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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Menina criança

Marcelino de Brito / Fontes Rocha
Repertório de Filipe Duarte 

Menina criança, de bata vestida
Ao lado uma trança, nascendo prá vida

Os livros sobraça, ajeita a sacola
E assim ela passa, caminho da escola

O curso acabado, e cortada a trança
Finda o teu reinado, menina criança

Lá vai trabalhar, levando a esperança
De não acabar menina criança

Eu me enamorei, por aquela de trança
Que um dia chamei, menina criança

As tranças da Maria

Cátia Oliveira / Valter Rolo
Repertório de Carolina 

Quantos amores tem a Maria
Nem calculam… a velha dizia;
Vejam bem só como ela balança
Traz feitiços à volta da trança

Quantos amores tem a Maria
Imaginem… a velha dizia;
Vejam bem só como em cada dança
Muda o par, fica mais longa a trança

E entre os amores que Maria
Tinha, tantos e tantos, havia só 
João Só, João Lança
Foi-se perdendo a esperança

Mas ao vê-la tão bela, a Maria
E de a querer tanto pede-lhe um dia a mão
Para uma contra-dança
E então se lhe desfez a trança

Lisboa berço de fado

Euclides Cavaco / Amadeu Ramim *fado zeca*
Repertório de Lúcio Bamond 

Aqui nesta Lisboa aonde o fado
Cresceu e deu os seus primeiros passos
Foi em humilde berço embalado
E Lisboa afagou-o nos seus braços

Aqui nesta Lisboa foi menino
Deixou em cada bairro o seu perfume
E teve a negra noite por destino
Onde expressa a cantar o seu queixume

Ninguém sabe ao certo aonde nasceu
Mas teve em Portugal acolhimento
Sabemos que apenas aqui cresceu
Mas não tem certidão de nascimento

Será que seja o fado divindade
Que Deus a Portugal deu de presente
Tal como a nossa íntima saudade
Não se vê, não se tange, e só se sente

Janela pobre

Carlos Conde / F. dos Santos e/ou Salvador Gomes
Repertório de Gil Costa 
*Esta versão foi confirmada pelo próprio intérprete*

Julguei que ela fosse minha
Quando a vi de aspecto fino
Debruçada à janelinha
Do rés-do-chão pequenino

Que momentos de loucura
Em passei junto à janela
Que ficava à minha altura
E à altura dos lábios dela

Janela pobre, l
uz de amor nobre
Altar de ideais
Moldura antiga, da rapariga
Que eu gostei mais
A própria vida, mesmo vivida
Cheia de encanto
Não é mais bela, do que a janela
Que eu amei tanto

Há tempos deixei de vê-la
A morte não traz perdão
Eu chorei junto à janela
Desse humilde rés-do-chão

Por desgraça dela e minha
Roguei pragas ao destino
Por fechar a janelinha
Do rés-do-chão pequenino

Vejo

José Luís Gordo / Frederico de Brito *fado dos sonhos*
Repertório de José da Câmara 

Às vezes quando me afundo 
Nesse teu olhar profundo 
Vejo papoilas num prado 
Vejo as estrelas paradas 
Vejo tantas madrugadas 
Vozes perdidas num fado

Vejo ruelas, Alfamas 
Vejo ódio em tantas camas 
Tantos amores sem amor
Vejo tanto sofrimento 
No teu rosto sem lamento 
Mora um coração de dor

Dás teu corpo de mulher 
Sem amor e sem prazer 
Sem paixão e sem ternura 
No fermento da razão 
Enterras teu coração 
Nas paredes da amargura

E no quarto aonde moras 
Quantas vezes tu não choras 
Por mais que te doa a vida 
Foi Deus que te deu tal sorte 
Que às vezes pedes à morte 
Uma porta de saída

Sou do fruto a raíz

José Pinhal / João Chora
Repertório de João Chora 

Sou trigo ceifado
Na eira a secar
Sou homem amado
Com amor pra dar

Sou milho maduro
Doirado do sol
Sou poema, sou muro
Tão forte e sou mole

Canto livremente
Este meu país
Não sou de ninguém
Sou do fruto a raíz
Sou do fruto a raiz

Velho fado triste

Nuno Manuel Faria / Paulo Cavaco
Repertório de Maja Milinkovic 

Que saudade de ficarmos sós
Quando o tempo era sem tempo
Meu amor, nós os dois
Só nós os dois sobre o céu
Soltos no vento

Que saudade desse tempo a dois
De te sentir ao meu lado
Ficou tanto por dizer depois
Teu silêncio, minha dor
Meu triste fado

Noite, noite sem fim
Canto um velho fado triste
Oiço a tua voz dentro de mim que persiste
Uma lágrima, minha dor sem fim

Que saudade de ser só para ti
De acender tua magia
Ficou tanto por fazer aqui
A distância, cedo matou a fantasia

Voz do Tejo

António Avelar Pinto / Rão Kyao
Repertório de Manuel de Almeida 

Há uma voz que vem de longe 
E me acompanha
Essa voz que só eu sinto 
E é tão estranha
Uma voz de mel 
Vem pairando sobre o mar

É o triste canto 
Do meu jeito antigo
Como um barco a procurar 
Porto d'abrigo
Um povo a partir 
Já chorando por voltar

É a voz do Tejo
Que me traz tanta saudade
Desse meu desejo
Que deixei na despedida
E a voz do Tejo
A voz do fado e da cidade
Que foi minha mãe
Minha madrasta e minha vida


Há uma voz q
ue vem no voo 
Duma gaivota
Essa voz que erguia velas 
De fragata
Uma voz que vai
Vai mas sem me abandonar

É a triste companheira de viagem
Doze cordas de guitarra de coragem
Um povo a partir e a cantar 
O verbo amar

Vai-vém do cacilheiro

Rui Manuel / Vital d' Assunção
Repertório de Artur Batalha 

Anda alegre o cacilheiro 
Com uma gaivota na proa 
Num vai-vem o dia inteiro 
De Cacilhas pra Lisboa

Casca de noz amarela 
Desbravando o mar da Palha 
A pressa não atrapalha 
A quem anda com cautela
O Cristo-Rei tagarela 
Espreita cada passageiro 
Tem rosto de marinheiro 
Nascido à beira do rio 
Co’a proa num desafio 
Anda alegre o cacilheiro

Transporta o sol de boleia 
Manda piropos à lua 
E diz não ser culpa sua 
Quando ela aparece cheia
A ponte nem faz ideia 
Da gente que se amontoa 
No seu bojo, maré boa 
Maré povo de coragem 
Dia a dia na viagem 
De Cacilhas pra Lisboa

De Cacilhas pra Lisboa 
Num vai-vem um dia inteiro
Com uma gaivota na proa 
Anda alegre o cacilheiro

O tempo

Letra e música de Diogo Piçarra
Repertório de Marco Rodrigues 

O tempo não espera p'la gente 
Mas eu espero por ti
O tempo quer ser indiferente
Só eu te quero aqui

Por mais que eu te diga
Mesmo que eu consiga
O tempo não espera por mim
O tempo não espera p'la gente 
Se não fugirmos daqui
Sei que não vai ser diferente
Só por dizer que sim

Querer-te despida
Na pele de rendida
No meu tempo, não era assim
Mas por mais que a vida
Não cure as feridas
O tempo irá curar por si

Não sou de ferro
Nem tenho armas
Apenas a música pra ti
Porque eu também choro
Quando me desarmas
E agora canto o que perdi;
Porque houve um tempo
Em que eu te tinha só para mim

Querer-te despida
Na pele de rendida
No meu tempo, não era assim
Mas por mais que a vida
Não cure as feridas
O tempo irá curar por si

Só espero que o tempo 
Te traga até mim

Esse lugar

Tiago Torres da Silva / António Neto
Repertório de Cristina Maria 

Sei de um lugar
Onde o sonho faz parte da vida
No medo de o achar
É que eu me sinto tão perdida

Esse lugar
Não tem noite, lá é sempre dia
Hei-de ir pra não voltar
Se me fizeres companhia

Lá… eu vou pra lá
Mas só vou se for contigo
Eu vou porque ali só vai
Quem já morreu
E eu morri de paixão por ti

Eis o lugar
Onde um homem jamais está sozinho
Eu hei-de o encontrar
Desde que sejas o caminho

Fado e toiros

Manuel de Almeida / Popular *fado mouraria*
Repertório de Manuel de Almeida 

Quanta beleza emotiva
Há numa espera de gado
Tipóias em roda viva
Fadistas cantando o fado

Retintos e bem armados 
Das manadas do Paulino
Domingo serão lidados 
Dois toiros de sangue fino

Tudo é fogo, tudo brilha 
Na praça tudo se solta
E até brilha a bandarilha 
Colocada à meia volta

Já aprendi a maneira 
De cravar com arte e brilho
Um ferro, ali à estribeira 
Mesmo na cruz do novilho

Se anda algum toiro fugido
Pode vir quando quiser
Custa-me mais ser colhido 
P’los olhos duma mulher

Para que quero eu olhos

Tradicional
Repertório de António Zambujo 

Para que quero eu olhos
Senhora Santa Luzia
Se eu não vejo o meu amor
Nem de noite nem de dia

Oh és tão linda, és tão formosa
Como a fresca rosa
Que no jardim vi
Oh dá-me um beijo
Pra matar o desejo
Que sinto por ti

Valor da vida

Clemente Pereira / Filipe Pinto
Repertório de Natalino Duarte 

A vida, o que vale a vida
Cante a vida quem souber
Eu trago vida perdida
Na vida duma mulher


Quem vive e na vida crê 
Bem ou mal a tem vivida
Mas para quem dela descrê 
A vida, o que vale a vida

A cantá-la não me iludo 
Porque a vida pode ser
Hoje nada, amanhã tudo  
Cante a vida quem souber

Nela o meu amor joguei
Perdi, ganhando a partida
Pelo amor que ganhei 
Eu trago a vida perdida

Agora pra sempre unidas 
No anseio de viver
A viver há duas vidas 
Na vida de uma mulher 

A coisa mais bonita do mundo

Tiago Torres da Silva / Ricardo Cruz
Repertório de Teresa Lopes Alves 

Há um instante só... não mais que isso
Em que a morte e a vida são iguais
Morremos nesse instante de derriço
E, meu amor, ficamos imortais

Quando a morte olha a vida cara a cara
Alguém padece a dor da eternidade
Uma dor que une mais do que separa
Um amor de que o fruto é a saudade

Mas sei que transformamos o segundo
Em que a vida e a morte se conhecem
Na coisa mais bonita que há no mundo
E os nossos corações é que agradecem

Não sei quando te olhei eternamente
Se eu era a morte que por ti esperava
E tu eras a vida à minha frente
Ou se era o teu olhar que me matava

Fado calão

Carlos Zamara / Pedro Rodrigues
Repertório de Manuel Romão  

No Palácio Conde Andeiro
Dia 6 do mês corrente
Num velho surdo sentado
Escrevo-te e quero primeiro
Que estejas bacanamente
Já que eu me encontro encanado

Com a fresca no bastelo 
Vou escrever-te esta falha
Pra que te ponhas a fanco
Pois deu de cabra, o camelo 
A quem eu palmei a tralha
E manjou que era manco

Traz-me  uma tábua noviça 
E tinhosas pra manjar
Vem cá tu mais a chavala
Traz um pintor embutido 
Nos calcantes entre as solas
Que é pra eu pagar a sala

Se a bófia te dechávar 
Não dês à morte o artilho
Enrusca na clarante
E se o pasma te manjar 
No caso de dar estrilho
Está no piano a fugante

Monta-te bem nas canetas 
Quando vieres para cá
Passa pelo invejoso
Vou terminar estas letras 
Recebe pois querida H
Um chocho do teu manhoso

A aldeia está em festa

Carlos Conde / Túlio Pereira
Repertório de Adriana Franco 

Dia festivo a raiar 
E a aldeia, de olhos nos céus
Cedo trata de envergar 
O fato de ver a Deus

Os moços, muito a preceito 
Dançam e botam cantigas
Muito certos, sempre ao jeito 
Das ancas das raparigas

Para a alegria da romaria
Os ranchos abrem caminho
Pelas estradas, atapetadas
De alfazema e rosmaninho
A luz que alveja no adro da igreja
Traz a benção do Senhor
E os conversados, muito enlevados
Fazem promessas de amor


Sobem foguetes ao ar 
E em suaves melodias
Passa a música a tocar 
Como a dar-nos os bons dias

E à tardinha quando a festa 
Começa a chegar ao fim
Não há casinha modesta 
Sem um cheiro de alecrim

Utopia

Letra e música de José Afonso
Repertório de Carla Pires 

Cidade sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma 
Afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
Lança o teu desafio

Homem que olhas 
Nos olhos que não negas
O sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem o nada disto custa
Será que existe 
Lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir 
Na minha rota

Canção de fé

Letra e música de Marco Oliveira
Repertório do autor 

Ela acreditava em Deus
Ia ao domingo à igreja
E brindava ao mundo inteiro
Com um copo de cerveja;
Tinha a cor do paraíso 
No seu jeito de sorrir
E rezava Avé-Maria 
Ao que estava para vir

Ela tinha fé em Deus
Ela tinha fé em Deus
Ela tinha fé

Eu andava por aí 
Como um tolo que não sente
Foi então que a conheci 
E passei a ser um crente;
Da poesia dos seus olhos
Bendita entre as mulheres
Que trazia a minha luz 
Entre mil amanheceres

Ela tinha fé no amor
Ela tinha fé no amor
Ela tinha fé

Abençoamos os abraços 
E tantos beijos trocados
Na sagrada união 
Dos amantes encontrados;
Depois de casar com ela 
E beijá-la no altar
Acordamos em Paris 
Para nunca mais voltar

Se algum dia me perder 
Nos caminhos do pecado
Sei que posso agradecer 
Tê-la sempre do meu lado;
Não sei se acredito em Deus
Não sei bem o que é o amor
Sei que tenho os olhos seus 
Que me guiam pr’onde eu for

Ela tinha fé em mim
Ela tinha fé em mim
Ela tinha fé

Fado ronda

Manuel de Almeida / Popular *fado mouraria*
Repertório de Manuel de Almeida 

Fado dizes, fado escreves
Fado sentes, fado cantas
Todas as penas são leves
Quando voam das gargantas

Quando da noite perdida 
Tens a aurora conquistada
Ganhas o norte da vida 
E a estrela da madrugada

Fado, dizem que é tristeza 
Eu digo que é liberdade
Só tenho uma realeza 
A de cantar a verdade

E ter a funda certeza 
De viver co’a luz do sol
De ter uma lua presa 
Nas dobras do meu lençol

E na noite prolongada 
P’la saudade sentida
Ver a vida ser mudada 
Ver a morte ser vencida

Sei que pareço um ladrão

Mote de António Aleixo / Glosa de Carlos Conde / Popular *fado corrido*
Repertório de Rodrigo 

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço
Que não parecendo o que são
São aquilo que eu pareço

Ao nascer, fui bafejado 
Com duas coisas diferentes
Pertencer aos indigentes 
E viver com porte honrado;
Bem ou mal recompensado 
Não faço nisto, questão
Só sei dizer de antemão 
Que neste mar de tristeza;
Com toda a minha pobreza
Sei que pareço um ladrão

Quem rouba não pode andar
Mal vestido, esfarrapado
Tem que andar aperaltado 
Prós incautos enganar;
Só assim pode contar 
Usando desse processo
Com o manifesto apreço 
Que todos lhe dão, a rodos;
Não posso conhecer todos 
Mas há muitos que eu conheço

Vou citar este ditado 
Que já vem de muito longe
O hábito faz o monge 
Que é pró caso, adequado;     
Se usa um nome afidalgado 
Logo excelência lhe dão
Todos lhe apertam a mão
Vivem em alto esplendor;
Enganam seja quem for 
Não parecendo o que são

Vão a festas elegantes 
Como pessoas honestas
E no final dessas festas 
Faltam jóias e brilhantes;
Foram os falsos importantes 
Que deram na sala, ingresso
Com frases que eu desconheço 
Bem vestidos, ardilosos;
Esses vulgares criminosos 
São aquilo que eu pareço

Aqui é o lugar

Alice Vieira / Branco de Oliveira
Repertório de Alexandra Cruz 

Entrei no coração da cidade
E encontrei a minha idade
Num rosto que amanhecia
Bailei nas eiras dum tempo novo
E vi no meio do meu povo
Outro povo que nascia

Cheguei a este lugar de agora
Com os fantasmas de outrora
Esquecidos no que vivi
Ganhei, na certeza do presente
A força de ser diferente
E o direito a estar aqui

Aqui é o lugar do nosso começo
Meu jeito de estar onde me conheço
Aqui é um país d’olhos de criança
No mar, a raiz dum cravo d’esperança