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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Rua dos correeiros

Manuel Alegre / João Braga
Repertório de João Braga

Na Rua dos Correeiros 
Lisboa discreta e estreita
Tem por detrás dos letreiros
Outra Lisboa que espreita

Lisboa que nos aperta 
Com seu coração antigo
Onde o meu amor desperta 
Para me levar consigo

Lisboa que passa esguia
A lembrar amores primeiros
E a secreta poesia
Da Rua dos Correeiros
Rua que vai para o Tejo
Sem nunca o Tejo se ver
Rua onde passo e só vejo
O que ela finge esconder

Tudo sabe a intimidade 
A eternidade e os instantes
O futuro em outra idade 
O agora dentro do antes

Ao longe, um vapor apita 
E há o bater dos calceteiros
Que deixam Lisboa escrita 
Na Rua dos Correeiros

Terra prometida

Aldina Duarte / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Aldina Duarte

Porque enganas a tristeza
Quando a idade te pesa
E a culpa reaparece
No teu olhar transparente
A verdade é indiferente
Ao teu corpo que envelhece

Recusamos a mudança
Ao contrário da criança 
Que insiste na descoberta
Somos filhos do segredo
Criados para ter medo 
De viver a vida incerta

Na suprema servidão
Negaremos a paixão 
E o amor é sacrifício
Quem nos vale à nossa beira
Para encontrar a maneira 
De voltar tudo ao início

No silêncio há mais vida
Que na terra prometida 
A quem parece ter sorte
Há memórias que se apagam
E outras que se alimentam 
No esquecimento da morte

Lisboa manda recado

Mário Martins / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de José da Câmara

Lisboa manda recado 
Como que faz um apelo
O rio perdeu a fragata 
Que lhe alisava o cabelo

Nunca mais a asa branca 
Da vela que o vento enchia
Desenhou no Mar da Palha
Uma sombra fugidia

Lisboa está pensativa
Lisboa, não há maneira
Perdeu-se a varina esquiva
Dona do Cais da Ribeira;
E o rio não pode com ela
Fragata sem vela que hoje é batelão
Lisboa à beira do Tejo
Afoga num beijo o mar solidão

Não há gaivotas que cheguem 
Desdobradas a acenar
Pra repor vida nos olhos 
Duma cidade a teimar

A teimar que não tem força 
P'ra de novo se enfeitar
Com sardinhas-lantejoulas 
Que o sol sabe apregoar

Tributo a Tio Alfredo

João Ferreira Rosa / Alfredo Duarte *fado bailarico*
Repertório de João Braga 

Tio Alfredo Marceneiro
Rei do fado por condão
Não conhece o Limoeiro
Teve sempre profissão

Senhor de Santa Isabel 
Menino de cada rua
Nas cegadas, voz de mel 
Prateada pela lua

És o fado que cantais
o sentir do coração
Lisboa dos arraiais 
Do São Luís é que não

Sem tua voz, menos fado 
Nas guitarras a trinar
Nem a Marcha nem o Cravo 
Eu teria de cantar

Senhora dos meus passos

Aldina Duarte / Alberto Correia *fado vanda - sem razão*
Repertório de Aldina Duarte 

Quem me dera ser aquilo que não vejo
Donde nascem as palavras prometidas
E ver um anjo caído
Por ter esquecido vidas vencidas
Rasgo o manto das certezas
Entre as coisas proibidas

Caminho pela estrada fora
Sem rumo nem perdição
Apenas num instante
O meu amor errante
Traçado na tua mão

Eu aceito a minha dor, a que não quer
Sangrar um coração em morte lenta
Eu poderia mentir
E até fingir quem se lamenta
Na procura da verdade
Só o destino me atormenta

Caminho pela estrada fora
Sem rumo nem perdição
Apenas quero ser
Um corpo sem querer
Feliz sem ter razão

A volta prometida

Carlos Leitão / Custódio Castelo
Repertório de Carlos Leitão

Há mel nesses teus olhos desenhados
Pelas mãos de um criador que eu inventei
Escondido nos trejeitos mais ousados
Sou eu a querer ser Deus porque não sei

Dói tanto esta saudade anunciada
Agora que de ti só fico eu
A história de nós dois, imaginada
Será o que partiu mas não morreu

Sou eu na lezíria já despida
Na presunção errada de te ver
À espera de um regresso feito vida
Para que eu possa ficar sem te perder

E agora, meu amor, enquanto espero
A volta prometida que inventei
O mel do teu olhar é o desespero
Sempre que Deus me esconde o que não sei

És livre

Letra e música de Alves Coelho Filho
Repertório de Francisco José 

Esperei por ti, não vieste
Breve esqueceste que por ti espero
De ideias faço um conjunto
E a mim pergunto porque te quero
Olho na rua quem passa
Mas por desgraça não vejo o céu
Perdeste a hora mais querida
Da curta vida que Deus te deu

És livre… já nada te prende a mim
És livre… tanto te quis e vê bem
És livre… e por saber que és assim
O meu amor quis ter fim
Pra dar lugar ao desdém
Sorris… podes sorrir dos meus ais
Mas não encontras jamais
Quem te queira como eu quis

Tenho força de vontade
Pra que a saudade não me atormente
Eu vou esquecer essa boca
Perdida, louca, que só me mente
Eu vou-me embora, descansa
Viver sem esperança dá pena e dó
Eu já vi que é impossível
E é preferível eu viver só

Outra noite

Tiago Torres da Silva / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Ana Margarida 
Letra vencedora do concurso *O Meu Fado* da Rádio Sim, 2017

Se a noite deixasse ao dia
O que eu tenho de alegria
Quando, ao ver a escuridão
Os meus olhos compreendem
Que aquilo que não entende
Só entende o coração

Quem dera que a madrugada
Deixasse a noite parada 
E nunca lhe desse fim
Que ao ver-te os olhos nos meus
Eu não escutasse o adeus 
Da noite que eu vejo em mim

Ah meu amor, se eu pudesse
Faria que o sol me desse 
O que a noite me roubou
Mas como não posso tanto
Fecho os meus olhos e canto 
A noite que eu mesma sou

Não quero saber se o dia
É só feito de alegria 
Ou de tristeza também
Não importa o que aprendi
Só quero saber de ti 
Sempre que outra noite vem

A noite fica-me bem

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Foi sempre tempo demais
À espera não sei do quê
Imaginando finais
Para aquilo que não se vê

Amor, não sei se haverá 
Nesta dolente agonia
Dizem alguns que será 
A noite a não querer ser dia

Que seja então como dizem 
A noite fica-me bem
Que as madrugadas são belas 
Quando não são de ninguém

E se a loucura ficar 
No lugar de quem não esqueço
É porque a sorte de amar 
Será sempre a que mereço

Uma graça antiga

Aldina Duarte / Fernando Freitas *fado das sardinheiras*
Repertório de Aldina Duarte

Aquela voz bem timbrada
Naquele olhar magoado
Podia não ser mais nada
Mas tudo aquilo era fado

Caminhava distraído 
Como quem anda no céu
E quando havia um sentido 
O seu destino era eu

Dançamos com as estrelas 
Andei descalça contigo
Cantamos pelas vielas 
As rimas dum fado antigo

A vida às vezes diz sim 
Aos sonhos de quem não espera
Aquele teu beijo sem fim 
Foi a minha primavera

Separação

Nuno Júdice / António Victorino de Almeida
Repertório de Carlos do Carmo

Não quero a cor vermelha de um sol-pôr
No dia a nascer, rosa que floresce
Quero a cor da manhã com seu fulgor
Na sombra que vem quando a tarde cresce

Não te quero dizer tudo o que digo
Num silêncio, num olhar, num segredo
O que penso é teu quando estou contigo
Podes levá-lo, lembrá-lo sem medo

E nesta noite em que não sei de ti
Nesse caminho em que andas perdida
Fica a saber que nunca te esqueci
Para onde foste foi a minha vida

Beco escuro, sem ninguém ao fundo
Praça deserta que o vento invade
Somos nós na solidão deste mundo
No amor que nos prende à liberdade

E ao chegares de longa viagem
Ombros nus, cabelo despenteado
Voltarei a ter na tua imagem
A mais bela mulher na voz de um fado

Bebendo a água do mar

Tiago Torres da Silva / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Cristiana Águas 

O fado vem à noitinha
Mas quando chega a meu lado
Se não me encontra sozinha
Diz que já não quer ser fado

Por isso te dou a mão 
Mas não te posso abraçar
Devo amar a solidão 
P'ra quando o fado chegar

Não sei se lhe dê abrigo 
Não sei o que o fado quer
Sei que faz amor comigo 
Mas não me chama mulher

Através de uma parede 
Ouço o meu peito a chorar
Como quem morre de sede 
Bebendo a água do mar

À procura de amor

Rui Manuel / Ricardo Ribeiro *fado cláudia*
Repertório de Cláudia Leal

Neste lento agonizar de sentimentos
Onde quase parecemos dois estranhos
Evitamos partilhar os pensamentos
Prisioneiros dum silêncio sem tamanho

As pegadas que deixamos lado a lado
Testemunham a história que vivemos
Culpa nossa foi não termos reparado
Onde foi que um do outro nos perdemos

Não importa procurar atenuantes
O que importa é perguntar aos corações
Se a ternura que nos resta é o bastante
Para darmos novo alento às emoções

Perguntar aos nossos corpos, se o prazer
Conservou alguma réstia de calor
Que permita, beijo a beijo, refazer
Cada nó que se desfez no nosso amor

Sem peso ou medida

Tiago Torres da Silva / Armando Machado *fado cigana*
Cantado por: Carolina, Maria Emília Reis, Nadine Brás
Rodrigo Costa Félix e Sandra Correia  
Tema do filme *Forginving nigth for day 

Morro a cada amanhecer
Para depois renascer
Quando a noite se anuncia
No seio da escuridão
Sinto que o meu coração
Bate com mais alegria

Sou um estranho na cidade
Guiado pela saudade 
Da distância de onde vim
Nos confins desse lugar
É que eu consigo escutar 
O silêncio que há em mim

O tempo agora descansa
O mundo é uma criança 
A despertar para a vida            
E ao abrir-se em passo lento
Vai revelando um momento 
Que não peso ou medida

Quem eu era, já não sou
Tal como a luz que brilhou 
Nessa manhã que me espera
No silêncio que persiste
Acolho tudo o que existe 
E digo adeus a quem era

O meu xaile

Varela Silva / Adelino dos Santos
Repertório de Celeste Rodrigues 

A vida pôs-me um xaile 
Sobre os ombros
Deu-me um ar amargurado
Disse que eu era fadista 
E pôs-me na alma, um fado
E eu canto a minha vida 
Com o meu xaile traçado

E vou cantando a saudade
De coisas que nunca vi
Tristezas e desenganos
De amores que nunca vivi

E sempre com o meu xaile traçado
Em cruz, sobre o coração
No meu destino fadista
N meu ar amargurado
Eu não queria que o meu fado
Fosse só recordação

Eu queria um fado que desse
Nova expressão ao meu fado
Porque o meu fado merece
Não ser apenas passado

Pimentinha, pimentão

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Pimentinha como eu quero 
Leva sempre um grão na asa
Pois a pimenta é tempero 
Que se deve ter em casa

Pimenta tal como a vejo 
Pode ser branca ou ser preta
Quando tu me dás um beijo 
És a minha malagueta

Piri-piri, pimentão
És o conduto bastante
Para que o meu coração 
Também me saiba a picante
Tens um travo amargo e doce 
Tal e qual como o cravinho
Ai quem me dera que eu fosse 
Trincada devagarinho

Se às vezes estás descontente 
Eu também não estou feliz
Quando a gente não se entende 
Sobe a mostarda ao nariz

Os teus olhos, noz-moscada 
Ralados no meu olhar
Sabem sempre a madrugada 
A petiscos pra provar

No moinho da pimenta 
Que é o nosso dia-a-dia
Há sempre um grão que nos tenta 
E às vezes arrepia

Também há pimenta verde 
Pimenta da cor da esperança
A pimenta que faz sede 
Do amor que não se cansa

Perfeito pecado

Mário Raínho / Armando Machado *fado cunha e silva*
Repertório de Maria Emília

Só tu conheces bem a minha alma
Ninguém te leva a palma, dentro dela
Dás-me, amor, o silêncio que me acalma
E pões meus gritos d’alma à janela

Amante, das estrelas e da noite
Pernoite é o meu peito, onde acordado
Te ergues e não há ninguém que afoite
O que dizes em mim, meu adorado

Eu sou essa ternura 
Que me dás e se mistura
Nesse olhar de tristeza 
Que tem a sua beleza
Sou também a palavra 
Que na minha voz é escrava
Sou a saudade atroz 
De quando juntos, somos sós
Eu sou, somente essa solidão
Só por ti, na multidão
Caminho, incerto e errante
Pois tu, ó meu perfeito pecado
Amor alegre e chorado
És meu fado, amigo e amante

Os versos, com que beijas minha boca
São rosas de toucar avermelhadas
Se os canto, saio de mim como louca
E estas palavras choram-se cantadas

Não posso mais calar esta loucura
Porventura o destino quer-me assim
Andando a vida inteira à procura
De ti, que vives só e para mim

Dar o dia

Tiago Torres da Silva / Armando Machado *fado cigana*
Repertório de Anamar 

O teu corpo traz a vida
Como quem tem reflectida
A luz que as estrelas tecem
Olha as pontas dos teus dedos
Nelas guardam-se segredos
Que só as estrelas conhecem

Quando duas mãos se dão
O calor de cada mão 
Põe as almas a sorrir
Mas se esta mão outra afasta
Há um tempo que se gasta 
Uma luz por refletir

Se não a puderes fechar
Pelo que tens pra me dar 
Deixa a tua mão fechada
Abre-a só ao estar vazia
Porque dar-me-ás o dia 
Quando não tiveres lá nada

Soneto presente

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Não me digam mais nada senão morro
Aqui neste lugar dentro de mim
A terra de onde venho é onde moro
O lugar de que sou é estar aqui

Não me digam mais nada senão falo
E eu não posso dizer eu estou de pé
De pé como um poeta ou um cavalo
De pé como quem deve estar quem é

Aqui ninguém me diz quando me vendo
A não ser os que eu amo, os que eu entendo
Os que podem ser tanto como eu
 
Aqui ninguém me põe a pata em cima
Porque é de baixo que me vem acima
A força do lugar que for o meu