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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Esquina da minha rua

Américo Patela / Rocha de Oliveira
Repertório de Celeste Rodrigues

Quem me dera, sonhos meus
Ser verdade o meu desejo
Ver o que há tanto não vejo
Na rua da Primavera

Primavera de esperança
Que dentro em mim continua
A viver a semelhança
Desses tempos de criança
Na esquina da minha rua

E já lá vão 
Esses tempos de ventura
A verdadeira razão
Da minha grande amargura
E a saudade 
Que faz de mim presa sua
Levando o meu pensamento
P'ra esquina da minha rua

A tão triste fim pertenço
Que de mim nada consigo
Anda a tristeza comigo
E de outro modo não penso

Chego a ser vida sem vida
Que vive noite sem lua
Sentindo a vida perdida
A vaguear esquecida
Na esquina daquela rua

Estarei onde?

Ana Pacheco / Loreena Mckennit
Repertório de Ana Pacheco

Pássaros com rosas vejo voar
Ventos de trovas enchem o ar
No mar se quer ir naufragar;
Estarei onde?
Não dei por chegar

Olhos que sorriem no meu olhar
Braços que me chamam
Num longo abraço
Prados que se estendem a cada passo;
Estarei onde?
Não dei por chegar

E tempo não anda
Não pára, não corre nem envelhece
Paira nos braços que nos enrolam
Dança e adormece

Fica nesta saudade

Mário Rainho / Frutuoso França *fado jovita*
Repertório de José Alberto
Esta melodia que aparece como sendo o Fado Jovita
é o Fado Moreninha de Santos Moreira


Deixa que fique, em mim, aquele gosto
Dos beijos, que me deste nessa era
Que tinham o calor do sol de Agosto
E o fresco das manhã de primaveras

Deixa que fique, em mim, essa lembrança
Dum tempo em que o amor, na nossa mão
Brincava, com jeitinho de criança
No balancé do sonho e da paixão

Deixa que fique, em mim, sempre presente
Esse sabor de ti naquela idade
Pois quero meu amor, eternamente
Que tu fiques em mim nesta saudade

Fado das cerejas

José Gago / José António Sabrosa *fado pintadinho*
Repertório de Ana Pacheco 

Tão doces, apetitosas
E vermelhinhas de cor
As cerejas como as rosas
Trazem perfume ao amor

As cerejas não são ginjas 
Nem se podem comparar
Com este medo que finjas 
Que me amas sem amar

Não sei se sou quem desejas 
No mês de maio ou agosto
Mas tu, tal como as cerejas 
És o fruto de que mais gosto

Oxalá Deus me proteja 
De mágoas e desconsolo
Que seja eu a cereja 
Bem no cimo do teu bolo

O tempo que não vivi

Letra e música de Manuel de Almeida
Repertório de Manuel de Almeida

No domingo passei com uns amigos
A tarde numa adega de Caneças
Motivo p’ra lembrar tempos antigos
De farras com cantigas e promessas

Falamos, entre dois copos de vinho
Das tardes no Gingão e no Sisudo
Das noitadas de fado no Charquinho
E na dança da Bica no Entrudo

Baile dos Quintalinhos tão cantado
As festas da Atalaia e das Mercês
Bons tempos, quando o fado era mais fado
E o amor, mais amor, mais português

Destas coisas que o povo consagrou
Que apenas pela história conheci
Chego a sentir, fadista como sou
Saudades dos tempos que não vivi 

Preciso de ti

Letra e música de Manuel de Almeida
Repertório do autor 

Preciso de ti
P’ra afastar a solidão
Das minhas noites vazias
Preciso de ti
P’ra sacudir a pressão
Que prende os meus longos dias

Preciso de ti 
Para viver na certeza
Que o mundo não me esqueceu
Preciso de ti 
P’ra correr com a tristeza
Que a tua ausência me deu

Preciso de ti 
Para que o sol brilhe mais
Nas minhas horas sem luz
Preciso de ti
Porque sem ti é demais
O peso da minha cruz

Preciso de ti 
P’ra voltar à realidade
E chorar os meus fracassos
Preciso de ti 
P’ra correr com a saudade
Que anda a seguir os meus passos

Marcha do Alto do Pina

César de Oliveira / J.A.Ramos / Carlos Dias
Repertório de Amália

Quando o sol sorri sobre Lisboa
Logo o Alto Pina vai beijar
E saudar a gente boa
Que parte p’ra trabalhar

Mas a noite chega e surge a lua
Pr’animar os bailaricos
Toda a gente vem p’ra rua
E no ar flutua cheiro a manjericos

Aqui vai o Alto Pina 
E ninguém lhe ensina 
A ser mais popular
Traz na boca essas cantigas 
Que as raparigas
Tanto gostam de cantar
Pula a fogueira num salto
P’ra manter a tradição, um balão
O nosso bairro ilumina
Erguido no alto, no Alto do Pina

Vamos lá cantar, deixem o resto
Venham cá ao bairro para o ver
É pitoresco e modesto
Mas alfacinha a valer

Alegre cantando a marcha passa
Airosa, fresca e ladina
Mostrando bem toda a raça
Que leve esvoaça no Alto do Pina

Cuidadinho meu bem

Popular c/arranjos de António Chaínho / Mário Martins
Repertório de António Mourão 

Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Cuidadinho no modo de andar
O teu corpo é uma luz
Ai... que cega a quem o olhar

Ai... que cega a quem o olhar
Bem de frente na boca vermelha
Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Com o brinco dessa tua orelha

Dessa orelha que brinca a bailar
Com um brinco que é d'oiro pesado
Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Que o diabo é um descarado

Descarado como o teu sorriso
Descarado como o teu olhar
Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Que o diabo anda à solta a espreitar

A espreitar ando eu e o diabo
Ai à tarde quando o sol desmaia
Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Ao tirares o corpete e a saia

Lisboa em festa

Aníbal Nazaré / Ferrer Trindade
Repertório de Amália 

Hoje é dia de festa na cidade
Lisboa veio prá rua p’ra cantar
Mas achou que era fraca a claridade
Que lhe vinha do alto, do luar

Lisboa vista assim, dá gosto vê-la
E nem tanto balão era preciso
Porque cada balão é uma estrela
E cada rapariga um sorriso

Lisboa cá vem risonha a cantar
Vá, deixem passar as raparigas
Lisboa cá vem, q
ue a venha escutar
Quem queira aprender novas cantigas
Cantar uma trova e
 sem ter fadiga
P’la cidade inteira andou à toa
Na Lisboa nova, n
a Lisboa antiga
Lisboa é sempre Lisboa

Quando Lisboa vem cantar p’rá rua
Para alegrar os nossos corações
Parece que no céu a própria lua
Se debruça a ouvir suas canções

Os bairros da cidade estão em festa
Os santos têm na rua aos seus altares
E não há noite alegre como esta

Que é dedicada aos santos populares

Vem amar-me

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias 

À janela foi onde eu te vi 
À tardinha quando ali passei
Eu olhei, tu sorris-te p’ra mim 
Desde então, nunca mais descansei

Passo os dias a contar as horas 
Esperando de novo te ver
Este coração não tem melhoras 
Está cansado de tanto bater

Já sonhei que senti nos meus lábios
O calor da tua boca ardente
Já sonhei que senti o teu peito
A bater de maneira diferente;
Já sonhei que me amavas também
E que o sonho era  a realidade
E afinal porque esperas meu bem
Vem amar-me mesmo de verdade


Imagino esses teu cabelos 
Quando estão nos teu ombros caídos
Só de longe eu consigo vê-los 
E me fazem mexer os sentidos

Desce amor, dessa tua janela
Para que eu te possa falar
E me tornes a vida mais bela
E acordado eu fique a sonhar

Que sonhei que senti nos meus lábios
O calor da tua boca ardente
Que sonhei que senti o teu peito
A bater de maneira diferente;
Que sonhei que me amavas também
E que o sonho era a realidade
E afinal porque esperas meu bem
Vem amar-me mesmo de verdade

Faço da noite o meu manto

António Rocha / Alvaro Duarte Simões *meia noite e uma guitarra*
Repertório de Celeste Maria 

Eu faço da noite o manto
Com que cubro a minha dor
É nela que sofro e canto
Saudades do teu amor

Lembranças minhas e tuas
Vão comigo pelas vielas
Luar de prata nas ruas
Meu peito, noite sem estrelas

Restos de um sonho perdido
Cobertos p’lo negro manto
São este fado vencido
Que tristemente vos canto

Fado é verdade

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias 

Meu amigo ouve bem o que eu te digo
O fado não é castigo de ninguém
Fado é verdade, ternura, realidade
Com mistura de saudade
Mas sabe bem

Canta ao amor
Por vezes ao sofrimento
Ou é lamento de quem o canta
Traz alegrias
Histórias de todos os dias
E inventa nostalgias na garganta


A guitarra é o braço a que se agarra
E convida para a farra numa boa
Marialva, que se deita embriagado
Com a garina a seu lado
Fado é Lisboa

Uma rosa especial

Valentim Matias / Alves Coelho *fado maria vitória*
Repertório de Valentim Matias 

Sabemos que o rosa é cor
Rosa também é mulher
Além da cor e do amor
A rosa também é flor
E não uma flor qualquer

Há rosas que vestem linho 
E usam finos bordados
Espalham escolhos p’lo caminho
Quando cravam seu espinho 
Em corações destroçados

Rosa vermelha atrevida 
A que chamam feiticeira
Por vezes é rosa esquiva
Mas é minha preferida
 Por ser rosa verdadeira

E nesta história de rosas 
Todas têm seu papel
Outras ficaram famosas
Ao passar de pão a rosas 
No regaço de Isabel  

Ciúmes da guitarra

Artur Ribeiro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Ada de Castro 

Guitarra, porque ris enquanto canto
Não vês que tenho os olhos rasos d'água
Fazes parte de mim e no entanto
Nem sempre vais ao tom da minha mágoa

Se me sinto feliz é quando choras
Se choro, logo trinas a meu lado
Guitarra pensa bem que já são horas
De tu andares ao jeito do meu fado

Eu sei que tens razão, mas francamente
Uma guitarra assim, não acho bem
Tu sabes mais de mim que toda a gente
E não gostas que eu chore por ninguém

Lamentos

Letra e música de Ricardo Espírito Santo
Repertório de Fernando Farinha 

Porque mentes tanto
Mentes sem cessar
Mentira é a luz do teu olhar
Mentes quando falas

Mentes quando te calas
Mentira é o teu riso e o teu pranto

Mentira é o teu corpo fremente
As tuas carícias, os teus beijos
Falso é o calor fugaz 
Da tua pele ardente
E o ardor dos teus desejos

Dentro do teu peito

Tudo é de tal jeito
Que nem tu própria 
Sabes o que sentes
Os teus pensamentos

Ao sabor dos ventos
Que nem tu dás por isso
Quando mentes

Mas se assim em ti, tudo é mentira
Mente uma vez mais, por caridade
Diz-me que é o desvairo 
Do ciúme que m’inspira
Que o teu amor é verdade
Que o teu amor é verdade

Perdi-me na madrugada

Maria Helena Reis / Frederico de Brito *fado da azenha*
Repertório de Fernanda Maria 

Em certa noite encontrei
Perdidos na madrugada
Os meus sonhos de criança
Depois sozinha lembrei
Essa infância tão amada
Cheia de sol e de esperança

E nessa noite eu sorri
Da vida que vivo hoje 
Do amor da nostalgia
E ri-me também de ti
E do mundo que me foge 
Cada vez mais dia a dia

Mas essa noite acabou
Essa noite em que eu senti 
Que também feliz já fora
Agora não sei quem sou
Se uma mulher que ri 
Se uma criança que chora

Princesa

 *enxerto*
Ary dos Santos / Armandinho *fado alexandrino antigo
Repertório de Valentim Matias 

Era uma vez um país na ponta do fim do mundo
Onde o mar não tinha eco, onde o céu não tinha fundo
Onde longe longe longe, mais longe que a ventania
Mais longe que a flor da sombra, ou a flor da maresia

em sete lagos de lume, sete castelos de sal
Sete cristais de perfume, sete lâmpadas de vinho
Sete punhais de ciúme, sete coroas de azevinho
Sete pétalas de mel, sete pulseiras de sal

Uma princesa vivia com sete véus de coral
Sete estrelas por docel, sete pedras por degrau
Sete nuvens por anel e sete céus por caminho
Era uma vez um país na ponta do fim do mundo


Onde o mar não tinha eco, onde o céu não tinha fundo
Onde longe longe longe, mais longe que a luz do dia
Mais longe que a flor da sombra ou a flor da ventania
Uma princesa nascia da corola do seu tempo
Enquanto a neve caía dos seus dois braços de vento

Oceanos e marés

Leonel Moura / Daniel Gouveia *fado daniel*
Repertório de Leonel Moura 

Fui homem do mar um dia
E quando o barco partia
Levava a recordação
Também levava sinais
Da tua imagem no cais
Envolta na multidão

No mar que é traiçoeiro
Na rota de um marinheiro 
Uma onda se revolta
Nos meus sinceros desejos
Mando-te abraços e beijos 
Nas asas de uma gaivota

Nesse mar azul e forte
Tomava o rumo do norte 
Em águas que naveguei
E os ventos em calmaria
Trazem lembrança do dia 
Que o teu amor encontrei

Oceanos e marés
Desse mar de lés a lés 
Que embalam meu navegar
Levem de vez esta dor
Tragam de volta o amor 
Nas calmas ondas do mar

Bom tremelique

José Fernandes Castro / Neca Rafael *fado da foz*
Repertório de Zé Carvalho

Chama-se “Bom Tremelique”
O restaurante mais chique
Da minha cidade amada
Neste solar português
Uma dose dá p’ra três
Se dois... não comerem nada

Há rissóis de camarão
Há croquetes de vitela
Servidos com aparato
Mão de vaca sem ter mão
Há arroz de cabidela
Feito com sangue de pato

Língua de boi sofredor
Coelhinho à sacador
E bife à moda da casa
Temos leitão da Bairrada
E temos uma pomada
Que nos põe de grão na asa

Ovos moles ou mexidos
Pescadinha da graúda
Com o rabo na boquinha
Temos carapaus cozidos
E temos uma miúda
Que faz coisas na cozinha 

Excelente linguado
Com molho de berbigão
Tudo feito com ternura
E como prato afamado
Temos o tal salpicão
Com o bom grelo à mistura

Sobremesas variadas
Bananas e marmeladas
Sempre servido a preceito
É tudo à moda do Porto
E se a coisa der pró torto
Há solha a torto e a direito

Doce Maria da Paz

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de António Pinto Basto 

Cabelos negros
De pele morena, veludo
Olhos de amêndoa , dizendo
Que o que se vê não é tudo
De olhar tão doce
Parece pedir perdão
Como se pecado fosse
Nascer com um tal condão

Espalhas amor
Em tudo o que te rodeia
O teu corpo é a flor
Preferida da colmeia
E nos teus lábios 
Há sabor a doce mel
Teus sentimentos são sábios 
Retiras da vida o fel

Caminhas sempre
Pés bem assentes no chão
Respondes sempre presente
Ao chamar do coração 
E no teu peito 
Onde a guerra se desfaz
Eu te canto o meu respeito
Doce Maria da Paz

Fado português

António Torres / Fernando Ferreira / Alves Coelho 
Versão do repertório de Carlos Zel
Criação de Justina de Magalhães na Revista Paz Armada, 1919
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*

Da guitarra o doce arpejo 
Nem toda a gente o entende
O fado é tal e qual um beijo
Dum ser que à vida nos prende

P' ra se ter ao fado amor 
Basta ouvi-lo uma só vez
Mas tem muito mais valor 
Quando canta um português

Ouvindo a linda canção 
Ninguém se pode conter
É tão grande a comoção
Que no peito o coração 
Pulsa sempre de prazer

Sabe tão bem 
Ouvir o fado bem cantado
Numa noite de luar
Que encantos tem
Triste balada, doce toada
Que até nos convida a amar

Da guitarra o doce arpejo 
Nem toda a gente o entende
O fado é tal e qual um beijo 
Dum ser que à vida nos prende

Quem canta seu mal espanta 
Quem sofre, sabe cantar
O fadinho prende e encanta 
Fazendo as mágoas passar

Esta balada dolente 
Faz esquecer todo o mal
O fado dá alma à gente
E será eternamente 
A canção de Portugal

Nem todas as letras desta antologia serão comentadas, bastando-lhes 
o valor 
intrínseco para nela figurarem. Fica a advertência para os casos adiante não comentados.
No entanto, a que acabámos de transcrever merece a nota adicional de 
ter sido gravada por Carlos Zel, em 1984, para as 
“Seleções do Reader’s Digest”, na música original.

Luz

Letra e música de Fernando Girão *fado maria girão*
Repertório De Cláudia Leal 

És a luz da minha vida
A razão do meu querer
E eu sem ti não sei viver
Sei que nasci só para amar-te
E a criança que há em mim 
Não vai desaparecer

Eu quero ser sempre 
A dona dos meus sonhos
Contigo irei à procura de quem somos nós
Aprendi a não chorar se por acaso errar
Não importa o que sou se for feliz
Escrevendo o meu destino

Assim eu invento o nosso mundo
Na magia da emoção 
Que vive junto a nós
É tudo o que eu quero ter, além de ti
Quando estás ao meu lado
Posso enfrentar o mundo
Posso tudo fazer se for contigo,  eu sei

Guerreiros do amor nas lutas do bem
Amantes e irmãos também
Amantes e irmãos
Seremos nós por toda a vida
E assim será eterno o nosso amor
E assim será

Melhor de mim

AC Firmino / Tiago Machado
Repertório de Mariza 

Hoje a semente que dorme na terra
E que se esconde no escuro que encerra
Amanhã nascerá uma flor
Ainda que a esperança da luz seja escassa
A chuva que molha e passa
Vai trazer numa gota, amor

Também eu estou à espera da luz
Deixo-me aqui onde a sombra seduz
Também eu estou à espera de mim
Algo me diz que a tormenta passará
É preciso perder p’ra depois se ganhar
E mesmo sem ver, acreditar

É a vida 
Que segue e não espera p’la gente
Cada passo que demos em frente
Caminhando sem medo de errar
Creio que a noite 
Sempre se tornará dia
E o brilho que o sol irradia
Há de sempre me iluminar

Quebro as algemas neste meu lamento
Se renasço a cada momento
Meu destino na vida é maior

Também eu vou em busca de luz
Saio daqui onde a sombra seduz
Também eu estou à espera de mim
Algo me diz que a tormenta passará
É preciso perder p’ra depois se ganhar
E mesmo sem ver, acreditar

Sei que o melhor de mim está p’ra chegar
Sei que o melhor de mim está por chegar

Do Castelo vi Lisboa

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Rodrigo 

Fui até ao Castelo
Para te olhar, ó cidade
Notei que tens mais rugas
É natural da idade
Lembrei há quanto tempo 
D. Afonso te conquistou
E de então para cá 
Qanto mudou

Tuas sete colinas não mudaram
Como sete meninas, encantaram
Poetas, prosadores, tanto te amaram
E o Tejo amigo, casou contigo
Não se deixaram

Partiram caravelas
Ali, do teu mar da Palha
E nas tuas vielas 
Cantou-se o fado canalha
Tiveste teus heróis 
E pregões tradicionais
E o Marquês de Pombal 
Não esqueces mais

Rosinha da Serra d’Arga

Popular
Repertório de Mísia 

Ao sair de Dei perdi um dedal
Com letras que dizem “Viva Portugal”
Viva Portugal, viva Portugal!
Ao sair de Dei perdi um dedal

Ó minha Rosinha, eu hei de ter amar
De dia ao sol, de noite ao luar
De noite ao luar, de noite ao luar
Ó minha Rosinha, eu hei de te amar

Ó minha Rosinha, estrela do mar
Tu vais p’ra Lisboa, deixas-me ficar
Deixas-me ficar, deixas-me ficar
Ó minha Rosinha, estrela do mar

Ó minha Rosinha, do meu coração
Tu vais p’ra Lisboa, não levas paixão
Não levas paixão, não levas paixão
Ó minha Rosinha, do meu coração

Ó minha Rosinha, eu hei de ir, eu hei de ir
Jurar a verdade, que eu não sei mentir
Que eu não sei mentir, que eu não sei mentir
Ó minha Rosinha, eu hei de ir, eu hei de ir

Avenidas

Letra e música de Marco Oliveira
Repertório do autor 

Em que noite t’escondes
Em que ruas se cruzaram 
Os meus olhos com os teus
Por que ventos respondes
E pressinto no silêncio 
A tristeza de um adeus

Porque ainda me lembro 
Das luzes de dezembro
O calor das avenidas 
Um inverno em nossas vidas

Por que céus e oceanos
Hei-de lembrar o teu corpo 
Uma ilha que me acolheu
E quem sabe quantos anos
Vão passar até que a gente 
Veja ao espelho o que perdeu

De que sombras, de que medos
De que mágoas e segredos 
Se perderam nossas vidas por aí
Porque ainda me lembro
Dos beijos de dezembro 
Meu bem, o que é feito de ti?

Quero cantar

Manuel de Almeida / António Parreira
Repertório de Manuel de Almeida 

O fado tenho cantado 
No meu estilo verdadeiro
A ele me tenho dado 
E entregue de corpo inteiro

Com a esperança prometida 
Fiz do fado com prazer
O jeito d’estar na vida 
Enquanto vida tiver

Quero cantar
Recordando sonhos meus
E de mim só peço a Deus
Que o fado nunca se queixe
Quero cantar
Quero cantar livremente
Ao meu povo, à minha gente
Até que a voz me deixe

Quando um dia se calar 
Para sempre a minha voz
A guitarra há-de lembrar 
O amor que houve entre nós

Vergado ao peso da culpa 
Se culpa houver, meu Senhor
Ao fado peço desculpa 
Por não ter feito melhor

Fim de semana

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Rodrigo

O sol já despontou, é domingo
O céu surgiu azul, primavera
Eu fico mais um pouco
Entre os lençóis contigo
Lá fora está o dia à nossa espera

É bom chegar 
Ao desejado fim de semana
P‘ra descansar
Sem ter de andar 
Engravatado, no autocarro
A transpirar
É bom sentir 
Que ainda há vida para viver
Sem ter de ser essa corrida
Que nos põe loucos e faz sofrer


De tarde vou até à beira-mar
E faço uma paragem p‘ra pensar
Que a vida não é só de loucas correrias
Pois também o descanso tem seus dias

Hoje o almoço 
Não é croissant comido ao balcão
Isso é prá manhã
Vai ser sentado
Saboreado, bem instalado
Como um páxá
E as crianças brincam contentes 
À nossa volta
Esquecem as amas 
Esquecem a escola
E à rédea solta jogam à bola

Jasmim

Vasco Graça Moura / António Quintino
Repertório de Joana Amendoeira

Já sei que vais partir e que a distância
Vai transformar-se em dor dentro de mim
E na saudade alastra uma fragância
Que é feita de tristeza e de jasmim

Vai perfurmar-se  a minha solidão
Com luzeiros da noite a iluminá-la
E nos dias de mansa viração
Há-de acalmar enquanto o Tejo a embala

Mas hão-de vir também os vendavais
E os temporais sem astros e sem lua
E eu vou ter mais saudades, mais e mais
Sem o som dos teus passos pela rua

Amor, ó meu amor e meu perfume
Minha essência da vida, desatino
Desta melancolia que resume
Num cheiro de jasmim o meu destino