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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Eu queria ser

Domingos Gonçalves Costa / Jaime Santos
Repertório de Fernanda Maria

Eu queria ser motivo dos teus sonhos
Eu queria ser o sol que te ilumina
Eu queria ser nos teus dias risonhos
Do amor a inspiração meiga e divina

Eu queria ser a sombra dos teus passos
Eu queria ser a luz dos olhos teus
Eu queria ser alguém que nos teus braços
Pudesse confiar-te os sonhos seus

Porém, passas por mim tão indiferente
Que nunca mais serei quem queria ser
E peço a Deus p’ra ser eternamente
Ceginha para nunca mais te ver

Procurando a felicidade

Fernando Campos de Castro / Armando Machado *fado mortalha*
Repertório de Maurício Cordeiro

Se o passado está vivido
E passou a ser história
Se o passado em ti abunda
Dá-lhe a gaveta mais funda
Dos armários da memória

O presente é o que importa 
Traga ele o que trouxer
Tens de senti-lo presente
E vivê-lo intensamente 
Em tudo o que ele te der

Quanto ao futuro, deixá-lo 
Há que ter esperança e fé
Que o futuro é coisa incerta
Uma porta entreaberta 
Que ninguém sabe o que é

São três fases duma vida 
Com a cor da nossa idade
Feitas de sol e de bruma
Em que uma vida se arruma 
Procurando a felicidade

Vamos em frente

António laranjeira / Raul Ferrão *fado alcântara*
Repertório de António Laranjeira

Se neste fado há pressa num verso novo
Quisera levar ao povo, mais alegria
Em cada dia quando tudo recomeça
Alguém na vida tropeça, por ironia

Por esta hora ao resgatar o passado
Um sonho foi adiado, inutilmente
É no presente que alguém espera de nós
Escutar em alta voz, vamos em frente

Meu país eu não reconheço
Quem fala de ti sem nada dizer
É suspeito chamar-te de berço
Aqueles que cresceram sem nada saber
Minha voz que se junta à tua
E que te defende com o coração
Enquanto a nação flutua
O povo na rua não perde a razão

Se neste grito em fúria sem direcção
Aumenta a contradição nem mais um passo
Porque o espaço parece fugir ao tempo
E o nosso constrangimento é um cansaço

Por mais um dia a fervilhar de surpresas
Ponham as velas acesas rapidamente
É no presente que alguém espera de nós
Escutar em alta voz vamos em frente

Intimidade

José Saramago / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Vanessa Quinteiro 

No coração da mina mais secreta
No interior do fruto mais distante
Na vibração da nota mais discreta
No búzio mais convolto e ressoante

Na camada mais densa da pintura
Na veia que no corpo mais nos sonde
Na palavra que diga mais brandura
Na raiz que mais desce, mais esconde

No silêncio mais fundo desta pausa
Em que a vida se fez perenidade
Procuro a tua mão, decifro a causa 
De querer e não crer, final, intimidade 

Eu quis fazer de ti

Paco Gonzalez / Fernando Silva *alexandrino do concórdio*
Repertório de Nuno de Aguiar

Eu quis fazer de ti, no espelho do carinho
Um jardim de esperança em forma de paixão
Eu quis fazer de ti o meu melhor caminho
Que désse a luz da vida à minha solidão

Eu quis fazer de ti, na febre dos desejo
A loucura d’amor em risos d’alegria
Eu quis fazer de ti um poema de beijos
Nos sonhos mais bonitos da minha fantasia

Eu quis fazer de ti a voz da eternidade
Com fé de peregrino eu arrastei meus passos
Sedento de ternura, faminto de verdade
Eu quis fazer de ti abismo dos meus braços

Mas quando quis fazer o tema do meu fado
Na revolta infinita do meu amargo ser
As tuas mãos tremeram, não ficaste a meu lado
E o céu tornou-se noite p’ra nunca mais te ver

Tu que andas de mim ausente

Mário Rainho / Fontes Rocha *fado ricardo*
Repertório de Maria da Nazaré

Tu que andas de mim ausente
Sabe Deus em que lugar
Diz-me se pensas voltar
Aos meus braços, novamente

Tu que andas de fé perdida 
Sabe deus em que lembranças
Não vês que eu vivo na esperança 
Que vivas na minha vida

Tu que andas de mim distante 
Sabe Deus em que lonjura
Não sonhas quanta ternura 
Há no meu amor amante

E eu que vivo sempre à espera 
Que voltes à minha idade
Morro nesta primavera 
Sabe Deus em que saudade

O poeta tem nome

José Fernandes Castro / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Vanessa Quinteiro

Podem chamar-lhe poeta
Letrista ou versejador
Mas a verdade concreta
Está na rima discreta
Com que nos fala d’amor

Podem chamar-lhe saudade 
Ciúme ou até tristeza
Mas p’ra nossa felicidade
O poeta é na verdade 
O porta voz da beleza

Também pode ser passado 
Presente e também futuro
Quando se trata de fado
Um poeta amargurado 
É alma dum sonho puro

Poeta é alma perdida 
Na noite do sentimento
Porta-voz da própria vida
Poeta da dor sentida 
Rimando dor com alento

Louco desejo

Luís Fidalgo / José Maria Nóbrega
Repertório de Ada de Castro

Roguei ao meu coração
Para não bater apressado
Quis saber qual a razão
Deste meu tonto cuidado

Respondi-lhe que te amava 
De te perder tinha medo
E assim a bater andava 
A espalhar o meu segredo

Queria só p’ra nós dois 
A ventura deste amor
Prometeu-me mas depois 
O seu bater for maior

Agora quando te vejo 
Sei enfim qual a razão
Deste meu louco desejo 
De parar o coração

Janelas enfeitadas

Linhares Barbosa / Casimiro Ramos
Repertório de Julieta Santos

Não sabes porque enfeito estas janelas
Enfeito-as só por ti, fica sabendo
Os olhos desta casa são só elas
Quero que elas sorriam em te vendo

Os laços cor-de-rosa nas cortinas
Craveiros em dois vasos encarnados
Canta um canário a horas matutinas
Uma canção de beijos repicados

As grades nas janelas torna-as feias
Nem mesmo requintadas tabuinhas
Janelas dessas lembram as cadeias
Quero que o sol e a a lua entrem nas minhas

Quero poder mostrar-te, quando passas
Que gradeamentos são para os escravos
Por isso é que eu enfeito estas vidraças
Por ti é que eu cultivo rubros cravos

Alentejo céu do mundo

António Laranjeira / Susana Castro Santos
Repertório de António Laranjeira

Foi neste Alentejo céu do mundo
Que me descobri aberto à vida
Num segundo, apenas num segundo
Acendi em mim a luz perdida

Foi neste Alentejo quente e doce
Que vi a solidão ficar à espera
Neste chão moreno que me trouxe
Voltou a ser de novo primavera

Voltou a ser de novo claridade
Agora que te vejo quando canto
Até meu coração sente saudade
Meu Alentejo em flor que quero tanto

Vou fazer contigo esta viagem
É para ti que falo quando digo
Minha seara acesa de coragem
Alentejo céu do mundo, meu amigo

Fado invicta

António Laranjeira / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de António Laranjeira

Ninguém te pode dar um nome novo
Tão grande, tão maior, como tu tens
Antes de seres cidade eras povo
Que sabe aonde vais e de onde vens

Ninguém te pode dar outra Ribeira
Vestida de ternura até à Foz
No coração do Bolhão a vendedeira
Vai embalando o Porto que há na voz

As pontes desta vida que te deram
Mais sonhos num futuro grande e novo
E quantos corações por ti bateram
Porto de vitórias que és do povo

Ainda tens o cheiro à maresia
Num quadro, um Rabelo preso ao cais
Nos bairros nascem rusgas de poesia
As dores e alegrias são iguais

Diz-me se é profano ou se é sagrado
O rio que nasce do teu corpo
Para que em cada cálice de fado
Eu seja menos fado e tu mais Porto 

Alma vazia

António Rocha / Jaime Santos *fado pombalinho*
Repertório de António Rocha

Não quero escrever mais versos
Se já deixei de ser teu
Versos, pedaços dispersos
Dum amor que já morreu

Vejo os sonhos que sonhei 
Em solidão submersos
Para esquecer que te amei 
Não quero escrever mais versos

Canto a alegria ou a dor 
Da sorte que Deus me deu
Não quero cantar nosso amor 
Se já deixei de ser teu

Conduzo o meu coração 
P’los caminhos mais diversos
Porque as nossas vidas são 
Versos, pedaços dispersos

Caminho d’alma vazia 
Tudo o que tenho de meu
É a sombra triste e fria 
Dum amor que já morreu

Quando

Artur Ribeiro / Filipe Pinto *fado meia noite*
Repertório de Tony de Matos

Quando dou por mim, perdido
Nos meus próprios pensamentos
Quando nos meus maus momentos
Digo frases sem sentido

Quando me afundo e vagueio 
No teu olhar espantado
Quando não vais a meu lado 
E a sós contigo passeio

Quando escuto a tua voz 
Dando aos meus versos, sentido
Quando o coração perdido 
Pergunta ao vento por nós

É quando ao fado me dou 
D’olhos cerrados, assim
E o poeta que eu não sou 
Vem chorar dentro de mim

Novo vira do Minho

António Laranjeira / André Teixeira
Repertório de António Laranjeira

Ó Minho Minho
Ó verde Minho
Cantas e danças
Não andas sozinho

Ai vira que vira
Ai vira d’Agosto
O ouro que brilha
Dá cor ao teu rosto
Ai vira que vira
Ai vira do mar
Quem vira não vira
Meu amor chegar

Talvez eu me engane 
Mas quem não se engana
Deixei a tristeza 
Perdida em Viana
E no alto Minho 
Já ninguém me apanha
O Minho é mais Minho 
Ao deixar Espanha

Ó Minho Minho
Minho brilhante
Ao cantar do galo
Que a fé se levante
Ó Minho Minho
Já te vi um dia
Rezando baixinho 
Subindo a Agonia

Talvez eu me engane
Mas quem não se engana
Deixei a tristeza 
Perdida em Viana
E no alto Minho
Já ninguém me apanha
O Minho é mais Minho 
Ao deixar Espanha

Não me digas o teu nome

Fernando Campos Castro / Alfredo Duarte *fado mocita dos caracóis*
Repertório de António Laranjeira 

Não me digas o teu nome
Não digas que eu adivinho
És uma estrela sem nome
Que me alegra e me consome
E dá luz ao meu caminho

Não me fales de revoltas 
Que o silêncio é bem melhor
Meu amor sempre que voltas 
Fechas tantas pontas soltas
Nos laços do nosso amor

Deixa a noite imprevisível 
Fazer tudo o que quiser
Ó meu amor impossível 
O teu nome é indizível
Ninguém o pode saber

Meu amor, minha ternura 
Só tu sabes meus segredos
És lucidez e loucura 
Que na noite mais escura
Cobre todos os meus medos

De uma cruz é seu refém

João Manuel Antão / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Nelson Duarte

Andas pedindo perdão
Mãos postas, junto do altar
Mas pões sempre a condição
No mesmo continuar

As horas mandam na vida 
E tantas vidas consomem
Fazendo, nessa corrida 
O homem escravo do homem

Qualquer um, na sua vida 
De uma cruz é seu refém
Mesmo quando a vê despida 
Vê que nela há sempre alguém

Duas tábuas, uma cruz 
Jesus foi crucificado
E dessa cruz, fez Jesus 
De amor o seu reinado

Ria dum rio novo

António Laranjeira / André Teixeira
Repertório de António Laranjeira

És a Veneza do povo 
Porque o povo está primeiro
E trazes um olhar novo 
No teu olhar moliceiro;
És ria dum rio novo
Cravo do mar marinheiro

Acordas chegando à vida 
Porque viver é chegar
Em cada maré perdida 
Há mais pressa de voltar;
Aveiro de ver a vida
Aveiro de ver o mar

Quem te pediu que tivesses 
Mais tradição portuguesa
E que pela vida fizesses 
Do povo a tua nobreza;
Quem de amarelo te veste
É mais feliz com certeza

Não tenhas medo

Alice Barreto / Alberto Correia *fado solene*
Repertório de Nélson Duarte

Meu amor, não tenhas medo
De enfrentar a realidade
Que terás em tuas mãos
Paz, amor e felicidade

Meu amor, não tenhas medo 
De descobrir a razão
Que pode ser cobardia 
Fechada em teu coração

Meu amor, não tenhas medo 
Mesmo que te digam não
Não pode haver um segredo 
Sempre que oculte a razão

Meu amor, não tenhas medo 
Doa ele a quem doer
A vida é sono que embala 
Acorda ao amanhecer

Fado luz

Letra e musica de António Laranjeira
Repertório do autor

Preciso iluminar meu coração
Que se apagou de ti quando partiste
Preciso regressar da escuridão
E devolver-te a cor meu dia triste

Quero ser a raiz que fere e fende
As entranhas da terra do teu chão
Onde tu és vertigem que se estende
Ao quadrante da vida e da razão

O meu canto é pra ti além da voz
Sempre que chegas breve aos meus abraços
Nesse eterno momento quando em nós
A saudade prescreve em nossos braços

Serás sempre a manhã da minha esperança
Em toda a minha vida o meu melhor
Ainda que p'ra ti seja a lembrança
De toda a nossa vida meu amor

Lenda do amor

 *Ode à Lenda das rosas*
António Laranjeira / Popular *fado das horas*
Repertório de António Laranjeira

O mesmo sonho tiveram 
Dois namorados de então
Unidos pelo coração 
A sua vida viveram;
Quando o amor conheceram 
Por entre juras d’amor
Das rosas de rubra cor
Rosas de neve nasceram

A lenda conta que um dia 
Dois corações verdadeiros
Se entregariam inteiros 
Em aparente alegria;
Ninguém no mundo sabia 
Duma promessa maior
Que se escondia na dor 
Que um pelo outro vivia;
Ao celebrar o amor
Sempre que a noite caía
                                                
Ainda hoje se conta 
Que nessa história d’amor
Também havia uma flor 
Que toda a noite chorava;
Quando a saudade falava 
Num discurso sonhador
Mudava sempre de cor 
Essa rosa perfumada;
Se fosse roseira brava
Seria forte na dor

Quem acredita na lenda 
E se permite sofrer
Não pode contradizer 
Um amor, que não entenda;
Se a vida não nos separa 
Que a morte nunca nos prenda
Assim se canta o amor
Como nos conta esta lenda

Valente pescador

Alice Barreto / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Nelson Duarte

Vai p'ró mar ó pescador
Vai lutar com altivez
É teu o mar, pescador
Tu do mar és um senhor
Que Deus te traga outra vez

Pescador que vais ao mar 
Ao mar distante, salgado
Por vezes fico a pensar 
Se o mar onde vais pescar 
É p'ra ti adocicado

Olha as velas, pescador 
Nas tuas lides constantes
Que o vento não vá quebrar
Tu por Deus hás-de voltar 
Ao senhor dos navegantes

Quando parte um pescador 
Que vai p'ra faina do mar
Leva no peito a esperança
Que a senhora bonança 
O traga de novo ao lar

Minha mãe mãe Maria

António Laranjeira / Manuel Mendes
Repertório de António Laranjeira

Na paz do teu olhar 
Descanso os meus passos
Dum longo caminhar 
Procurando teus braços
Minha mãe, mãe Maria 
Mãe de todas as preces
Minha noite meu dia 
Luz da alma vazia 
Tudo em mim já conheces

Meu amor invulgar 
Que nunca faz doer
Que não sabe matar 
E não nos faz sofrer
Ó mãe do altar da vida 
Montanha da ternura
Saudade sem partida 
Adeus sem despedida
Perdão para a minha cura

Semente no meu corpo 
Seara imaculada
No chão do desconforto 
A fé em ti lavrada
Minha mãe, mãe Maria 
Mãe de todas as dores
Minha noite meu dia 
Luz na alma vazia
Mãe dos nossos amores

A jóia mais bonita

Joaquim Silva Borges / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de Nelson Duarte

Essa jóia tão bonita
Que eu não vendo a ninguém
É a velhinha bendita
Que se chama minha mãe

Sou pobre, mas a riqueza 
Que tenho não se acredita
Pois guardo com avareza 
Essa jóia tão bonita

Guardo-a no meu coração 
Pois tal valor ela tem
É jóia de estimação 
Que eu não vendo a ninguém

Quando minha mãe morrer 
Chorarei minha desdita
A causa do meu sofrer 
É a velhinha bendita

Se me dessem todo o ouro 
Que o milionário tem
Eu não vendia o tesouro 
Que se chama, minha mãe

Quem és tu *lama*

Paulo Marques e Aylce Chaves
Repertório de Alzira Canede

Se quiser beber, eu bebo
Se quiser fumar, eu fumo
Não me interessa mais ninguém
Se o meu passado foi lama
Agora quem me difama
Viveu na lama também

Comendo a mesma comida
Bebendo a mesma bebida
Respirando o mesmo ar
E hoje, por ciúme ou por despeito
Acha-se com o direito
De querer me humilhar

Quem és tu, quem foste
Não és nada
Se eu na vida fui errada
Tu foste errada também

Não compreendeste o sacrifício
Sorriste do meu suplício
Me trocando por alguém

Se eu errei, se pequei, pouco importa

Se aos teus olhos eu estou morta
P'ra mim morreste também

Você

João Linhares Barbosa / Armando Freire *alexandrino antigo*
Repertório de América Rosa

Você teve um capricho, eu tive um desengano
Um sonho que morreu sem eu saber porquê
Um cálculo que errou e desmanchou o plano
Motivo de afeição que eu tinha por você

Você já tinha outra a quem também mentia
O gosto por fazer, orgulho já se vê
A pobre acalentava a estranha fantasia
De ter uma paixão movida por você

Você não avalia o amor duma mulher
Não sabe o que é sofrer e das paixões descrê
Não escolhe uma afeição e serve-lhe qualquer
O ponto é que ela sofra e viva p'ra você

Você quando cansar à força de desgosto
Quando se achar diferente ao espelho onde se vê
E quando não tiver onde encostar o rosto
Volte que eu 'inda estou à espera de você

O fado não tem idade

Alice Barreto / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Nelson Duarte

O fado não tem idade
Tem estatuto no mar
Cantaram-no os marinheiros
Há quem diga que os primeiros
O cantaram a rezar

O fado é sempre cantado 
Em orações delirantes
Quando no mar encapelado
É grande oração, o fado 
Ao senhor dos navegantes

Escutei um dia o fado 
Num murmúrio sobre a areia
Só podia ser cantado
Aquele tão belo fado 
Pela voz de uma sereia

O fado é a voz do povo 
Como ele não há nenhum
Sempre velhinho, mas novo
Se o fado é a alma do povo 
No fado de cada um

Porto antigo

Letra e musica de Pedro Barroso 
Repertório de António Laranjeira 

Neste porto manso, eterno. onde descanso
Porque me fica aqui o peito e o sentido
Com aquela água imensa navegando
Este rio, ao passar, fala comigo;
E parece murmurar-se quente e brando
Como o mundo é mais sereno em Porto antigo

O velho Douro é como um hino à natureza
Escorrendo entre os dedos da montanha
Ao sol que o faz vibrar e pressentir
Mostrando a história em socalcos vinhateiros
Nos solares de baronetes e herdeiros
Com brasões verdadeiros ou a fingir

Dos barcos que se cruzam indo e vindo
Alguém levanta a mão saudando ao longe
Como um monge pagão fugido à norma
O próprio rio me esmaga e me transforma;
O casario dá a impressão que vai cair
E eu sei que vou chorar quando partir

Sei que o tempo ali parou naquele cais
E não quero saber de mais informação
Que a que me traz com majestade o Douro amigo
Eu quero ficar ali para sempre, ali contigo;
Olhos nas margens do sentir, a mão na mão
Ai, como o mundo é mais sereno em Porto antigo

Não prendas os teus olhos

António Laranjeira / Rogério Ferreira
Repertório de António Laranjeira

Não prendas os teus olhos
Nem me peças amor
Estou ausente de tudo, só dor
Esta herança pesada
Uma cruz por castigo
Não prendas os teus olhos comigo

Por mais que me torture
Em clausura atroz
Neste torpe silêncio por nós
Se te não te devo amor
É desígnio de Deus
Não prendas os teus olhos aos meus

Não serve este lamento
Para nos torturar
Tivemos muito tempo para amar
Nunca nos maltratamos
Nunca nos ofendemos
Mas quando nos cruzamos, sofremos

Porto do meu coração

Joaquim Brandão / Eduardo Jorge
Repertório de Nelson Duarte

Ao meu Porto, vou cantar 
O fado minha cantiga
Com ternuras a lembrar 
O sentir da minha vida

Meu palácio de ilusões 
Das noites de São João
Minha terra de paixões 
Dos tempos que já lá vão

Fechou a velha taberna
De velhinha estás moderna
Mas p’ra mim és sempre igual
Meiga terra hospitaleira
Cascata sobre a Ribeira
Baptizaste Portugal

No caminhar tens canseira 
Porto do meu coração
Na labuta és o primeiro 
Ao madrugar pelo pão

Tuas pontes são poemas 
Pelo rio a navegar
Jardins e fontes são temas 
Do teu alegre cantar

Olhos de amor

Letra e musica de António Laranjeira
Repertório de António Laranjeira

Olhos de amor não têm cor
Rosto queimado é de paz
Quem dá a mão com o coração
Não tem noção do que é capaz

Quanta ternura há na voz
Quanta doçura a sorrir
Olhos de amor não têm cor
Olhos de amor sem mentir;
Olhos de amor não têm cor
Olhos de amor não têm dor

Quanta distãncia de mar
Quanta largura de céu
Olhos de amor sabem amar
Um coração igual ao teu

Olhos de amor que não choram
Olhos que sabem esperar
Olhos de amor que demoram
Que tardam sempre em chegar

Olhos d’avô e d’irmão
Olhos de mãe e d’avó
Olhos de pai se não está só
Olhos de amor com coração;
Olhos de amor não têm cor
Olhos de amor não têm dor