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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Mensagem para homenagem

Silvestre José / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Angelo Oliveira

Eu só quero agradecer
Neste mundo que a crescer
Vai ceifando muita vida
Por mim não lhe levo a mal
È a ordem natural
Prepare-se a despedida

Cruel interrogação
Mora no meu coração 
Sinto que de lá não sai
E digo de mim para mim
Porque teria de ser assim 
Com o meu querido pai?

Como seria melhor
Vê-lo na rua ao redor 
Das coisas de que ele mais gosta
Com tudo o que lhe pertence
Nesta vida que nos vence 
E nos ganha sempre a aposta

Já que o destino não quis
Ele totalmente feliz 
Até ao fim dos seus dias
Que lhe conceda a virtude
De ter alguma saúde 
E mais umas alegrias

Pai, aceita esta mensagem
Que representa a homenagem 
A quem a vida me deu
Quem tem filhos tem cadilhos
Tomara todos os filhos 
Terem um pai como o meu

A roda da vida

Emília Reis e Manuel Guiomar
Repertório de António Mourão

Roda que roda 
Com conta peso e medida
A grande nora da vida
Anda em frente sem parar
Anda que anda 
Enquanto volta e não volta
Pode haver reviravolta
E a roda deixar de andar

Falem que falem
Vivo a vida com prazer
Porque no mundo, a meu ver
Só conta a hora presente
Digam o que digam
Bem ou mal, tanto me faz
Parar è ficar p'ra trás
Meu norte è andar prá frente

A vida tem tristeza, alegria e dor
Também tem horas de amor
Que eu quero aproveitar
Quero viver a vida, como ela è
Como eu gosto e quero, até
A roda deixar de andar

É da torre mais alta

Ary dos Santos / Alain Oulman
Repertório de Amália

É da torre mais alta que eu canto este meu pranto 
Que eu canto este meu sangue, este meu povo
Dessa torre maior em que apenas sou grande
Por me cantar de novo, por me cantar de novo

Cantar como quem despe a ganga da tristeza
Como quem bebe a água da saudade
Chama que nasce e cresce e vive e morre acesa
Chama que nasce e cresce em plena liberdade

Mas nunca se dói, só quem a cantar magoa
Dói-me o Tejo vencido, dói-me a secura
Dói-me o tempo perdido, dói-me o mel da lonjura
Dói-me o povo esquecido e morro de ternura
Dói-me o tempo perdido e morro de ternura

O canto do coração

José Gonçalez / João Gil
Repertório de Cuca Roseta

Trago na voz por encanto
Numa mistura de canto 
A tristeza, e a alegria
São versos dessa novela
Onde a alma se revela 
Em forma de poesia

Trago um cheiro a mar nos versos
Que ficam sempre dispersos 
No verde da felicidade
Que perdidos nas marés
Vêm morrer a meus pés 
Como restos de saudade

Trago os bairros de Lisboa
Embarcados na canoa 
Desse Tejo enamorado
E trago fases de lua
Espalhadas pela rua 
Como pedaços de fado

Sei que tenho aqui ao canto
Todo vestido d' espanto
O canto do coração
Já lhe chamaram lamento
Dor, tristeza, sofrimento
Chamo-lhe apenas paixão

Trago uma tristeza breve
Quando a voz, em mim, se atreve 
A roubar-me o coração
Mas é o canto da alma
Que embora triste, me acalma 
As noites de solidão

E quando uma guitarra
Vai teimando ser amarra 
Dos desejos prometidos
Convoco os búzios da praia
P’ra lançar na minha saia 
A sorte dos meus sentidos

E volto a ser fantasia
E volto a ser alegria 
Toda vestida d’espanto
Sou a voz dos meus poetas
Que encontram palavras certas 
P’ra pôr nos fado que canto

Rosas

Duarte / Carlos Manuel Proença e Duarte
Repertório de Duarte

Mais um domingo em Lisboa 
E já não tens p’ra onde ir
A solidão não perdoa 
Quem não consegue dormir

Ninguém te fala na rua 
Ninguém conhece o teu nome
De que te serve a procura
Se esta mesma te consome?

Secaram as rosas
Secaram as rosas
Matamos… 
Matamos as rosas

Declamado
Os dias trazem fantasmas 
Dos dias todos iguais
Quem anda sempre em viagem 
Não quer ter coisas a mais

Empenhei-me tanto que às vezes 
Inventei que me esquecias
Cantei tanto que às vezes 
Me pareceu que retribuías

Mas não aplaudiste ???
Eu vi que aplaudiste
Viste em mim o doce escorpião 
O solitário príncipe da melancolia

Belo demais p’ra viver
Frágil demais p’ra morrer
Se tudo o resto falhar 
Podes sempre dizer que te menti
Só espero que estejas bem 
E se assim for, que assim seja

Estás cada vez mais sozinho 
Por ventura deprimido
Mesmo quem escolhe o caminho 
Às vezes anda perdido

Secaram as rosas… secaram as rosas
Matámos as rosas… morreram as rosas
Secaram as rosas… matamos as rosas
Morreram as rosas
Secaram as rosas… matamos as rosas, amor
Vou sentir a tua falta

IV acto

Manuela de Freitas / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Camané

Sem memória nem intento
E sempre a recomeçar
Sem mágoa ou ressentimento
Ser apenas alimento
Se eu aprendesse com o mar

Sem rumo nem pensamento 
Sem destino nem lugar
Se eu aprendesse com o vento
Ser apenas o momento 
Que se contenta em passar

Se
eu pudesse, como o vento 
Se eu pudesse, como o mar
Ser apenas elemento
Ar e água em movimento 
Se eu pudesse descansar;
Ai ser o mar e o vento
Ser apenas o que invento 
Se eu pudesse descansar

O som desta guitarra

Silvestre José / Popular *fado das horas*
Repertório de José Guerreiro

Nas cordas desta guitarra
Que liberta o som magoado
Razão de ser duma vida
Sempre dedicada ao Fado

Toda a magia que encerra 
Este som que estou escutando
Que a todos vai apanhando
É a paz depois da guerra
O melhor som desta terra 
Bota, colete, samarra
Tradição que nos amarra 
Neste quadro lindo e fresco
Vê-se todo o pitoresco
Nas cordas desta guitarra     

Escuta-se o rigoroso 
Bem dedilhado a preceito   
No silêncio e no respeito 
Sublime e delicioso      
Tocado por virtuoso 
Prioridade é para o fado
Sentido e corporizado
Paira no ar uma crença
As notas ditam sentença
Que liberta o som magoado  

O tempo vai-se passando 
Dias piores, dias bons
E à guitarra tira sons 
Que mais arrebatam quando
O público está esperando 
Ansioso, mas sentado
E o Armindo concentrado 
Dá início à variação
Da vida que tem na mão
Sempre dedicada ao fado

Logo desde o nascimento 
Tem missão para cumprir
A chorar ou a sorrir 
Subtraindo ao instrumento
Os tons que dão tanto alento 
Feitos de forma sentida
Na chegada e despedida 
De cada letra cantada
Com dicção acentuada
Razão de ser duma vida

Cansado

Moreira da Cruz / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de António Mourão

Tão novo, já tão cansado
Que depressa envelheci
Sou novo, quando a teu lado
Sou velho, longe de ti

Tão cedo cheguei ao fim 
Que caminho percorri
Tenho saudades de mim 
Que depressa envelheci

Mas se me olhas como antes 
Até me esquece o passado
Volto a ser o que era dantes 
Sou novo quando a teu lado

Porém, se te vais embora  
Logo a alegria perdi
Não sou mais o que era outrora 
Sou velho longe de ti

No fim do século

Silveste José / Armindo Fernandes
Repertório de José Guerreiro

No fim do século, o fado
Continua atualizado
Sempre igual, mas diferente
E nova gente conquista
Já não há quem lhe resista
È um poder sempre presente

No salão ou na taberna
Trova que não è moderna 
Tem justamente ambições
De se impor no século novo
Continuando a ser do povo 
Respeitando as tradições

Fado alegre e fado triste
Quero ver quem lhe resiste 
Tanto encanto se desprende
Em cada fado cantado
Se for bem acompanhado 
Há sempre alguém que se rende

Fado que és o meu destino
Logo desde pequenino 
Já te amava sem saber
Canto no século acabado
Se puder vou cantar fado 
No que está para nascer

Mãe amor eterno

Maria de Lurdes Brás / Franklim Godinho
Repertório de Maria de Lurdes Brás 

Ser mãe é sentir a dor
De dar à luz um novo ser
È mostrar o seu amor
De quem ama com prazer

A mãe é uma roseira 
Que desabrocha em botão
É mulher é companheira 
Está presente e sempre à mão

Mãe é Verão é Primavera 
É Outono é Inverno
Não tem idade nem era 
É um amor sempre eterno

São três letrinhas apenas 
Mas que nos soa tão bem
É das palavras pequenas 
A maior que o mundo tem
E não há nada mais doce
Mais doce que amor de mãe

Não quero o teu retrato

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de António Mourão

Não quero mais olhar o teu retrato
Nem lembrar o amor cruel, ingrato
Não quero não, sofrer esta tortura
Não quero mais viver esta amargura

Chorei, amor, meu sofrimento
Abandonado com o meu lamento
Se eu já perdi a felicidade
Quero ficar, quero ficar com a saudade


Amei-te meu amor, p'ra ti vivia
Com a tua vaidade só eu sofria
Por fim, sem um adeus foste-te embora
E o teu amor findou... eu sei agora

Vai de roda

Letra e musica de Duarte
Repertório do autor

Vai de roda, vai de roda
Vai de roda sem parar
Quem nunca esteve na roda
Não pode a roda enganar

Vai de roda, vai de roda
Vai de roda que é tão breve
Tenho uns amigos na roda
Deixam a roda mais leve

Vai de roda, vai de roda
Vai de roda alguns amores
Quantos mais amores na roda
Mais te perseguem as dores

Vai de roda, vai de roda
Vai de roda até ao fim
Já tentei fugir da roda
Mas ela rodou por mim

Fado do destino

José Guimarães / Manuel dos Santos
Repertório de Selma Fernandes

Está escrito no destino, o meu destino
Ao ver-te, o meu passado foi-se embora
Procuro compreender e não atino
Porque gostei de ti naquela hora

Meus olhos te fitaram com amor
Talvez a procurar novas marés
Muralhas que eu não consigo transpor
Desse castelo altivo que tu ès

Encontro com sabor a despedida
Lembranças dum passado que ficou
Fui mais uma a passar na tua vida
Fui rio que teu mar não aceitou

Talvez que estas palavras tão banais
Não cheguem p'ra dizer o que senti
Será melhor não ver-te nunca mais
P'ra não me ver chorar, chorar por ti

O cantar da minha vida

Silvestre José / Júlio de Sousa *fado loucura*
Repertório de José Guerreiro

Escrevo fados com meu jeito
São pedaços encantados 
Arrancados ao meu peito
Nos meus versos brilha a cor
De pensamentos dispersos 
Somados com muito amor

O dedilhar
Da banza que me acompanha
Sensação tão doce e estranha
Que me acolhe e dá guarida
A minha voz
Mostra com simplicidade
Ser de amor e de saudade
O cantar da minha vida

Ao compor este tema
Junto saudade e amor 
Faço nascer o poema
Se è loucura ser assim
Vou viver esta aventura
Que tenho dentro de mim

Chorei não tive vergonha

António Terra / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de António Terra

Dizem que é feio chorar
Eu chorei no teu regaço                
Contigo quis partilhar
Minha dor e meu cansaço

Chorei, não foi p'ra carpir 
Um amor que me fugiu
Ao chorar pude sentir 
O que a tu’alma sentiu

Disso não tenho vergonha 
Se eu me sinto aliviado                
Nesta vida tão medonha 
Que bom estares a meu lado

Meu olhos tu enxugaste 
Doçura vi em teu rosto
Nesse gesto me lembraste 
Minha mãe de quem eu gosto

Bravo, Paulo Caetano

Maria de Lurdes Brás / Cruz e Sousa
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Toureiro com graça
Português de raça, tão bravo e valente
Casaca a brilhar
Na praça vais dar alegria à gente

És bom cavaleiro
E o teu companheiro de real nobreza
Firme na montada
Porque hoje a tourada é bem à portuguesa

Bravo, bravo: grita a gente
Feliz, contente 
Deixas a praça de pé
És o toureiro do ano
Viva o Paulo Caetano
Bravo, bravo 
Meu valente, olé, olé

Dás graças a Deus
Coragem te deu, destreza e bravura
Com calma serena
Enfrentas na arena um toiro Miura

Altivo e imponente
Montas no Valente e começa a lida
Pedindo mais sorte
Enfrentas a morte, arriscando a vida  

Era de noite e levaram

Letra e musica de José Afonso (?)
Repertório de António Mourão

Era de noite e levaram
Quem nesta cama dormia
Nela dormia... nela dormia
Sua boca amordaçaram
Com panos de seda fria
De seda fria... de seda fria

Era de noite e roubaram
O que nesta casa havia
Na casa havia... na casa havia
Só corvos negros ficaram
Dentro da casa vazia
Casa vazia.. casa vazia

Rosa branca, rosa fria
Na boca da madrugada
Da madrugada... da madrugada
Hei-de plantar-te um dia
Sob o meu peito queimada
Na madrugada... na madrugada

A mais linda namorada

Silvestre José / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de José Guerreiro

Adoro, quando chega o entardecer
Olhando o pôr-do-sol, sós, de mão dada
Dizer, sentindo os dedos a tremer
Que tu és a mais linda namorada

Roçar a minha mão nos teus cabelos
Murmurar o meu amor nos teus ouvidos
Beijar com devoção teus lábios belos
Transmitir tudo o que há nos meus sentidos

Contornar a curva suave do teu seio
E ver-me nos teus olhos cristalinos
Abraçar-te, sentindo haver p’lo meio
A força que junta nossos destinos

O pôr-do-sol não é como a aurora
Que rompe duma fresca madrugada
Se um dia meu amor me for embora
Serás sempre a mais linda namorada

Lisboa és

Maria de Lurdes Brás / Alvaro Duarte Simões
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Lisboa que linda és
Com tuas sete colinas
O Tejo beija-te os pés
Saúda as tuas varinas;
Nos bairros de lés-a-lés
Há fado pelas esquinas

Lisboa maravilhosa 
Tu és sol e és luar
De dia és cor-de-rosa 
À noite és prata a brilhar;
És madrugada ansiosa 
De ouvir o fado cantar

Lisboa, és capital 
Deste jardim encantado
És um sonho tropical 
À beira mar plantado;
Lisboa, és Portugal 
Tu és mulher, tu és fado

Levo o fado a Timor

Silvestre José / Armindo Fernandes
Repertório de José Guerreiro

Alimento a esperança
De um dia ir viajar
Ao outro lado do mar
Feliz como uma criança

E num barco cheio de amor 
Vou entregar livremente
Aquele abraço diferente 
A todo o povo de Timor

E quando o barco encostar 
Vai estar gente a entoar
Tendo na mão uma flor 
Tudo gente de Timor
O hino que se vai escutar 
E toda a Díli vai cantar
Escrito com muita humildade 
È o “Timor da Liberdade

Quero dar um contributo 
É nisso que mais aposto
E anuncio com todo o gosto 
Sorriso largo e enxuto

À noite contem comigo 
Vou cantar emocionado
Na bagagem trago o fado 
Canção pra qualquer amigo

E quando a luz se apagar 
Vai estar gente a escutar
Tendo na mão uma flor 
Tudo gente de Timor
É fado que vou cantar 
E a Díli vou dedicar
Desejar felicidade 
Timor em liberdade

Cais de outrora

Luís de Macedo / Alain Oulman
Repertório de Amália

Nos cais de outrora 
Há navios vazios
Nos cais de outrora 
Há navios vazios
E há velas esquecidas do alto mar
São sombrios os rios do recordar

Nos cais de outrora 
Há só barcos cansados
Nos cais de outrora 
Há só barcos cansados
E há remos esquecidos por não partir
Sinto cansaço vago de me fingir

Não há barcos, nem velas
Já não há remos
Não há barcos, nem velas
Já não há remos
Em frente ao mar d’outrora perdi meu cais
Em noite nos perdemos e nada mais

Óh velho Porto

Moniz Trindade / Henrique Terry
Repertório de Moniz Trindade


Oh velho Porto da Batalha e Fontainhas
Das catedrais já velhinhas, das tradições
És a cidade mais franca, mais verdadeira
Desde a bairrista Ribeira até Leixões

Nobre cidade, os teus velhos monumentos
São igrejas, juramentos de gratidão
E se há folia, o teu povo nobre ou rude
Canta com graça e virtude a São João

Óh Porto amigo
Oh cidade nobre e leal
Canta comigo 
Este hino a Portugal
Cidade linda 
Da Praça da Liberdade
Aonde reside ainda 
Também, a saudade

Oh velho Porto, pelos teus feitos de glória
Tens páginas d’oiro na história e és afinal
Berço de heróis que a pátria tem consagrado
E mais fama têm dado a Portugal

Oh velho Porto, chaminés enegrecidas
Cantando hinos à vida no seu afã
Que lindo é ver passar hostes matutinas
Dos gangas prás oficinas, pela manhã

Amar é não voltar duma cruzada

Henrique Segurado / Miguel Ramos
Repertório de António Mourão

Quando o dia na noite se intercala
Fica a vidraça toda ensanguentada
Eu mordo a tua boca, ninguém fala
Amar è não voltar duma cruzada

Procurei-te de noite em minha cama
E tal como te queria, extenuada
Amanhece num pinheiro em verde rama
Amar é não voltar duma cruzada

A pele dos nossos corpos por fronteira
Logo as unhas te querem tatuada
Leva a noite contigo, bem inteira
Amar é não voltar duma cruzada

Amor e fé

Domingos Gonçalves da Costa / Martinho d'Assunção
Repertório de Manuel Fernandes 

Deitou p'ra trás o boné 
E contente a assobiar
Subiu a Rua da Fé 
Levando a fé no olhar

Depois bateu à janela 
Do modesto rés-do-chão
Onde morava a donzela 
Dona do seu coração

E ela vestida de chita bonita
Qual rosinha de toucar
Sai para a rua, dá-lhe o deu braço
E traz promessas no meigo olhar
Ele ao vê-la tudo esquece e parece
De contente, uma criança
E há quem diga que o destino
Juntou nos dois a fé e a esperança


E num dia de bonança 
Na igreja de São José
Casou cheiinho de fé 
Co'a dona da sua esperança

E a partir daquele dia 
Alguém que os vê diz até
Há mais luz e alegria 
Na velha Rua da Fé

Fado dos autores

Tiago Torres da Silva / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Cristina Gonçalves

Não há fado sem poetas
Que trazem, do dia a dia
As palavras mais secretas
P'ra cantar na Mouraria

E sem os compositores 
Que encaixam nas melodias
As alegrias, as dores 
E as nossas fantasias

Tenho uma alma inquieta 
Que não me tem ajudado
Mas diz-me que eu sou poeta 
Cada vez que canto o fado

E se eu ainda m'espanto 
Por ser fadista, talvez
Todos os fados que canto 
Agradeço a quem os fez

Sem desejar ser profeta 
Profeço-te à minha fé
Sempre que nasce um poeta 
O fado aplaude de pé

A tua constipação

Fernando Farinha / Carlos M. Lima
Repertório de Fernando Farinha

Nunca mais te hei-de beijar
Quando estiveres constipada
Levas tempo a respirar
E não se aproveita nada


Sempre um beijo te quis dar 
Sempre um beijo me negaste
E logo no pior dia 
Um beijo meu aceitaste

Porque razão não esperaste 
Altura mais indicada
Beijo è graça por Deus dada  
Que devemos respeitar
Nunca mais te hei-de beijar
Quando estiveres 
constipada

Por favor meu bem, não penses 
Que esta minha afirmação
È com medo que me pegues 
A tua constipação

Imponho a minha razão 
Só porque o beijo me agrada
Sem essa tosse malvada 
Que te faz perder o ar
Levas tempo a respirar
E não se aproveita nada

Endereço do fado

Silvestre José / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de José Guerreiro

Desde o sul até ao norte
O meu povo canta a sorte
De um marinheiro embarcado
Que endurece o coração
E combate a solidão
Cantando um sentido fado

Meu povo tem sentimento
E canta a todo o momento 
Poetas e trovadores
O fado que é seu destino
Dá-lhe o poder divino 
De enaltecer os amores

Povo do fado è feliz
Canta-o por todo o país 
Deixando ver nostalgia
Os sofrimentos guardados
São espelho de tantos fados 
Cada noite em cada dia

Desde o norte até ao sul
Debaixo de um céu azul 
Que a nossa noite ilumina
Meu povo com mágoa canta
E o som de cada garganta 
Mostra ao mundo a sua sina

O fado é minha oração

Maria de Lurdes Brás / Lino Bernardo Teixeira *fado ginguinha*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Que estranho modo de sentir e de cantar
Um sentimento que faz de mim outro ser
E talvez seja esta a maneira de eu mostrar
Este prazer de ser fadista e ser mulher

Eu canto o fado com ternura e muita garra
Seguro o xaile com carinho e muito jeito
E ao ouvir o trinar de uma guitarra
Meu coração quase me salta do peito

A noite negra tem seu encanto e feitiço
Me envolve nesta magia de cantadeira
Gosto do fado quando ele é bem castiço
Eu sou castiça muito à minha maneira

Meu xaile é negro mas meu fado não é não
É com orgulho e altivez que sei cantar
Dou alma ao fado e faço dele uma oração
Eu sou fadista e é assim que sei rezar 

Fado das notícias

Piedade Fernandes / Sidónio Pereira
Repertório de Sara Coito

Notícias leva-as o vento
E novas o vento não traz
Resta no peito um lamento
Que as nossas vidas desfaz

Porém p'ra ti abro o meu leito 
Morno e aconchegado
Onde a chama no meu peito 
Volta a arder contigo ao lado

E quando a vida porém 
Um do outro nos levar
Juro, não digo a ninguém 
Mas vou morrer a chorar

Ainda assim, peço a Deus 
Que não me faça esperar
Pois quem sabe, ainda nos céus 
Te poderei encontrar

A senhora Mouraria

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha 

A Mouraria deixou de ser cantadeira
Já veste de outra maneira 
Está com aspecto mais novo
Lisboa quis ser sua protetora
E fez dela uma senhora 
Já não é mulher do povo

Fez do passado um segredo
Agora deita-se cedo 
E acorda cedo também
E o fado, seu antigo namorado
Já se sente envergonhado 
Da beleza que ela tem

Lisboa 
Disse adeus à Mouraria
E o fado desde esse dia
Com saudade
Sem saber onde morar
Andou perdido a cantar 
Pela cidade
Agora 
Que o Bairro Alto o prendeu
E que o povo o recebeu 
Em sobressalto
Eu
peço nesta cantiga
Que Lisboa nunca diga
Um adeus ao Bairro Alto


A Mouraria já não é a rapariga
Boémia, simples e amiga 
De noitadas e de farra
Não quis o velho xaile franjado
Pôs as cantigas de lado
E até vendeu a guitarra

Já não usa tamanquinhas
Não entra no Campainhas 
Nem se dá com o rufia
Por isso, o velho Apolo, saudoso
Morreu triste e desgostoso 
Com pena da Mouraria

Uma sombra qualquer

Letra e música de Carlos Alberto França
Repertório de António Mourão

Ando perdido na noite do tempo
Como o luar pelo espaço vazio
Olho-me às vezes e não reconheço
O que sobra de mim é meu rosto sombrio

Sonho acordado que tenho o teu corpo
Quero dormir mas o tempo demora
Triste destino de barco sem porto
Como um peso morto ao romper da aurora

Como uma sombra qualquer
Minha vida é viver sem sentido sequer
Disperso de mim, do meu próprio ser
É talvez uma loucura que ainda perdura
Tentar esquecer
Se já não há cura para o meu viver

Ando esquecido daquilo que fui
Pelo amor que a teu lado vivi
Onde estou eu que já não sei quem sou
Desde o dia cinzento em que te perdi

Imaginar o que farás agora
Que te encontraste e és feliz finalmente
É o veneno que hoje me devora
Porque eu fiquei só num mundo tão diferente

Conselhos para quê

Mote de Augusto Gil / Glosa de Carlos Conde 
Música de Adriano Batista *fado macau*
Repertório de Fernando Maurício

Maria da da Graça é uma
Cachopa, de olhos em brasa
Usa
cigarros, não fuma
Mas tem cinzeiros
em casa

Tem
na sala de visitas 
Veludos, divãs d'espuma
E se há cachopas bonitas 
Maria da Graça é uma

Dotada de graça infinda 
Todos lhe arrastam a asa
É p'ra outros a mais linda 
Cachopa, de olhos em brasa

Dorme
de bem durante o dia
Liberta de crise alguma
Diz que não quer companhia 
Usa cigarros, não fuma

Se não é certa a resposta 
P'ra quem os nervos arrasa
Não fuma porque não gosta 
Mas tem cinzeiros em casa

Esta fome de viver

Vasco Lima Couto / Jaime Santos *fado alfacinha*
Repertório de Vasco Rafael

Esta fome de viver
Esta fome de cantar
Este cruel movimento
De quem não sabe esperar

Este falar de infinito 
Tão finito no prazer
Tão reservado em meu grito 
Como a fome de viver

Este sair para a rua 
Como quem se apressa a entrar
E na loucura insinua 
Esta fome de cantar

Este olhar sem direção 
Feito de esquinas de vento
Mercenário coração 
Deste cruel movimento

Tem um retrato e um nome 
Na carta de marear
Venham ajudar a fome 
De quem não pode esperar