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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Tanto mundo e tanto fado

Mário Rainho / Alberto Janes
Repertório de Paulo Jorge Ferreira 

Com horizontes, até onde a vista alcança 
E com distâncias, bem mais longe, no olhar
Venci os medos que trazia de criança
Como um infante, meus sonhos quis navegar

Ergui os mastros, desfraldei as minhas velas
E em barquitos de papel, fui marinheiro
Segui o rumo desenhado nas estrelas
E um astrolábio indicou-me o mundo inteiro

Deixei na terra a saudade
Chorei por mais que uma vez
Ganhei a idade 
Deste sonho português
Do longe trouxe até nós
De mar em mar navegado
Em minha voz
Tanto mundo e tanto fado

Bebi paisagens, que outros olhos não beberam
Ao pôr-do-sol nas praias mais tropicais
Provei, nas Índias, sabores que me enlouqueceram
Aprendi danças, muitos costumes tribais

Adamastores e outros medos, fui vencendo
De peito erguido, sempre à proa dum navio
Só as saudades me foram anoitecendo
Dando desejos de voltar dos mares ao rio

Esta noite com o fado

Fernando Campos de Castro / Carlos da Maia
Repertório de Carla Linhares

Nesta hora que se arrasta
Procuro na noite vasta
Um cantinho p’ra ficar
Um espaço que me acoite
Onde as horas desta noite
Não custem tanto a passar

De longe um vento gelado
Vem colocar-se a meu lado 
Como se fosse um assombro
Sinto as suas mãos tão frias
De saudade e agonias 
Sobre o gelo do meu ombro

Percorro as ruas sozinhas
E todas elas são minhas 
Nas suas sombras e medos
Não passa um vulto sequer
Onde possa adormecer 
Os meus sonhos e segredos

Ó noite da minha alma
Dá-me luz e toda a calma 
Do teu mundo sossegado
Dá-me espaço p’ra ficar
Onde me possa deitar 
Esta noite com o fado

Dei-te tudo quanto tinha

Letra e música de Carlos Macedo
Repertório do autor

Dei-te tudo quanto tinha
Apenas p’ra ver sorrir
Teus olhos minha paixão
A tua mão sobre a minha
Disse-me todo o sentir
Que sentia o coração

Sentimos um só desejo
De vivermos lado a lado 
Este amor que é meu e teu
Bebemos do mesmo beijo
Cantamos o mesmo fado 
E o amor aconteceu

Hoje vivemos a vida
Que sonhamos num abraço 
E se fez realidade
Não há meta definida
O meu mundo é o teu regaço 
Onde deito a felicidade;
Não há meta definida
O meu mundo é o teu regaço 
Onde mora a felicidade 

Quando a dor bateu à porta

Aníbal Nazaré / Maximiano de Sousa 
Repertório de Max

Quando a dor bateu à porta 
Eu corri e fui abrir
Ela entrou, vinha cansada 
Sentou-se logo a seguir

Sem sequer pedir desculpa 
De vir sem ser convidada
Disse-me que ficaria 
Comigo, uma temporada

A dor sentou-se 
E ficou à minha beira
Habituou-se 
A ser minha companheira
Eu compreendo 
Que ela esteja junto a mim
Mas às vezes não entendo 
Porque me persegue assim

Mas o tempo vai passando 
E a dor não se vai embora
Já começo até pensando 
Porque tanto se demora

Até penso nesta lida
Já que a dor só quer ser minha
Hei-de mudar desta vida 
E deixar a dor sozinha

Um fado para vós

Manuel Carvalho / Eduardo Jorge *fado moreno*
Repertório de Aida Arménia

Dou aos fados que canto
A magia do encanto
Que me vem da minha voz
Cantando menos padeço
E com carinho ofereço
Meus fados p’ra todos vos

É condão que o fado tem
Se choro, chora também 
E cantando sou feliz
Com a voz que Deus me deu
E o sentir que lhe dou eu 
Canto ao povo, ao meu pais

É minha vida meu fado
Meu poema meu recado 
Que canto p’ra não chorar
O fado nasceu comigo
Em meu peito tem abrigo 
Hei-de morrer a cantar

Quase

Mário de Sá Carneiro / Jorge Barradas
Repertório de Alexandra

Um pouco mais de sol, eu era brasa
Um pouco mais de azul, eu era além
Para atingir faltou-me um golpe d'asa
Se ao menos eu permanecesse 
aquém

De tudo houve um começo e tudo errou
Ai a dor de ser quase dor sem fim
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim
Asa
que se enlaçou mas não voou 

Num ímpeto difuso de quebranto
Tudo encetei e nada possuí
Hoje de mim, só resta o desencanto 
Das coisas que beijei mas não vivi

Tanto me faz

Miguel Novo / José Mário Branco *fado balança
Repertório de Camané

Andas a dizer p’raí 
Que morres por me não ver
Eu já não gosto de ti 
Não me interessa nem saber

Nem que peças de joelhos 
Que eu volte a dar-te o que dava
Não embarco em contos velhos 
Era só o que faltava

Fartei-me de te avisar
Não vale a pena insistir
Voltar p’ra ti a chorar... 
Deixa-me rir
Quando se acaba o amor
Não se volta pata trás
Sejas tu, seja quem for... 
Tanto me faz

Não te adianta querer 
Que eu te procure ou te siga
Eu tenho mais que fazer 
Não vou na tua cantiga

Dizes que te sentes só 
Que choras ter-me perdido
Se esperas que eu tenha dó 
Tira daí o sentido

Que podemos ser felizes 
Que já não ‘stás magoada
Dar ouvidos ao que dizes 
Não me faltava mais nada

Talvez tu tenhas razão 
Talvez eu nunca t’esqueça
Mas que eu te peça perdão 
Nem te passe p’la cabeça

Não sei mais que te dizer
As coisas são mesmo assim
Mas se me queres convencer
Volta p’ra mim

Gosto mais de ti

Luís Simão / Francisco Carvalhinho *fado cachorrinha*
Repertório de Florinda Maria

Gosto do sol e do mar
E da chama da lareira
Tenho voz, ando a cantar
O fado, à minha maneira

Gosto da ave que voa 
Que sem entraves caminha
Não sei viver sem Lisboa 
Sem o Tejo e Sé velhinha

Tenho amor pela peixeira 
Que não teme os vendavais
Dou apreço à costureira 
Que se anela com dedais

Tenho a tudo amor profundo 
Mas também já percebi
Eu posso gostar do mundo 
Mas gosto bem mais de ti

Eu queria ser

Domingos Gonçalves Costa / Jaime Santos
Repertório de Fernanda Maria

Eu queria ser motivo dos teus sonhos
Eu queria ser o sol que te ilumina
Eu queria ser nos teus dias risonhos
Do amor a inspiração meiga e divina

Eu queria ser a sombra dos teus passos
Eu queria ser a luz dos olhos teus
Eu queria ser alguém que nos teus braços
Pudesse confiar-te os sonhos seus

Porém, passas por mim tão indiferente
Que nunca mais serei quem queria ser
E peço a Deus p’ra ser eternamente
Ceginha para nunca mais te ver

Procurando a felicidade

Fernando Campos de Castro / Armando Machado *fado mortalha*
Repertório de Maurício Cordeiro

Se o passado está vivido
E passou a ser história
Se o passado em ti abunda
Dá-lhe a gaveta mais funda
Dos armários da memória

O presente é o que importa 
Traga ele o que trouxer
Tens de senti-lo presente
E vivê-lo intensamente 
Em tudo o que ele te der

Quanto ao futuro, deixá-lo 
Há que ter esperança e fé
Que o futuro é coisa incerta
Uma porta entreaberta 
Que ninguém sabe o que é

São três fases duma vida 
Com a cor da nossa idade
Feitas de sol e de bruma
Em que uma vida se arruma 
Procurando a felicidade

Vamos em frente

António laranjeira / Raul Ferrão *fado alcântara*
Repertório de António Laranjeira

Se neste fado há pressa num verso novo
Quisera levar ao povo, mais alegria
Em cada dia quando tudo recomeça
Alguém na vida tropeça, por ironia

Por esta hora ao resgatar o passado
Um sonho foi adiado, inutilmente
É no presente que alguém espera de nós
Escutar em alta voz, vamos em frente

Meu país eu não reconheço
Quem fala de ti sem nada dizer
É suspeito chamar-te de berço
Aqueles que cresceram sem nada saber
Minha voz que se junta à tua
E que te defende com o coração
Enquanto a nação flutua
O povo na rua não perde a razão

Se neste grito em fúria sem direcção
Aumenta a contradição nem mais um passo
Porque o espaço parece fugir ao tempo
E o nosso constrangimento é um cansaço

Por mais um dia a fervilhar de surpresas
Ponham as velas acesas rapidamente
É no presente que alguém espera de nós
Escutar em alta voz vamos em frente

Intimidade

José Saramago / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Vanessa Quinteiro 

No coração da mina mais secreta
No interior do fruto mais distante
Na vibração da nota mais discreta
No búzio mais convolto e ressoante

Na camada mais densa da pintura
Na veia que no corpo mais nos sonde
Na palavra que diga mais brandura
Na raiz que mais desce, mais esconde

No silêncio mais fundo desta pausa
Em que a vida se fez perenidade
Procuro a tua mão, decifro a causa 
De querer e não crer, final, intimidade 

Eu quis fazer de ti

Paco Gonzalez / Fernando Silva *alexandrino do concórdio*
Repertório de Nuno de Aguiar

Eu quis fazer de ti, no espelho do carinho
Um jardim de esperança em forma de paixão
Eu quis fazer de ti o meu melhor caminho
Que désse a luz da vida à minha solidão

Eu quis fazer de ti, na febre dos desejo
A loucura d’amor em risos d’alegria
Eu quis fazer de ti um poema de beijos
Nos sonhos mais bonitos da minha fantasia

Eu quis fazer de ti a voz da eternidade
Com fé de peregrino eu arrastei meus passos
Sedento de ternura, faminto de verdade
Eu quis fazer de ti abismo dos meus braços

Mas quando quis fazer o tema do meu fado
Na revolta infinita do meu amargo ser
As tuas mãos tremeram, não ficaste a meu lado
E o céu tornou-se noite p’ra nunca mais te ver

Tu que andas de mim ausente

Mário Rainho / Fontes Rocha *fado ricardo*
Repertório de Maria da Nazaré

Tu que andas de mim ausente
Sabe Deus em que lugar
Diz-me se pensas voltar
Aos meus braços, novamente

Tu que andas de fé perdida 
Sabe deus em que lembranças
Não vês que eu vivo na esperança 
Que vivas na minha vida

Tu que andas de mim distante 
Sabe Deus em que lonjura
Não sonhas quanta ternura 
Há no meu amor amante

E eu que vivo sempre à espera 
Que voltes à minha idade
Morro nesta primavera 
Sabe Deus em que saudade

O poeta tem nome

José Fernandes Castro / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Vanessa Quinteiro

Podem chamar-lhe poeta
Letrista ou versejador
Mas a verdade concreta
Está na rima discreta
Com que nos fala d’amor

Podem chamar-lhe saudade 
Ciúme ou até tristeza
Mas p’ra nossa felicidade
O poeta é na verdade 
O porta voz da beleza

Também pode ser passado 
Presente e também futuro
Quando se trata de fado
Um poeta amargurado 
É alma dum sonho puro

Poeta é alma perdida 
Na noite do sentimento
Porta-voz da própria vida
Poeta da dor sentida 
Rimando dor com alento

Louco desejo

Luís Fidalgo / José Maria Nóbrega
Repertório de Ada de Castro

Roguei ao meu coração
Para não bater apressado
Quis saber qual a razão
Deste meu tonto cuidado

Respondi-lhe que te amava 
De te perder tinha medo
E assim a bater andava 
A espalhar o meu segredo

Queria só p’ra nós dois 
A ventura deste amor
Prometeu-me mas depois 
O seu bater for maior

Agora quando te vejo 
Sei enfim qual a razão
Deste meu louco desejo 
De parar o coração

Janelas enfeitadas

Linhares Barbosa / Casimiro Ramos
Repertório de Julieta Santos

Não sabes porque enfeito estas janelas
Enfeito-as só por ti, fica sabendo
Os olhos desta casa são só elas
Quero que elas sorriam em te vendo

Os laços cor-de-rosa nas cortinas
Craveiros em dois vasos encarnados
Canta um canário a horas matutinas
Uma canção de beijos repicados

As grades nas janelas torna-as feias
Nem mesmo requintadas tabuinhas
Janelas dessas lembram as cadeias
Quero que o sol e a a lua entrem nas minhas

Quero poder mostrar-te, quando passas
Que gradeamentos são para os escravos
Por isso é que eu enfeito estas vidraças
Por ti é que eu cultivo rubros cravos

Alentejo céu do mundo

António Laranjeira / Susana Castro Santos
Repertório de António Laranjeira

Foi neste Alentejo céu do mundo
Que me descobri aberto à vida
Num segundo, apenas num segundo
Acendi em mim a luz perdida

Foi neste Alentejo quente e doce
Que vi a solidão ficar à espera
Neste chão moreno que me trouxe
Voltou a ser de novo primavera

Voltou a ser de novo claridade
Agora que te vejo quando canto
Até meu coração sente saudade
Meu Alentejo em flor que quero tanto

Vou fazer contigo esta viagem
É para ti que falo quando digo
Minha seara acesa de coragem
Alentejo céu do mundo, meu amigo

Fado invicta

António Laranjeira / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de António Laranjeira

Ninguém te pode dar um nome novo
Tão grande, tão maior, como tu tens
Antes de seres cidade eras povo
Que sabe aonde vais e de onde vens

Ninguém te pode dar outra Ribeira
Vestida de ternura até à Foz
No coração do Bolhão a vendedeira
Vai embalando o Porto que há na voz

As pontes desta vida que te deram
Mais sonhos num futuro grande e novo
E quantos corações por ti bateram
Porto de vitórias que és do povo

Ainda tens o cheiro à maresia
Num quadro, um Rabelo preso ao cais
Nos bairros nascem rusgas de poesia
As dores e alegrias são iguais

Diz-me se é profano ou se é sagrado
O rio que nasce do teu corpo
Para que em cada cálice de fado
Eu seja menos fado e tu mais Porto 

Alma vazia

António Rocha / Jaime Santos *fado pombalinho*
Repertório de António Rocha

Não quero escrever mais versos
Se já deixei de ser teu
Versos, pedaços dispersos
Dum amor que já morreu

Vejo os sonhos que sonhei 
Em solidão submersos
Para esquecer que te amei 
Não quero escrever mais versos

Canto a alegria ou a dor 
Da sorte que Deus me deu
Não quero cantar nosso amor 
Se já deixei de ser teu

Conduzo o meu coração 
P’los caminhos mais diversos
Porque as nossas vidas são 
Versos, pedaços dispersos

Caminho d’alma vazia 
Tudo o que tenho de meu
É a sombra triste e fria 
Dum amor que já morreu

Quando

Artur Ribeiro / Filipe Pinto *fado meia noite*
Repertório de Tony de Matos

Quando dou por mim, perdido
Nos meus próprios pensamentos
Quando nos meus maus momentos
Digo frases sem sentido

Quando me afundo e vagueio 
No teu olhar espantado
Quando não vais a meu lado 
E a sós contigo passeio

Quando escuto a tua voz 
Dando aos meus versos, sentido
Quando o coração perdido 
Pergunta ao vento por nós

É quando ao fado me dou 
D’olhos cerrados, assim
E o poeta que eu não sou 
Vem chorar dentro de mim

Novo vira do Minho

António Laranjeira / André Teixeira
Repertório de António Laranjeira

Ó Minho Minho
Ó verde Minho
Cantas e danças
Não andas sozinho

Ai vira que vira
Ai vira d’Agosto
O ouro que brilha
Dá cor ao teu rosto
Ai vira que vira
Ai vira do mar
Quem vira não vira
Meu amor chegar

Talvez eu me engane 
Mas quem não se engana
Deixei a tristeza 
Perdida em Viana
E no alto Minho 
Já ninguém me apanha
O Minho é mais Minho 
Ao deixar Espanha

Ó Minho Minho
Minho brilhante
Ao cantar do galo
Que a fé se levante
Ó Minho Minho
Já te vi um dia
Rezando baixinho 
Subindo a Agonia

Talvez eu me engane
Mas quem não se engana
Deixei a tristeza 
Perdida em Viana
E no alto Minho
Já ninguém me apanha
O Minho é mais Minho 
Ao deixar Espanha

Não me digas o teu nome

Fernando Campos Castro / Alfredo Duarte *fado mocita dos caracóis*
Repertório de António Laranjeira 

Não me digas o teu nome
Não digas que eu adivinho
És uma estrela sem nome
Que me alegra e me consome
E dá luz ao meu caminho

Não me fales de revoltas 
Que o silêncio é bem melhor
Meu amor sempre que voltas 
Fechas tantas pontas soltas
Nos laços do nosso amor

Deixa a noite imprevisível 
Fazer tudo o que quiser
Ó meu amor impossível 
O teu nome é indizível
Ninguém o pode saber

Meu amor, minha ternura 
Só tu sabes meus segredos
És lucidez e loucura 
Que na noite mais escura
Cobre todos os meus medos

De uma cruz é seu refém

João Manuel Antão / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Nelson Duarte

Andas pedindo perdão
Mãos postas, junto do altar
Mas pões sempre a condição
No mesmo continuar

As horas mandam na vida 
E tantas vidas consomem
Fazendo, nessa corrida 
O homem escravo do homem

Qualquer um, na sua vida 
De uma cruz é seu refém
Mesmo quando a vê despida 
Vê que nela há sempre alguém

Duas tábuas, uma cruz 
Jesus foi crucificado
E dessa cruz, fez Jesus 
De amor o seu reinado

Ria dum rio novo

António Laranjeira / André Teixeira
Repertório de António Laranjeira

És a Veneza do povo 
Porque o povo está primeiro
E trazes um olhar novo 
No teu olhar moliceiro;
És ria dum rio novo
Cravo do mar marinheiro

Acordas chegando à vida 
Porque viver é chegar
Em cada maré perdida 
Há mais pressa de voltar;
Aveiro de ver a vida
Aveiro de ver o mar

Quem te pediu que tivesses 
Mais tradição portuguesa
E que pela vida fizesses 
Do povo a tua nobreza;
Quem de amarelo te veste
É mais feliz com certeza

Não tenhas medo

Alice Barreto / Alberto Correia *fado solene*
Repertório de Nélson Duarte

Meu amor, não tenhas medo
De enfrentar a realidade
Que terás em tuas mãos
Paz, amor e felicidade

Meu amor, não tenhas medo 
De descobrir a razão
Que pode ser cobardia 
Fechada em teu coração

Meu amor, não tenhas medo 
Mesmo que te digam não
Não pode haver um segredo 
Sempre que oculte a razão

Meu amor, não tenhas medo 
Doa ele a quem doer
A vida é sono que embala 
Acorda ao amanhecer

Fado luz

Letra e musica de António Laranjeira
Repertório do autor

Preciso iluminar meu coração
Que se apagou de ti quando partiste
Preciso regressar da escuridão
E devolver-te a cor meu dia triste

Quero ser a raiz que fere e fende
As entranhas da terra do teu chão
Onde tu és vertigem que se estende
Ao quadrante da vida e da razão

O meu canto é pra ti além da voz
Sempre que chegas breve aos meus abraços
Nesse eterno momento quando em nós
A saudade prescreve em nossos braços

Serás sempre a manhã da minha esperança
Em toda a minha vida o meu melhor
Ainda que p'ra ti seja a lembrança
De toda a nossa vida meu amor

Lenda do amor

 *Ode à Lenda das rosas*
António Laranjeira / Popular *fado das horas*
Repertório de António Laranjeira

O mesmo sonho tiveram 
Dois namorados de então
Unidos pelo coração 
A sua vida viveram;
Quando o amor conheceram 
Por entre juras d’amor
Das rosas de rubra cor
Rosas de neve nasceram

A lenda conta que um dia 
Dois corações verdadeiros
Se entregariam inteiros 
Em aparente alegria;
Ninguém no mundo sabia 
Duma promessa maior
Que se escondia na dor 
Que um pelo outro vivia;
Ao celebrar o amor
Sempre que a noite caía
                                                
Ainda hoje se conta 
Que nessa história d’amor
Também havia uma flor 
Que toda a noite chorava;
Quando a saudade falava 
Num discurso sonhador
Mudava sempre de cor 
Essa rosa perfumada;
Se fosse roseira brava
Seria forte na dor

Quem acredita na lenda 
E se permite sofrer
Não pode contradizer 
Um amor, que não entenda;
Se a vida não nos separa 
Que a morte nunca nos prenda
Assim se canta o amor
Como nos conta esta lenda

Valente pescador

Alice Barreto / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Nelson Duarte

Vai p'ró mar ó pescador
Vai lutar com altivez
É teu o mar, pescador
Tu do mar és um senhor
Que Deus te traga outra vez

Pescador que vais ao mar 
Ao mar distante, salgado
Por vezes fico a pensar 
Se o mar onde vais pescar 
É p'ra ti adocicado

Olha as velas, pescador 
Nas tuas lides constantes
Que o vento não vá quebrar
Tu por Deus hás-de voltar 
Ao senhor dos navegantes

Quando parte um pescador 
Que vai p'ra faina do mar
Leva no peito a esperança
Que a senhora bonança 
O traga de novo ao lar

Minha mãe mãe Maria

António Laranjeira / Manuel Mendes
Repertório de António Laranjeira

Na paz do teu olhar 
Descanso os meus passos
Dum longo caminhar 
Procurando teus braços
Minha mãe, mãe Maria 
Mãe de todas as preces
Minha noite meu dia 
Luz da alma vazia 
Tudo em mim já conheces

Meu amor invulgar 
Que nunca faz doer
Que não sabe matar 
E não nos faz sofrer
Ó mãe do altar da vida 
Montanha da ternura
Saudade sem partida 
Adeus sem despedida
Perdão para a minha cura

Semente no meu corpo 
Seara imaculada
No chão do desconforto 
A fé em ti lavrada
Minha mãe, mãe Maria 
Mãe de todas as dores
Minha noite meu dia 
Luz na alma vazia
Mãe dos nossos amores