso tem importãncia
Não perguntes onde andei
Nem o que fiz por aí
Não perguntes que eu não sei
Onde andei longe de ti
Andei na noite vagando
Em labirintos medonhos
Andei por aí, tentando
Acordar-me dos meus sonhos
Andei por aí sem norte
Andei por aí vencida
Andei tão perto da morte
Que esqueci a própria vida
A tua sina
António Cálem / Popular *fado corrido*
Repertório de João Braga
Para quê sonhar futuros
Na sina que não leremos?
Sonhar são os quatro muros
Desta casa onde vivemos
Para quê montes distantes
Repertório de João Braga
Para quê sonhar futuros
Na sina que não leremos?
Sonhar são os quatro muros
Desta casa onde vivemos
Para quê montes distantes
Pedaços da cor do céu
Viver são estes instantes
Viver são estes instantes
Do meu corpo ao pé do teu
A palma da tua mão
A palma da tua mão
Depois das linhas que li
Trago-a eu no coração
Trago-a eu no coração
Desde a hora em que te vi
A sina da tua mão
A sina da tua mão
Aquela que Deus te deu
Por mais que digas que não
Por mais que digas que não
A tua sina sou eu
Porque choraste por mim
António Cálem / António Barbeirinho *fado porto*
Repertório de José Pracana
Porque choras por me ver?
Não sabes que o amanhecer
Traz a esperança doutro dia?
Porque choraste por mim
Se ainda há flores neste jardim
E amor noutra poesia?
Cantaste o fado e choraste
Porque a letra que cantaste
Repertório de José Pracana
Porque choras por me ver?
Não sabes que o amanhecer
Traz a esperança doutro dia?
Porque choraste por mim
Se ainda há flores neste jardim
E amor noutra poesia?
Cantaste o fado e choraste
Porque a letra que cantaste
Era minha por ser tua
Falava em tempos passados
E foi por falar assim
Falava em tempos passados
Em dois corpos abraçados
Falava da nossa rua
E foi por falar assim
Que tu choraste por mim
Quando era já madrugada
Não cantes mais este fado
Lembra-te de que o passado
Não cantes mais este fado
Lembra-te de que o passado
É só passado e mais nada
Porque me visto de fado
Alexandrina Pereira / Popular *fado menor*
Repertório de Deolinda de Jesus
Ao respirar madrugadas
Atiro ao chão meus cansaços
E as minhas mãos agitadas
Sentem a fome de abraços
Sinto na alma o vazio
Repertório de Deolinda de Jesus
Ao respirar madrugadas
Atiro ao chão meus cansaços
E as minhas mãos agitadas
Sentem a fome de abraços
Sinto na alma o vazio
Como barco naufragado
Sinto o gelo, sinto o frio
Sinto o gelo, sinto o frio
Por não me vestir de fado
Na ausência vi nascer
Na ausência vi nascer
Uns estranhos sentimentos
Mas não me deixei perder
Mas não me deixei perder
No eco dos meus lamentos
Mas a tormenta passou
Mas a tormenta passou
E o sol voltou a raiar
O vendaval amainou
O vendaval amainou
E eu voltei a cantar
Quase morte
António Cálem / Popular *fado corrido*
Repertório de João Braga
Horas e horas que passam
Que passam sem te passar
Horas e horas que matam
O sonho de te sonhar
Como se fora um punhal
Repertório de João Braga
Horas e horas que passam
Que passam sem te passar
Horas e horas que matam
O sonho de te sonhar
Como se fora um punhal
O luar fere o jardim
É noite morta lá fora
É noite morta lá fora
Quase morte dentro em mim
Passo assim horas inteiras
Passo assim horas inteiras
A sonhar os teus abraços
Vão-se as horas ficam penas
Vão-se as horas ficam penas
Entre ilusões e cansaços
Primavera… Primavera
Primavera… Primavera
E há só frio no meu ser
Quem me dera ser quem era
Quem me dera ser quem era
Antes de te conhecer
Nada me fala de ti
António Cálem / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Fernando Marques de Oliveira
Nada me fala de ti
Nem este fado que ouvi
Trouxe a tua mocidade
Nem o eco que eras dantes
Seres tu em mim por instantes
Ser eu em ti em saudade
Que doce era o anoitecer
Repertório de Fernando Marques de Oliveira
Nada me fala de ti
Nem este fado que ouvi
Trouxe a tua mocidade
Nem o eco que eras dantes
Seres tu em mim por instantes
Ser eu em ti em saudade
Que doce era o anoitecer
E o sol ao longe a morrer
Quando teus olhos se abriam
E que doce era fechá-los
Quando teus olhos se abriam
E que doce era fechá-los
Mais doce ainda beijá-los
Quando de mim se esqueciam
Como era azul do luar
Quando de mim se esqueciam
Como era azul do luar
O teu corpo junto ao mar
Que em certa noite eu vi
Como o relembro hora a hora
Que em certa noite eu vi
Como o relembro hora a hora
Se não sei de ti agora
Se ninguém fala de ti
Se ninguém fala de ti
Para quê?
António Cálem / Armando Machado *fado licas*
Repertório de João Braga
Sinal de ti em cada esquina nua
Do vento que hoje passa sem te ver
Talvez saudade de ainda ouvir: sou tua
Talvez a voz do vento a responder
Talvez que a noite morta vá fugindo
Fugindo ao lado de mim ou de ninguém
Para quê eu dizer sim, se é só mentindo
Para quê eu dizer não, se morre alguém?
Deixa passar a noite ao nosso lado
Sonhar outro luar, outro jardim
Porquê seres tu amor e o pecado
Se a vida já morreu dentro de mim
Repertório de João Braga
Sinal de ti em cada esquina nua
Do vento que hoje passa sem te ver
Talvez saudade de ainda ouvir: sou tua
Talvez a voz do vento a responder
Talvez que a noite morta vá fugindo
Fugindo ao lado de mim ou de ninguém
Para quê eu dizer sim, se é só mentindo
Para quê eu dizer não, se morre alguém?
Deixa passar a noite ao nosso lado
Sonhar outro luar, outro jardim
Porquê seres tu amor e o pecado
Se a vida já morreu dentro de mim
A força com que me dei
Alexandrina Pereira / Pedro Rodrigues
Repertório de Deolinda de Jesus
Barco à deriva no rio
Deixa na alma este frio
E um desespero profundo
Num risco de raiva e medo
Cantei amor em segredo
Na demência deste mundo
Dissimulada loucura
Que no meu olhar procura
Repertório de Deolinda de Jesus
Barco à deriva no rio
Deixa na alma este frio
E um desespero profundo
Num risco de raiva e medo
Cantei amor em segredo
Na demência deste mundo
Dissimulada loucura
Que no meu olhar procura
A força com que me dei
Aos meus dias mais tristonhos
Guardando todos os sonhos
Aos meus dias mais tristonhos
Guardando todos os sonhos
Nos poemas que inventei
E os meus sentidos imersos
Foram rasgando os meus versos
E os meus sentidos imersos
Foram rasgando os meus versos
Nas margens da minha vida
E em cada hora de engano
De um rio fiz oceano
E em cada hora de engano
De um rio fiz oceano
Com ondas em fim de vida
Esta dor que me inquieta
Vem da alma de um poeta
Esta dor que me inquieta
Vem da alma de um poeta
Que dá vida a qualquer tema
Eu sou grito que desperta
Sou quem deixa a porta aberta
Eu sou grito que desperta
Sou quem deixa a porta aberta
Para entrar qualquer poema
Último adeus
António Cálem / Armando Goes *fado da saudade*
Repertório de João Braga
Queria tanto que este adeus
Não fosse de despedida
Mas tenho medo do mundo
Mais que do mundo, da vida
Nada mudou entre nós
Repertório de João Braga
Queria tanto que este adeus
Não fosse de despedida
Mas tenho medo do mundo
Mais que do mundo, da vida
Nada mudou entre nós
Nem o abraço da partida
Mudou só a tua voz
Mudou só a tua voz
Nesse adeus de despedida
E hoje vivo a sonhar
E hoje vivo a sonhar
O mundo que nos perdeu
Vivo da luz do luar
Vivo da luz do luar
Já que o sol se me escondeu
Nem mesmo sei se é viver
Nem mesmo sei se é viver
Já que perdi o meu norte
Penso em ti e é morrer
Penso em ti e é morrer
Penso em mim e vejo a morte
Passado
António Cálem / Armando Machado *fado cigana*
Repertório de Humberto Sotto Mayor
Ter-te em mim mas sem perfume
Queimado, queimado lume
Fogueira agora apagada
Cinza que foi chama ardente
Cinza dum amor ausente
Cinza apenas e mais nada
O calor que outrora deste
A chama que me acendeste
Para te cantar este fado
É hoje cinza apagada
Cinza, terra, pó e nada
E um sabor triste a pecado
E esse fim que julgo ter
Neste triste anoitecer
Sem luar e sem estrelas
São auroras doutros dias
Ainda mais tristes e frias
Porque já não posso vê-las
Repertório de Humberto Sotto Mayor
Ter-te em mim mas sem perfume
Queimado, queimado lume
Fogueira agora apagada
Cinza que foi chama ardente
Cinza dum amor ausente
Cinza apenas e mais nada
O calor que outrora deste
A chama que me acendeste
Para te cantar este fado
É hoje cinza apagada
Cinza, terra, pó e nada
E um sabor triste a pecado
E esse fim que julgo ter
Neste triste anoitecer
Sem luar e sem estrelas
São auroras doutros dias
Ainda mais tristes e frias
Porque já não posso vê-las
Sempre será a vida
Alexandrina Pereira / Alberto Correia *fado solene*
Repertório de Deolinda de Jesus
As palavras que chegaram
Ao livro por escrever
Todas elas me chamaram
Ao sonho do meu viver
Nas páginas onde deixei
Repertório de Deolinda de Jesus
As palavras que chegaram
Ao livro por escrever
Todas elas me chamaram
Ao sonho do meu viver
Nas páginas onde deixei
As promessas por cumprir
E nas frases que inventei
E nas frases que inventei
Um mundo por descobrir
E assim fui inventando
E assim fui inventando
Os meus sonhos e os meus dias
Nessas folhas fui deixando
Nessas folhas fui deixando
Tristezas e alegrias
Sempre assim será a vida
Sempre assim será a vida
Como um livro inacabado
E em cada hora vivida
E em cada hora vivida
É escrever o nosso fado
Para um fado de Coimbra
António Calém / Alvaro Duarte Simões *meia noite e uma guitarra*
Repertório de Fernando Gomes
Se choras de pura mágoa
Junto à linha do horizonte
Chora como as gotas de água
Que vão caindo da fonte
Com elas dá vida à terra
Dá frescura a toda a gente
Sê como o gesto que encerra
O lançar duma semente
Que a semente há-de dar sombra
No andar de mil estradas
Mas que não saibam que a sombra
Vem de lágrimas choradas
Repertório de Fernando Gomes
Se choras de pura mágoa
Junto à linha do horizonte
Chora como as gotas de água
Que vão caindo da fonte
Com elas dá vida à terra
Dá frescura a toda a gente
Sê como o gesto que encerra
O lançar duma semente
Que a semente há-de dar sombra
No andar de mil estradas
Mas que não saibam que a sombra
Vem de lágrimas choradas
Encara a vida de frente
Alexandrina Pereira / Jaime Santos *fado alvito*
Repertório de Deolinda de Jesus
Em noites de Lua cheia
Fui escrever na fina areia
Os meus sonhos de menina
Veio uma onda mais forte
Que ditou a minha sorte
Que escreveu a minha sina
As nuvens vinham chegando
E o vento assobiando
Repertório de Deolinda de Jesus
Em noites de Lua cheia
Fui escrever na fina areia
Os meus sonhos de menina
Veio uma onda mais forte
Que ditou a minha sorte
Que escreveu a minha sina
As nuvens vinham chegando
E o vento assobiando
Uma estranha melodia
Dizia-me docemente:
Encara a vida de frente
Dizia-me docemente:
Encara a vida de frente
E da noite faz teu dia
Abre portas e janelas
Depois vê através delas
Abre portas e janelas
Depois vê através delas
Tudo o que a vida te deu
E deixa o tempo passar
Guarda sempre no olhar
E deixa o tempo passar
Guarda sempre no olhar
Esse mundo que é só teu
Agarra o sol e a lua
Depois desenha na rua
Agarra o sol e a lua
Depois desenha na rua
O destino que escolheste
E verás que a vida é
Muito mais que amor e fé
E verás que a vida é
Muito mais que amor e fé
É o que dela fizeste
Sonho dourado
Fernando Teles / Popular *fado mouraria*
Repertório de Alfredo Marceneiro
Eu tenho um sonho doirado
Sonho que minha alma quer
Que é morrer cantando o fado
Nos braços de uma mulher
Que importa que digam mal
Repertório de Alfredo Marceneiro
Eu tenho um sonho doirado
Sonho que minha alma quer
Que é morrer cantando o fado
Nos braços de uma mulher
Que importa que digam mal
Do meu lirismo romântico
E que censurem o meu pecado
E que censurem o meu pecado
Amoroso sensual
Eu só desejo afinal
Eu só desejo afinal
Uma boca rosicler
Ou então ouvir gemer
Ou então ouvir gemer
Uma guitarra em doce anel
É este um sonho tão belo
Sonho que a minha alma quer
As mais rudes penitências
É este um sonho tão belo
Sonho que a minha alma quer
As mais rudes penitências
Que a sorte me pode dar
É não poder alcançar
É não poder alcançar
Do amor puras essências
Assim sofrendo inclemências
Assim sofrendo inclemências
Ao ver-se repudiado
Meu coração magoado
Meu coração magoado
Um só desejo inspira
É chorar ao som da lira
É morrer cantando o fado
Morrer dizendo os meus versos
É chorar ao som da lira
É morrer cantando o fado
Morrer dizendo os meus versos
É isto que peço a Deus
Envolvendo os olhos meus
Envolvendo os olhos meus
Nuns olhos lindos, perversos
Beijos doirados, diversos
Beijos doirados, diversos
Meu ser lascivo requer
E quando a morte vier
E quando a morte vier
Gelar enfim o meu sangue
Eu quero expirar exangue
Nos braços de uma mulher
Eu quero expirar exangue
Nos braços de uma mulher
Ser outono em primavera
António Calém / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de João Braga
Secura de te não ver como te via
Com esses olhos teus da cor do mar
Silêncio de não te ouvir como te ouvia
Cantando aberta à noite e ao luar
Loucura, de não seres o que eu sonhei
Cansaço duma vida que vivi
É este o novo mundo a que me dei
Depois desse teu mundo que perdi
É tarde para sonhar uma outra espera
E cedo para sonhar o entardecer
É triste ser Outono em Primavera
Florir aberto em lume e não arder
Repertório de João Braga
Secura de te não ver como te via
Com esses olhos teus da cor do mar
Silêncio de não te ouvir como te ouvia
Cantando aberta à noite e ao luar
Loucura, de não seres o que eu sonhei
Cansaço duma vida que vivi
É este o novo mundo a que me dei
Depois desse teu mundo que perdi
É tarde para sonhar uma outra espera
E cedo para sonhar o entardecer
É triste ser Outono em Primavera
Florir aberto em lume e não arder
A tua porta
António Cálem / Carlos da Maia
Repertório de Teresa Siqueira
Se o bater da tua porta
Fechou a vida de alguém
Porque voltas, se é já morta
A saudade de ninguém?
Na rua ouço os teus passos
Repertório de Teresa Siqueira
Se o bater da tua porta
Fechou a vida de alguém
Porque voltas, se é já morta
A saudade de ninguém?
Na rua ouço os teus passos
Talvez que o teu coração
Mas fecharam-se os meus braços
Mas fecharam-se os meus braços
Dentro desta solidão
E agora nem sei se vivo
E agora nem sei se vivo
Já que a esperança em mim morreu
Tu foste o sonho perdido
Tu foste o sonho perdido
Em que a perdida fui eu
Mais tarde, tempos passados
Mais tarde, tempos passados
Repara, repara bem
Se eu trago os olhos pisados
Se eu trago os olhos pisados
Pela saudade de alguém
Morte ou vida, que me importa
Morte ou vida, que me importa
Depois da tua partida
Se o bater da tua porta
Se o bater da tua porta
Me pôs entre a morte e a vida
Não olhes outra vida
António Cálem / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Fernando Marques de Oliveira
Se queres morrer em mim de madrugada
Não olhes outra vida sem saber
Que o teu morrer em mim é alvorada
E noite, se viveres noutro qualquer
Há luz por entre a treva mais escura
E sombra entre o sol num claro dia
Há sede nesta fonte de água pura
E água nesta sede de poesia
Por isso eu hoje sei que a tua vida
Será enquanto eu for todo o teu fim
Fugir será o ponto de partida
Chegar será morrer dentro de mim
Repertório de Fernando Marques de Oliveira
Se queres morrer em mim de madrugada
Não olhes outra vida sem saber
Que o teu morrer em mim é alvorada
E noite, se viveres noutro qualquer
Há luz por entre a treva mais escura
E sombra entre o sol num claro dia
Há sede nesta fonte de água pura
E água nesta sede de poesia
Por isso eu hoje sei que a tua vida
Será enquanto eu for todo o teu fim
Fugir será o ponto de partida
Chegar será morrer dentro de mim
Encontro e solidão
António Cálem / José Marques *fado triplicado*
Repertório de João Braga
Dão-me tudo o que me negas
E nestas tuas entregas
Só encontro solidão
Todo o mundo se abre em flor
Mas em mim floresce a dor
Da tua separação
Todos me dão um abraço
Mas sinto apenas o espaço
Repertório de João Braga
Dão-me tudo o que me negas
E nestas tuas entregas
Só encontro solidão
Todo o mundo se abre em flor
Mas em mim floresce a dor
Da tua separação
Todos me dão um abraço
Mas sinto apenas o espaço
Em que tu foges de mim
Todo este Verão é de frio
P’ra lá da dor corre um rio
Todo este Verão é de frio
P’ra lá da dor corre um rio
Sem ter princípio ou ter fim
Salvam-se os sonhos vividos
Em que os meus cinco sentidos
Salvam-se os sonhos vividos
Em que os meus cinco sentidos
Viviam junto de ti
Hoje só resta o luar
Uma onda azul no mar
Hoje só resta o luar
Uma onda azul no mar
E esta praia que perdi
Memória de Francisco Stoffel
António Cálem / Popular *fado menor*
Repertório de Ondina Sotto Mayor
Chorei por ti neste dia
Neste dia ou noite em mim
Chorar assim noutro dia
Só quando chorei por mim
Agora soube-te morto
Repertório de Ondina Sotto Mayor
Chorei por ti neste dia
Neste dia ou noite em mim
Chorar assim noutro dia
Só quando chorei por mim
Agora soube-te morto
Fechaste os olhos à luz
E cravaram-se ao meu corpo
E cravaram-se ao meu corpo
Os cravos da tua cruz
E que triste é este Outono
E que triste é este Outono
Sem a voz da Primavera
Mais triste é sonhar um sonho
Mais triste é sonhar um sonho
Sem promessas duma espera
Que outros cantem este fado
Que outros cantem este fado
A dizer que te perdi
E que chorem ao cantá-lo
E que chorem ao cantá-lo
Como hoje chorei por ti
Chorei por ti neste dia
Chorei por ti neste dia
Neste dia ou noite em mim
Chorar assim noutro dia
Chorar assim noutro dia
Só quando chorei por mim
Rosa agreste
António Cálem / Raúl Pinto
Repertório de João Braga
Foi a rosa que me deste
Uma rosa, rosa agreste
Uma rosa perfumada
Depois perdi-a de mim
Deixei-a entregue ao seu fim
E dela não sei mais nada
Só o teu gesto ainda dura
Na tua mão a ternura
Repertório de João Braga
Foi a rosa que me deste
Uma rosa, rosa agreste
Uma rosa perfumada
Depois perdi-a de mim
Deixei-a entregue ao seu fim
E dela não sei mais nada
Só o teu gesto ainda dura
Na tua mão a ternura
Mais que a ternura o amor
Passaram as manhãs d’outrora
E ficou de ti agora
Passaram as manhãs d’outrora
E ficou de ti agora
O teres-me dado essa flor
Foi o teu gesto inspirado
Que trouxe a mim este fado
Foi o teu gesto inspirado
Que trouxe a mim este fado
E aquela rosa perdida
Hoje só resta o jardim
E uma saudade sem fim
Hoje só resta o jardim
E uma saudade sem fim
De que é feita a minha vida
Num sonho que passa
Alexandrina Pereira / Carlos Heitor da Fonseca
Repertório de Deolinda de Jesus
Quando o amor chegou serenamente
Abri as portas do meu coração
No céu dormia uma estrela indiferente
No meu tempo de sonho e ilusão
Foi hora de crescer com a certeza
Que o amor é sede num jardim
Momento p’ra sentir toda a beleza
De um fado que em segredo diz assim
Sou gota de água
Repertório de Deolinda de Jesus
Quando o amor chegou serenamente
Abri as portas do meu coração
No céu dormia uma estrela indiferente
No meu tempo de sonho e ilusão
Foi hora de crescer com a certeza
Que o amor é sede num jardim
Momento p’ra sentir toda a beleza
De um fado que em segredo diz assim
Sou gota de água
Num jardim sem mágoa
De um dia a nascer
Sou cardo sou rosa
Sou o sol poente
De um dia a nascer
Sou cardo sou rosa
Poesia e prosa
Amor por viver
Amor por viver
Sou o sol poente
Na fonte nascente
Ave que esvoaça
Sou breve momento
Ave que esvoaça
Sou breve momento
Ao sabor do vento
Num sonho que passa
Quando a luz ilumina o pensamento
De quem só tem amor como ideal
Deixa subir o sonho com o vento
Num regaço-aconchego maternal
Palavras que dão cor ao meu sentido
Rio de amor com margem sem ter fim
Como um segredo dito ao meu ouvido
Como a voz do coração que diz assim
Num sonho que passa
Quando a luz ilumina o pensamento
De quem só tem amor como ideal
Deixa subir o sonho com o vento
Num regaço-aconchego maternal
Palavras que dão cor ao meu sentido
Rio de amor com margem sem ter fim
Como um segredo dito ao meu ouvido
Como a voz do coração que diz assim
Partiu um dia
António Cálem / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de João Braga
Partiu um dia sozinho
O sonho de te sonhar
E o sonho voltou comigo
Só depois de te encontrar
Sonhamos os dois então
Repertório de João Braga
Partiu um dia sozinho
O sonho de te sonhar
E o sonho voltou comigo
Só depois de te encontrar
Sonhamos os dois então
No laço das nossas vidas
Eu e tu éramos um
Eu e tu éramos um
Ou duas folhas perdidas
E sonhámos tanto, tanto
E sonhámos tanto, tanto
Que os sonhos deram a mão
Eram o riso e eram o pranto
Eram o riso e eram o pranto
Eram o corpo e o coração
Corremos p’la vida à sorte
Corremos p’la vida à sorte
E a sorte foi-nos perdendo
O destino disse morte
O destino disse morte
E nós morremos vivendo
Minha mãe
Fernando Farinha / Armandinho *Fado Alice*
Repertório de Fernando Farinha
Minha mãe, quando te vejo
Sinto a vida que me déste
Renascer num terno beijo
Teus cabelos tão branquinhos
Ficam ainda mais belos
Ao sabor dos meus carinhos
Nos olhos teus
Que me falam de distância
Vejo as duas sentinelas
Que guardaram minha infância
E nos teus lábios
Sinto o calor que existia
Nos beijos que tu me davas
Quando em teu colo dormia
Minha mãe, o teu leve andar
Continua a ser a força
Que me obriga a caminhar
O teu rosto d´oiro fino
É qual espelho em que me vejo
E onde sou sempre menino
Darei amor
A quem meu amor merece
E desse amor eu farei
Uma chama que me aquece
Mas minha vida
Minha vida é bem diferente
Não a dou a mais ninguém
Será tua eternamente
Repertório de Fernando Farinha
Minha mãe, quando te vejo
Sinto a vida que me déste
Renascer num terno beijo
Teus cabelos tão branquinhos
Ficam ainda mais belos
Ao sabor dos meus carinhos
Nos olhos teus
Que me falam de distância
Vejo as duas sentinelas
Que guardaram minha infância
E nos teus lábios
Sinto o calor que existia
Nos beijos que tu me davas
Quando em teu colo dormia
Minha mãe, o teu leve andar
Continua a ser a força
Que me obriga a caminhar
O teu rosto d´oiro fino
É qual espelho em que me vejo
E onde sou sempre menino
Darei amor
A quem meu amor merece
E desse amor eu farei
Uma chama que me aquece
Mas minha vida
Minha vida é bem diferente
Não a dou a mais ninguém
Será tua eternamente
Contraste
Carlos Conde / Joaquim Campos da Silva *fado estela*
Repertório de Frutuoso França
É longo e triste o calvário
De quem com arte e preceito
Gasta a vida a trabalhar
Olha p'ráquele operário
Que tantas casas tem feito
E sem ter onde morar
E tantos no ano inteiro
Repertório de Frutuoso França
É longo e triste o calvário
De quem com arte e preceito
Gasta a vida a trabalhar
Olha p'ráquele operário
Que tantas casas tem feito
E sem ter onde morar
E tantos no ano inteiro
Muitas vezes sem ter pão
Nem o calor de uma brasa
Repara nesse mineiro
Nem o calor de uma brasa
Repara nesse mineiro
Que enche o mundo de carvão
E mal tem carvão em casa
Esta sonha a paz fagueira
E mal tem carvão em casa
Esta sonha a paz fagueira
Numa vida calma e leda
Por ser pobre e ser bonita
Eis aqui a costureira
Por ser pobre e ser bonita
Eis aqui a costureira
Que faz vestidos de seda
E veste saia de chita
Ele há quem ande engatado
E veste saia de chita
Ele há quem ande engatado
Entre varais, feito lixo
Lamentando a sorte sua
Ele há tanto desgraçado
Lamentando a sorte sua
Ele há tanto desgraçado
A morder o pó do lixo
Que os outros lançam à rua
Neste contraste profundo
Que os outros lançam à rua
Neste contraste profundo
Que se vê a cada passo
Onde a crença anda perdida
É que as riquezas do mundo
Onde a crença anda perdida
É que as riquezas do mundo
Caminham de par e passo
Com as misérias da vida
Com as misérias da vida
A voz do meu silêncio
António Calém / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de João Braga
E um dia a tua ausência há-de ficar
Mistério do que te amei ou não amei
Será apenas réstia dum luar
Na noite que jamais esquecerei
Talvez que seja o nada já distante
O prémio desses dias que perdi
Talvez que eu viva ainda nesse instante
Do dia em que me viste e eu te vi
E dessa hora é todo o mundo feito
Do nada que era apenas um olhar
O resto é tudo sombra no meu peito
Silêncio desta voz p’ra te cantar
Repertório de João Braga
E um dia a tua ausência há-de ficar
Mistério do que te amei ou não amei
Será apenas réstia dum luar
Na noite que jamais esquecerei
Talvez que seja o nada já distante
O prémio desses dias que perdi
Talvez que eu viva ainda nesse instante
Do dia em que me viste e eu te vi
E dessa hora é todo o mundo feito
Do nada que era apenas um olhar
O resto é tudo sombra no meu peito
Silêncio desta voz p’ra te cantar
E os sonhos são todos meus
Alexandrina Pereira / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Deolinda de Jesus
Faço da palavra, prece
Que beija os mares e os céus
Vou em busca dos meus sonhos
E os sonhos são todos meus
Em cada esquina da vida
Repertório de Deolinda de Jesus
Faço da palavra, prece
Que beija os mares e os céus
Vou em busca dos meus sonhos
E os sonhos são todos meus
Em cada esquina da vida
A minha alma se oferece
E se me sentir perdida
E se me sentir perdida
Faço da palavra, prece
Nos meus dedos o alento
Nos meus dedos o alento
Que sinto virem dos teus
Sou companheira do vento
Sou companheira do vento
Que beija os mares e os céus
Os meus sentidos sozinhos
Os meus sentidos sozinhos
Fazem meus dias tristonhos
Olho além outros caminhos
Olho além outros caminhos
Vou em busca dos meus sonhos
Se a nossa força se inventa
Se a nossa força se inventa
Temos que ter fé em Deus
Enfrento qualquer tormenta
Enfrento qualquer tormenta
E os sonhos são todos meus
Minutos contados
António Cálem / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Miguel Sanches
Gostava tanto de ser
A flor que ao amanhecer
Cantou entre os meus sentidos
Saber que se abriu para mim
Ser ela só no jardim
Jardim dos passos perdidos
Trouxe-me um novo perfume
Outra cor e outro lume
Repertório de Miguel Sanches
Gostava tanto de ser
A flor que ao amanhecer
Cantou entre os meus sentidos
Saber que se abriu para mim
Ser ela só no jardim
Jardim dos passos perdidos
Trouxe-me um novo perfume
Outra cor e outro lume
Que eu já pensara apagado
Sentir que sorriu ainda
E que disse que era minha
Sentir que sorriu ainda
E que disse que era minha
Nos seus minutos contados
Flor tão breve, tão sozinha
Foi tu quereres ‘inda ser minha
Flor tão breve, tão sozinha
Foi tu quereres ‘inda ser minha
Que me trouxe a Primavera
De resto, o sol neste dia
Céu azul ou meio-dia
De resto, o sol neste dia
Céu azul ou meio-dia
Era só a tua espera
Trago o sol no meu peito
Alexandrina Pereira / Joaquim Campos *fado alexandrino*
Repertório de Deolinda de Jesus
Trago o sol no meu peito, foste tu que mo deste
Que nas margens do meu ser, logo se iluminou
Tenho um livro por ler, que tu me ofereceste
E em cada folha lida te vejo no que sou
Abro o meu coração, deixo a vida passar
Descubro em cada letra, tudo o que tu me dizes
Vamos escrever junto aquele verbo amar
Sem ter pontos finais e assim somos felizes
Com o passar do tempo, tanta coisa venci
Trago a fé no olhar, porque tu me ensinaste
E assim lado a lado confiante aprendi
A saber caminhar por onde tu andaste
Mas porque a vida tem, várias caligrafias
E porque os Oceanos parecem não ter fim
A paz que vem de ti dá sentido aos meus dias
Fazendo renascer o amor que há em mim
Repertório de Deolinda de Jesus
Trago o sol no meu peito, foste tu que mo deste
Que nas margens do meu ser, logo se iluminou
Tenho um livro por ler, que tu me ofereceste
E em cada folha lida te vejo no que sou
Abro o meu coração, deixo a vida passar
Descubro em cada letra, tudo o que tu me dizes
Vamos escrever junto aquele verbo amar
Sem ter pontos finais e assim somos felizes
Com o passar do tempo, tanta coisa venci
Trago a fé no olhar, porque tu me ensinaste
E assim lado a lado confiante aprendi
A saber caminhar por onde tu andaste
Mas porque a vida tem, várias caligrafias
E porque os Oceanos parecem não ter fim
A paz que vem de ti dá sentido aos meus dias
Fazendo renascer o amor que há em mim
E decididamente
Mário Rainho / Angelo Freire
Repertório de Tiago Correia
E decididamente eu não pertenço aqui
Não sou dos dias d’hoje e d’ontem também não
Nem sou um grão de gente, que ainda não nasci
Só que o futuro foge de mim, como um ladrão
E decididamente o amanhã me tarda
Enquanto aqui, desalma o fantasma que sou
Tão assombrosamente, sem ter anjo-da-guarda
Nem um corpo com alma que por aí errou
Um projecto de mim, talvez seja inventado
Mas, enquanto demora a hora de ser gente
Ao nada ponho um fim, ao tudo peço o fado
De poder ir embora… e decididamente
Repertório de Tiago Correia
E decididamente eu não pertenço aqui
Não sou dos dias d’hoje e d’ontem também não
Nem sou um grão de gente, que ainda não nasci
Só que o futuro foge de mim, como um ladrão
E decididamente o amanhã me tarda
Enquanto aqui, desalma o fantasma que sou
Tão assombrosamente, sem ter anjo-da-guarda
Nem um corpo com alma que por aí errou
Um projecto de mim, talvez seja inventado
Mas, enquanto demora a hora de ser gente
Ao nada ponho um fim, ao tudo peço o fado
De poder ir embora… e decididamente
Nada me fala de ti
António Cálem / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Fernando Marques de Oliveira
Nada me fala de ti
Nem este fado que ouvi
Trouxe a tua mocidade
Nem o eco que eras dantes
Seres tu em mim por instantes
Ser eu em ti em saudade
Que doce era o anoitecer
Repertório de Fernando Marques de Oliveira
Nada me fala de ti
Nem este fado que ouvi
Trouxe a tua mocidade
Nem o eco que eras dantes
Seres tu em mim por instantes
Ser eu em ti em saudade
Que doce era o anoitecer
E o sol ao longe a morrer
Quando teus olhos se abriam
E que doce era fechá-los
Quando teus olhos se abriam
E que doce era fechá-los
Mais doce ainda beijá-los
Quando de mim se esqueciam
Como era azul do luar
Quando de mim se esqueciam
Como era azul do luar
O teu corpo junto ao mar
Que em certa noite eu vi
Como o relembro hora a hora
Que em certa noite eu vi
Como o relembro hora a hora
Se não sei de ti agora
Se ninguém fala de ti
Se ninguém fala de ti
Passam os dias, os anos
António Cálem / Joaquim Campos *fado Rosita*
Repertório de Miguel Sanches
Passam os dias, os anos
E és tu que hás-de ficar
A viver do desengano
De só te saber sonhar
É que eles passam sem fim
E contigo permanecem
É que há mundos que esqueci
Mas contigo não se esquecem
É que tu trazes aos dias
O que aos dias me faltava
O riso, as alegrias
Que o mundo já não me dava
Mas ninguém mais, somos nós
A sulcar o mar profundo
É que o mundo somos nós
E o resto nem sei se é mundo
Repertório de Miguel Sanches
Passam os dias, os anos
E és tu que hás-de ficar
A viver do desengano
De só te saber sonhar
É que eles passam sem fim
E contigo permanecem
É que há mundos que esqueci
Mas contigo não se esquecem
É que tu trazes aos dias
O que aos dias me faltava
O riso, as alegrias
Que o mundo já não me dava
Mas ninguém mais, somos nós
A sulcar o mar profundo
É que o mundo somos nós
E o resto nem sei se é mundo
Tudo ou nada
António Cálem / Miguel Ramos *fado freira e/ou oliveira
Repertório de João Braga
Tudo ou nada neste dia
Que é feito dessa alegria
Que outro dia me roubaste
Que é dos sonhos que sonhei
Do mundo que eu encontrei
Depois que tu me encontraste?
Diz-me o fim a que me levas
Se ainda há Primaveras
Repertório de João Braga
Tudo ou nada neste dia
Que é feito dessa alegria
Que outro dia me roubaste
Que é dos sonhos que sonhei
Do mundo que eu encontrei
Depois que tu me encontraste?
Diz-me o fim a que me levas
Se ainda há Primaveras
E se as há, em que país?
Diz-me o longe prometido
Diz-me tu que eu não consigo
Diz-me o longe prometido
Diz-me tu que eu não consigo
aber onde sou feliz
Traz o sol à minha vida
Diz-me essa tarde perdida
Traz o sol à minha vida
Diz-me essa tarde perdida
Perdida por te encontrar
Dá-me tudo o que quiseres
Dá-me manhã, se puderes
Dá-me tudo o que quiseres
Dá-me manhã, se puderes
Ou noite p'ra te sonhar
Cantem um fado comigo
Alexandrina Pereira / Carlos Heitor Fonseca
Repertório de Deolinda de Jesus
Retardo no meu olhar
A correria da vida
E se a minh’alma vibrar
Retardo no meu olhar
A estrada já percorrida
É no silêncio das ruas
Que deixo os meus dialetos
Em noites de tantas luas
É no silêncio das ruas
Que visto a alma de afetos
Se um coração está triste
Repertório de Deolinda de Jesus
Retardo no meu olhar
A correria da vida
E se a minh’alma vibrar
Retardo no meu olhar
A estrada já percorrida
É no silêncio das ruas
Que deixo os meus dialetos
Em noites de tantas luas
É no silêncio das ruas
Que visto a alma de afetos
Se um coração está triste
Canta-se um fado
E se em nós a mágoa existe
E se em nós a mágoa existe
Canta-se um fado
Só tristeza não conforta
Só tristeza não conforta
É bom abrirmos a porta
Deixar entrar um amigo
Porque ser feliz mereço
Deixar entrar um amigo
Porque ser feliz mereço
Com que emoção eu vos peço
Cantem um fado comigo
Vou e caminho sozinha
Escrevo no vento o meu fado
Desenho a vida que é minha
Vou e caminho sozinha
O meu poema inventado
No meu sentir tão profundo
Seguro os sonhos na mão
Na minha voz há um mundo
No meu sentir tão profundo
Dou asas ao coração
Cantem um fado comigo
Vou e caminho sozinha
Escrevo no vento o meu fado
Desenho a vida que é minha
Vou e caminho sozinha
O meu poema inventado
No meu sentir tão profundo
Seguro os sonhos na mão
Na minha voz há um mundo
No meu sentir tão profundo
Dou asas ao coração
Manhã do desejado
António Cálem / Popular *fado menor*
Repertório de João Braga
Morrer sim mas devagar
Palavras vivas de morte
Pátria perdida além-mar
Fado nosso ou nossa sorte
E num deserto de areia
Repertório de João Braga
Morrer sim mas devagar
Palavras vivas de morte
Pátria perdida além-mar
Fado nosso ou nossa sorte
E num deserto de areia
Chamado Alcácer-Quibir
Morreu a pátria primeira
Morreu a pátria primeira
P'ra noutra Pátria florir
Ali morremos deixando
Ali morremos deixando
Sessenta anos de vida
Caravela recordando
Caravela recordando
A velha História perdida
E em manhã de nevoeiro
E em manhã de nevoeiro
Essa manhã prometida
Viva ele de corpo inteiro
Viva ele de corpo inteiro
Nas manhãs da minha vida
Aos poetas
Alexandrina Pereira / Armando Augusto Freire *alexandrino*
Repertório de Deolinda de Jesus
Sou a voz dos poetas
Repertório de Deolinda de Jesus
Sou a voz dos poetas
Porque eles me escolheram
Ponho na minha voz
Ponho na minha voz
Os versos que escreveram
Coloco em cada letra
Coloco em cada letra
Toda a minha emoção
Pois sinto que o poeta
Pois sinto que o poeta
É alma e coração
Que seria do fado
Que seria do fado
Sem as palavras certas?
Que seria do mundo
Que seria do mundo
Sem sonhos dos poetas?
Meu fado é vida inteira
Meu fado é vida inteira
E traz-me a alegria
De ser a mensageira
De ser a mensageira
Da vossa poesia
Quem canta seu mal espanta
António Cálem / Alfredo Duarte *fado bailarico*
Repertório de Zé Caravela
Quem canta seu mal espanta
Mas há males dentro de nós
Que as cordas duma garganta
Não chegam p'ra dar-lhes voz
Quem esconde uma saudade
Repertório de Zé Caravela
Quem canta seu mal espanta
Mas há males dentro de nós
Que as cordas duma garganta
Não chegam p'ra dar-lhes voz
Quem esconde uma saudade
Do olhar que a desencanta
É quem mais fala verdade
É quem mais fala verdade
Quem canta seu mal espanta
E um sentimento profundo
E um sentimento profundo
Aumenta ao estarmos sós
Há outros bens neste mundo
Há outros bens neste mundo
Mas há males dentro de nós
Porque as palavras reais
Porque as palavras reais
Não bastam a quem as canta
E o silêncio vale mais
E o silêncio vale mais
Que as cordas duma garganta
Por isso os bens que perdemos
Por isso os bens que perdemos
Vivem só junto de nós
E as saudades que temos
E as saudades que temos
Não chegam p'ra dar-lhes voz
Tenho o mundo à minha espera
Alexandrina Pereira / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Deolinda de Jesus
Minha vida é vida inteira
E não encontro a maneira
Mais certa de a repartir
Reparto as horas do dia
Em tristeza e alegria
Entre o chegar e partir
Tenho o mundo à minha espera
Nas mãos tenho a primavera
Repertório de Deolinda de Jesus
Minha vida é vida inteira
E não encontro a maneira
Mais certa de a repartir
Reparto as horas do dia
Em tristeza e alegria
Entre o chegar e partir
Tenho o mundo à minha espera
Nas mãos tenho a primavera
No olhar folhas de Outono
Abro as portas, vou sonhar
Deixo o meu corpo ficar
Abro as portas, vou sonhar
Deixo o meu corpo ficar
Num doce e terno abandono
Deixo que o vento me leve
Onde o meu coração esteve
Deixo que o vento me leve
Onde o meu coração esteve
E por lá ficou guardado
Beijando as horas do dia
Traz nas mãos a poesia
Beijando as horas do dia
Traz nas mãos a poesia
E a melodia de um fado
Na incerteza do querer
Fica a certeza de ser
Na incerteza do querer
Fica a certeza de ser
Alguém que dá o que tem
Parte da vida é só minha
E assim ninguém adivinha
Parte da vida é só minha
E assim ninguém adivinha
Se eu sou a vida de alguém
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