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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Velas brancas

José de Vanconcellos e Sá / António Pinto Basto
Repertório de António Pinto Basto 

Não baloiça a barcaça já no cais
Nas pedras, a saúda, o tempo morno
Não navega a carcaça nunca mais
A morte são destroços sem retorno

Mil milhas navegou 
A favor e contra o vento
Muitas vidas salvou 
Porque não recusou
Dar vida no momento

No azul velas brancas tão heróicas
Na solidão de agora se apodrecem
Brancura de batalhas muito estóicas
São lágrimas que os risos nunca esquecem

Madeira enegrecida 
Nas ondas do sargaço
Ossada ressequida
Um corpo teve vida
Não tem hoje um abraço

Fora das rotas nada mais lhe resta
Das barcaças em rumo, nem adeus
Relembra então no molho em fim de festa
As memórias dos sonhos que eram seus

O jovem não entende
Há nas almas destreza
Uma luz quando acende
Brilhante, incandescente
Não fica um dia acesa 

Vieste como quem chega

Vasco de Lima Couto / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas”
Repertório de Eliana Castro 

Vieste como quem chega
Num barco de partir logo
E no instante da alegria
A cidade adormecia
No seu deserto de fogo

Trazias a tua boca 
Com sorrisos magoados
E quando me aproximei 
Das tuas mãos, reparei
Que eram dois campos fechados

Eram dois campos com sede 
Duas raízes com fome
Eram dádiva e segredo 
Onde o amor que não tem medo
Se esconde por não ter nome

Beijamos o olhar da noite 
Num desejo tão profundo
Que ajardinamos a lua 
Ficamos com a alma nua
Dos preconceitos do mundo

Vapores

Carlão / Fernando Freitas *fado pena*
Repertório de Marco Rodrigues

Caminha pela rua à patrão
Com a pinta que hoje se chama swag
Já não fuma tabaco e alcatrão
Ainda que o vapor não o sossegue

O fato de treino já voltou à moda
Mas o corta-unhas fica em casa
E é certo que uma querida se incomoda
Se vir que já vem com grão na asa

Agora o homem quer-se bonito
Sensível, atento e delicado
E ele até se afasta do conflito
Mas não se imagina depilado

No bairro já ganhou alcunha nova
Toda a gente o chama de vapores
Nas costas que é para evitar a sova 
Que há coisas que não mudam
Meus senhores 

Utopia

Catarina Carvalho / António Neto
Repertório de Cristina Maria

Hoje quero um sol sem céu
Quero que o calor seja frio
E as lágrimas negras como o carvão
Hoje grito e não tenho medo
E os meus olhos mentem
Num perfeito segredo

Hoje as palavras tremem 
E o corpo foge
Do toque da luz da lua
Da brisa do mar
Dos passos na areia, perdidos
Sem te encontrar

Hoje vou vestir a dor
Pinto um sorriso no rosto
Escolho a alegria
Num estado inquieto de loucura
Invento a segurança serena
E prendo a esperança
Com mentiras de coragem

Voltar a ser criança

Tiago Torres da Silva / Samuel Quedas
Repertório de Carla Pires 

Guardei só a lembrança mais bonita
Do mundo de memórias que esqueci
Não fui eu que escolhi mas acredita
Que só me aconteceu lembrar de ti;
E a alma tudo esquece mas recita
Os versos que num dia te escrevi

Agora já nem sei o que a saudade
Pretende quando diz gostar de mim
Se lembrar-me de ti me dá vontade
De andar por entre as rosas do jardim;
E a vida que já vai pela metade
Acaba por não ter princípio ou fim

Mas para que a tristeza não regresse
Deixa que eu chegue ao fim desta canção
Que o nosso coração por vezes esquece
De dar valor ao que lhe está à mão


Depois de eu te guardar nessa lembrança
Que nunca vai deixar de dar calor
Anda ser o meu par naquela dança
Que faz de nós dois, um só bailador;
É que ao dançar, eu volto a ser criança
E tu voltas para mim... oh meu amor

Desenlace

Marco Oliveira / Pedro Rodrigues
Repertório de Marco Oliveira

Já passei de rua em rua
E saí de bar em bar
Sem saber se me perdi
Julguei ver a sombra nua
Doutro tempo a caminhar
Só ao encontro de ti

Não quer dizer que te esqueça
Se por ter que te esquecer 
A memória persuade
Por mais feliz que pareça
Na tua ausência, mulher 
Vou morrendo de saudade

Já me vieram dizer
Que por mais tempo que passe 
Mais sozinha vais ficando
E ficamos sem saber
Qual será o desenlace 
Deste amor que vai passando

Se a saudade não recua
Como vamos enganar 
Uma esperança que não temos
Voltamos de rua em rua
Saímos de bar em bar 
Só pra ver o que perdemos

Zé sapateiro

Letra e música de Armando Estrela
Repertório de Teresa Tarouca 

Ó Zé… tens o teu peito escavado 
Do desgosto e do calçado
Que trabalhas nesse jeito;
Com carinho contra o peito
Nesse peito sem ter fé

Ó Zé...
Tu escolheste a liberdade
Nos copos e na saudade
E assim mesmo é como é


Ó Zé… tu tens o peito escavado
Dos sapatos do senhor
Que te deu o pontapé;
Quando quiseste ser gente
E só pudeste ser Zé

Ó Zé… tens o teu peito escavado
Dos sapatinhos da moça
Que te fez andar brejeiro;
E afinal foi só por troça
E ficaste Zé solteiro

Ó Zé… nesse peito escavado
Do desgosto e do calçado
Só te restam poucas esperanças
Com carinho contra o peito 
Sapatinhos de crianças 

Teus olhos são dois garotos

Manuel de Almeida / Popular *fado mouraria*
Repertório de Manuel de Almeida 

Teus olhos são dois garotos
Cheios de mimo e de graça
Porque se metem na rua
Com toda a gente que passa

Deixa de preces, não rezes
Erguendo os olhos aos céus
Deus me perdoe, mas às vezes
Tenho ciúmes de Deus

Um lenço branco de neve
Acenando junto ao cais
Ou quer dizer; até breve
Ou quer dizer; nunca mais

Nesta triste despedida
Nem sei o que hei-de fazer
Levar-te não é possível
Deixar-te não pode ser 

Velho Portugal menino

Vânia Ferreira / Abel Ferreira
Repertório de Florênca

Velho Portugal menino
Canto mouro d’além-mar
Trazes desfraldada ao mastro
Tua glória na história;
Fazes da alma lusa um hino
Velho Portugal menino

Povo ingénuo, bom e amigo
Que apesar de tão antigo
Faz lembrar feliz criança
De olhos fitos na esperança;
Fado, amor e paz, teu hino
Velho Portugal menino

Traço

Jorge Fernando / Guilherme Banza
Repertório de Jorge Fernando 

Traço, espaço
Traço, que ultrapasso
Na urgência de viver
O rádio a ensurdecer
P'ra se estar bem
Se é contínuo o traço
Embaraço
Sigo atrás de quem não quero
O ponteiro a bater a 
mais de cem

Se eu rodar lento demais
Nos pedais embraio a terça
Paro em todos os sinais
Que são demais
Pra quem tem muita pressa

Se pisar o traço, arrisco
Piso o risco na faixa errada
Abro o sinal, esquerda, pisco
Assumo o risco
De apanhar a brigada

Perco a margem da distância
Insegurança por um segundo
Vou para lá da tolerância
Meto a mudança 
Que a vida é prego a fundo 

Lisboa, canta-me um fado

David Gonçalves / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Maja Milinkovic

Lisboa, canta-me um fado
E vagueia p’las esquinas      
Nas noites de solidão
Faz-me viver o passado
Amanhecer com as varinas
Na ternura dum pregão

És velhinha mas bairrista
Nos teus bairros há saudade
Minha trova predileta
És mãe de qualquer fadista
Nostalgia que invade
O coração do poeta

E por isso eu não te esqueço
Lá p’las sombras da Moirama          
No meu viver magoado
Quem sabe se não te peço
Quando passares por Alfama
Lisboa, canta-me um fado

Vingança

Letra e música de Lupicínio Rodrigues
Repertório de Amália Rodrigues

Eu gostei tanto, tanto
Quando me contaram 
Que a encontraram 
Bebendo e chorando 
Na mesa dum bar
E que quando os amigos do peito 
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz
Não a deixou falar;
Eu gostei tanto, tanto
Quando me contaram
Que tive mesmo que fazer esforço
P'ra ninguém notar

O remorso , t
alvez seja a causa 
Do seu desespero
Você deve estar bem consciente
Do que praticou
Vem-me fazer passar essa vergonha
Com um companheiro
E a vergonha é a herança maior
Que meu pai me deixou

Mas enquanto houver 
Força em meu peito
Eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Você há-de rolar como as pedras 
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu 
P'ra poder descansar 

Mais um risco

Letra e música de  Paco Gonzalez
Repertório de Francisco Martinho

Mais um risco na agenda da minha vida
Mais um risco de perder por tanto amar
Miserável este coração ardente
Que naufraga no mar do teu falso olhar

Mais um risco, se te vejo na avenida
Mais um risco no desejo que me abraça
Como louco eu te entrego a minha vida
Pra que a pises no caminho da desgraça

Mais um risco, porque mentindo me feres
Mais um risco nos beijos de caridade
Mas quem sabe se um dia és tu que me queres
E eu te pague co’a moeda da saudade

Mais um risco no vexame do teu riso
Mais um risco nas noites que hão-de passar
Não tens pena que eu me arrisque tanto, tanto
Para que um dia não te possa perdoar

Por transformação existo

Manuel de Almeida / Popular *fado das horas*
Repertório de João Chora e Rodrigo 

Por transformação existo
No mundo que não tem fim
Que serei eu depois disto?
Que fui eu antes de mim?

Ninguém me diz donde vim 
E com dúvidas me visto
Se fui outro e sou assim 
Por transformação existo

Sem saber ao que cheguei 
Vivo a duvidar de mim
E nem sei como fiquei 
No mundo que não tem fim

Quando a vida me deixar 
Terei vivido só isto
Ou morrerei a pensar 
Que serei eu depois disto?

Se o meu presente é passado 
Não há futuro com fim
E se vim sem ter chegado 
Que fui eu antes de mim?

Valsa da despedida

Letra e música de Marco Oliveira
Repertório do autor

Nada que possas dizer 
Me vai fazer voltar
Nem a chuva dos teus olhos 
Me vai saber prender

Nada que possas dizer
Mesmo que possas mudar
Nas tuas frases feitas 
Não me vou perder

Nem os teus beijos de mágoa
Vão saber parar o vento
Nas ruas onde deixaste 
O nosso amor morrer

Não digas que fui eu
Quem te deixou ao relento
Quem te fez perder o chão
Se tens a vida por viver

Senhor doutor

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Jorge Fernando c/ António Zambujo

Troquei de curso não quis ser doutor
O estetoscópio não me faz feliz
Antes saber onde e como nasce o amor
Que eu darei conta do que me pedis

Traçarei linhas contendo o rigor
Tudo o que em sorte puder desvendar
Troquei de curso, não quis ser doutor
Para na escola do amor me formar

Mochila às costas, dei costas a tudo
Se a terra roda também quis rodar
Fechei à chave a gaveta onde o canudo
Jaz como um morto em jazigo sem ar

Cruzei as falas com um velho enrugado
Rosto sereno de poucas palavras
Disse saber só que o amor nasceu destinado
A ser as almas, as suas escravas

Mas também pode ser dado e se dar
A quem por bem o queira conhecer
E em vez de prender até pode libertar
A quem o tenha e o saiba entender 

Sabe-se pouco se o seu saber for
A teoria em si decorada
Só através do sentir-se sabe que é o amor
Basta-se a si, não precisa de nada

Olhou-me o velho com teu ar sisudo
Disse em verdade: nada sei do amor
Troco a fadiga frustrada pelo canudo
Pois é mais fácil chegar-se a doutor

Fado doméstico

Alice Vieira / Branco de Oliveira
Repertório de Alexandra Cruz

Abre os olhos
Era noite ainda agora
Chama o homem
Grita ao filho que se apresse
Abre o rádio, ouve a chuva lá por fora
Olha as horas e o café que arrefece

Risca o fósforo
Põe no lume a cafeteira
Da gaveta 
Tira a faca que mais corta
Vê passar o merceeiro e a peixeira
Só não vê passar a vida à sua porta

Vai à praça
Cose a roupa, corta o pão
Olha as horas
Põe os pratos na toalha
Lava a louça
Faz as contas, esfrega o chão
Fecha os olhos
Tem um filho quando calha;
Fecha os olhos
Morre um dia, quanto calha

Menina do lenço preto

Manuel de Almeida / Popular *fado das horas*
Repertório de Manuel de Almeida 

O meu destino é amar
Ai amor, quisera eu
Ir ao céu agradecer
O destino que me deu

Menina do lenço preto 
Tenha cuidado consigo
Vão dizer que tomou luto 
Por ‘star zangada comigo

Partiste, fiquei chorando
Voltaste, chorando estou
Voltou a tua presença 
Teu coração não voltou

A esperança é como o sol 
Que nos enche de alegria
Se ela parte, faz-se noite 
Ela volta, é logo dia

Versos contados

Letra e música de Cuca Roseta
Repertório da autora

Do meu fado fiz a letra 
E da letra fiz canção
Fado tem sua ciência 
Não se canta sem razão

Matemática somente 
Só se for da que se sente
Fado soma sentimento 
E divide sofrimento

Fado sabe a sentimento 
Fado sente a sabedoria
Fado nasce no momento
Fado é novo a cada dia
Digo bem cada palavra
Para que se entenda bem
Mas se a digo com garra
É porque a sinto também

As palavras são aos montes 
Mas nem sempre vão às fontes
Não há a palavra certa 
Consertada em dor desperta

Deixo de pensar palavras
Quando as canto mais ausentes 
Mais presentes do que amarras 
A cantar fado não mentes

Elegia da saudade II

Marco Oliveira / António dos Santos
Repertório de Marco Oliveira

Tardavas tanto em voltar
Que não mais ‘sperei por ti
Anda a saudade a lembrar
A lembrar que te esqueci

O que ficou por falar 
O tempo fez por esquecer
Mas depois de te perder 
Tardavas tanto em voltar

Foi amor que não senti 
Quando de mim te lembraste
Tanto tempo me levaste 
Que não mais ‘sperei por ti

Tudo fica por amar 
Entre o olhar dos amantes
Nada será como antes 
Anda a saudade a lembrar        

Um dia, quando te vi 
Fiz de conta que partias
Passo o resto dos meus dias 
A lembrar que te esqueci

Elegia da saudade I

Marco Oliveira / Daniel Martins *fado saudade*
Repertório de Marco Oliveira                       

Quando as rosas adormecem
No peito de quem amou
Só as saudades se tecem
Num coração que ficou

O remorso do que fomos 
A pouco e pouco s’esquece
Nada resta do que somos 
Quando o amor se desvanece

Há uma voz do passado 
Na sombra do que desfiz
Que recorda em cada fado 
As memórias que não quis

Ruas e ruas desertas 
No silêncio do meu peito
Ficam janelas abertas 
De um passado já desfeito

Quando as rosas adormecem 
No peito de quem amou
São as saudades que tecem 
Um coração que ficou

O silêncio da noite

Cristina Maria / António Neto
Repertório de Cristina Maria

Aperta-se-me o coração
Não sei se de saudade
De dor ou ilusão
Da minha própria vontade

Aguardo o silêncio da noite
Na inquietude de um pensamento
Perdido da triste morte
Num sopro grito de lamento

Beija os pecados desta loucura
Nua, cega e destemida
Ou arranco as lágrimas em tortura
Deste amor, assim enlouquecida

Esquecida da vida, meu amor
Inglória coragem
Ingrata miragem
De uma vida, meu amor

Estranhamente

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório do autor

Fecha os olhos meigamente
Deita o rosto no meu ombro
Como há tempos esqueces de o fazer
Põe as mãos por sobre as minhas
Os teus dedos entre os meus
Que o silêncio tem muito a dizer

Foi há tempo, meu amor
Vinhas de verde
Com um sorriso em que perdeste    
O meu ser apaixonado
Foi há tempo, meu amor
Quanto se perde
Nos momentos que esqueceste
E que o tempo pôs de lado

Os teus olhos, pouco a pouco
A tristeza vai tornado
Estranhamente amargurados
Mais um dia, logo outro
Nada muda, mas no fundo
Já não somos namorados

Ventura maior

António Rocha / Fernando Silva *alexandrino do Vinicius
Repertório de António Vasco Moraes

Não há maior ventura na vida que é tão breve
Do que amar loucamente e ser amado assim
Se dois seres se completam torna-se o viver leve
Vivendo a felicidade que jamais terá fim

Quem vive sem amor verdadeiro e sincero
Na verdade vegeta numa falsa ilusão
Só tem no seu caminho apenas desespero
Tristeza, desalento, e engana o coração

Só quem ama renasce de novo cada dia
Como se a vida fosse um sol radioso e quente
Trazendo paz ao mundo num passo de magia
E cantos de alegria na voz de toda a gente

Por isso é que hoje choro o amor que perdi
Naquele triste dia em que te foste embora
E vivo recordando os dias que vivi 
Abraçando a saudade que me conforta agora 

Livremente

Letra e música de Cristina Maria
Repertório da autora 

Eu quero ir pra além do horizonte
Onde o infinito céu possa beijar o mar
Das estrelas, porém, brilhará a solidão
Sem dor, assim no coração

Vem
Vem sonhar os meus sonhos
Vem tocar a minha alma
Vem ver o céu beijar o mar
Vem livremente
Vem

Se ao acordar a manhã não nascer
Contarei ao luar este sossego de amor
Não terei mais razão 
P'ra fugir dos meus sonhos
Serena, assim, o coração