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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Subitamente

Teresa Sachetti / Miguel Ramos
Repertório de Carlos Zel 

E é subitamente perceber
A ausência dos gestos e da voz
Cantar baixinho todas as canções
E saber que esta noite estamos sós

Uma dor leve mas que me magoa
Um bater devagar, do coração
A penas dos momentos que já fomos
A minha pele chamando a tua mão

Sabemos que amanhã já não é nada
Mas que hoje o teu cheiro dorme aqui
Enquanto não chega a madrugada
Eu vou escrevendo versos para ti

Há uma estrada na vida

Linda Leonardo / Alfredo Duarte Marceneiro
*tema enviado pela autora*
Repertório de António José Proença

Há uma estrada na vida
Por todos nós percorrida
Do nascer até morrer
Há os que nascem com sorte
Desde o berço até à morte
N’aventura de viver

Têm muitos, por condão
A constante negação 
De sonhos e ideais
Caminhos interditados
E portões sempre fechados 
Em direitos desiguais

Outros, a cada segundo
Julgam ser donos do mundo 
E mais gente, que os demais
Senhores de pratas e leis
Podem nascer como reis 
Mas na morte são iguais

Por quem me tomas?

Ana Nunes / Jorge Nunes
Repertório de Jorge Nunes 

Por quem me tomas?
Porque me julgas tão errado?
Quantas demoras 
No meu ser quase apagado
Sou sempre o mesmo
Mesmo que o tempo mude a vida
Mas tu insistes 
Em julgar-me alma perdida

Deixa que os teus olhos vejam
Por entre a sede da minh’alma
Pra que em mim sejam
O que em mim nada se acalma

Porque foges como o vento        
Pla mais dura tempestade
És de mim um só lamento
E eu em ti, sou por metade

Quebram-se os laços
De tais promessas proferidas
Quando em teus braços
Demos rumo às nossas vidas

Dou-te os lamentos
Que maltrataram nosso história
Restam-me alentos
Que se acolhem na memória

Voz da água

Letra e música de João Ferreira Rosa
Repertório de Carlos Zel 

Oiço a voz da água
Lembro que te ouvi
Na esperança que tenho
Ainda não morri
Oiço a minha mágoa 
Quando penso em ti
Lembro que mantenho 
Quanto não perdi:
Não perdi o sonho
Cada dia triste
Fado mais medonho 
Quando a noite insiste

Vejo, brilham estrelas 
Entre os ramos verdes
Dá-me gosto vê-las
Quanto não perdi
Não perdi o sonho 
Da esperança que tenho      
Oiço a voz da água 
Quando penso em ti:
Fado mais medonho
Lembro que te ouvi
Oiço a minha mágoa
Ainda não morri

Talvez amanhã

Fernando Tavares Rodrigues / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto 

Talvez amanhã eu saiba
Talvez amanhã eu diga
Talvez amanhã eu caiba
Nas palavras que te diga

Entretanto, que sei eu?
Eu, que não sei o que sou
Depois do que aconteceu
Apesar do que acabou

Mas vamos dormir agora
Que a manhã é uma promessa
Que o teu sorriso devora
Vamos despir-nos depressa;
Ainda temos uma hora
Antes que o sonho adormeça

Fado Zé Manel

Miguel Coelho / Pedro Pinhal
Repertório de José Manuel Barreto 

Para ti que me livraste do deserto
Da triste solidão em que vivia
Ao fazer-me desejar, eu sentia
O amor do teu coração aqui tão perto

Procuro encontrar-te na distância
Deste grito imenso do teu peito
Neste querer amar-te tão perfeito
Deste louco viver mudado em ânsia

Por ti meu amor aqui é cantado
Nestas palavras tantas vezes ditas
Desta tela de um poema inscritas
Deste meu mais sentido e feliz quadro

Adeus, sê feliz

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de António Mourão

Foi só pra ti, pra ti que eu vivi
Tu foste toda a minha vida
Mas já nem sei se o amor que te dei
Foi uma ilusão perdida

Tu não estás mais a meu lado
E o meu coração magoado
Vive num mundo de dor
Eu nem sei bem o que sinto
E nem sei se ainda minto
Quando ‘inda falo de amor

Da felicidade
Só há saudade

E tudo passou, e nada mais ficou
Do que um amor só destroçado
Eu vou viver somente pra esquecer
Fazer do presente, o passado

Só espero que ainda um dia
Tu penses com nostalgia
Em mim, que tanto te quis
Digo-te adeus para sempre
Com carinho, docemente
Adeus amor, sê feliz

Canto três

Júlio Pomar / António Vitorino d’Almeida
Repertório de Carlos do Carmo 

Pá… o amor é urgente
Não dêem cabo da gente 
Do que temos de melhor
De que o Paredes dizia
Que era a própria poesia 
Porém sem menção d’autor

E para mais quanto ao resto
Saia o gado sem cabresto 
Dispensando-se o preceito
D’evitar o trinta e um
Ó meu tens aí algum 
E não digas bom proveito

A uma história esquisita
Na qual à Maria Rita 
Uns dentinhos de pescada
Na boca do corpo dita
Vieram à dita confita 
E a pobre amargurada

Nas noites desta Lisboa
As garinas numa boa 
Pela Travessa da Palha
Olhos fechados a mundos
Vindos do fundo dos fundos
Daquela triste batalha

D’Alcácer Quibir, dou fé
Morremos todos de pé 
Não digas à minha mãe
Varina da Madragoa
Que julga estar em Lisboa 
Um presidente em Belém

E se o fim ela não vê
Pede ajuda ao Carlos Tê 
Que não é parto sem dor
O disparate da vida
Uma história mas par’cida 
Com desfecho hardcore

Ronda dos quatro elementos

Rosa Lobato Faria / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Carlos Zel

Os meus lábios deslizam-te na pele
A murmurar palavras inventadas
E ombro e seio e pé e coxa e espádua
Ganham nomes de terra fecundada

Porém, se acaso a água nos possui
Já são corais as partes do teu corpo
E tens algas nos pés, conchas azuis
No ventre nas orelhas, no pescoço

Mas se é o fogo rubro que me exalta
E à sua língua ardente é que me inflamo
Busco na labareda o que me falta
E são de chama os nomes que te chamo

E quando, enfim, mais lento o ar me toca
E a dolente carícia me deleita
Trato por cotovia a tua boca
Chamo gaivota à tua mão direita

Fado e Lisboa

Guilherme Pereira da Rosa / Francisco Carvalhinho
Repertório de Fernanda Maria 

Saudade é pena... saudade é mágoa 
Saudade é pranto
Dor que serena... olhos com água 
Fado que canto

Saudade é vida... saudade é morte 
Saudade é brado
É esta lida... é esta sorte 
É este fado

Saudade em mim
É que dá expressão ao fado
E canto assim
Meu coração destroçado
Ando distante
E meu fado quando soa
Tem, palpitante
Fado e Lisboa

Saudade é reza... água passada 
Mal que sentimos
Saudade presa... não pesa nada 
Quando fingimos

Mas a saudade... nem qualquer sente 
Tenho a certeza
Porque a verdade... pertence à gente 
É portuguesa

Fado do tempo morto

Carlos Leitão / Popular *fado menor*
Repertório de Ana Laíns

Se o tempo não chega a ser
Mais que as horas a passar
Talvez o mal de perder
Me deixe um dia ganhar

Das mil voltas que já dei 
Ao mundo que já foi meu
Fica-me o tem em que amei 
Todo o mundo que era teu

Talvez de mim me perdesse 
E me esquecesse de ti
Então o tempo dos dois 
Seria o que não vivi

Não sei bem se ainda te quero 
Se é sina que Deus me deu
Meu amor, se não te espero 
É porque o tempo morreu

A verdade da mentira

Sebastião Antunes / Paulo Loureiro
Repertório de Ana Laíns 

Coisas que o mundo não me quer contar
Ou eu não sei entender
Coisas que a vida me quer ensinar
E eu não quero aprender
Será que os rios sabem o caminho do mar
Pra lá chegar… ou alguém lhes vem mostrar

Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada;
Mas se eu
 te contar a verdade
E te disser que é mentira
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira

Por trás do muro há uma voz a falar
Deste lado nada se vê
Dizem-me sempre par’acreditar
Mas não me dizem em quê
Tantas palavras cruzadas perdidas plo ar
E eu a pensar… como as hei-he eu arrumar?

Partida

Manuel de Andrade / Jaime Santos
Repertório de João Braga 

Dos meus passos, ao partir
Não há rasto nem poeira
Não há rumo nem porvir
Parto sem saber partir
Mas parto à minha maneira

Longe ou perto, aonde seja 
Meus passos não pararão
Tarde ou cedo, quem os veja 
De mais ódio e mais inveja
Fará deles o que são

Meu amor, não fiques triste 
Não te culpes do que sou
Em nada me destruíste 
E meus passos sempre os viste
Pelo caminho onde vou

De meus passos cedo irão 
Pedaços de noite e dia
E os ventos espalharão 
Versos da minha canção
Estranha e louca, louca e fria

Teresa Torga

Letra e música de José Afonso
Repertório de Ana Laíns

No centro da Avenida 
No cruzamento da rua
Às quatro em ponto, perdida 
Dançava uma mulher nua

A gente que via a cena 
Correu para junto dela
No intuito de vesti-la 
Mas surge António Capela

Que aproveitando a barbuda
Só pensa em fotografá-la
Mulher na democracia
Não é biombo de sala

Dizem que se chama Teresa 
Seu nome é Teresa Torga
Muda o pick-up em Benfica 
Atura a malta da borga

Aluga quartos de casa 
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força 
Que o diga António Capela

T'resa Torga T'resa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha

Amor ausente

Tiago Torres da Silva / Pedro Rodrigues
Repertório de João Braga 

Amar um amor ausente
Como se a dor fosse gente
Num coração que fingiu
Bater, como se parasse
Porque se viu face a face
Com tudo o que já sentiu

O tempo passa depressa
Mas quando um amor começa 
Baixinho, dentro de mim
Torna-se dor num segundo
Se nem mesmo o fim do mundo 
Pode vir a dar-lhe um fim

A paixão que chega tarde
Labareda que só arde 
Quando a chama da saudade
Lembra o fogo do inferno
Porque ao saber que é eterno 
Recusa a eternidade

Se me bate o coração
É como se a solidão 
Batesse à porta de entrada
Não abro, não vou abrir
A alma está a fingir 
Que ao amar não sente nada

Dá a surpresa de ser

Fernando Pessoa / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto 

Dá a surpresa de ser
É alta, de um louro escuro
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro

Seus seios altos parecem
Se ela estivesse deitada
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco
Tem qualquer coisa de gomo
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu cômo?

Vou querer saber de mim

Letra e música de Diogo Clemente
Repertório de Carolina 

Não foi assim que nos foi dito p'ra viver
O que a nós mesmos prometemos, era nosso
Não era andar pelos teus sonhos e obedecer
Não era só morar em ti, porque não posso

Pedi-te tantas vezes que viesses
Com olhos de criança arrependida
E vieste até ao fundo da minh’alma
E assim me vais matando e dando vida

Olhei pra mim do alto imenso dos teus olhos
E eu era sombra, e tão pequena ali no chão
Tu eras todo o mar azul e eu os escolhos
Eras o corpo inteiro e eu só coração

Perdemos p’lo caminho o que era meu
Do amor já nada vejo, nada sei
E sigo a perguntar: que aconteceu?
Vou querer saber de mim, onde fiquei

Caravela

Carlos Barrela / Mário Pacheco
Repertório de José da Câmara 

Tu foste, meu país, a caravela
Andamos todos nós no alto mar
Por ti rasgamos medos com as velas
Que a nossa solidão soube inventar

Fomos além, mais além que o além
Fomos bandeiras nos mapas de outros tempos
Com a cor do céu azul que ninguém tem
A não ser este país onde nasce o vento

Erguemos fortalezas de esplendor
Espalhamos pelo chão, ouro e canela
E abriu-se em nosso corpo a maior dor
Ao fazerem em filigrana as caravelas

Tu és, meu país, a água da forte
Vencedor de amarguras e da morte
Que de novo se cumpra Portugal

Ninguém

Letra e música de Diogo Clemente
Reportório de Carolina 

Falamos, demos abraços
Como era normal
Fechei-me ao som dos teus passos 
No frio do jornal

Parecia ser o que foi
Bem pra lá do que crês
Um gesto a mais que nos dói
E o vazio que não vês

Não vês que me perco primeiro
E perco as razões a seguir
E que trago este amor de permeio
Por chegar e partir

E eu sorrio ao ver-te outra vez 
Num dia descuidado
O lume mal apagado
E dizes tu que eu sou mais forte 
E sei olhar por nós   
Foi isto que há nos olhos meus
Que o que fica de um adeus
Às vezes faz-se voz
Só pra não estarmos sós

Pra quê palavras e verbos 
De querer ser feliz
Se somos escravos e servos 
Do que a alma nos diz

Sempre se cumprem as preces 
De quem o amor tem
Que ao me acabar
Recomeces às mãos de ninguém

Ninguém que te prenda num beijo
Ninguém que te oculte de nós
O ninguém que te seja em desejo
A nascente a e foz