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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Meu amor pequenino

Paulo Abreu Lima / Rui Veloso 
Repertório de Mariza 

É tão bom seres pequenino
E eu, de ti, ser tua mãe
Nesta sorte do destino
Dos amores que a vida tem

Nunca cantei tão baixinho 
Este amor dentro de nós
Quando adormeço o menino 
No berço da minha voz

Os meus braços no seu leito 
São rios de uma paixão
Nas margens onde me deito 
Há o bater do coração

Faz do meu colo o seu ninho 
E deste canto as amarras
Com gemidos de mansinho 
Que mais parecem guitarras

Dorme, dorme, meu menino 
Nos sonhos que a vida tem
Mas guarda sempre um cantinho 
Ao colo da tua mãe

Saudade solta

Pedro Silva Martins / Luís José Martins
Repertório de Mariza 

Eu peguei em saudades tuas
Fui plantá-las no meu jardim
Porque sei que assim continuas
Aqui bem juntinho a mim

E cantando a saudade, eu sei
Algo aqui há-de nascer
Se tristeza eu semeei
Alegria hei-de colher

Pedrinhas que houver eu hei-de tirar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta
E sombras que houver eu hei-de afastar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta

Novos dias vão chegar
Outras memórias felizes
E o vento que nos vergar
Não nos vai quebrar raízes

E cantando eu sei que fica
A saudade bem aqui
E a esperança que nos dá vida
Em mim não terá o fim
Sei que vais esperar por mim

O tempo não pára

Letra e música de Miguel Gameiro
Repertório de Mariza 

Eu sei que a vida tem pressa
Que tudo aconteça 
Sem que a gente peça
Eu sei

Eu sei que o tempo não pára
Tempo é coisa rara 
E a gente só repara
Quando ele já passou

Não sei se andei depressa demais
Mas sei que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo 
Que me dê mais tempo
Para olhar p’ra ti
De agora em diante
Não serei distante
Eu vou estar aqui

Cantei
Cantei a saudade da minha cidade
E até com vaidade, cantei
Andei pelo mundo fora
E não vi a hora de voltar p'ra ti

Ai eu

Pedro Silva Martins / Luís José Martins
Repertório de Ana Moura

Aí eu, aí eu, de tanto chorar
Já dei a volta e agora rio
Rio do rio, rio do mar
E até me rio deste meu riso;
E assim a rir eu tento voltar
Ao choro triste, ao dia frio

Aí eu, aí eu, de tanto esperar
Já dei a volta e agora quero
Eu quero muito e não vou ficar
À espera de tudo quando nada peço;
Só peço ter forma de voltar
Apenas a querer o que já não espero

Óai, p’ra teu bem
Começa onde eu terminei
Aqui onde, eu não sei
E aqui onde, eu nem sei
Volta sempre

Aí eu, aí eu, de tanto calar
Já dei a volta e agora canto
E tanto canto para espantar
A voz que em mim, me causa espanto;
E canto assim para voltar
Ao canto mudo, ao triste pranto

Aí eu, aí eu, de tanto voltar
Já dei a volta e agora vou
Para lá dos ais a querer ficar
Um pouco mais aonde não estou;
E neste passo posso afirmar
Longe de mim, por fim, eu sou

Ó, ai, p’ra teu bem, etc, etc
Fica sempre

Fim

Maria Duarte  / Custódio Castelo
Repertório de Cristina Branco

Nem pássaros, nem astros, nem veleiros
Soltam velas dentro do meu peito
Calou-se a madrugada nos meus olhos
Por isso a noite me envolveu assim
Com esta dor que é asa de punhal
Com este grito de um amor sem fim

Amor sem fim, amor sem tempo e sem medida
Água que brota ao longe da nascente
Luz que amanhece sem anoitecer;
Amor que quer ser brisa e é vendaval
Amor que quer ser chuva e é temporal
Que é tudo ou nada e tudo há de perder

Rio de mágoa

Rosa Lobato Faria / Mário Pacheco
Repertório de Mariza 

Na minha voz noturna nasce um rio
Que não se chama Tejo nem Mondego
Que não leva barqueiro nem navio
Que não corre por entre o arvoredo

É um rio todo feito de saudade
Onde nenhuma estrela se reclina
Sem refletir as luzes da cidade
Vai desaguar no cais a minha sina

É um rio que transporta toda a mágoa
Dum coração que parte e se despede
Um rio de tanta dor e tanta água
E eu que o levo ao mar morro de sede

Dia de folga

Letra e música de Jorge Cruz
Repertório de Ana Moura

Manhã na minha ruela
Sol pela janela
O senhor jeitoso dá tréguas ao berbequim
O galo descansa, 
Ri-se a criança
Hoje não há birras, a tudo diz-se que sim

O casal em guerra do segundo andar
Fez as pazes, está lá fora a namorar

Cada dia é um bico d’obra
Uma carga de trabalhos 
Faz-nos falta renovar
Baterias, há razões de sobra
Para celebrarmos hoje 
Com um fado que se empolga
É dia de folga

Sem pressa, de ar invencível
Saia, saltos, rímel
Vou descer à rua, pode o trânsito parar
O guarda desfruta
A fiscal não multa
Passo e o turista faz por não atrapalhar

Dona Laura hoje vai ler o jornal
Na cozinha está o esposo de avental

Folga de ser-se quem se é
E de fazer tudo porque tem que ser
Folga para ao menos uma vez
A vida ser como nos apetecer

Cada dia é um bico d’obra
Uma carga de trabalhos
Faz-nos falta renovar
Baterias, há razões de sobra
Para a tristeza ir de volta 
E o fado celebrar
Cada dia é um bico d’obra
Uma carga de trabalhos
Faz-nos falta renovar
Baterias, há razões de sobra
Para celebrarmos hoje
Com um fado que se empolga
É dia de folga
Este é o fado que se empolga 
No dia de folga

Lis… boa, Lis… má

Letra e musica de Daniel Gouveia
Repertório de José da Câmara
           
Lisboa, minha Lisboa 
Às vezes boa, às vezes má
Dás abrigo a tanta gente 
Que a gente sente não ser de cá

Lisboa, minha Lisboa 
Teu fado soa a dor e saudade
E entre tanto pandemónio 
Já é Património da Humanidade

Tens mil casinhas às cores
Jardins com flores
Da Cultura um Centro em Belém
Nos passeios há vidrão
Pilhão, papelão
E cocó de cão, também
Deslumbras com belas vistas
Milhões de turistas
Que comem pastéis de Belém
E azulejos tão bonitos 
Que uns selvagenzitos
Borram com grafitos, também

Lisboa, minha Lisboa 
Às vezes boa, às vezes má
Parece que uma pessoa 
Se sente à toa ao deus-dará

Lisboa, minha Lisboa 
Fazes com que doa a nossa cabeça
Com mil carros em manobras 
Buracos e obras em cada travessa

Tens Pessoa e os heterónimos
Até os Jerónimos
E a famosa Torre em Belém
Sem magalas nem sopeiras
Docas sem peixeiras
Mas com bebedeiras, também
Há por cá um Presidente
Que preside à gente 
E é residente em Belém
Mas num palácio em São Bento
Tens um Parlamento
Sem entendimento, também

Lisboa, minha Lisboa 
Às vezes boa, às vezes má
Tanto contraste é a prova 
De seres velha e nova
De há séculos pra cá

Qualidades e defeitos
São marcas, são jeitos de uma tradição
P’ra mim serás sempre boa
Lisboa, Lisboa do meu coração

Teimosa loucura

Mário Rainho / João Carmo Noronha *fado pechincha*
Repertório de João Loy 

Acendi o meu sorriso
À esquina dum mar sem fim
Como um farol que é preciso
P’ra te guiar até mim

P’ra que uma onda te traga 
Ao lugar onde estou preso
Até a lua se paga 
Só meu olhar fica aceso

Mas não avisto um navio 
Onde o teu amor à proa
Possa aquecer este frio 
E a alma não mais me doa

Meu amor embaciado 
Perde a luz, chora em quebranto
Talvez tenhas naufragado 
E eu me afogue neste pranto

Sendo assim, porque esperar 
Nesta teimosa loucura
Talvez que me atire ao mar 
Naufrague à tua procura

Regras de sensatez

Letra e música de Rui Veloso
Repertório de Raquel Tavares 

Nunca voltes ao lugar
Onde já foste feliz
Por muito que o coração diga
Não faças o que ele diz

Nunca mais voltes à casa 
Onde ardeste de paixão
Só encontrarás erva rasa 
Por entre as lajes do chão

Nada do que por lá vires 
Será como no passado
Não queiras reacender 
Um lume já apagado

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta
Desta é de vez

Por grande a tentação 
Que te crie a saudade
Não mates a recordação 
Que lembra a felicidade

Nunca voltes ao lugar 
Onde o arco-íris se pôs
Só encontrarás a cinza 
Que dá na garganta nós

Mistérios do fado

João Monge / Manuel Paulo
Repertório de Mísia

Andam passos na calçada
Que me acordam, quem será?
Uma sombra na fachada
Decerto não vem por nada
Sabe Deus ao que virá 

A sombra de mão em riste 
Perguntou-me se sabia
Como há gente que resiste
A cantar quando está triste 
E a chorar de alegria 

Na teia da criação 
Alguém deu um nó errado
Eu respondi-lhe que não
Os nós da contradição 
São o mistério do fado 

Tocou-me o rosto e sorriu 
De um jeito que não esqueci
No mesmo passo partiu
O vento ficou mais frio 
Deitei-me e adormeci

Vou ouvir cantar o fado

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de António Mourão 

Vou ouvir cantar o fado 
P’ra não falar mais em ti 
O fado sou eu agora 
No momento em que te vi

Vou ouvir cantar o fado 
Relembrando o fado meu
Ouvir uma voz magoada 
Cantar o pecado teu

Vou ouvir cantar o fado
Vou sentir ternura e dor
E vou calar no meu peito
A saudade e o amor


Vou ouvir cantar o fado 
O que a Severa cantou
Ouvir cantar sua morte 
E aquele amor que a levou

Vou ouvir cantar o fado 
Vou ouvir falar de ti
E falar do meu tormento 
No momento em que te vi

Por não ser do fado

Tiago Torres da Silva / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de João Loy

Talvez por não ser do fado
É que eu o possa cantar
Assim não estou obrigado
A dar voz a nenhum fado
Que não me faça chorar

Não me importa ser fadista 
E se o não, sou também não
Quem me escutar que desista
De saber se eu sou fadista 
Escute meu coração

Meu amor, amo a saudade 
Quando estou longe de ti
Não sei se é fado ou verdade
Mas sei que tudo é saudade 
Sempre que não estás aqui

E depois de o ter cantado 
Se eu vir que estás comovida
Não me importa ser do fado
Desde que cante a teu lado 
P'ró resto da minha vida

Rasto de infinito

Tiago Torres da Silva / Miguel Ramos *fado miguel c/refrão*
Repertório de Mísia  

Quando a estrada vai comprida
E a gente pensa que a vida
Se torna igual à saudade
Percebemos que a esperança
Não é mais que uma criança
A brincar com a verdade

Vou para a rua
Vou para a rua descalça
Dançando ao som duma valsa
Que só eu consigo a ouvir
Moro no peito 
De quem dança deste jeito
Num sonho mais que perfeito
Que não chega a existir

Fiz desse sonho o meu lar
Onde construo um altar 
Cheio de santos e cruzes
São santos em que não creio
Mas é neles que me enleio 
Quando se apagam as luzes

Em cada vela
Em cada vela há um grito
Onde um rasto de infinito 
Fica de noite a arder
Eu sou a chama
Sou a chama dessa vela
E só sei que dentro dela 
Minguem se atreva a morrer

Velha tipóia

António Vilar da Costa / Francisco Carvalhinho
Repertório de Fernanda Maria 

Mouraria que saudade 
Das antigas traquitanas
Que deram fama ao Timpanas 
E vida e cor à cidade

Junto da velha tipoia 
Encostado ao candeeiro
Surgia sempre um pinóia 
P’ra gritar ao boleeiro

Aos toiros apronta-me essa boleia
A trote que a praça deve estar cheia
Arranca, nem que arranques a calçada
Ao romper da madrugada
Quero estar em Vila Franca

Quando a malta regressava 
A horas mortas da estúrdia
Era tão grande a balbúrdia 
Que a Mouraria acordava

E ao findar a desgarrada 
Tornava-se a ouvir o brado
Do pinóia que chamava 
Ao boleeiro, ensonado

Sem querer

Manuela de Freitas / Jaime Santos *fado macau*
Repertório de Pedro Moutinho 

Podes crer que é a teu gosto
Tudo o que eu venha a fazer
Mas se eu fizer o oposto
Podes crer que foi sem querer

E podes crer que não minto 
É o meu triste fadário
Quero dizer-te o que sinto 
E sem querer digo o contrário

Podes não crer se quiseres 
Mas eu sofro e desespero
Quero fazer o que querer 
E sem querer faço o que eu quero

Mas podes crer no que eu digo 
Quando sem querer te garanto
Mesmo querendo, não consigo 
Deixar de te querer tanto

E por isso, podes crer 
Que pergunto a cada passo
Se tu deixares de querer 
Meu amor, o que é que eu faço

Tão antigo como o fado

Castro Infante / Alfredo Duarte *pierrot *
Repertório de Pedro Lisboa 

Uma carta amarelada sobre a mesa
Um rosário num missal entrelaçado
A um canto uma guitarra portuguesa
É um quadro tão antigo como o fad
o

Vela ardida que ficou num castiçal
Um relógio que dá horas numa reza
Folhas secas numa caixa de torsal
Uma carta amarelada sobre a mesa

Há uma arca sob o vão de uma janela
Tapa a cama uma colcha com um bordado
As cortinas espreitando p’ra viela
Um rosário num missal entrelaçado

Fazem roda três cadeiras bem antigas
Há uma jarra muito esguia sobre a mesa
Um álbum cheio de saudade das amigas
A um canto uma guitarra portuguesa

Está um homem de samarra e de boné
Num retrato muito antigo e desbotado
Sobre a cama a cigarreira e o cachené
É um quadro tão antigo como o fado

Versos de lamento

Ciça Marinho / Daniel Gouveia *fado daniel*
Repertório de Ciça Marinho 

Silêncio canta-se o fado
Em tom plangente e marcado
Na boca de uma fadista
Que com voz rouca e vontade
Desprovida de vaidade
Canta as agruras da vida

E ao trinar de uma guitarra
Solta a voz com tanta garra 
Que até a oiço chorar
Por que o fado que é chorado
Despe o coração magoado 
De uma fadista a cantar

Por isso lhe dou abrigo
Para partilhar consigo 
Tanta dor e sofrimento
Que sinto toda a amargura
Das marcas da desventura 
Destes versos de lamento

Silêncio canta-se o fado
De um destino malfadado 
Solta na voz o rancor
De um coração machucado
Por ser traído, enganado 
Diz que não quer outro amor

Zé Maria

Fernando José Esteves / Raúl Ferrão
Repertório de Lucília do Carmo 

Maria José que hoje ‘inda se vê
Guardando o seu gado
Adorava e queria o José Maria
Seu noivo adorado
E tantos amores nesses dois pastores
Davam que falar
Que p’los arraiais, moças e zagais
Punham-se a cantar

Dá-me um beijo, Zé Maria
Qualquer dia casarás eu tenho fé
Nesse dia, que alegria
Lá está toda a freguesia
No casório da Maria mais o Zé

Os anos passaram e p’rós que voltaram
Quando o mal findou
Voltou a alegria mas o Zé Maria
Nunca mais voltou
E hoje a pastora, sorri canta e chora
Dizendo (?) na esperança
De ainda vir um dia, o seu Zé Maria
Que voltou de França

(?) Talvez seja "vivendo" e não "dizendo" / SEM CERTEZAS

O fado em nós

Amélia Muge / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Pedro Moutinho 

Tão forte e tão inseguro
Vai à frente do futuro
E de lá olha p’ra nós
E mesmo se nos fugiu
A seu jeito se cumpriu
Este fado que há em nós

Tem o choro do nascer
Que marca o nosso viver 
A pegada transparente
Que deixa um traço no espaço
Desta viagem que eu faço 
Que é sempre, sempre presente

É irmão da dor, do pranto
Que nos desfaz no seu manto 
Não há choro mais atroz
Ri de si em tom menor
É no fundo, um sedutor 
Este fado que há em nós

E é fado que o fado tem
Tempo de sermos alguém 
Mesmo que corra veloz
Traz o laço que nos prende
Áquilo que não se entende 
Do outro lado de nós

Vem ao Castelo

Helena Moreira Viana / António José
Repertório de Amália 

Vem ver o Castelo
Aceita o convite
E vem vê-lo sem demora
Eu até tenho palpite
Que já não te vais embora

Sobe essa escadinha
Desce essa calçada
Vê todo o encanto que ele tem
P'ra sua rainha
Nunca mudou nada
E até está mais novo, vejam bem

Vem ao Castelo
Tu que andas lá por fora
Não se perdoa que o não vejas agora
Pois na verdade, todos sabe conquistar
E apesar da sua idade
Mais gosta de se enfeitar

Outros castelos mais bonitos não invejo
Que o de Lisboa, debruçado sobre o Tejo
Tem namorados, quantos mais, não sei
E o que suspiram coitados
Só o sabe o Cristo Rei


Vem cá ao Castelo
Abre bem os olhos
Pois ele talvez te prenda
Traz saia e blusa de folhos
Ou um vestido de renda

Podes ser modesta, 
Ou rica talvez
Ao Castelo tudo fica bem
Anda sempre em festa
Vem dai que vês
Como vai gostar de ti também

Apenas uma história

Manuela de Freitas / Jaime Santos *fado sevilha*
Repertório de Pedro Moutinho

Sem mais nem menos, partiste
E talvez, ainda bem
Foi o fim que conseguiste
Para uma história tão triste
Que não se conta a ninguém

Ainda esperei que voltasses 
E me pedisses perdão
Que de novo me contasses
Uma história em que tentasses 
Mostrar que tinhas razão

Pois para o bem e p'ró mal 
Nunca mais disseste nada
Com um desfecho banal
Puseste ponto final 
Numa história mal contada

Já não me importa o que sentes 
Mas p’lo muito que te quis
Espero ao menos que tentes
Que a nova história que inventes
Tenha um final mais feliz 

Vento do norte

Francisco Nicholson / Eugénio Pepe
Repertório de Maria da Fé 

O vento do norte, do norte soprava
O norte era frio, o vento gelava
Um rasto da esperança do norte soprava
E a gente partia, gelada, gelada

O vento do norte, na alma zunia
Com o norte na alma, o homem partia
O norte era a sorte dum sonho frustrado
E o homem seguia gelado, gelado

O norte é a sorte
A sorte ou a morte
Caminhando ao norte
O norte é voltar;
O vento do norte
Tão frio tão forte
O vento do norte
A mãe a chorar;
Não chores, não chores
A sorte é o norte
A sorte é partir 
E o norte é voltar

O vento do norte, do norte soprava
O norte era frio, a gente chegava
O resto da esperança, teimosa aparecia
E um homem chegando, sorria sorria

Há sempre uma esperança virada p'ró norte
O norte é a vida, para trás é a morte
Há sempre uma estrela num pouco de azul
E o norte dos fortes é norte ou é sul

O norte é a sorte
A sorte ou a morte
A sorte é viver
Viver é lutar;
O vento do norte
Zunia, zunia
O homem sorria
A mãe a chorar
Não chores, não chores
A sorte é o norte
A sorte é saber 
E o norte é voltar

Ai minha mãe que cansaço

Fezas Vital / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Vasco Rafae
Este tema também foi gravado com o título *Se me dão a solidão* 

Se me dão a solidão
Com sete pedras na mão
Só porque eu falo verdade
A minha casa vazia
A minha cama tão fria
Serão a minha cidade 

E por cada madrugada
Que me encontre só, na estrada 
Que vai de mim até mim
Farei arder uma flor
A que chamarei amor 
Mesmo que seja o meu fim 

Depois, podem vir lavar
As vossas mãos no olhar 
Que trago triste e vazio
Ai minha mãe, que cansaço
Fora o mundo o teu regaço 
E eu morreria sem frio

Ao Deus dará

Maria do Rosário Pedreira / Daniel Martins
Repertório de Pedro Moutinho

Se corre vento na margem
Foge o rio até à foz
E na pressa da viagem
Passa sem saber de nós

Segue sem nunca parar 
O meu rio até ao fim
E na ânsia de ser mar 
Já nem pergunta por mim

Se o céu agora se turva 
Fazem as nuvens em água
E no sonho de ser chuva 
Desdenham da nossa mágoa

Logo a luz no céu lampeja 
Querendo ser só trovoada
Já nem o vento me beija 
Passa por mim, não diz nada

Anda cá rapariga

Domingos Gonçalves Costa / Casimiro Ramos
Repertório de António Rocha

Não tenhas medo
Que eu não sou, como supões
Um ladrão de corações 
Ou um tirano Don Juan
Sou como tu
Amo-te muito em segredo
E digo-te hoje com medo 
Que seja tarde amanhã

Anda cá rapariga
Aqui tens um coração
Onde não mora a paixão
Onde o amor não se abriga
Onde a tristeza d’agora 
Há muito tempo já mora
Sem que afastá-la consiga 
Quando a minh’alma devora

Se nunca amaste ninguém 
E também p’la vida fora
Nunca sofreste d’alguém 
Ilusões que o amor obriga;
És minha irmã no amor
Anda cá rapariga

Vamos p’la estrada
Ora agreste, ora florida
Na estrada enorme da vida 
Apenas buscando um fim
Viver amando
Sem que de mim te aborreças
Até que um dia envelheças 
Sempre bem junto de mim