-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

. . .

Soneto inglês

Alexandre O‘Neill / Luís Figueiredo
Repertório de Miguel Xavier

Como o silêncio do punhal num peito
O silêncio do sangue a converter
Em fio breve o coração desfeito
Que nas pedras acaba de morrer

Vive em mim o teu nome, tão perfeito
Que mais ninguém o pode conhecer
É a morte que vivo e não aceito
É uma vida que espero não perder

Viver a vida e não viver a morte
Procurar noutros olhos a medida
Vencer o tempo, dominar uma sorte

Atraiçoar a morte com a vida;
Depois morrer de coração aberto
E no sangue o teu nome já liberto

Já não estar

Manuela de Freitas / José Mário Branco
Repertório de Camané

Se às vezes numa rua, num lugar
Eu penso que um dia hei-de morrer
Sei que tudo o que tenho vou deixar
Aqui onde hoje estou, deixo de estar
E tudo quanto sou deixo de ser

Medo da morte não consigo ter
Mas outros mais humanos e banais
Medos que a gente tem mesmo sem querer
Como o medo que eu tenho de morrer
Só por querer viver um pouco mais

Se consigo a meu modo estar no céu
Mesmo vivendo neste chão de inverno
Se apenas sou árvore que cresceu
No espaço e no tempo que é o meu
Para que havia eu de ser eterno

Mas como as minhas cinzas vão ficar
Debaixo de uma pedra do jardim
Meu amor, tu sabes onde me encontrar
E uma flor sobre a pedra vais deixar
De cada vez que te lembrares de mim

Café dos teus olhos

Letra e música de Tozé Brito
Repertório de Cláudia Picado c/ Tozé Brito

 O voo saiu a horas 
Há seis horas que voamos
Mas eu voo para ti
Desde que nos separamos

Vou a caminho de ti
Estou mais perto do céu
Quando olho para terra
As nuvens são o teu véu

Sem o café dos teus olhos
Já não consigo acordar
Quero encontrar os teus braços
Quando por fim aterrar

As luzes vão apagadas
Para apagar mil cansaços
Mas no silêncio do voo
Consigo ouvir os teus passos

Vou a caminho de ti
Estou mais perto de mim
Eu só sei voar contigo
Será para sempre assim 

Graças de Lisboa

António Vilar da Costa / Mário Laginha
Repertório de Miguel Xavier

De manhã começa a lida
Gente p’ra cá e p’ra lá
Cantam pardais na avenida
Vem gente da boa vida
Vai gente prá vida má

Abre o sol os bastidores 
E o drama começa já
Entram no palco os atores 
Lágrimas, sangue, suores 
Gente p’ra cá e p’ra lá

Os pregões bailam no espaço 
E ao fim da noite perdida
Sonolenta de olhar baço
Vencida p’lo cansaço 
Vem gente da boa vida

E num contraste profundo 
Da sorte que Deus nos dá
Com um sorriso jucundo
A fim de dar vida ao mundo 
Vai gente prá vida má

Lugar comum

João Vinhas / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Cláudia Picado

Dos erros vulgares da vida
Fica uma sombra escondida
Que ao simples fado dá luz
Tristeza, culpa, saudade
Amor cego de verdade
Que o meu destino conduz

Por pouco saber da gente
Finge a alma que não sente 
A amargura de deixar
Pois se a dor em mim morrer
Talvez não venha a saber 
Quanto amor se pode dar

Mesmo que eu nunca chore
O tempo que não demore 
A trazer o esquecimento
Tão perigosa a paixão
Que nos condena a razão 
Com tamanho sofrimento

No lento passar dos dias
Com tantas horas vazias 
Quis à tristeza por fim
Mas se a outro amor pertence
A saudade que não pense 
Que se afastará de mim 

Devagar coração

Mário Rainho / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Cláudia Picado

Coração deixa a emoção
A paixão, a imensidão
Dessas coisas do amor
Tudo tem tempo, compasso
Vai a passo, não és de aço
Vai devagar por favor

Não me dês cabo do peito
Nesse teu jeito, imperfeito 
De correr acelerado
Quero ir devagarinho
Com carinho, pelo caminho 
Onde tenho o meu fado

Se terei que ser saudade

Na minha idade, ela há-de 
Ser aquilo que Deus queira
Posso até mandá-la embora
Na hora em que ela implora 
P’ra ficar à minha beira

Por isso que não me impeça
Essa pressa que tropeça 
Quando o amor quero cantar
E a minha voz se apouca
Quase rouca, quase louca 
Coração, mais devagar 

Velhinho fado menor

Maria Manuel Cid / Popular
Repertório de João Braga

Fado menor meu castigo
Meu pecado original
Que trago sempre comigo
Sem ter feito nenhum mal

Velhinho, levas a vida 
A pedir por quem padece
E quem a sente perdida 
Confia na tua prece

Saudade, tristeza, amor 
Em cada nota dolente
São preces do cantador 
A rezar por toda a gente

Nenhuma dor já sofrida 
Pode igualar o tormento
De cantar a dor da vida 
E morrer de sofrimento

Quando me chamas mulher

Tiago Torres da Silva / Guilherme Banza
Repertório de Cláudia Picado

Ando a ver se dás à costa
Acendo uma vela
A ver se tenho resposta
Da santinha da capela

Se a santa não desembucha
Diz-me o coração
Que talvez deva ir à bruxa
Para pedir mais uma opinião

Mas nem Pai-Nossos nem Avé-Marias
Me podem fazer esquecer
O quanto tu me arrepias
Quando me chamas mulher;
Não posso perder-te
E se as cartas de tarôt
Dizem que devo esquecer-te
Eu digo; isso é que não vou


Quando vir uma cigana
Vou estender-lhe a mão
A ver se ela não se engana
E me lê o coração

Ao ler-me a linha da vida
Diz tim-tim por tim-tim
Que não há outra saída
Tu não vais voltar para mim

Lágrima

Letra e música de Roque Ferreira
Repertório de Lenita Gentil

Lágrima por lágrima 
Hei-de te cobrar
Todos os meus sonhos 
Que tu carregaste
Hás-de me pagar

A flor dos meus anos
Meu olhos insanos
De te esperar
Os meus sacrifícios
Meus medos, meus vícios
Hei-de te cobrar

Cada ruga 
Que eu trouxer no rosto
Cada verso triste 
Que a dor me ensinar
Cada vez que no meu coração 
Morrer uma ilusão

Hás-de me pagar
Toda a festa que adiei
Tesouros que entreguei 
À imensidão do mar
As noites que encarei sem Deus 
Na cruz do teu adeus
Hei-de te cobrar

Fragilidade

Jorge Fernando / Guilherme Banza
Repertório de Cláudia Picado

Se tu te rires de mim por eu ser triste
Por ti o amor não vale esta tristeza
É porque nunca amaste ou não te viste
Nas mãos de um amor que nos rouba a defesa

Se esta fragilidade não entendes
Por me dizeres que é coisa de momento
O pensamento é fútil se pretendes
Saber do amor à luz do pensamento

Deixa-me ser triste como estou
Pois por sermos pessoas tão diferentes
Este amor tão triste a que me dou
Não podes entender porque o não sentes 

Põe o teu lenço encarnado

José Luís Gordo / Jaime Santos *fado alfacinha*
Repertório de Miguel Ramos
    
Põe o teu cravo encarnado
E a tua saia rodada
Vamos os dois para o fado
E abraçar a madrugada

Depois eu canto o Menor
O Corrido e o Mouraria
E canto para ti, meu amor
A loucura da alegria

Nas lutas das guitarras
Ficas de todas as cores
Na minha voz há cigarras
Cantando vivos amores

E a tua saia rodada
Com o sol agigantado
Ilumina a noite toda
E dá mais vida ao meu fado

Meu velho fado

Mário Rainho / Carlos Dionísio
Repertório de Helena Nunes

Não sei que lhe aconteceu
Parti à sua procura
Mas onde é que ele se meteu
Nesta noite fria e escura
No coração azedume
Em ciúmes me desolo
Com os meus olhos em lume
Lá o vi como é costume
Com uma guitarra ao colo

Meu velho fado
Só me fazes coisas destas
Tu queres fadistices, festas
Sem horário de chegar
Meu velho fado
Só me dás razões de queixas
Tu não penses que me deixas
Sozinha em casa a chorar

Cantei-lhe o fado das horas
Em que fico amargurada
Pois não quero mais demoras
Ou em casa há desgarrada
Atirou-me no corrido
Uns versos, que fez à toa
Em que disse, convencido
Que queria ficar comigo
C'uma guitarra e Lisboa

Amor, tem calma

António Rocha / Fontes Rocha
Repertório de Cláudia Picado

Meu amor vai devagar
Que a pressa é má conselheira
Há sempre tempo pra’amar
Se a paixão é verdadeira

Meu amor não tenhas pressa 
Deixa-me estar sossegada
Cautela não te aconteça
Quereres tudo e ficares sem nada

Quem tudo quer tudo perde 
Por isso vê se me entendes
Tu ainda estás muito verde 
Pra teres tudo o que pretendes

Não vale a pena correr 
Meu amor vai devagar
Ainda acabas por perder 
O que desejas ganhar

Meu amor toma cautela 
Porque se o meu pai amua
Passo a ficar à janela 
E tu de plantão na rua

Não te apresses amor meu 
Nem um minuto sequer
O que tiver de ser teu 
Há de ser quando eu quiser 

A manhã é uma andorinha

Vasco de Lima Couto / Alfredo Duarte *mocita dos caracóis*
Repertório de Amália

A manhã é uma andorinha
Que se esqueceu da viagem
E voa em meu pensamento
Trazendo a cada momento
A noite na tua imagem

O dia lá fora é o dia
Que marca os passos no chão
Mas é tão cedo este amor
Que eu fecho tudo em redor
Das praias do coração

Ponho as mãos sobre o teu corpo
E, no instante de sonhar
Se o teu amor me encaminha
A manhã é uma andorinha
Que se lembrou de ficar

Cantigas e beijinhos

Emílio Vidal / Casimiro Ramos
Repertório de Maria Portugal

Dá-me o braço, meu amor
E vamos de braço dado
Acertar o nosso passo
Ao compasso desejado

Vamos rir, vamos cantar
Na marcha da nossa rua
Conjugar o verbo amar
Tu és meu e eu sou tua

Vamos fazer um vistão… 
Pois então
A bailar constantemente
É noite de São João… 
Porque não
À vista de toda a gente
Mas depois, às escondidas… 
Não digas
Que não vai saber melhor
Misturado com cantigas
Nossos beijinhos d’amor

Os balõezinhos no ar
Até vão mudar de cor
Ouvindo repenicar
Tantos beijinhos d’amor

Mas a festa continua
Diga o mundo o que disser
Porque na marcha da rua
Cada qual faz o que quer

Despertei

Linhares Barbosa / Casimiro Ramos
Repertório de Maria Manuela Silva 
Embora com algumas diferenças na letra
este tema tem sido constantemente gravado 
com o título *Julguei endoidecer* na música do 
Fado Esmeraldinha de Júlio Proença e com a letra 
atribuída a Tristão da Silva
- - -
Julguei endoidecer quando partiste
Deixando entre nós dois, funda barreira
Ficou dentro de mim, a noite triste
Feita de sombras negras, sem clareira

Durante dias, fui folha caída
Que o vento vai levando sem destino
Bebi, sofri, chorei, mal disse a vida
E tive, por meu mal, outro caminho

Um caminho cruel, porque a saudade
Falou em mim, mais alto que a razão
Não me deixando ver esta verdade
Não há homem que valha uma paixão

Vou regressar à vida que vivi
Quero voltar a ser tal como outrora
Maldito seja o dia em que te vi
Bendito sejas tu, p'la vida fora

- - -
Julguei endoidecer
Tristão da Silva / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Alcindo de Carvalho


Julguei endoidecer quando partiste
Deixando entre nós dois, funda barreira
Ficou dentro de mim, a noite triste
Feita de sombras negras, sem clareira

Durante dias, fui folha caída
Que o tempo vai levando sem destino
Fumei, chorei, bebi, mal disse a vida
E desejei morrer, morrer por ti

Cretino, sim eu fui, porque a saudade
Falou em mim, mais alto que a razão
Não me deixando ver esta verdade
Não és mulher que valha esta paixão

quero voltar à vida que vivi
Quero voltar a ser tal como outrora
Maldito seja o dia em que te vi
Bendita sejas tu, p'la vida fora

Alfama não envelhece

Amadeu do Vale / Carlos Dias
Repertório de Celeste Rodrigues

Alfama não envelhece
E hoje parece mais nova ainda
Iluminou a janela
Reparem nela como está linda

Vestiu a blusa clarinha
Que a da vizinha é mais modesta
E pôs a saia garrida
Que só é vestida nos dias de festa

Becos escadinhas
Ruas estreitinhas
Onde a cada esquina há um bailarico
Trovas nas vielas 
E em todas elas
Perfumes de manjerico
Gritos, gargalhadas
Fados, desgarradas
Hoje em Alfama é o demónio
E a cada canto 
O suave encanto
Dum trono de Santo António

Já se não ouvem cantigas
E as raparigas de olhos cansados
Ainda aproveitam o ensejo
De mais um beijo dos namorados

Já se ouvem sinos tocando
Galos cantando à desgarrada
Mas mesmo assim dona Alfama
Não vai para a cama sem ser madrugada

Guitarra imaginada

António Torre da Guia / Raúl Portela *fado magala*
Repertório de Fernanda Moreira

Se bem do corpo te tiro
Gemidos duma guitarra
É contigo que eu deliro
E minh'alma se desgarra

Se os meus dedos percorrem 
Teu corpo unido ao meu
Sinto que os anjos não dormem 
Quando me acordam no céu

Se te afago com ternura 
Encostada a meu peito
Para ouvirmos a loucura 
O silêncio é mais perfeito

Se te deito recolhida 
Em protegido remanso
Dos fados todos da vida 
Tu descansas e eu descanso

Se um dia a noite chegar 
De luto e solidão
Não te esqueças de afinar 
As cordas do coração

Vidas iguais

Fernando Campos de Castro / Jaime Santos *fado alvito*
Repertório de Fernanda Moreira

Quando chegaste a meu lado
Tinhas o corpo cansado
De saudade e abandono
Deixaste em mim a loucura
Que dá luz à noite escura
Nas minhas noites sem sono

Peguei-te nas mãos abertas 
E percebi descobertas
Que nunca tinhas vivido
Beijei-as tão docemente 
Que descobri, de repente 
Que nunca as tinha sentido

E quanto mais eu me dava 
O teu corpo se entregava
Como nunca o tinha feito
Deixando liberta e nua 
A minha alma e a tua
Suspensas fora do peito

Era um amor que nascia 
E a pouco e pouco acendia
Dois corpos na mesma chama
Duas vidas tão iguais 
Em voos horizontais
No céu aberto da cama

Vestida de palavras

Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa 
Repertório de Tony de Matos

Vestida de palavras a canção é desejo
É sede de beijar-te como tu nunca foste
Teu corpo nú devassar
Possuir-te devagar, amor
Como a raiz faz ao chão
A sol com fome de receber e dar

Vestida de palavras a canção é desejo
É sede de beijar-te como tu nunca foste
Teu corpo nú, país de tentação
Emoldurado nos meus olhos
Moreno como chão
Aberto em flor canção

Quando tu sorris, que poema
Há no teu olhar, melodia
Tu és som, és cor, és o tema
Da canção feita com amor

Derradeiro reencontro

António Torre da Guia / Casimiro Ramos *fado oliveira*
Repertório de Fernanda Moreira

Vivo a doer dia a dia
Entre o pêndulo das horas
E o gemer da solidão
Agarrado à fantasia
Que me diz que tu demoras
Mas não espero em vão

Conforta-me a oração
Do fado que me enamora 
E canta dentro do peito
O amor de perdição
Que um dia se foi embora 
E deixou tudo desfeito

À sombra do imperfeito
Outra sombra à deriva 
Vagueia dentro de mim
E às vezes até suspeito
Que estou em carne viva 
A sofrer meu próprio fim

Adormeço e, enfim
Mergulhado na quimera 
Meu corpo em sonho atravessa
O luminoso jardim
Onde me dizes: espera 
Meu amor, não tenhas pressa

A vida é só amor

Maria da Graça Vilar / Jaime Santos
Repertório de Fernanda Maria

Não deites contas à vida
Que a vida é para viver
Sem a noção de medida
Desde o berço, até morrer

Se quiseres experimentar 
Jogá-la de olhos fechados
Tudo terás a ganhar 
Quando Deus lançar os dados

Entrega-a na sua mão 
Como quem dá o que tem
E perderás a ilusão 
De seres neste mundo, alguém

E assim poderás amar 
Com infinita medida
Pois só terás a lucrar 
Nessa jogada perdida

Então hás-de compreender 
Seu verdadeiro valor
Só então hás-de viver 
Porque a vida é só amor

Poema do fim

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Tony de Matos

A onda acaba na areia
O fumo acaba no ar
O dia acaba na noite
E eu acabei por te amar

Acaba a mágoa profunda
No desejo de viver
A chuva acaba no sol
E eu acabei por te ver

O outono acaba no inverno
A flor acaba no chão
E eu acabei por te dar
A alma e o meu coração

Tributo saudosista ao Fado

José Fernandes Castro
Os nomes que não constam deste tributo são suficientes 
para muitos mais tributos!

Para entender melhor o sentimento
Que a poesia dá em rima ou prosa
Queria ter vivido nesse tempo
Do Carlos Conde e do Linhares Barbosa;
E também d’outros poetas de craveira
Radamanto e Gabriel de Oliveira

Para entender melhor o tal talento
Que só tem quem já nasce abençoado
Queria ter vivido nesse tempo
Em que o Farinha era o próprio fado;
O Manuel de Almeida já dizia
Que do fado, não era quem queria

Queria ter vivido nesse tempo
Em que Vieitas, Peres e Gabino
Carlos Ramos, Tristão e Natalino
Cantavam encantando o próprio vento;
Do tempo do António baladeiro
Do Vicente e do Alfredo Marceneiro

Queria ter vivido nesse tempo
Em que Tony, Mourão e Chico Zé
Conseguiam agitar e pôr de pé
O povo, em perfeito encantamento;
Do tempo em que o Max e o fado
Passeavam quase sempre lado a lado

Mas sou do tempo do grande Maurício
Carlos do Carmo, Zel e Pelarigo
Rodrigo que andará sempre comigo
Nesta união de amor, feitiço-vício;
António Rocha e Nuno de Aguiar
Que ao fado muito têm para dar

Sou do tempo do grande Camané
Do Pedro e do Hélder, seu irmão
Do Ricardo Ribeiro, porqu'ele é
Suporte do amor à tradição;
Do Daniel Gouveia, professor
Do Jorge, que já é Comendador

Falando novamente em poesias
O mote com o qual cheguei aqui
Direi que sou do tempo do Ary
De Rainho, de Tiago e João Dias;
Do tempo em que muitos, muitos mais
Sendo tão desiguais, são imortais

Talvez a inspiração volte a aparecer
Pra que possa falar entusiasmado
Nas vozes femininas que a meu ver
Perfumaram de amor o nosso fado;
Berta Cardoso, Celeste, Beatriz
Lucília, Amália, fado de raiz

Argentina, Valejo, Nazaré
Maria Armanda e Maria da Fé
Maria Portugal, José da Guia
Leopoldina e Fernanda Maria;
Existem outras mais que foram santas
Existe fado em muito mais gargantas

Nomes de enorme grandeza
P'la nobreza / p'la firmeza 
E p'la beleza maior
Consagrados justamente
Por quem sente / ainda presente 
Essa gente de valor;
Gente a quem o fado deve
O que teve / e o que não teve 
Em nome dum grande amor

Na boca de toda a gente

Tiago Torres da Silva / Daniel Gouveia *fado daniel*
Repertório de Linda Leonardo

Se eu te disser ao ouvido
Que o fado me tem pedido
Para ninguém o cantar;
Por favor, guarda segredo
Porque o fado está com medo
Que alguém o queira matar

Anda tão envergonhado
Que diz que já nem é fado 
Nem julga que o fado exista
Porque quem sente vaidade
Em dar abrigo à saudade 
Já não pode ser fadista

E depois o fado diz
Que não pode ser feliz 
Na boca de toda a gente
E que talvez a meu lado
Possa voltar a ser fado 
Como era antigamente

É por isso que eu lhe digo
Que quando lhe dou abrigo 
Sinto o peito tão cansado
E um dia, talvez consiga
Que ao chorar o fado diga 
Que quer voltar a ser fado

Linda Leonardo

Acróstico a Linda Leonardo
Tributo de José Fernandes Castro 

Lavei a alma com fados
Inventados p'la saudade;
Nascendo d'alma lavada
Dentro desta voz rimada
A que me dou com verdade

Lembrei-me de viver
Enquanto o coração
Ocultava a magia
Nascida só por nós;
Assim, como quem quer
Rasgar a solidão
Descrevi em poesia
O som da tua voz

Libertei-me da saudade
Intensa e tão dolorida;
Nem mesmo assim sou melhor
Deus sabe que o nosso amor
Algemou a minha vida

Rei sem coroa

Tony Carolas  / Jorge Fernando
Repertório de Ana Maurício 

Tu és o rei 
Sem nunca teres governado
Foste por grei 
Um fado dentro do fado

E tudo em ti… Maurício
Me faz sonhar
Pois no fado nunca ouvi 
Alguém assim a cantar

Tanto fado é cantado
De que foste o criador
És cantado em todo o lado
Fernando, tu és o fado
E serás sempre o maior
Esta é a homenagem
Que eu te quero prestar
Um prémio à tua coragem
Pois tua voz e imagem
Vão pra sempre perdurar

E se algum dia 
Uma estátua alguém te erguer
A Mouraria 
Cá estará prá receber

Acho normal 
Perpetuar a tua imagem
P'ra que o fado, afinal 
Te vá prestar vassalagem