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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Beijo enganador

Maria do Rosário Pedreira / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Aldina Duarte 

Desde sempre tu soubeste
Que eu não era a tua vida
Porque me foste beijar?
Nesse beijo que me deste
Eu não vi a despedida
Só o direito a sonhar

Por isso, fiquei à espera
Incapaz de acreditar 
Que nunca mais voltarias
Mas murchou a Primavera
O Verão tardou a passar 
Fizeram-se as noites frias

E só então entendi 
Que há quem escolha a sua sorte 
E quem não possa escolher
E foi já longe de ti 
Que dessa espécie de morte 
Tirei força para viver

Foi pena que me beijasses
Porque a ferida ainda arde 
Na boca e no coração
E mesmo que tu voltasses
Um beijo dado mais tarde 
Não apaga a solidão

Casa do esquecimento

Aldina Duarte / Acácio Gomes *fado bizarro
Repertório de Aldina Duarte 

Amei-te com os laços da virtude
Prendi-me nos teus braços que beijei
Bebi no teu olhar, a juventude
À pele da tua boca murmurei

Impossível cantar a realidade
No dia em que disseste o que não digo
Matei dentro de ti toda a saudade
E tudo o que era teu ficou contigo

Um quarto, um agasalho, uma mesa
Os restos pela casa do esquecimento
Num canto o desenho da tristeza
Lembranças duma vida feita ao vento

Olhos turvos

Letra e musica de Branco de Oliveira
Repertório de Artur Batalha

Que paixão voraz me abrasa 
Por temer o teu adeus
Meu peito é a tua casa
Marcada com beijos teus

Se é lascivo o teu amor
Isso só pra mim é pouco
Como a terra prende a flor 
Preso a ti eu ando louco

Mesmo que mintas 
E que não sintas amor por mim
Diz que me amas 
E que me chamas até ao fim
O amor é luz que o céu produz
Pra quê sofrer
Mesmo que vás, que vás em paz
Hei-de viver

Ao ver fixo o teu olhar 
No passado ou no futuro
Sou capaz até de amar 
Como vês, por Deus te juro

É o inferno ao dormires 
Nos teus braços eu desperto
Tenho pena que suspires 
E que eu não esteja perto

Prelúdio

David Mourão Ferreira / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto

Tombam secretas madrugadas
E rios densos de pavor
De tuas pernas devassadas
Por meu instinto e meu amor

Em teus joelhos levantados
Tocam as pontas de uma estrela
Quaisquer receios de pecados
Empalidecem à luz dela...

E as tuas ancas repousadas
Para que o meu corpo se concentre
Esperam, cativas, que as espadas
De amor, se cravem no teu ventre

À distância

Carlos Leitão / Jorge Fernando
Repertório de Carlos Leitão 

Na distância que me deixa sem te ver
Há a saudade a sufocar-me sem gritar
O sangue quer correr mas já não corre
O dia quer morrer mas já não morre

Porque ao cantar 
Seremos sempre a sede eterna
Do meu corpo por te amar

Não sei ser apenas eu
Escreverei as cartas vãs em alma nua
Não sei ser apenas eu
A chuva certa e o teu nome pela rua

E como não sei ser apenas eu
Deixa-me a distância, meu amor
Pois só assim 
Te sei mentir como estou bem
Chorar-te o meu sorriso
Como se fosse preciso
Chamar-te amor
Como não sei chamar a mais ninguém

Não sei o quê, desgosta

Fernando Pessoa / Luíz Caracol
Repertório de Ana Laíns

Não sei o quê desgosta
A minha alma doente
Uma dor suposta
Dói-me realmente

Como um barco absorto
Em se naufragar
À vista do porto
E num calmo mar

Por meu ser me afasto
Pra longe da vista
Do incerto mundo 

Traição

Diogo Clemente / Carlos da Maia
Repertório de Carolina

Olha bem o que fizeste
Minha paixão, minha morte
Olha bem pró que sou eu
Se num beijo me prendeste
Outro beijo, triste sorte
Levou tudo o que morreu

Longa espera trouxe o vento
E as letras do teu nome
Meu amor do meio adeus
Dei a vida ao meu lamento
Sentei-me à espera da noite
E das mãos quentes de Deus

E essas mãos na minha dor
Como um corpo de cetim
São a força que a sustém
Olha bem, meu grande amor
Não te espero ao pé de mim
Mas não quero mais ninguém

Eu, tu e a guitarra

José Guimarães / Francisco Viana *fado vianinha
Repertório de Maria da Assunção

Juntinhos, de braço dado          
Logo que a noite apareceu
Lá fomos bater o fado
A guitarra, tu e eu

Não houve quem não olhasse 
O meu decote atrevido
E até houve quem beijasse 
A rosa do meu vestido

Eu dei uma gargalhada 
Por aquele atrevimento
E ao ver-me assim descarada 
Tu ficaste ciumento

Ciúme, não deves ter 
Por eu dar assim na vista
Se pra ti sou a mulher 
Prós outros sou a fadista

Não há traição nestes modos 
E esta afeição continua
Porque a fadista é de todos 
Mas a mulher é só tua

Sem palavras

Maria do Rosário Pedreira / António Vitorino d’Almeida
Repertório de Carlos do Carmo 

Quando eu tinha o teu amor 
Não me sentia à vontade
Para dizer quanto te queria
Mas não podia supor
Que, por guardar a verdade
Tu julgasses que eu mentia

Podia continuar mudo 
Que as palavras não são tudo
Mais importa o que é vivido
Mas digo-te cá do fundo 
Que ainda dava a volta ao mundo
Na roda do teu vestido

Quando estiveste ao meu lado 
Faltou-te da minha boca
Uma jura de paixão
E, ao veres-me assim tão calado 
Cismaste até ficar louca
Numa história de traição

Agora, que já te entendo 
Confesso que me arrependo
Do coração tão fraco
E digo sem hesitar 
Gostava mais de cantar
Com as bandas do teu casaco

Virtudes fadistas

Almeida Barreto / José Duarte *fado seixal*
Repertório de José Freire 

Pra ser amante do fado
Muita virtude é precisa
Ter presente e ter passado
Não amar e ser amado
Ao domingo ir à corrida

Ser bom apreciador 
Do batidinho a dobrar
Cantar fado por amor 
Cem por cento amador
Sem ninguém querer imitar

Beber tinto carrascão 
Sem o bom humor perder
Ser nobre de coração 
Usar de reputação
E ter ciúme a valer

Nunca ter sido cobarde 
Seja lá quem o enfrentou
E nunca fazer alarde 
Mesmo que seja verdade
Da mulher com quem andou

Se te agradar, sendo assim 
Põe teu xaile e vem cantar
E se cantares só pra mim 
Ficarás no meu jardim
Das flores, a titular

Fim de linha

Jorge Fernando / Armando Machado *fado mortalha*
Repertório de José Manuel Barreto 

Cheguei hoje ao fim da linha
Cumpri todo o meu trajeto
Não me culpes, não foi minha
A culpa de estares sozinha
Sem as mãos do meu afeto

Quando o gesto se apequena
Na carícia do afago
Há uma voz que me condena
À luz estreita da pena
Das penas que por ti trago

Se me resolvo é por crer
Que quando me olho no espelho
É que ele então, me faz ver
Que se um amor não doer
Nunca vai morrer de velho

A nossa lua

Mário Raínho / Rão Kiao
Repertório de Cláudia Leal

Deita-se a lua no céu
Só pra nos puder ‘spreitar
Como é o amor meu e teu
Quer a lua adivinhar
Se nos sabemos amar

E vai descendo até nós
E da janela faz seu leito
E como não nos deixa sós
No teu escondo o meu peito

Minguante…
Quarto tão crescente

Passa a noite e a madrugada
O nosso amor se agiganta
Fica a lua tão corada
Mas d'ali não se levanta

Sei-te

Mafalda Arnauth / Fernando Alvim
Repertório de Ana Laíns

Sei-te de cor 
Como o sol em dia de calor
Que sossega tanta mágoa
Que anda comigo onde eu for
Sei-te maior que o adeus 
Que nunca aconteceu
Se partir não tem lado melhor
Pois de que lado sou eu?

Não sou de cá
Que esta margem não sustenta
Perdi a conta às vezes que ela me tenta
Dizer que um dia 
Vai ter fim tanta tormenta
Que em qualquer lado hás-de estar
P'ra meu consolo

E então vou voltar à nossa casa
Vou beber dos nossos sonhos toda a vida 
Que ficou à espera que eu seja a tua asa
Que te leve a viver mais uma vez
Em mim e no amor que me alimente
Não há margem que sustente 
Este rio que iremos ser

Casa

David Mourão Ferreira / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto 

Tentei fugir da mancha mais escura
Que existe no teu corpo e desisti
Era pior do que a morte o que antevi
Era a dor de ficar sem sepultura

Bebi entre os teus flancos a loucura
De não poder viver longe de ti
És a sombra da casa onde nasci
És a noite que à noite me procura

Só por dentro de ti há corredores
E em quartos interiores, cheiro a fruta
Que veste de frescura a escuridão

Só por dentro de ti rebentam flores
Só por dentro de ti a noite escuta
O que sem voz me sai do coração

Quando o sol

Luís Vaz de Camões / José Campos e Sousa
Repertório de Ana Laíns 

Quando o Sol encoberto vai mostrando
Ao mundo a luz quieta e duvidosa
Ao longo duma praia deleitosa
Vou na minha inimiga imaginando

Aqui a vi, os cabelos concertando
Ali, co’a mão na face tão formosa
Aqui, falando alegre, ali cuidosa
Agora estando queda, agora andando

Aqui esteve sentada, ali me viu
Erguendo aqueles olhos tão isentos
Aqui movida um pouco, ali segura

Aqui se entristeceu, ali se riu
Enfim, nestes cansados pensamentos
Passo esta vida vã, que sempre dura

Maria

Letra e música de José Afonso
Repertório de João Braga 

Maria, nascida no monte 
À beira da estrada
Maria, bebida na fonte
Nas ervas criada
Talvez que Maria s’espante 
De ser tão louvada
Mas não, quem por ela se prende
De a ver tão prendada

Maria, nascida no trevo
Criada no trigo
Quem dera Maria
Que o trevo casara comigo
Prouvera a Maria sem medo
Crer no que lhe digo
Maria, nascida no trevo
Beiral do mendigo

Maria, de todas primeira
De todas menina
Maria, soubera a cigana 
Ler a tua sina
Não sei se deveras se engana 
Quem demais se afina
Maria, sol da madrugada
Flor de tangerina

Promessa de amor

Ricardo Rosa / Armando Machado *fado cigana*
Repertório de José Manuel Barreto 

Numa promessa de amor
Sem uma lágrima ou dor
Pus o sonho e criança
E agora que te não tenho
Sou apenas do tamanho
Que já nem a vista alcança

Tu partiste antes da hora 
Agora minh’alma chora
Desfez-se aquela esperança
De te levar, vida fora 
Acordar-te a cada aurora
Como o vento de mudança

E desfeita a minha crença 
Sinto agora tua presença
Nesta noite, a esta hora
Mas já nada me detém 
Vivo agora mais além
E sem ti p'la vida fora

Quadras soltas

Henrique Rego / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Alfredo Marceneiro 

Junto ao moinho cantando
Lavam roupa as lavadeiras
Os patos brincam nadando
Arrulham pombos nas eiras

As fontes da minha aldeia 
Murmuram, gemem em coro
As águas que vão correndo 
Levam consigo o meu choro

Às vezes contemplo o moinho 
Que além de velho, não cai
Formado no casalinho 
Que era do pai do meu pai

A luz que brilha no monte 
Que triste vejo daqui
É a luz humilde e pobre 
Do casal onde nasço

Não queiras ir prá cidade 
Deixa-te estar, que estás bem
Não tens amor à herdade 
Onde morreu tua mãe

Moinho desmantelado 
Pelo tempo derruído
Tu representas a dor 
Deste meu peito dorido

Subitamente

Teresa Sachetti / Miguel Ramos
Repertório de Carlos Zel 

E é subitamente perceber
A ausência dos gestos e da voz
Cantar baixinho todas as canções
E saber que esta noite estamos sós

Uma dor leve mas que me magoa
Um bater devagar, do coração
A penas dos momentos que já fomos
A minha pele chamando a tua mão

Sabemos que amanhã já não é nada
Mas que hoje o teu cheiro dorme aqui
Enquanto não chega a madrugada
Eu vou escrevendo versos para ti

Há uma estrada na vida

Linda Leonardo / Alfredo Duarte Marceneiro
*tema enviado pela autora*
Repertório de António José Proença

Há uma estrada na vida
Por todos nós percorrida
Do nascer até morrer
Há os que nascem com sorte
Desde o berço até à morte
N’aventura de viver

Têm muitos, por condão
A constante negação 
De sonhos e ideais
Caminhos interditados
E portões sempre fechados 
Em direitos desiguais

Outros, a cada segundo
Julgam ser donos do mundo 
E mais gente, que os demais
Senhores de pratas e leis
Podem nascer como reis 
Mas na morte são iguais

Por quem me tomas?

Ana Nunes / Jorge Nunes
Repertório de Jorge Nunes 

Por quem me tomas?
Porque me julgas tão errado?
Quantas demoras 
No meu ser quase apagado
Sou sempre o mesmo
Mesmo que o tempo mude a vida
Mas tu insistes 
Em julgar-me alma perdida

Deixa que os teus olhos vejam
Por entre a sede da minh’alma
Pra que em mim sejam
O que em mim nada se acalma

Porque foges como o vento        
Pla mais dura tempestade
És de mim um só lamento
E eu em ti, sou por metade

Quebram-se os laços
De tais promessas proferidas
Quando em teus braços
Demos rumo às nossas vidas

Dou-te os lamentos
Que maltrataram nosso história
Restam-me alentos
Que se acolhem na memória

Voz da água

Letra e música de João Ferreira Rosa
Repertório de Carlos Zel 

Oiço a voz da água
Lembro que te ouvi
Na esperança que tenho
Ainda não morri
Oiço a minha mágoa 
Quando penso em ti
Lembro que mantenho 
Quanto não perdi:
Não perdi o sonho
Cada dia triste
Fado mais medonho 
Quando a noite insiste

Vejo, brilham estrelas 
Entre os ramos verdes
Dá-me gosto vê-las
Quanto não perdi
Não perdi o sonho 
Da esperança que tenho      
Oiço a voz da água 
Quando penso em ti:
Fado mais medonho
Lembro que te ouvi
Oiço a minha mágoa
Ainda não morri

Talvez amanhã

Fernando Tavares Rodrigues / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto 

Talvez amanhã eu saiba
Talvez amanhã eu diga
Talvez amanhã eu caiba
Nas palavras que te diga

Entretanto, que sei eu?
Eu, que não sei o que sou
Depois do que aconteceu
Apesar do que acabou

Mas vamos dormir agora
Que a manhã é uma promessa
Que o teu sorriso devora
Vamos despir-nos depressa;
Ainda temos uma hora
Antes que o sonho adormeça