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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Hoje passo a noite fora

Manuel Carvalho / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Lino Miguel 

Hoje passo a noite fora
Só volto ao romper d’aurora
Vive na noite o meu grito
O fado é minha vida
E tu és minha querida
O meu fado mais bonito

Prometo não me perder
Se a madrugada trouxer 
Lábios frescos de mulher
Dá-me agora um longo beijo
P’ra eu não sentir desejo 
De beijar outra qualquer

Os poemas dos meus fados
Todos em ti inspirados 
Foi meu peito a escrevê-los
E se a noite estiver bela
Vou procurar uma estrela 
Para pôr nos teus cabelos

E quando chegar a hora
Da madrugada ir embora
Guio p’ra ti os meus passos
Vou-te acordar de mansinho
Deitar-me devagarinho 
Na ternura dos teus braços

Gosto e não gosto

Manuel Carvalho / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Rosa Cruz 

Eu gosto de sentir essa doçura
Que pões na minha boca quando beijas
Não gosto de sentir esta amargura
De saber que há outras que desejas

Eu gosto dos teus olhos meu amor
Da maneira linda que tens de olhar
Mas não gosto de ver neles rancor
A zanga quando vem faz-me chorar

Eu gosto de sentir essa emoção
Que pões nas palavras com ternura
Mas não gosto que ralhes sem razão
Quando inventas ciúmes à mistura

Eu gosto de estar dentro dos teus braços
Manda no meu destino se quiseres
Mas não gosto que guies os teus passos
Prós braços maldosos doutras mulheres

Eu gosto de gostar tanto de ti
Que de ti amor escrava sou
Só não gosto que andes por aí
Desperdiçando este amor que te dou

O que eu sonhei

Carlos Conde / Alfredo Marceneiro
Repertório de Maria Augusta 

Sonhei a noite passada
Com as antigas ramboias
De que tanto oiço falar
Tinha acabado a toirada
E batiam-se as tipóias
P’ra as bandas do Lumiar

O meu faia, de samarra
E eu de xaile de tricana 
Resolvemos ir prás hortas
Peguei na minha guitarra
E uma velha traquitana 
Levou-nos fora de portas

Abancamos numa tasca
Orgulhosos, sobranceiros 
Com a lira a dar nas vistas
No meio de gente rasca
De fidalgos, de toureiros 
De boémios e fadistas

Cantou-se até ao alvor
E a festa do Lumiar 
Findou como era costume
Uma cantiga de amor
Um canjirão pelo ar 
E uma cena de ciúme

Um fidalgo alto, imponente
Defendia uma mulher 
Da navalha dum rufia
Nisto acordei, de repente
Com pena de não saber 
Como o resto acabaria

Eu sou o fado

Lopes Vitor / Francisco Carvalhinho
Repertório de Beatriz da Conceição 

Nasceu a nuvem do mar 
E o sol nasceu para o dia
E eu nasci p’ra cantar 
O fado da Mouraria

Sempre que o canto, Senhor 
Minh’alma chora saudade
Ai saudade é mal d’amor 
P’ra quem fica a ansiedade

Eu sou do fado
Viver sem ele não posso
E porque é meu fado
Rezo ao fado um padre-nosso
Eu sou do fado
Deste fado, quem diria
Que embarcou nas caravelas
E voltou à Mouraria
Eu sou do fado 
Já levado lá p’ra fora
P’lo turista que o canta
E às vezes também o chora
Eu sou do fado 
Que dizem ser fatalista
Sou do fado assim gingado
Sou do fado, sou fadista

Quando a noite veste o manto 
E esta Lisboa adormece
Renasce em mim o encanto 
Da vida que me entontece

Todos nós temos um fado 
Que nos marcou ao nascer
Se no fado tenho andado 
No fado quero morrer

Os ganapos

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte
Repertório de Manuel Bessa 

Onde estão esses ganapos
Ases da bola de trapos
E campeões da sameira
Onde estão esses heróis
Que brincavam aos cowboys
Com pistolas de madeira

Onde pára a miudagem
Esses putos de coragem 
Com quem cresci, minha mãe
Descalços pisaram terra
Mais tarde foram à guerra 
Mas fizeram paz também

Que é feito dessa malta
Que às vezes faz tanta falta 
P’ra recordar o passado
Deus os guarde com saúde
Não lhes falte a juventude 
Seja qual for o seu fado

Regresso

Manuel Alberto Valente / Bruno Fonseca
Repertório de Joana Amendoeira 

Não era a tua voz que me chamava
Não era nos teus braços que dormia
Só o silêncio, amor, me acompanhava
Nas ruas onde sozinha me perdia

Partiras e eu ficara abandonada
Sem os teus lábios, sem o teu perfume
Já nada no meu corpo clamava
P'las searas onde se acende o lume

Depois voltaste e foi a Primavera
Cresceram pássaros nas minhas mãos vazias
Nasci de novo daquela que já era
A sombra de uma sombra onde morrias

Agora é a tua voz que me povoa
Na concha dos teus braços adormeço
E é bom o silêncio quando ecoa
Nesses silêncios de amor com que me teço

O teu fado, companheiro

Manuel Carvalho / Cavalheiro Júnior *menor do porto*
Repertório de Nicolau Rocha

Cantaste a vida e foi ela
Que te traiu e negou
Partiste na Caravela
Da saudade que ficou

À noite a lua derrama 
Tristeza p’la Mouraria
Apagou-se aquela chama 
Que a tua voz acendia

No fado que nos encanta 
Vive um cantar verdadeiro
Quem te calou na garganta 
O teu fado companheiro

Para cantar nunca é tarde 
Cantaste nos versos teus
Mas veio cedo a saudade 
Partiste pela mão de Deus

Se eu te pedir o sol

Tiago Torres da Silva / Filipe Raposo
Repertório de Joana Amendoeira 

Se eu te pedir o sol quando perceber
Que basta sorrires pró sol desaparecer
Só tu ficas no céu

Só existes tu, oh estrela
Que brilhou para mim
Que cintilou por mim
Que se apagou em mim
E se o céu escureceu
Não sou apenas eu
A lamentar o fim

Se eu apagar o sol quando descobrir
Que a noite me traz tudo 
O que eu lhe puder pedir
Só te desejo a ti

Só existes tu, oh estrela
A brilhar para mim
Á cintilar por mim
A apagar em mim
Um céu que escureceu
Mas que em ti se acendeu
E que não vai ter fim

O meu coração tem dias

João Monge / José Medeiros
Repertório de Hélder Moutinho

O meu coração tem dias
Que anda longe, anda fugido
Como se fosse um ladrão
Esconde-se em casas vazias
Habita um corpo despido
São dias sem coração

Às vezes vai à janela
Para ver se passa alguém
Com o coração desfeito
Baixinho, chama por ela
Se não responde ninguém
Volta para dentro do peito

Enrosca-se num cantinho
Passa dias sem bater 
E só pensa em ver o mar
Faz do meu corpo um barquinho
Leva-me aonde quiser 
E depois põe-se a sonhar

O meu coração tem dias
Em que me desaparece 
Não há solidão maior
Eu fico de mãos vazias
À espera que ele regresse 
E encontre o meu amor

Oração a meu pai

Manuel Carvalho / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Gina Santos 

Quantas vezes sentada em teus joelhos
Afagaste meu rosto com ternura
Ouvi tuas histórias, teus conselhos
P’ra me tornar a vida menos dura

Descansa em paz eu vou no bom caminho
E hoje sou a mulher que sonhaste 
Obrigado meu pai por teu carinho
Por tudo que na vida m’ensinaste
             
P’ra ti meu pai eu canto este poema
Assim nasceu esta oração p’ra ti
Teu amor foi o mote, foi o tema
Das saudades que eu tenho de ti

O tempo foi passando, hoje recordo
Momentos que a teu lado eu passei
Quantas vezes meu pai ainda choro
E as saudades que tenho, só eu sei 

Um fado em Viena

Jorge Mangorrinha / Fernando Abrantes
Repertório de Teresa Radamanto 

Um fado na minha voz 
É levar uma bandeira 
Nas cordas abençoadas 
Pelas notas entoadas
Que passam qualquer fronteira

Um fado na minha voz 
É um convite inusitado
Do meu corpo à tua mão 
Num encontro de salão
Que junta a valsa ao meu fado

Canto em Lisboa
Canto em Viena
Canto a minha saudade
Vivendo a música 
Em cada cidade
Canto em Lisboa
Canto em Viena
Canto um sonho viajado
Correndo o mundo 
Nos passos do fado

Um fado na minha voz 
É levar uma esperança
À lonjura de um país 
Para que o canto aprendiz
Vá rodar na tua dança

Um fado na minha voz 
É uma alma sem ser pequena
A trinar este desejo
Que as águas do rio Tejo 
Sejam Danúbio em Viena

O meu fado é para ti
O fado é de todo o mundo

Vem de expresso

Cátia Oliveira / Manuel Graça Pereira
Repertório de Madur 

Chegou hoje bem cedo ao meu ouvido
Recado que na boca vem de expresso
Já sei do teu regresso
A Laura soube de ouvir à Carmita
Correu na perna à pressa e disse à Rita
Meu Deus, está de regresso

Pintam-se as ruas de cores
Lisboa dos teus amores

Vem logo, vem só ver Maria
É hoje, é hoje o teu dia
Solta a alegria, o sotaque
Por Alfama afora e o peito num baque
Bate-me à porta a fortuna
Despeço a saudade, sou felicidade

Vou sem pensar, atrás do teu abraço
Levo nos caracóis o mesmo laço
Que tu, amor, gostavas
Mas já não vou correr como fazia
Ja não sou mais a pequena Maria
Meu Deus, disseste ao ver-me

Olha só quanto cresci
Vê bem e foi só por ti

O lugar do coração

João Monge / Mário Laginha
Repertório de Hélder Moutinho 

Se um dia tu me chamares
Não me digas onde estás
Estás em todos os lugares
Que o coração for capaz

Tivesse o céu candeias 
Quantas há no teu olhar
Pedia ao céu que incendeias 
Que me aguarde até cegar

A saudade tem morada 
Na rua onde te perdi
Mas põe a lua à entrada 
Para me lembrar de ti

Se um dia tu me chamares 
Não me indiques o caminho
O coração tem lugares 
Que eu quero encontrar sozinho

Mudaste a minha vida

Manuel Carvalho / Paco Gonzalez *mundo de inverno*
Repertório de Joaquim Barndão 

Andei mil madrugadas tão sozinho
Levou-me o vento em busca da verdade
Ate que Deus te pôs no meu caminho
P’ra qu’eu conhecesse a felicidade

A partir desse dia, dessa hora
Mudaste minha vida e o meu fado
Do meu peito a tristeza foi-se embora
E hoje eu sou feliz mas a teu lado
     
És o meu fado
A minha luz
És o farol que nesta vida me conduz
És o meu mundo
O meu pecado
És a razão de eu cantar este meu fado

Deste-me o teu corpo e a tua alma
Toda te entregaste por amor
Tu és o lenitivo que me acalma
Nas horas em que a vida tem mais dor

Quero de ti ternura e o calor
P’ra não passar as noites mais sozinho
Bendito seja a hora meu amor
Em que Deus te pôs no meu caminho 

O avesso do destino

Tiago Torres da Silva / Marcos Sacramento
Repertório de Joana Amendoeira 

Perdoa-me este momento
Em que vivo o sacramento da tristeza
Não tem nada de verdade
É só que a felicidade ficou presa
No avesso do destino
No tropeço do menino que morreu
Na lembrança sem memória
Que será a minha história, mas não eu

Perdoa-me este momento
De eu me dar em casamento à tristeza
Não é por minha vontade
É também porque a saudade ficou presa
No avesso da esperança
No tropeço da criança que morreu
No medo de estar sozinho
Que será o meu caminho, mas não eu

Teus olhos de avelã

Manuel Carvalho / José Lopes *fado lopes*
Repertório de Lima Querido 

Nessa viela sombria
Que a Lua vai espreitar
Ando eu de noite e dia
Perdido p’ra te encontrar

Ando mesmo enfeitiçado 
Por teus olhos de avelã
Nesse castanho dourado 
Vive o Sol da manhã

Pedi a Lua que ela 
Te guardasse noite fora
Pois sei que nessa viela 
Há fado a toda a hora

Teu xaile bordado a prata 
Nessa viela reluz
A tua sombra me mata 
O teu fado me seduz

Senhora, guia meus passos 
Minha Senhora da Guia
Quero tê-la nos meus braços 
Nessa viela sombria

Já passou

João Monge / Vitorino Salomé
Repertório de Hélder Moutinho 

Eu sei que ninguém me quer ver triste
Espalhado ao comprido no salão
Mas a alegria eterna não existe
E a saudade não desiste
De atacar sempre à traição

Ninguém espera que eu cante baixinho
Com o olhar vazio no infinito
Às vezes eu só quero o meu cantinho
Para viver devagarinho
E em silêncio dar um grito

Já parti o coração 
Já tive um choque frontal
Talvez fosse um dia não 
Mas já passou... não faz mal

É uma dor que passa, não sei bem
Onde nasceu, onde vai acabar
Mas passa pelo coração de alguém
Que anda em terra de ninguém
Ou bate outro lugar

Não faço ideia do que me deu
Para desabafar tudo o que ouviste
Eu sei, lá no fundo és como eu
Estás entre a terra e o céu
E ninguém te quer ver triste

Meu fado dor

Manuel Carvalho / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Lídia Maria 

Tenho sofrido é verdade
A dor que tem a saudade
Quando o amor é ausente
É sempre assim que acontece
Quando a gente não s’esquece
De quem se esquece da gente
             
Por Deus nunca foi preciso
Ter que vender meu sorriso 
Na vida seja a quem for
Mas confesso estou cansada
De chorar na madrugada 
Meus fados feitos de dor

Não se ralem se eu disser
Que na vida uma mulher 
Tem a sina mais marcada
Ao homem tudo s’esquece
A mulher peca e padece 
E não mais é perdoada

Escondo a minha tristeza
No fado como quem reza 
Vou cantando o meu penar
Quem canta seu mal espanta
Mas sinto um nó na garganta 
É minha alma a chorar

Fases da lua

João Monge / Pedro Silva Martins / Luís José Martins
Repertório de Hélder Moutinho 

O meu coração tem sonhos 
Mas não vai por onde quer
O meu coração tem braços 
Tem dois braços de mulher

Pega a flor que há no caminho 
Dá colo a quem precisar
Tem um berço de menino 
Mas não tem quem embalar

O meu coração tem medo
Tem coisas próprias de mãe
Se um filho não chega cedo 
Bate por ele também

Me fiz homem com dois lados 
Faço a barba e já chorei
Sou destino de dois fados 
Que colhi de pai e mãe

Tenho as fases da Lua
No cartão de identidade
E moro na rua
Chamada humanidade

Tenho num canto qualquer 
Do meu coração um quarto
Com sonhos para quem vier 
Já parti sem ter um parto

E quanto mais homem sou 
De maneiras e aspecto
Mais inteiro a ti me dou 
E de mulher eu me completo

Voltaste finalmente

Manuel Carvalho / Francisco Viana
Repertório de Joaquim Brandão 

Tu voltaste finalmente
Agora sim sou feliz
Não há passado, o presente
Nasce quando tu sorris

Nos teus olhos a ternura 
Nas minhas mãos o desejo
Na tua boca a loucura 
Arrepiante dum beijo

Não partas mais meu amor 
Deixa-me ser o teu fado
Na vida seja o que for 
Estarei sempre a teu lado

Não voltes porque além 
Vive a’margura no cais
Quem parte saudades tem 
Mas quem fica sofre mais

Diamante divino

Joana Cota / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Joana Cota 

Todo o amor que eu te dera 
Numa intensa primavera
Cheia de flores de carmim
Continua bem aceso
Num punhal de fogo preso
A queimar dentro de mim

As suas chamas são rosas
Tão perfeitas e formosas 
De um vermelho palpitante
Flor de cardo ao luar
Que teima em querer beijar 
Os teus lábios diamante

Esse amor que eu te dei
Agora é fora de lei 
Vagabundo sem destino
Caminhando ao deus dará
Amanhã sabe-se lá 
Meu diamante divino 

Domingo de manhã

Manuel Carvalho / Carlos Alberto França
Repertório de Lourenço Carvalho 

Acabou a madrugada 
Novo dia vai chegar                 
Levo a garganta cansada 
De tantos fados cantar             
Subo a rua do Souto 
Vou direito a Campanhã          
Inda vou dormir um pouco 
É domingo de manhã               

O Zé Mau e outros mais 
Não foram à banca rota           
Nas escadas dos Guindais 
Inda se joga à batota
Lá no Arco de Vandoma 
Passa a Rosa vendedeira       
Leva a giga d’azeitona 
P’ra vender lá na Ribeira         
          
É este o fado qu’eu canto
Num estilo sempre novo
Com versos feitos d’encanto
Nesta canção do meu povo
Passo as noites a cantar
É vida do meu agrado
Não me canso de mostrar
Que aqui também há fado 

O Chico vende jornais 
Na esquina da rua Chã
Bate o sol nos quintais 
É domingo de manhã
Alguém chega à estação 
Carregando de saudade
A São Bento uma oração 
Por ter voltado à cidade

Mulheres de sócos nos pés 
E mantilha na cabeça
Vão à missinha das dez 
Antes que a fé arrefeça
Subo a rua do Cativo 
E uns olhos cor de avelã
Chamam por mim dum postigo 
É domingo de manhã

Jardim florido

Carlos Cardoso Luís / Popular
Repertório de Rolando Silva

A vida é um jardim
Com flores, raízes, folhas
Pavões, vaidade sem fim
Com malmequeres, papoilas

Amo muito a natureza 
Trato, cuido, meu canteiro
Adoro flores, beleza 
O perfume verdadeiro

Mãos que plantam os amores 
Dão aos meus olhos o jardim
Mundo sem árvores, flores 
Não existe para mim

Teus olhos são duas flores 
Que enfeitam nosso jardim
No canteiro dos amores 
Coração espera por mim

Tantos te querem matar 
Pôr o jardim poluído
Não deixarei de te amar 
Serás meu jardim florido

Sombra

Manuela de Freitas / Pedro Rodrigues
Repertório de Mísia 

Mais parece que estás nua
No desamparo da rua
Em que te encontro perdida
Como sombra numa porta
Mais parece que estás morta
E dizem que andas na vida

Vieste para a cidade
Perdeste o nome, a idade 
Não és velha nem menina
Sem abrigo nem morada
És uma sombra cansada 
Na solidão de uma esquina

Eu vejo-te assim sozinha
E há qualquer coisa tão minha 
Que me faz sentir culpada
Quem em dera acreditar
Que és uma sombra a passar 
Apenas sombra e mais nada

O sol atrás da lua

Manuel Carvalho / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Maria José

Nesta perseguição que não tem fim
Do sol internamente atrás da lua
É minha essa ilusão e tanto assim
Que nem sou de mim para ser tua

Mas nessa indecisão que me dá raiva
Em não assumires nossa verdade
Nem quereres até que o mundo saiba
Como é tão linda nossa felicidade

Por vezes, meu amor, chego a pensar
Que guardas segredos que não conheço
P’ra livremente não poderes amar
Ou será que eu não te mereço

Se é segredo, amor, podes contar
Nada há-de impedir que eu seja tua
Mas se não estou à altura de te amar
Prefiro ser o sol atrás da lua

De noite tudo é diferente

Manuel Carvalho / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Lima Querido 

De noite tudo é diferente
Na escuridão toda a gente
Fala melhor a verdade
No amor nasce a ternura
Nos dedos nasce a loucura
Que faz lembrar a saudade

Também nasce à noite a Lua
As sombras descem à rua 
Num curioso bailado
Num sonho feito ilusão
Eu afago a solidão 
Que nunca sai do meu lado

A noite traz as estrelas
E canta-se à luz das velas 
Fados do nosso destino
A noite é filha das trevas
E até param as guerras 
Na noite do Deus menino

Eu não tenho quem m’acoite
E sendo um filho da noite 
Ando do amor ausente
Bebo um copo, oiço um fado
Uma mulher a meu lado 
E até a noite é diferente

Quando a saudade vier

José Luís Gordo / Popular *fado mouraria"
Repertório de João Loy 

Quando a saudade vier
Bater no meu coração
Pode vir quando quiser
Que eu não lhe digo que não

Que venha vestida de amor 
Com o perfume das rosas
Não traga olhos de dor 
Nas suas faces viçosas

Quero a saudade lavada 
Nas águas do teu olhar
Porque se for desejada 
Não tem razão p’ra chorar

Saudade tem sete letras 
Alegria também tem
Por isso, vê lá saudade 
Que todos te querem bem

Saudade tu tens na alma 
Das sete letras que tens
Saudade, tu tem lá calma 
Sabes bem de onde vens