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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Cantar dos ventos

Manuel Tomé / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Helena Leonor

Cantam ventos bem diferentes
Baladas p'ra outras gentes
Na rua do meu encanto
Por serem já conhecidas
E por demais já ouvidas
Não devem causar-me pranto

Não pode entender o vento
No seu riso ou seu lamento 
Quem todo o sopro acarinha
Não sei se valeu a pena
Aquela brisa serena 
Que não foi tua e foi minha

Envoltas num turbilhão
As folhas mortas p'lo chão 
Nas ruas desta cidade
Tristes, perdidas, sem cor
Traídas e sem amor 
Levam consigo a saudade

Agora tudo mudou
E a brisa que então soprou 
Lançou tudo ao abandono
Agora não sei quem era
A brisa da primavera 
Que é hoje vento de outono

Vi chuva no trigo loiro

Maria Manuel Cid / José António Sabrosa
Repertório de António Mourão

Ouvi o silêncio a rir
Enquanto a noite chorava
E na manhã que há-de vir
O dia que madrugava

Vi chuva no trigo loiro 
E sede nos arrozais
Vi correr atrás do oiro 
E ficar pobre demais

Vi gente dormir na lama 
Com tanto amor de sobejo
E outros, que tendo cama 
Nunca tiveram um beijo

Vi quem, vivendo de dores 
Inveja quem já morreu
E desgraçados maiores 
Muito maiores do que eu

Berço de madeira

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha

Berço de madeira onde eu fiz ó ó
Relíquia sagrada da infãncia passada
Já desfeita em pó
Berço
de madeira, barco pequenino
No mar do destino

Meu berço velhinho, a tua existência
Foi a sentinela da minha inocência
Como gratidão à tua amizade
Dou-te esta canção feita de saudade


Berço de madeira, pequena lembrança
Ninho de poesia que eu vivi um dia
Quando era criança
Quem dera poder dormir e sonhar
No teu embalar


Tu és, na verdade

A minha saudade

Solidão adeus

Maria de Lurdes Brás / Raúl Portela *fado magala*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Anda vem ficar comigo
Completas o meu ser
Viver sem ti não consigo
Ès parte do meu viver

Ajuda-me a subir o muro 
Comigo de braço dado
Quero chegar ao futuro 
E ter alguém a meu lado

Será sempre Primavera 
Se tu estiveres a meu lado
Com amizade sincera 
O amor è reforçado

Vida a dois è mais feliz 
É menor a solidão
Pomos os pontos nos is 
Lemos a mesma lição

Quando um coração bate 
Junto de outro coração
Fica a tristeza de parte 
E diz-se adeus solidão

O abraço da saudade

Silvestre José / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Edna

Sei que a vida me pregou uma partida
Deixou-me só no mundo com a paixão
Senhora desta dor sem ter medida
Que preenche e magoa meu coração

Caminho pela vida amargurada
Na mente um pensamento que é distante
Que me desperta e mantém apaixonada
Nos trilhos do amor, caminho errante

Sei que a vida me impôs este castigo
E encheu meu coração de sofrimento
Sou barco que perdeu porto de abrigo
Sorrio, pra disfarçar cada lamento

Só peço ao coração pra suportar
A dor que me enlouquece, que me enlaça
É tão duro e penoso o caminhar
Nada mais, só a saudade é que me abraça

Beijo perdido

Dr. Lobato / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Fernanda Maria

O beijo que te não dei
Foi ao acaso e morreu
Na boca que se não quer
Quis dar-lhe vida e sonhei
Que te beijava, e viveu
Nos lábios dessa qualquer

De boca em boca, perdido
Sobre o mar da ilusão 
Deixava marcas de fado
Sonho d'amor não vivido
A chorar recordação 
De nem sequer ter passado

No abandono do mar
Onde as algas são a teia 
Do nada que me tornei
Regressou p'ra te beijar
Vestido de maré cheia 
O beijo que te não te dei

Canção dos ciumes

Domingos Gonçalves da Costa / Adelino dos Santos
Repertório de Manuel Fernandes

Disseste há pouco
Que detestas meu ciúme
Ciúme que se resume
Em te querer mal que te vi
Ciúme louco
Na minha alma nasceu
Ao ver que a terra e o céu
Também gostavam de ti

Se não me queres ciumento 
Porque te cause desgosto
Diz à lua, ao sol e ao vento
Que nem sequer um momento 
Venham beijar o teu rosto

Diz às estrelas também 
Que tirem o brilho, o lume
Que esse teu estranho olhar tem
Se assim o fizeres, meu bem 
Nunca mais terei ciúme

Sofro, é verdade
Se a brisa te vem beijar
E se atrevido, o luar
Te envolve em beijos de luz
Por caridade
Se isto é ciúme, desculpa
Mas não sou eu quem tem culpa
Da minha pesada cruz

A minha loucura

Maria Manuel Cid / Alfredo Duarte *fado mocita dos caracóis*
Repertório de Fernanda Maria

São dum verde acinzentado
Os olhos que ando à procura
Teria o vento levado
Esses pardais de telhado
Causa da minha loucura

Teria o vento do cume 
Dessa montanha d’amor
Num ataque de ciúme 
Tirado a brasa do lume
E mudado a sua cor

Vestido de negro manto 
Levado p'ra outro lado
Coberto de triste pranto 
Roubado todo o encanto
Desse verde acinzentado

Sei esperar

Aníbal Nazaré / José Magalhães
Repertório de Tony de Matos

Ó meu Deus, que mulher bela
Ensinou-me o que é esperar
Nasci p’ra esperar por ela
Só ela não quer chegar

Todos têm o seu bem
A mulher que os acarinha
Lá vem uma, não sei de quem
E só não vem a que è minha

Sei esperar
Sei sofrer a toda a hora
Diz que me quer, que me adora
E sei que a adoro também
Sei esperar
Já lá vem, não, não é ela
Não sei de quem é aquela
Mas a minha, essa não vem

Passo as horas na esperança
De que um dia há-de chegar
Mais pareço uma criança
Sem brinquedo p’ra brincar

Outra vem, é ela, enfim
Não, não è, Deus não o quis
Chegará tarde p’ra mim
A hora de ser feliz

Cantar e pensar em ti

Manuel Tomé / Joaquim Campos *fado rosiita
Repertório de Helena Leonor

Nas minhas noites de fado
Eu canto a pensar em ti
Mesmo sem estares a meu lado
Eu sinto que estás ali

Por onde andas não importa 
Já não te quero lembrar
Quero esta saudade morta 
Que não me deixa ao cantar

Tento mentir ao cantar 
Canto o que a alma sente
É a saudade a lembrar 
Que de mim andas ausente

Sê ao menos meu amigo 
Faz-me crer nessa verdade
Fingirei que ando contigo 
Fica mais leve a saudade

Essência do fado

Silvestre José / Armando Augusto Freire *fado estoril*
Repertório de Edna

O fado que há em mim, percorre as minhas veias
Aquilo que sinto em mim, no tempo de o cantar
É um vinho generoso, servido em taças cheias
De aroma invulgar e que nem sei explicar

Eu gosto de sentir, nas margens do meu canto
Do fado a sua essência, também seu romantismo
Dessa canção eterna, que faz o meu encanto
Bebo alguma tristeza, também o seu lirismo

Bebo cada palavra, das linhas dum poema
Assim posso matar, minha sede gritante
Se sinto o poema em mim, a ligação é suprema
E o meu canto sentido, é momento exultante

Meus sentidos despertos, se deixam embalar
Nos versos descobertos, que canto com rigor
Percorro este caminho, onde me quero encontrar
Com o peso da saudade, também com o do amor

Minha casa é portuguesa

Maria de Lurdes Brás/ Ricardo Borges Sousa *fado da idanha*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Minha casa é sossegada
Sinto-me bem dentro dela
Quando rompe a alvorada
Entra o sol pela janela

Tem janelas pequeninas 
Enfeitadas com vitrais
E no verão as andorinhas 
Fazem ninho nos beirais

Tem no tecto uma candeia 
Está virada para o mar
Em noites de lua cheia 
A luz è a do luar

Fica ainda mais bizarra 
Com o calor da lareira
Tem lá dentro uma guitarra 
Mora lá uma cantadeira

É pequena como um ninho 
Não tem luxo nem grandeza
Há fado, amor e carinho 
É uma casa portuguesa

Quimera ou sonho

Maria de Lurdes Brás / José António Sabrosa *fado velho*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Cansada da solidão
Mandei embora a saudade
Abri o meu coração
Hoje vivo em liberdade

Nesta vida de amargura 
Nada serve viver só
Alimenta-se a loucura 
E o amor é cinza e pó

Noite, mágico luar 
Madrugada, negro fado
Manhã de sol a brilhar 
Dia de sonho adiado

Na amargura dos meus ais 
Feitos p’ra me endoidecer
Eu direi que nunca mais 
Vou lembrar p’ra te esquecer

Nesta magia bizarra
Do meu sonho de menina
Encontrei numa guitarra 
Quimeras da minha sina

Bendito amor

Fernando Farinha / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de Fernando Farinha

Se o meu amor sofreu cruel tormento
Vivendo à tua espera, sempre triste
Bendito seja o próprio sofrimento
Porque maior valor deu ao que hoje existe

Se o meu amor nasceu só para ti
E amor igual mais tarde recebeu
Bendita seja a esperança em que vivi
Bendita seja a fé que Deus me deu

Se a minha voz cantou, alto e bom som
Amor que o coração lhe transmitia
Bendita seja a voz que teve o dom
De fazer da tristeza uma alegria

Se o nosso amor nasceu, há-de viver
Por mais que os outros falem do seu fim
Bendito o teu amor que assim me quer
Bendito seja eu, por ser assim

Cada um tem o seu fado

Domingos Gonçalves da Costa / Manuel Fernandes
Repertório de Manuel Fernandes

Amor, ondes estás, aonde moras
O que fizeste das horas
Tão felizes, que vivi
Esperei e desesperei à espera
Embalado na quimera
De viver só para ti

Agora que só em sonhos te vejo
Sinto assaltar-me o desejo
De te cingir nos meus braços
E embora te procure a cada instante
Cada vez estás mais distante
Do caminho dos meus passos

Não sei onde páras, aonde moras
Se ès feliz, se ris ou choras
Se te esqueceste de mim
Portanto, vou cantando esta canção
Esperando, talvez em vão
Que
o meu sonho chegue ao fim

O tempo que tudo faz e destrói
Pôs nesta dor que dói
A luz que me tem guiado
Que importa que alguém ria desta dor
Se na vida ou no amor
Cada um tem o seu fado

Rigorosamente

Maria de Lurdes Brás/ José Marques *fado rigoroso*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Isto que vou cantar é rigoroso
Por isso canto rigorosamente
Não tenho na guitarra o Vimioso
Mas tenho alguém que toca e o fado sente

O fado é deveras tentação
A gente ouve e sente-se atraído
É como se o pobre coração
Tocasse na flecha do cupido

É por isso que eu vivo apaixonada
Por o fado, p’la viola e p’la guitarra
E sonho muitas vezes acordada
Que o fado é uma corda que me amarra

O fado doce, terno e mavioso
Cantá-lo eternamente quem me dera
Tal qual aquele fado rigoroso
Cantado tantas vezes p’la Severa

Ai Alice

Jorge Brandão / Jerónimo Bragança
Repertório de Manuel Fernandes

Ai Alice, quem foi que te disse
Que foi garotice o que eu te pedi
Ai Alice, que grande tolice
Eu sempre te disse que gosto de ti

Desconfias por tudo e por nada
Que grande maçada a tua má fé
Bem podias dar mais confiança
Comigo, descansa, não perdes o pé

Ai Alice vê lá que maldosas
Que intriguistas amigas possuis
Eu estou pronto a jurar
Qe nunca amei outra mulher
Com uns olhos tão bonitos
Como os teus olhos azuis;
Ai Alice não cortes caminho
E não andes com medo de amar
Ai Alice eu fico ceguinho
Se agora me negas a luz desse olhar


Ai Alice, se tu me quisesses
Talvez que dissesses que sou de bom tom
Ai Alice, não sejas prudente
Porque finalmente amar è tão bom

Desconfias dum beijo em segredo
Porquê
tanto medo se um beijo entre dois
È a coisa mais simples do mundo
Respira bem fundo e diz-me depois

Amor velhinho

Letra e música de Fernando Farinha
Repertório do autor

Na minha rua 
Mora um casal de velhinhos
Numa casinha singela
Todos os dias
Os dois, muito agarradinhos
Vão pôr-se junto à janela
Ela a sorrir para ele
E ele a sorrir para ela

Pela tardinha
Lá vão com passo arrastado
Ao jardim que fica ao lado
Da igreja que os casou
E quem os vê
Quem os vê, tal como eu vejo
Diz sempre, em ar de gracejo
Deus os fez, Deus os juntou

Durante a noite
Como não temem ladrões
Deixam a porta encostada
A felicidade é a riqueza dos dois
Por ninguém será roubada;
E melhor que a felicidade
Não há lá dentro mais nada

Quem ali passa
Pergunta sempre aos vizinhos
Se este casal de velhinhos
Teve filhos algum dia
Não têm filhos
Porque Deus viu lá do céu
Que o grande que lhes deu
Chega bem p'ra companhia

Amor negado

João Dias / Sidónio Pereira, Pedro Machado
Repertório de António Mourão

Contigo foi o sol que havia em mim
E me aquecia a alma e todo o corpo
Tão fria era a noite e tão sem fim
Na distãncia de ti, meu sonho morto

As rosas que os teus dedos inventaram
Em cardos transformadas me rasgando
E todos os meus dias se apagaram
Em sombras que a meu lado estão chorando

Alongo os meus braços
Estendo a minha boca
Na ideia louca de vencer espaços
Olho à minha volta 
O tempo parado
E grito a revolta deste amor negado


Romance sem romance, negra história
Do teu nome constante em meus ouvidos
E a doer-me o corpo, esta memória
Do teu corpo agarrado aos meus sentidos

Em cada folha morta p'lo outono
Varrida p'lo rigor da tempestade
Há farrapos de mim ao abandono
Rolando na poeira da saudade

O fado entrou-me na vida

Silvestre José / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de José Guerreiro

O fado entrou-me na vida
P’la porta do sofrimento
Nem tu sonhas minha querida
Tristeza desse momento

Passados mas não esquecidos 
Dias em que abri a ferida
Despertei os meus sentidos 
O fado entrou-me na vida

As horas não tinham fim 
Vivi com meu sentimento
Vi chegar o fado assim 
P’la porta do sofrimento

Saudade que não me largas 
Não esqueci minha partida
Foram lágrimas amargas 
Nem tu sonhas minha querida

Com o coração apertado 
Mostrando meu desalento
Já deixei neste meu fado 
Tristeza desse momento

Com sentido

Maria de Lurdes Brás / Fontes Rocha *fado dos sentidos*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Se não fossem tuas mãos
O meu rosto acariciar
Carinhos puros e sãos
Jamais iria encontrar

Quando teus olhos me olham 
Bem fundo dentro de mim
Em silêncio os meus choram 
Vibra meu peito sem fim

Se me falas com ternura 
Tem sentido a minha vida
Vai para longe amargura 
Volta, esperança perdida

Se a tua boca me beija 
Com sentido amor profundo
Já nada em mim se deseja 
Sinto-me dona do mundo

Canto aquilo que escrevi

Silvestre José / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de José Guerreiro

Canto aquilo que escrevi
As mágoas que já vivi
A razão dos meus dilemas
Comecei com um rascunho
E agora com o meu punho
Vou escrevendo alguns poemas

Em cada letra que invento
Vou buscar o meu sustento 
Que me dá vida e vigor
Escrevo a minha liberdade
Também escrevo com saudade 
E faço versos de amor

Escrevo a minha descoberta
Procuro a palavra certa 
Cada palavra è encanto
Escrevo dor e alegria
Dou largas à fantasia 
Escrevo ao riso e ao pranto

Cada verso è uma aventura
Poesia, minha loucura 
Luta que nunca perdi
Ao cantar aquilo que escrevo
Dou ao fado aquilo que devo 
Canto aquilo que escrevi

A rua dos desejos

Letra e musica de Manuel Fernandes
Repertório de  Manuel Fernandes

Foi na rua do desejo 
Que ele encontrou sua amada
Disse apenas um gracejo 
Não gostou, ficou zangada

Não deixou de a acompanhar 
Dizendo: se não se importa
Gostava de conversar 
Que o amor bateu-me à porta

Mas quem lhe deu confiança 
P'ra falar comigo assim?
Repare que a vizinhança
Não deixa de olhar p'ra mim

Se o teu olhar é só meu 
Minha vida será tua
Foi sina que Deus nos deu 
Morarmos na mesma rua

Se dás conta do que faço 
Se dou conta do que fazes
Vizinha, dá-me o teu braço 
E vamos fazer as pazes

Pazes feitas deu ensejo 
P'ra deixarem de brigar
Pois na rua do desejo 
Já nasceu um novo lar

Se querem saber quem sou

Silvestre José / Alfredo Duarte *marcha do marceneiro*
Repertório de José Guerreiro

Quando chega certa idade
E bate à porta a saudade
Do tempo em que era menino
Dá vontade de cantar
Um fado pra relembrar
O que me fez o destino

Vou-me assim apresentar
Aos que me estão a escutar 
Que como eu, amam o fado
Meu nome é José Guerreiro
Nasci filho do Barreiro 
Com caminho já traçado

A vida é como um rio
Representa um desafio 
Cada um quer ser primeiro
Há muito que eu não vejo
Essa margem sul do Tejo 
Porque fiquei em Aveiro

Tenho uma alma fadista
Que não quer perder de vista 
O condão que trouxe ao mundo
Canto pra vós meus amigos
Ricos, pobres ou mendigos 
Com sentimento profundo

Fado triste, com amargura
Também pode ter ternura 
Pouca vez o fado é sorte
Está no sangue de quem canta
Corre na minha garganta 
Vou cantá-lo até à morte

Aguarela ribatejana

Maria Nelson / Jaime Santos
Repertório de Manuel Fernandes

Um Tejo alegre e contente 
Um campo de sol e oiro
A lezíria sempre ardente 
Um campino mais um toiro

Uma espera, uma corrida 
Uma vela sobre o Tejo
Uma sorte, uma colhida 
Tudo isto è Ribatejo

Ó Ribatejo
Terra mimosa e louçã
De Samora a Salvaterra
Da Chamusca à Golegã
Ó Ribatejo
De calção e de barrete
Anda o mar beijando a terra
De Montijo a Alcochete


Num alegre colorido 
Sem tristezas e sem mágoa
Anda o fandango batido 
P'las gentes da Borda d'água

Andam forcados varinos 
Sempre abraçados ao Tejo
Com os valentes campinos 
Dos campos do Ribatejo

A noite é meu abrigo

Maria de Lurdes Brás / Joaquim Campos *fado puxavante*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Mal o sol se vai embora
Surge a lua lá no céu
É na noite que ele mora
Esse fado que é tão meu

Com o fado me entretenho 
Nele encontro um bom amigo
É na noite que eu tenho 
Esse meu eterno, abrigo

Esta força de viver 
Que me dá a noite escura
Vivo a noite com prazer 
Sinto alegria e ternura

Na madrugada se acoite 
Esta minha solidão
É no abrigo da noite 
Que guardo o meu coração

Se a noite me dá guarida 
Meu coração está consigo
Se ao fado entrego a vida 
Faço da noite um abrigo

Fado-viagem-lição

Silvestre José / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de José Guerreiro

Fiz viagem pelo fado
Cantando sem estar errado
Pedro Rodrigues com glória
Na Marcha do Marceneiro
Perseguição por inteiro
Que lindo, o fado Vitória

Cigano sem alarido
Corri no fado Corrido 
E puxei no Puxavante
Ao som do Carlos da Maia
No Zé Negro fiz-me faia 
Fado Cuf é diamante

No Britinho lembrei vidas
Vividas no Margaridas 
Sentidas no Esmeraldinha
Alberto ou fado Latino
Do Proença fiz destino 
Descrito no Vianinha

Como um Porto loiro e tinto
Entoei o Raúl Pinto 
E um Bailado muito bravo
No Dois Tons eu fui assim
Trinei no fado Franklim 
Não esqueci Menor e Cravo

Envolvente foi Isabela
Do Meia-noite ao Varela 
Um Tango de olhos enxutos
Fado Freira é uma quimera
Tamanquinhas, Primavera 
Terminei cantando os Putos

Motivos sobre a saudade

Carlos Cunha / Popular *fado menor*
Repertório de Tristão da Silva

Quando a saudade vier
Morar dentro do teu peito
Então é que vais saber
Todo o mal que me tens feito

Não sabes avaliar 
A dor que meu peito sente
Porque é que vamos gostar 
De quem não gosta da gente

Saudade poema lindo 
É como a rosa em botão
Quando
mais se vai abrindo 
Mais perfuma o coração

Perguntaste o que é saudade 
Talvez seja, creio eu
Vontade de ver de novo
Um amor que se perdeu

A saudade foi-se embora 
Ao voltares naquele dia
E eu sinto saudade, agora 
Da saudade que sentia

Brilhem as manhãs

Maria de Lurdes Brás/ José António Silva *fado bacalhau*
Repertório de Nuno de Aguiar

Correm as nuvens no céu
Apagaram-se as estrelas
Brilha menos meu olhar
Nem o teu sorriso é meu
E nem as palavras belas
Nunca mais te ouvi falar

Eu fui só uma aventura
Um jogo por ti jogado 
Uma breve novidade
De ti só fica amargura
Não vou ficar baralhado 
Nem de ti vou ter saudade

Há sorrisos bem ardentes
Olhos que dizem verdades 
Bocas que falam sem querer
Tu não sabes o que sentes
O teu mundo é só vaidades 
Falas sem nada dizer

À vida eu agradeço
Até as palavras vãs 
As tristezas e alegrias
Por amor a Deus, só peço
Nasçam todas as manhãs 
Brilhe o sol todos os dias

À cidade do labor

Silvestre José / Manuel Maria Rodrigues manel maria*
Repertório de Angelo Oliveira

São João sem ser o santo
É uma cidade de encanto
Trabalhadora e ordeira
Não falo dum São qualquer
Pra que fiquem a saber
É São João da Madeira

Bem perto do litoral
Capital de Portugal 
Na indústria do calçado
Quem tiver cabeça ao léu
Cá encontra algum chapéu 
Pois aqui è fabricado

È concelho bem pequeno
No entanto atinge o pleno 
Olhando ao nível de vida
Cidade nova onde abunda
Tanta mas, tanta rotunda 
Linda se estiver florida

Emblema idolatrado
Muito industrializado 
O povo lhe tem amor
Que cá passa nunca esquece
Esta terra se conhece 
Pelo seu grande labor

Desde sempre ganhou fama
E acendeu sua chama 
Que mantém viva a madeira
Dum São João laborioso
Operário voluntarioso 
Com trabalho de primeira

A jóia que eu te dei

Maria de Lurdes Brás / Jorge Fontes
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Essa jóia que te dei 
Em forma de coração
É de ouro e de lei 
Representa uma paixão

Esta paixão que eu sinto 
A arder dentro do peito
E a ninguém eu consinto 
Que te ame deste jeito

Essa jóia 
No teu peito pendurada
É o símbolo do amor
Da mulher apaixonada
Essa jóia 
Não é uma jóia qualquer
É um coração de ouro
Um coração de mulher

Entreguei meu coração 
Para o homem que escolhi
Tu és a minha paixão 
Desde a hora em que te vi

Essa jóia pequenina 
Tem amor e tem querer
Representa a minha sina 
De ser tua até morrer

Mensagem para homenagem

Silvestre José / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Angelo Oliveira

Eu só quero agradecer
Neste mundo que a crescer
Vai ceifando muita vida
Por mim não lhe levo a mal
È a ordem natural
Prepare-se a despedida

Cruel interrogação
Mora no meu coração 
Sinto que de lá não sai
E digo de mim para mim
Porque teria de ser assim 
Com o meu querido pai?

Como seria melhor
Vê-lo na rua ao redor 
Das coisas de que ele mais gosta
Com tudo o que lhe pertence
Nesta vida que nos vence 
E nos ganha sempre a aposta

Já que o destino não quis
Ele totalmente feliz 
Até ao fim dos seus dias
Que lhe conceda a virtude
De ter alguma saúde 
E mais umas alegrias

Pai, aceita esta mensagem
Que representa a homenagem 
A quem a vida me deu
Quem tem filhos tem cadilhos
Tomara todos os filhos 
Terem um pai como o meu